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Abaixo o fiu fiu

Mulheres repudiam as cantadas recebidas em locais públicos e apoiam campanha contra o assédio dos homens

Amanda Bedide Guilherme Liça Hellen Ribaski

Quem não conhece a clássica cena da mulher passando em frente a uma construção e se tornando alvo de diversos olhares e cantadas dos profissionais envolvidos na obra? É uma realidade constante na vida de muitas mulheres, a qualquer momento e em qualquer lugar, deixando-as constrangidas, irritadas e sem reação. Histórias do tipo são o que não faltam. Para a jornalista Luciane Belin, atravessar a rua para fugir das cantadas dos homens, que trabalham no estacionamento ao lado do seu escritório, foi sua primeira reação à incômoda situação. “Depois de um tempo, decidi que eu não deveria mudar o meu caminho apenas porque esses homens não têm respeito. Mudei minha reação, ameaçando-os com um processo”, conta.

O assuntou gerou uma grande repercussão recentemente, a partir de um levantamento equivocado feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do governo federal, que, em um primeiro momento divulgou que 65% dos brasileiros pensariam que a roupa utilizada pelas mulheres justifica o ato do assédio, quando não o estupro, sendo que o dado correto é de 26%, conforme divulgado nove dias depois. Em forma de protesto, movimentos feministas aderiram à campanha “Eu não mereço ser estuprada”, na qual muitas pessoas, entre elas artistas, políticos e até a presidente Dilma Rousseff, inconformadas com tal resultado, demonstraram sua indignação com fotos e textos divulgados em redes sociais e outros meios de comunicação, estampando a frase da campanha.

Antes da realização dessa pesquisa e de toda a movimentação recente, a revolta da jornalista Juliana de Faria fez com que ela idealizasse a campanha “Chega de FiuFiu”, em abril de 2013. Segundo uma das colaboradoras da campanha, Luíse Bello, a cantada tem um falso disfarce de “elogio”. “O assédio era um assunto ignorado, um monstro invisível. Mas nosso objetivo é mostrar que ele existe e que toda mulher tem o direito de ir e vir, com a roupa que quiser e a hora que quiser, sem ser tratada como algo público”, afirma.

O tema da campanha está de acordo com uma das pautas do feminismo, o repúdio às cantadas. Segundo uma das participantes desse movimento, Stephanie Back, as cantadas são fonte de uma cultura machista impregnada na nossa sociedade. “Essa é uma das maneiras que os homens usam para dominar, humilhar e constranger as mulheres. Mas eles precisam aprender que as mulheres não gostam, por isso, nós temos que repreendê-los”, diz.

Somente quando as agressões verbais partem de alguém que tenha algum grau de parentesco ou de um superior hierárquico, que a mulher pode recorrer à Delegacia da Mulher e abrir um inquérito policial. “Quando o assédio sexual parte de um desconhecido, nós encaminhamos o procedimento para o local correto dar sequência ao caso”, informa a delegada Iara Laurek Dechice. Cantada afinada

Mostrar interesse é diferente de cantar uma mulher. Ainda existe a chance de conhecer pessoas legais em locais públicos e começar uma conversa de forma natural e nada agressiva. Como o caso do estudante de História Wesley Veiga, e da acadêmica de Filosofia Thays May.

Nesse início de romance, a história em quadrinhos que a moça de cabelos roxos estava lendo dentro do ônibus foi o que mais chamou a atenção do rapaz. “Sentei ao lado dela e acompanhei a leitura durante todo o caminho, e, quando chegamos ao destino final, não pude deixar de perguntar quem era ela”, conta Wesley. Depois da pequena conversa, eles trocaram os números de telefones e se conheceram melhor. “Continuamos a conversar, percebemos as nossas afinidades e as coisas simplesmente foram acontecendo”, conclui o casal de namorados.

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