2022 | EDIÇÃO 08
PARTE 01
Memórias de Teresina e seus reflexos hoje
Monumento Gregório: Histórico & Macabro
“Jericoroa”: Teresina tem praia de água doce
Por dentro do Multiverso musical da
202 Produções
Há uma casa de memórias no Centro de Teresina
Mural
pintado no Flash Day do Júpiter Atelier. Foto: Rebeca Louise Lima. REVISTA Oxente! OUTUBRO
Índice
Reportagem
Expediente Bárbara Fogaça
Dhara Leandro
Eliane Carvalho
Juliene Santos
Eric Medeiros
Airton Lima
Glenda Muryelle Isadora Holanda
Izaura Martins
James Jarrel
Caio Henrico
Pinheiro Lourrany Meneses
Mariella Aguiar
Roberta Laurindo Sarah
Tatiele Sousa Vanessa Kelly Wilka Paz Yara Pereira Thalita Desidério DIAGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Dhara Leandro James Jarrel EDITORA CHEFE Ana Regina Rego ILUSTRAÇÃO DE CAPA Rebeca Louise
John Myke
Celeste Ribeiro Clara Magalhães
Nathan Rangell Raissa Gonçalves Rebeca Louise
D’arc
A INVALIDAÇÃO DA COR NEGRA NA ADAPTAÇÃO DE A PEQUENA SEREIA ..................................................... 03 TROCA-TROCA: DA SOMBRA DA FIGUEIRA À LUZ DA INVISIBILIDADE ............................................................ 08 MONUMENTO GREGÓRIO: HISTÓRICO E MACABRO ................................................................................ 14 CRISPIM, O JOVEM DO RIO POTI E PARNAÍBA .............................................................................. 18 VIVA P2 ............................................................................................................................... .. 22 DE VEZ EM QUANDO FAZ BEM MEXER NO TIME QUE TÁ GANHANDO ...................................................... 26 UM B-R-O BRÓ ESPECIAL: A 1ª EDIÇÃO DO FESTIVAL GIRASOL EM TERESINA ............................................... 32
Nas páginas do tempo, as escritas da história presentes nos espaços de memória
Esse bem que poderia ser o título de uma dissertação de mestrado, mas é tão somente a abertura da oitava edição da Revista Oxente! Um veículo de comunicação que destaca o jornalismo cultural e se utiliza de uma narrativa de um jornalismo literário, mais livre, mais ousado.
Outubro de 2022 tem sido um mês complexo, em meio a um processo eleitoral polarizado, com muita desinformação e violência, não só simbólica, mas física. Outubro de 2022 reflete no Brasil, a fotografia de um tempo, um tempo sombrio, onde os direitos dos cidadãos tem sido retirados e questionados, sobretudo, das consideradas minorias em direitos, mas que nem sempre se configuram como minorias em número, como mulheres, comunidades LGBTQIA+ , negros, indígenas e outros.
Outubro de 2022 queima aos nossos olhos, quando o sol chega ao meio do céu e as temperaturas marcam 38º, o mundo parece parar, provavelmente, cansado da humanidade desumana que aqui reside. O que resistirá ao tempo e chegará aos anais da história? História que hoje apresenta versões negacionistas e paralelas. História que até o terraplanistas querem revisar.
O impensável e o imponderável tomou conta das mentiras vendidas nos mercados das redes sociais, como versões da verdade.
Mas felizmente, nem tudo é sombrio neste outubro de 2022. A Revista Oxente chega a sua oitava edição trazendo um interessante percurso pela Teresina do presente e do passado que ativa tempos entre tempos, memórias e se coloca para a história.
O percurso do leitor pode ser o que melhor lhe convier. Podemos começar conhecendo o Troca-troca na beira do rio Parnaíba e de lá pegar um barco para a Jericoroa, onde tradição e belezas aguardam os visitantes. Mas também é possível iniciar a trajetória pela praça Pedro Segundo, conhecida como P2 e lá percorrer os sebos que resistem às transformações mercadológicas temporais. A visita aos monumentos do Gregório e do Cabeça-de-cuia também pode ser realizado nas páginas da oitava edição da Revista Oxente! Sem contar um mergulho nos festivais de música e nas exposições de artes plásticas, para além de outras possibilidades de entrar em contato com a cultura local, nacional e internacional.
Então, outubro de 2022 é também vida que avança, é também cultura que resiste, é também afeto e acolhimento.
Nossos futuros jornalistas já estão prontos para contar ótimas histórias com suas narrativas instigantes e intrigantes. Boa leitura!
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A INVALIDAÇÃO DA COR NEGRA NA ADAPTAÇÃO DE A PEQUENA SEREIA.
THALITA DESIDERIO
Ocenário do fundo do mar e os cabelos vermelhos daquela pequena criatura causa uma nostalgia encantadora para os nascidos nos anos 90. Se você, assim como eu, já está se preparando para encarar uma fila enorme ‘só para baixinhos’ para reviver sua infância e assistir a sereia mais amada do mundo aquático e a vila mais icônica da Disney, seu momento chegou.
O ‘live action’ ou adaptação para filme do clássico ‘A Pequena Sereia’ chega às telonas em 2023 e traz uma releitura desse clássico que encantou a infância de muitos. O que era para ser um momento único de nostalgia coletiva da geração millennials, tornouse um momento de muita inquietação e opiniões nada agradáveis para a jovem Halle Bailey
A agora atriz que já era conhecida por sua carreira de cantora ao lado de sua
irmã Chloe, recebeu a ilustre proposta de interpretar a adorável Ariel em 2019 e ficou muito feliz com a notícia dizendo: “Quero que a garotinha em mim e as garotinhas como eu, que estão assistindo, saibam que são especiais e que devem ser princesas em todos os sentidos” .
A partir do momento do anúncio da atriz que iria interpretar Ariel, algumas pessoas mal-intencionadas começaram a falar que ela não combinava com o personagem, muitas dessas ‘opiniões’ têm nome e sobrenome, racismo. Muitos comentários foram direcionados especificamente ao fato de Halle ser negra e, portanto, não poderia interpretar Ariel com fidelidade. No entanto, muitas pessoas saíram em defesa de Halle, argumentando que sereias não existem e que, por isso, as acusações eram infundadas.
Embora muitos tentem argumentar
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Frame do Teaser de ‘A Pequena Sereia’.
que estão incomodados apenas porque a atriz não representa a Ariel, é claro que o motivo é o racismo pelo fato da atriz ser negra, afinal, temos tantos casos de atores brancos representando histórias de pessoas negras e de pessoas asiáticas por aí, e que não houve essa comoção de que não “representava” o personagem.
João Victor, um jovem estudante negro de 19 anos que mora na Bahia, fala sobre a importância da representatividade nesse filme. ‘A representatividade que a adaptação está trazendo é tamanha. A Pequena Sereia é uma obra bastante conhecida há muito tempo, e ter uma atriz negra interpretando um papel desses é realmente representativo. Além disso, é mais uma forma encontrar de quebrar estereótipos, já que sereias sempre são desenhadas/imaginadas de pele clara.
Tarcila Alves, uma jovem negra de 28 anos que mora no amazonas, também adiciona que está feliz por ver que as
meninas de hoje em dia poderão se ver na Chloe e se sentirem representadas e pensarem que também podem ser princesas, ela diz que quando era mais jovem, ela não tinha pessoas para quem olhar e se identificar e isso fazia com que ela achasse que não poderia ser uma princesa por ter a pele negra, portanto, ela sempre ficava triste por achar que sua cor era um problema e que, por isso, não poderia fazer muitas coisas. Mas acrescenta que hoje o cenário está mudando bem aos poucos e está feliz com isso.
A obra traz citações que não condizem com as mensagens de ódio que está recebendo, sempre usando algumas críticas para trazer uma reflexão sobre o mundo humano, ’A Pequena Sereia’ tem frases marcantes como ‘Eu não entendo como um mundo que faz tantas coisas incríveis pode ser tão cruel.
João diz que ‘A Pequena Sereia’ é uma obra muito conhecida no mundo todo, e ter uma adaptação totalmente
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Halle Bailey, 22 anos, cantora que irá interpretar Ariel em ‘A Pequena Sereia’.
diferente do esperado foi uma quebra de expectativa muito grande, mas, é muito claro que a maior frustração não foi a quebra de expectativa e sim ter uma personagem originalmente branca interpretada por uma atriz negra. Pessoas brancas se sentiram atacadas e por isso se sentiram no direito de fazer comentários racista, e de serem racistas. ’
Tarcila diz que não há nenhum motivo para esse ataque gratuito, ela diz que a forma como os adultos estão usando o ‘saudosismo’ para justificar seu racismo não faz sentido algum. Ela argumenta que as crianças viram o vídeo e acharam muito lindo e se questiona porque os adultos, que supostamente, tem a mente mais ‘evoluída’ estão fazendo todo esse auê.
Ela continua dizendo que não há como você criticar algo que ainda não foi lançado, não se pode argumentar sobre efeitos especiais, atuação, a história, sendo que só foi lançado um vídeo até agora da Chloe cantando lindamente uma das músicas do filme. Ela ainda diz que ‘quando a gente, várias pessoas, e no geral, pessoas brancas, falando mal de uma produção que ainda nem foi lançada, e que não sabemos nada sobre ela, somente que a atriz principal é negra, e vemos as pessoas fazendo de tudo para desmerecer a produção, sem ao menos saber da qualidade do material, mesmo podendo ser capazes de ver pelo vídeo
curto o quando a atriz é linda, o quanto a voz dela é linda, e mesmo assim as pessoas ainda estão falando mal, é claramente, preconceito. ’
O fato das pessoas já estarem discutindo sobre racismo sem gerar uma ‘briga’ ou discussão de forma aberta e perceber que as pessoas já estão de fato vendo que o racismo está acontecendo sem querer falar que é frescura ou que as pessoas estão querendo chamar atenção, o fato das pessoas estarem percebendo o racismo estruturado e o racismo velado enquanto ele acontece principalmente ao nosso redor e na mídia. ’
O principal núcleo em volta das críticas que o filme está recendo é o racismo, é possível ver o campo de comentários onde o vídeo foi postado, repleto de falas racistas, as pessoas destilaram todo se ódio para a jovem Halle de 22 anos, criticando cada
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Primeira imagem de Halle caracterizada de Ariel, o longa estreia em maio de 2023.
detalhe possível sobre ela.
A dubladora original da Ariel, Jodie Benson, questiona em uma entrevista concedida à convenção de fãs Florida Supercon que ocorreu em julho sobre as críticas à Halle, dizendo que se fossem olhar para ela, nas palavras dela, “vamos encarar, eu sou bem velha, então quando eu canto ‘Part Of Your World’, se você fosse me julgar pelo jeito com que eu pareço por fora, poderia mudar o jeito com que você interpreta a música, mas se você fecha os olhos, você consegue ouvir o espírito da Ariel.”
Ela ainda fala sobre a importância da representatividade e defende que para interpretar um papel, independe da aparência, ela diz: “Nós precisamos ser contadores de história. E não importa como somos por fora, não importa
nossa raça, nação, a cor da nossa pele, o dialeto, se eu sou alta ou baixa, gorda ou magra, ou se meu cabelo é de qualquer cor, nós realmente precisamos contar a história” .
Os fãs e muitas pessoas sensatas defenderam Halle, muitos outros artistas vieram em sua defesa, falando que ela era a escolha perfeita para interpretar a Ariel e elogiando sua voz. As críticas mais sem sentido vieram por parte das pessoas que criticaram até o fato de não existir sereia negra, o que causou uma revolta nas redes sociais. Muitas pessoas partiram em defesa da Halle dizendo que, em primeiro lugar, não existem sereias, e então questionaram as pessoas que fizeram esses comentários de como eles sabiam qual era cor de tal criaturas sendo que elas nem existem.
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Jodie Benson, dubladora original de Ariel em ‘A Pequena Sereia’ ao lado de Halle Bailey, atual Ariel. Imagem retirada do Getty/ Disney.
As discussões na internet foram tão grandes que as pessoas começaram a relembrar de papeis de outras etnias que foram interpretados, em sua maioria, por atores brancos e que estes nunca sofreram retaliação como Halle está sofrendo. Muitas pessoas falaram sobre a questão do racismo estruturado e de como ele está enraizado nas pessoas, principalmente em países de primeiro mundo, onde as pessoas não percebem seus preconceitos ou acham isso tão norma que não conseguem enxergar que já testemunharam muitas histórias de pessoas de outras etnias sendo interpretadas por pessoas brancas e isso não lhes causou nenhuma revolta.
Halle demonstra que não está abalada com a situação, ela diz que apesar de ser algo que ainda é triste de ver, para ela, ter essa oportunidade de representar as meninas negras e de ser uma inspiração já é algo grandioso e que está feliz com isso, portanto, ela espera que todos gostem da adaptação e estejam ansiosos para a estreia do filme em maio de 2023. Vamos todos juntos assistir a esse grande espetáculo interpretado por essa doce e linda menina.
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TROCA-TROCA:
Da sombra da figueira à luz da invisibilidade
Por Izaura Martins e Tatiele Sousa
Era dia 01 de setembro, e eu em casa fazendo o almoço já depois das doze horas da manhã, por conta das obrigações que tinha a cumprir, esse foi o horário que encontrei para realizar a tarefa doméstica mais crucial para quem mora sem os pais. Estava meio apressada por conta que a aula da tarde seria uma experiência diferente da convencional, ao invés da sala de aula ser o local de aprendizado, desta vez, as ruas do centro de Teresina é que seria o ambiente de troca de experiências e conhecimento.
Confesso que estava bem curiosa
para saber como seria essa aula atípica, confesso até que estive a pensar sobre as possibilidades que teríamos de lugares para visitar se a universidade estivesse em uma condição orçamentária mais confortável. Porém, voltando a aquele dia, era uma quinta-feira, oficialmente o primeiro dia do chamado B-R-O BRÓ!
Quem é da cidade já entende o que eu quis dizer, a capital do Piauí é um município bem caloroso no clima, mas também na hospitalidade do seu povo.
Na tarde daquele dia, marcamos de nos encontrar na Igreja São Benedito, inclusive foi até o local
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Comércio troca-troca na parte interna. Foto: Tatiele Sousa.
onde eu desenvolvi a primeira pauta da disciplina. De lá, partimos para o Centro de Artesanato Mestre Dezinho, no percurso, nós da classe já estávamos a pensar na pauta que iriámos desenvolver... Os olhares bem atentos aos detalhes, a conversa agradável com todos, e até os cochichos de comentários como: “nossa, faz tempo que vim aqui no centro”, eram elementos que junto com o calor do ambiente, também nos acompanhavam na caminhada.
Eu e minha dupla já conversávamos sobre o que abordar... A questão do comércio informal? Que pauta poderíamos tratar? Então chegamos à praça da bandeira, e Tati em um estalo de criatividade, olhou para mim com
os olhos arregalados e exclamou em um tom alto: “Temos o tema!”.
Diga-se de passagem, que estes olhos arregalados estavam empolgados com a escolha.
Uma figueira sombreou as primeiras atividades comerciais entre mercadores e clientes no centro de Teresina, as margens do rio Parnaíba, histórias e interesses se cruzam desde o século XX.
E certamente você já deve ter visto o amontoado de velharias coloridas pela avenida Maranhão.
Também já deve ter ouvido histórias transcorridas nesses corredores históricos. Quem aí nunca ouviu sobre
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Feira Troca-Troca. Foto: CRC/SECULT.
objetos roubados revendidos no Troca-troca? Ou que lá não é um lugar confiável para se obter mercadorias? A verdade é que no Troca-troca tudo tem valor e cada avaria é sinônimo de histórias! As bicicletas usadas contam através de suas marcas as quedas que alguém já levou, as manchas nas laterais de eletrodomésticos como geladeiras representam um traço pequeno de que ali aconteceu algo, e a imensidão de televisões de tubo ainda conseguem refrescar a lembrança das imagens com chuviscos.
Uma cultura hereditária
Além de tudo, existem ainda aqueles que sobrevivem de repassar essas histórias adiante, como o José
Augusto. Ele faz parte da 2ª geração de mercadores. Aos 12 anos vendia jornais pela cidade de Teresina, mas há 32 anos decidiu largar as palavras em papel, e guiado pelo seu antecessor nos negócios e pai, iniciou sua jornada no Troca-troca.
Não é de se surpreender com as reclamações que ele faz questão de frisar, "não tem apoio do poder público, falta organização, quanto mais o tempo passa vai morrendo, aqui é um lugar jogado pras cobras". Apesar das queixas ele lembra com alguns sorrisos do sucesso que já alcançou um dia, e fala com os olhos aquilo que só o coração foi capaz de guardar.
"Eu já tentei sair daqui e não
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Televisão à venda na feira. Foto: Tatiele Sousa.
consegui", disse o vendedor algumas vezes. As atividades comerciais vão além de fonte de renda, para Augusto, o escuro e úmido espaço já está entrelaçado a sua vida, em especial ao que ele mesmo chamou, este é o seu dom. Teresina fervia às 14h30, exatamente no horário em que corríamos de um lado para o outro, tentando ouvir e instigar para que nos contassem mais coisas. Tinha tanta coisa para olhar que nos sentíamos perdidas, pequenas e até sufocadas. Entre uma banca de venda e outra, o espaço para passar era mínimo possível, isso porque tudo aquilo que não é vendido é amontoado em algum canto. Vez ou outra estávamos nos
espremendo para chegar a alguém.
Mas, o pouco espaço não era o único motivo a nos apertar, como as visitas de clientes estão cada vez mais raras, por onde caminhávamos havia cerca de 5 ou 6 olhares em nossa direção, alguns seguidos de "posso te ajudar?", mas que rapidamente se dissiparam ao saber o motivo da visita.
Muito mais que “viver de negociação”
Um deles nos chamou para conversar, ele foi mais um que herdou da família as bênçãos para empreender no centro da capital. Franklin Silva morava em Recife, há 16 anos conquistou seu território e sobrevive da venda de
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O vendedor José Augusto. Foto: Tatiele Sousa.
ferramentas em uma banca localizada bem no centro do Troca-troca.
"Desde 1930 minha família atua nessa região da cidade. Minha vó trabalhava no mercado central e aí fomos construindo nossa vida aqui no centro”.
Contrariando o passado, o vendedor não vê ninguém para substituílo. Ele acredita que não haverá um familiar que leve os negócios à frente. Enquanto respondia, Franklin fixava os olhos em sua banca, manuseava suas ferramentas e balançava a cabeça em negação.
Enquanto ouvíamos, ponderamos que levando em conta todo o tempo em que Franklin dedicou ao Troca-troca certamente ele deveria ter histórias para contar. E estávamos certas!
Assim que o perguntamos ele já foi soltando uma gargalhada, pelo som podíamos esperar que o case que viria ali era digno de capa de jornal. "Tem um do cigano que eu não esqueço. É o seguinte, aqui chegou um cigano e ele queria vender um ferro, só que o ferro dele não prestava já tava com defeito. Aí o que foi que ele fez, pegou um isqueiro e começou esquentar o ferro, esquentando, esquentando, esquentando, ai chegou um cara pra comprar e na hora que ele botou o ferro na tomada já tava era quente, e aí ele vendeu". Estamos na torcida para que você, leitor, não tenha sido o cliente a comprar esse ferro.
Seu Antônio Aguiar de batismo, e Ceará de batente, aproveita nossa presença para denunciar a invisibilidade. Ele prefere falar sobre lixo, a iluminação, a falta de segurança e total ausência da prefeitura.
Desesperança, agonia e desprezo. Foi tudo que Ceará quis falar. O homem que tira o sustento de sua família através da venda de televisores, geladeiras e outros usados, acredita que a falência está cada dia mais próxima, no entanto,
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Vendedor Franklin Silva. Foto: Tatiele Sousa.
"Isso aqui antigamente era um ponto turístico, agora é um ponto de lixão”.
crê ainda que tudo ali tem a mão de Deus, e que foi ele o responsável pela manutenção do seu emprego.
Assim como os trabalhadores, a figueira também resiste ao mau tempo, ao descuido e a ausência de certezas futuras de que tudo ali estará nos dias vindouros. Apesar dos percalços enfrentados pelos vendedores que ainda trabalham lá, é nítido o apreço e o apego que eles têm pelo lugar. Na entrevista eles relataram vários problemas, na falta de estrutura e de assistência do poder público, porém, em nenhum momento do nosso diálogo, qualquer entrevistado expressou que têm a intenção de desistir ou mudar de área no trabalho.
Esse carinho dos trabalhadores pela
história do lugar e também pela sua representatividade, nos fez lembrar do que a canção de autoria de José Rodrigues e Aurélio Melo diz: “Ai, troca, quem troca destroca. Minha Teresina não troco jamais”. A música
“Teresina” retrata no decorrer da sua letra, o amor de quem reside na terra do sol do equador pela cidade. Os trabalhadores que resolveram expor um pouco da sua história de vida, mostraram que apesar de alguns não serem naturais daqui, não trocariam essa capital tão calorosa. Nem a capital, e nem o seu ofício, que apesar de enfrentar preconceitos e falta de valorização, simboliza resistência e gratidão para todos que lá dependem do comércio.
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Produtos disponíveis para venda. Foto: Tatiele Sousa.
Monumento Gregório: Histórico & Macabro
Eric Medeiros
“Eu sempre soube que o Gregório tinha morrido de fome e sede. (...) Era essa a crendice popular a respeito do Gregório” foram a primeiras palavras que o escritor Enéas Barros proferiu antes de me contar a história por trás do velho monumento em formato de gota, situado entre a Av. Marechal Castelo Branco e às Margens do Rio Poty, que hoje é cercado de garrafas d’água em devoção a memória de um jovem motorista paraibano que, faminto e sedento, morreu não por falta de alimento, mas sim vítima de um passado injusto e autoritário.
Quem? O que? Onde? Como?
Quando? Por quê?
Continuando minha conversa com Enéas, o escritor prosseguiu me contando sua trajetória com a história que posteriormente viria a se tornar o pano de fundo de um dos seus livros: o romance Parabélum. Eneas, que havia crescido perto de onde Gregório morreu e que em sua vida inteira acreditou que o falecido havia morrido de sede, um dia encontrou uma reportagem em um jornal local, escrita pro Tarcísio Vilarinho, que falava o que tinha acontecido com o algoz de Gregório
A partir da descoberta de que foi um assassinato, o escritor começou uma
buscar a respeito de mais informações sobre os acontecimentos em volta da morte do motorista, iniciando pelo fato de que se houve mesmo um assassinato haveria um processo, mas o mesmo não existia mais. Então, sua procura se voltou aos anais dos diários de justiça onde encontrou informações a respeito do assassino juntamente com o que a defesa alegou na época, permitindo que aos poucos pudesse montar toda história que se inicia na cidade de Barras há 95 anos atrás: Antigamente, quando uma cidade do interior ia receber uma visita, grande parte dos moradores iam para fora da cidade esperar o visitante para que todo mundo pudesse entrar na cidade comemorando, tocando foguete e aquela coisa toda. E na sexta feira que
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antecedeu a morte do Gregório (dia 14 de Setembro de 1927) não foi diferente na cidade de Barras, que esperava a vinda do bispo Dom Severino.
Nessa época, o paraibano José Gregório trabalhava como motorista da paroquia do município. Então, o mesmo entrou no carro da marca Ford T, apelidado de Ford Bigode, junto com o Coronel Otávio Melo, o Padre Lindolfo Uchôa e o Juiz Arimateia Tito seguindo em direção a entrada da cidade para esperar Dom Severino, mas Dom Severino não apareceu. Portanto, voltaram; e nesta volta uma criança se projetou na frente do carro paroquial não possibilitando o tempo suficiente para Gregório frear acabando por atropelando o menino,
passando o pneu esquerdo do carro em cima de seu tórax.
Após o acidente, a criança foi socorrida para dentro de casa, pois logo chegou um médico e depois o pai desse menino, o Tenente Florentino Cardoso, que na época era delegado de barras. Um homem cruel, violento e grosseiro, que como descrito em uma crônica de 1980 do professor A. tito Filho, já tinha o hábito de bater em seus prisioneiros. Florentino gritou mandando prender Gregório na cadeia pública, o proibindo de receber visita, comida, bebida e o isolando completamente, prometendo que se o filho dele morresse Gregório morreria também.
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Monumento Gregório.
A Noite de Sexta; O Dia de Sábado; a Manhã de Domingo
No final da tarde de domingo que antecedeu sua morte, o Juiz Arimateia Tito, que presenciou o acidente dentro do carro com Gregório, impetrou o Habeas Corpus pedindo que soltasse o motorista. Esse Habeas Corpus chegou no momento do falecimento do filho de Florentino; e após a morte da criança, o tenente alugou um caminhão colocando todas as suas coisas dentro do veículo, contando com sua mulher, sua outra filha, Gregório e o filho morto, partindo em direção a Teresina. Saindo 11 horas da noite e chegando às 7 da manhã de uma segunda feira na capital, Florentino parou o caminhão do outro lado do rio, atravessou o Poty com todas as suas coisas, mas quando chegou do outro lado da margem se desesperou e atirou no ouvido direito do jovem Paraibano de apenas 20 anos de idade com uma parabélum, uma antiga pistola semiautomática fabricada na Alemanha, conforme afirma seu atestado de óbito.
Existem algumas fotos que supostamente registraram esse
assassinato, mas o próprio Florentino Cardoso negou que seja ele atirando na foto.
“
Eu digo no meu livro que isso aqui é impossível porque não existia um fotografo lá. Para mim, é uma reconstituição do crime. ” Disse Enéas
Barros sobre a credibilidade da fotografia.
Depois do gatilho
Por fim, o tenente acabou por se entregar as autoridades pedindo apenas que antes enterrasse seu próprio filho. Do lado de fora da cadeia pública, onde Florentino se encontrava preso, em repúdio ao assassinato, vários motoristas de Teresina organizaram uma passeata em volta da penitenciária promovendo um buzinaço em seus carros para que assim pudessem perturbar aquele que matou um irmão de trabalho.
Porém, alguns meses depois Florentino conseguiu arquitetar uma
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Suposto registro do assassinato do Gregorio.
fuga da penitenciária, depois da capital e, pôr fim, do estado do Piauí, se refugiando na Bahia. Quando o prenderam 8 anos depois, por volta de 1935, Florentino foi recambiado para Teresina indo a julgamento onde foi efetuada sua condenação que depois foi anulada pela defesa do delegado, sendo absolvido no segundo e posteriormente no terceiro júri também.
Depois da absolvição ele foi embora para cidade Crateús. Em depoimento ao perito criminal Delfino Vital da Cunha Araújo, Florentino declarou em uma entrevista que não havia motivo para se sentir arrependido, pois havia transformado um pecador em santo, conforme expõe a matéria do jornal O Estado, lançada no ano de 16 de Setembro de 1975.
Santo ou Mártir?
Gregório não é um santo, por mais que exista um movimento em Teresina capitaneado pelo doutor Luís Ayrton com pretensão de canonizar a figura do motorista que acabou por ser barrado pelo alto custo que uma canonização acarreta; não! Gregório é uma vítima de um passado injusto e autoritário que figuras de autoridades nem ao menos se importavam de fingir arrependimento por seus abusos de poder, mas isso não significa que sua memória não deva ser agraciada. No início da década de
80, foi inaugurado um grande monumento em formato de gota d’água onde os devotos de Gregório vão para pagar promessas, pedir milagres ou agradecer realizações, sendo uma das sepulturas mais visitadas no dia de finados dentro da capital. Alguns livros também já foram lançados abordando a sua história como o já citado Parabélum, de Enéas Barros, além de uma teledramaturgia de sua história, exibida pela TV Cidade Verde, pois não podemos desfazer as injustiças do passado, mas não é por isso que devemos esquecê-las.
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Foto da capa do jornal O ESTADO 16/09/1975.
Crispim, o jovem do Rio Poti e Parnaíba
Por Glenda Muryelle
Engana-se quem pensa que é somente a novela Pantanal que tem uma entidade que perambula nos rios do Mato Grosso, sendo o “Velho do Rio”, que protege a Fauna e a Flora local. No Piauí, também tem um grande mistério nos rios Poti e Parnaíba, bem, pelo menos é o que as pessoas mais antigas falam, estou falando do Crispim, popularmente conhecido como Cabeça de Cuia.
Mas diferente do Protetor do Pantanal que é benevolente e sábio, reza a lenda que o que Crispim faz
nos Rios Poti e Parnaíba não tem nada de “bom e sábio. A estória secular contada de geração para geração, fala de Crispim, um jovem de baixa renda e que morava no Poti Velho com sua mãe. Após passar o dia no Rio Parnaíba, tentando pescar um peixe e não tendo êxito, ele decide voltar para casa e jantar. Mas ao chegar, se depara com uma sopa rasa, feita com restos de ossos, já que era rotineiro a falta de carne em sua casa.
Demonstrando não seguir o 1°
Mandamento da Lei de Deus, ele
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Estátua do Cabeça de Cuia. Foto: Reprodução/Blog Lídia Brito.
arremessa um pedaço de osso de vaca na cabeça de sua mãe e que acaba morrendo. Mas antes de morrer, ela lhe joga uma “praga”, diz que ele vai ficar vagando pelo Rio Parnaíba e Poti ficando com a cabeça com o formato de uma cuia e só se libertaria depois que devorasse 7 Virgens Maria, estou falando das mulheres e não da Santa religiosa. Também não que fosse certo se fosse mulheres. Continuando, depois da maldição Crispim ficou enlouquecido e se afogou no Rio Parnaíba e está preso lá até nos dias de hoje em busca das 7 virgens Maria.
Venhamos e Convenhamos, a mulher é arretada e invocada, antes de morrer ela só quis jogar uma
“maldição” no filho ingrato. Eu como uma boa medrosa, teria receio de andar por aquela região que o Crispim fica vagando. Essa história logo me leva aos tempos do colégio, quando aprendemos sobre folclore, cultura nacional e regional. Eu pelo menos ficava super animada para participar de peças teatrais sobre o assunto na Semana Nacional do Folclore.
A estudante do Ensino Fundamental II, AnnaLiz de 14 anos, conta como aprendeu sobre a lenda, “Eu aprendi na escola, ainda quando pequena. Me lembro que os mais velhos usavam a história para me dar lição de moral quando fazia algo de errado com meus pais. E apesar de saber que a lenda não
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Antiga ponte de madeira sobre o Rio Poti. Foto: Reprodução/Acervo Digital Teresina Antiga.
era real, eu tinha medo do Cabeça de Cuia aparecer no meu quarto durante a noite ou então ficar com a cabeça igual a dele”, finaliza a estudante.
Sendo cético ou não, temos que reconhecer a influência e grandiosidade que essa lenda popular se tornou. “Ah, ninguém liga mais para essas besteiras”, aí vai de cada uma, mas a besteira é falar que ninguém liga. Crispim é tão vivo na história popular do Piauiense que ele ganhou uma estátua para o povo lembrar de sua história. O seu monumento fica localizado no Parque Ambiental Encontro dos Rios, e é um dos pontos turísticos de Teresina mais movimentados. Lá tem escrita em uma pedra a lenda conhecida por todos e é um ponto em que muitas pessoas tiram fotografias. De vez em quando surge uma história ou outra que o Crispim está lá, só observando as pessoas e morrendo de vontade de devorar uma virgem Maria para se livrar de sua maldição.
Dizem as más línguas (ou só a minha mesma), que o Crispim ama ficar em seus locais típicos, como: Rio Poti e Parnaíba, Encontro dos Rios e no Bairro Poti Velho, afinal lá foi onde ele viveu sua vida toda. Não é difícil encontrar algum morador do bairro que conheça a história do jovem pescador que assassinou sua mãe e foi “amaldiçoado”. É o caso do Seu Lima, comerciante do bairro, de 64 anos e que mora há mais de 4 décadas no
Poti Velho, “Quando eu cheguei para morar aqui com minha família já se tinha a história do Cabeça de Cuia, as pessoas na época costumavam levar a sério a história mesmo que soubesse que não era real. Os pescadores tinham receio de falar mal dos rios enquanto estivessem lá, só com medo do Crispim puxar eles para debaixo d’água. As meninas com nome de Maria é que não podiam mesmo andar por aquelas bandas, principalmente a noite”, ressalta o trabalhador.
Bem, nos dias de hoje é mais difícil encontrar pessoas mais jovens que acreditem nesses mitos que foram repassados de geração para geração, muitas vezes por não ter interesses nessas “besteiras”, e mesmo que não acreditem nelas acabam nem escutando a lenda urbana o que faz com quem algumas dessas lendas morram. O que nos leva a um ponto, como essas histórias se criavam e porque as pessoas tinham mais o costume de acreditar nelas?
O Professor de História do Piauí, Wênio Ujarrás, explica que em partes a história acontecia e que as pessoas aumentavam elas, tanto para se criar um clima de terror nas pessoas e como forma de entretenimento, já que essas histórias era uma forma também das pessoas se divertirem, “No bairro do Poti Velho tem uma cultura grande da pescaria, e aconteciam acidentes. A história do Cabeça de Cuia pode ser
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mais uma história que foi aumentada pela população da época e que segue no imaginário. Hoje as pessoas dão menos créditos para essas lendas, por terem mais conhecimento. Mas elas são de uma riqueza extraordinária e não devem morrer na memória das pessoas”, finaliza o Professor.
E nem só de pão mesmo viverá o homem, o hábito da leitura e de buscar conhecimento sobre o seu lugar é de extrema riqueza cultural, afinal, saber sobre o seu folclore local é primordial. É em um momento desse que eu
venderia um rim, ou não, para viver nesta época e estar na casa de Crispim e saber o que de fato aconteceu. Qual foi o exagero da população. Ah, se o povo de Pantanal pode acreditar no “Velho do Rio” porque eu não posso acreditar no “Jovem do Rio”.
O fato é que independente se a história é verdadeira ou não ela deve continuar viva no imaginário popular. Uma lenda que vem dos nossos antepassados faz parte de quem somos e fala sobre o local a que pertencemos.
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O Cabeça de Cuia. Foto: Reprodução/Toda Matéria.
VIVA P2
Lourrany Menezes & Sarah D’arc
Em Teresina, as praças são importantes ambientes de convívio e lazer que fazem parte da rotina e da cultura da nossa capital não litorânea. Quem nunca marcou um piquenique no Parque da Cidadania ou encontrou amigos para conversar na Potycabana?. Estes ambientes carregam longas histórias que atravessaram gerações e nos últimos anos se popularizaram ainda mais em nossa cidade.
Mas aqui pergunto, quem já marcou
um momento de lazer e descontração na Praça Pedro II?. Aqui vos digo, você não sabe o que está perdendo. Acredito que poucas pessoas com menos de 30 anos tenham o hábito de frequentar tal ambiente que um dia foi tão vivo em nossa capital e muito bem frequentado por esta faixa etária.
A Praça Pedro II é composta por árvores centenárias e cercada de alguns dos principais marcos arquitetônicos da cidade: Teatro 4 de Setembro, Cine Rex, Clube dos Diários, Central
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Lucas Alves em Café Art Bar. Foto por Sarah D’arc
de Artesanato Mestre Dezinho. Todo esse cenário, na década entre 1940 e 1950 foi palco de grandes encontros de jovens casais que aproveitaram o clima ameno provocado pela arborização e apreciavam todos os shows, festivais, exposições e todas as outras manifestações culturais que aconteciam no entorno da charmosa P2, como chamam os mais íntimos.
E por falar em intimidade com esse local, lembrei de um amigo que frequenta assiduamente a praça e o convidei para uma conversa no Café Art Bar, um ponto icônico localizado entre o Teatro 4 de Setembro e o antigo Cine Rex.
Para muitas pessoas a Praça Pedro II e o seu entorno, traz um sentimento de nostalgia, principalmente para Lucas Alves, que começou frequentar o local com o seu avô quando ainda era criança.
Iniciamos a nossa conversa ao som de “O Ritmo da Chuva - Demétrius”, sob o sol das 17h, um clima bem descontraído que aos poucos foi ganhando um tom sério e reflexivo. Lucas nos contou que gostaria de ver a praça bem frequentada como era
há umas décadas. “ Esse local já foi um centro cultural e artístico, muito forte da cidade. Gostaria de ver projetos que retomassem aqui como um centro cultural, um polo artístico, polo de cinema, polo teatral. ”
A Praça Pedro II deveria ser um local onde as pessoas respirassem lazer e cultura, afinal ela foi projetada com esse intuito. Mas com as mudanças no cenário da capital, outros lugares de lazer foram surgindo e a P2 foi ficando na memória de quem um dia aproveitou ao máximo esse ambiente na juventude.
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Painel feito por @cactus.ink na fachada do Cine Rex. Foto: Sarah D’arc
Entre um copinho de cerveja e outro, paramos para observar quem são as pessoas que realmente estão ocupando a praça, Lucas comentou “ Moram famílias nessa praça e o centro está repleto de moradias abandonadas. Minha mãe sempre comenta que aquela casa ali, por exemplo, poderia ser transformada em albergue, ninguém mora lá. Mas a cada dia que passa, existem projetos de tirar o povo do centro e vender para transformar em estacionamentos. Eu sou contra.”
Continuei observando o local e as pessoas que estavam ali, queria
encontrar alguém que não estivesse apenas de passagem, foi quando avistei um casal de hippie vendendo artesanato pelo local. Me aproximei e comecei conversar com Rosimary Lima, ela me contou que trabalha na praça há 13 anos. Para ela a praça está morrendo “ A praça está deserta… Ao longo dos anos foram tirando toda a cultura daqui e levando para outros espaços ”.
A praça não está deserta de pessoas, ela está deserta de cultura. Todos os dias, centenas de pessoas atravessam o local para acessar a parte comercial do centro, no meio dessas pessoas Rosi trabalha para retirar seu sustento, mas nem sempre consegue. Neste dia ela me falou que ainda não tinha almoçado.
“Tiraram todos os eventos que aconteciam na praça e levaram para o Centro de Convenções, para o shopping, ponte estaiada. O SALIPI aconteceu aqui e levaram para a Universidade, não temos mais o Boca da Noite. O que faz a gente sobreviver é o Teatro”
Rosi foi muito gentil, ela consertou minha pulseira que estava quebrada
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e aproveitei para comprar uma nova, suas peças são bem trabalhadas, possuem um ótimo acabamento. Sem dúvidas, o seu trabalho merecia ser exposto a mais pessoas.
Voltei para a mesa do Café Art Bar, Lucas estava com uma caneta e um bloquinho de papel, perguntei o que ele estava fazendo e me surpreendi com a sua resposta, ele disse: “Aqui eu vivo meus momentos de liberdade ou solidão quando quero ficar sozinho, lendo, produzindo. Eu gosto de escrever, observando eu escrevo poesias… Aqui eu sinto a esperança de que a cidade tenha um polo cultural de novo.”
Eu entendo o Lucas, as melhores produções acontecem quando estamos calmos, relaxados, longe de ambientes que nos causam ansiedade ou que limitam a criatividade. Isso é o ócio criativo e sinceramente, sinto que falta um pouco disso na minha vida. Talvez não só na minha, mas em centenas de Teresinenses que atravessam a P2 para ir trabalhar, atrasados, preocupados em produzir, sobrecarregados com a rotina e que nunca param naquela praça para vivenciar um momento de
lazer, calmaria, paz, cultura e diversão. Por momentos assim, a PII merece ser ocupada, merece está viva.
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Lucas Alves em frente ao Teatro 4 de Setembro. Foto de Lucas Alves
De vez em quando faz bem mexer no time que tá ganhando
Por Isadora Holanda
Bem, vou começar do início, sempre gostei de ler livros de preferência com conteúdo de autoajuda, romance fantasia e poesias. Então, dificilmente consigo romper esse estilo de gosto e acabo seguindo sempre esse mesmo ciclo quando decido comprar um livro. Para falar a verdade, não gosto muito de mudanças, pelo contrário, adoro uma rotina. E uma simples ideia de uma programação inesperada durante minha semana já se torna o suficiente para me deixar incomodada, afinal nunca gostei de surpresas.
Voltando ao assunto de comprar um livro, o que também é raro, pois já tenho muitos e com o tempo perdi a vontade de gastar dinheiro com eles. Normalmente, troco os que eu tenho por outros livros, entre os meus amigos ou conhecidos.
Mas quando se tratou dos livros de Colleen Hoover foi diferente. Descobri essa autora através das redes sociais (tik tok) durante a Pandemia do Covid-19, seus livros são voltados para um público principalmente adulto envolvendo romance, ficção
e sexualidade. Porém, eles vão além disso. Algumas de suas obras trazem debate a violência doméstica, conflitos de identidade, abuso psicológico e depressão. Então, como falei no início do texto, esse estilo de literatura não me agrada. Pois acredito que já enfrentamos guerras particulares o suficiente, então porque escolher ler sobre esses tipos de assuntos?
Era assim que eu pensava, mas tudo mudou quando comecei a estagiar em novembro de 2021. Estava na segunda semana do estágio, quando vi um livro em cima da mesa com o seguinte título: Todas as Suas (im)perfeições de Colleen Hoover, olhei para o relógio, era 07:15, cedo demais, então peguei o livro e comecei a ler só pelo tédio do horário. Quando deu 08:00 horas, eu já estava bastante envolvida com a história, bati meu ponto e perguntei quem era a dona do livro, me falaram que era uma estagiária de Direito e que ela estava de atestado já tinha alguns dias. Então, peguei o livro e levei para minha sala e lá pelo fato de ser um órgão público, normalmente, os dias são calmos.
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Já era 13:00 da tarde, quando eu estava na metade do livro, fiquei fascinada com a história, com os cenários das personagens e com a sensibilidade da autora; enfim com tudo. A maneira como ela descreve as sensações dos personagens simplesmente causa uma identificação tamanha, para quem já passou ou conviveu com algo parecido. Especialmente nesse livro ela foca no sentimento e como ele é capaz de sufocar e matar as relações, principalmente pela falta de comunicação e sinceridade, evidenciando que só o “gostar” pode não ser o suficiente.
Assim, cheguei à conclusão que é importante falar ou ler sobre esses assuntos. E que eles são apenas feridas, que foram envolvidas com curativos mal feitos, e a gente não sabe como fazer para isso cicatrizar logo. Então, vejo nos livros da Colleen esse apoio e conhecimento sobre essas trocas de vínculos, além de empatia para diversos tipos de relações. Concluindo, fiquei vidrada e levei o livro para casa, posso afirmar que furtei o livro, pois não pedi permissão e me confie que a dona não iria voltar tão cedo, pelo menos não naquele dia.
A quinta- feira passou voando e na sexta pela manhã já estava indo novamente para o estágio. Só faltava umas 5 páginas para saber o final da história, cheguei 07:15 como sempre e infelizmente a dona do livro já estava lá. Fiquei tão sem graça e botei o livro no mesmo lugar e em seguida fui ao seu encontro. Evidente que ela não gostou, não éramos e ainda não somos amigas, além disso é notável que ela vive totalmente no mundo dela, é dona de uma personalidade séria, e anda quase sempre com a cara trancada. Bom e eu peguei algo que lhe pertencia sem seu o consentimento.
Perguntei do seu estado físico, devido ao seu atestado médico e ela foi bem breve na explicação, falei que o livro era muito bom e me surpreendi com a autora, ela sorriu seco e saiu da sala. Então ficou na cara que ela não
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O livro Todas as suas Imperfeições, da autora Colleen Hoover. Foto: Brenda Loayne/Arquivo Pessoal.
iria me emprestar esse livro, já tinha trocado mensagens com algumas pessoas sobre esse livro, mas ninguém do meu ciclo tinha. Sendo assim, joguei para os meus amigos e incentivei os três a lerem, não só o que eu li, mas outros livros dessa autora também, pois imaginei que eles iriam gostar e se identificar tanto quanto eu.
E foi o que aconteceu. Normalmente eles são muito ocupados, pois sua profissões são bastante sobrecarregadas. Aliás aqui se trata de um professor de ensino médio, uma médica em residência e uma engenheira civil. Mas para o azar ou sorte deles, os três estavam de férias, e eu como uma pessoa insistente que sou, incentivei minha amiga engenheira a comprar um Box da Colleen, assim deu para cada um escolher um livro da autora e tirarem suas próprias conclusões.
“Eu não achei nada demais, já li até outros livros com essa mesma pegada também, mas devo reconhecer que em uma parte especifica naquele lá (Livro: é assim que acaba ) que fiquei chocado, como pode a gente ser manipulado e pensar que estamos totalmente no controle da relação ?! Foi assim que me senti quando pensava que estava agindo de acordo com a tal situação, quando na verdade eu estava fazendo totalmente o desejo da outra pessoa, e nem me toquei disso na época. Esse livro retrata muito bem esse sentimento de posse, manipulação, em
troca de valores contraditórios.”
Lucca Guilherme
“Já tinha visto falarem dessa autora e só comecei a ler apenas por indicação. Eu só li um livro dela ( Livro: se não fosse você) e acabei gostando bastante, acho fundamental essa junção de realidade e fantasia que ela coloca nas relações pessoais. Tipo, fantasiar já é bom, e quando junta com uma realidade torna a trama muito mais emocionante, pois somos imperfeitos e a graça está justamente nisso de apreender e investir em uma relação apesar dos pesares.” — Maria Letícia
“Essa autora está muita em alta e me chamou atenção o fato dela está tendo muito reconhecimento no Brasil. Seus livros estão entre os mais vendidos, tanto nas livraria virtuais, como nas físicas. Então, eu decidi comprar um box dela, e eu gostei muito. Eu acho ela uma escritora fantástica, ela sabe abordar temas muito importantes de uma forma que oriente, ensine e consequentemente faça a pessoa ter uma visão daquela história de um outro ponto de vista.” — Brenda Loyane.
Não preciso falar que virei fã né? Se não fosse da maneira que aconteceu é quase certeza que nunca me interessaria em ler esses livros.
Entretanto, tive essa oportunidade que me fez repensar que, de vez em quando faz bem sair da nossa bolha, só de vez em quando. Ah, e sim eu consegui terminar de ler o livro “emprestado”
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da mesma forma inusitada que comecei. Em uma Livraria famosa do Shopping Rio Poty, na qual eu pedi o livro para uma vendedora e ela apenas me observou, disfarcei ao máximo, que deu até para eu conseguir ler as últimas páginas. Afinal, eu dificilmente compro livros, eu os troco.
Um pouco sobre Colleen Hoover
Pelo fato de Colleen escrever sobre os mais variados tipos de relacionamentos, deduzi que sua vida amorosa devia ter sido muito agitada. E em consequência, fosse uma pessoa muito vivida nesse quesito. Mas, a verdade é que durante toda sua vida
ela só teve um namorado e ainda o conheceu no ensino médio, aos seus 20 anos. Com qual se casou e teve três filhos.
Ela é uma pessoa que se mostra ser muito prática e despachada em suas atitudes. Já declarou que não firma contratos com prazos rígidos ou com data fixa para as publicações de seus livros. Pois, afirma que só escreve quando está inspirada. Assim, podendo escrever 16 páginas em uma semana ou simplesmente não escrever nada durante meses, dependendo exclusivamente do seu humor.
Suas histórias já me surpreenderam bastante. Pois tem três livros específicos que já li, onde ela mudou totalmente o destino de seus personagens. E isso ela justificou em uma de suas poucas entrevistas: “Honestamente, eu simplesmente amo tentar adivinhar o final de livros e filmes, fiz isso durante toda minha vida. E quando estou escrevendo, eu meio que coloco isso em jogo e tento adivinhar para onde os leitores podem ir e, então eu vou na direção completamente oposta ”
Ela também não é muito de demonstrar suas emoções. Visto que, em algumas de suas entrevistas, ela chegou a se definir como uma pessoa bastante racional, um pouco fria e nem pouco sentimental no seu cotidiano. Apesar de seus livros possuir excessos de sensibilidade e emoção.
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Coleção de livros autora. Foto: Brenda Loayne/Arquivo Pessoal.
Isso, me fez procurar seu signo, e descobri que ela é sagitariana, o que normalmente significa pessoas “calorosas”. Pois é um signo do elemento fogo e o que não falta nele é emoções a flor da pele. Aliás, na maioria das vezes o que predomina nesse signo é o extremo de sensações, mas neutralidade jamais. Digo isso, pois meus melhores amigos são sagitarianos e minha Lua (segundo o mapa astral, lua representa os sentimentos, os instintos, a maneira como se reage diante das situações da vida) também é em sagitário, então posso dizer que sou familiarizada com esse assunto.
Agora parando para pensar, eu não sei como a definir porque eu achei ela uma pessoa sensível e emotiva durante suas entrevistas. Não acho que ela seja da maneira que se descreveu. Talvez fazendo seu mapa astral, sua lua pode ser em aquário (signo racional, frio e calculista).
Hoover chegou a trabalhar como professora por um tempo, mas é formada em Serviço Social pela Universidade de Texas A&MCommerce, ela declarou que seu trabalho ajudou muito a criar suas narrativas. Agora sim, entendo como ela tem inspiração para criar
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A autora Colleen Hoover. Foto: Reprodução/Internet.
tantas histórias, pois essa área de serviço social é comprometida com as necessidades da sociedade. E isso permite uma gama de conhecimento sobre diversas vivências. Me identifico mais uma vez com ela, porque já trabalhei um tempo com atendimento ao público, e foi uma experiência cansativa, mas ao mesmo tempo revigorante, pois tive a oportunidade de aprender a valorizar cada fase da minha vida. Porém, Collen Hoover parou de trabalhar com esse serviço e se dedicou totalmente a escrita em janeiro de 2012, e atualmente vive no Texas com sua família.
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“Quero que lembre quem você é, apesar de todas as coisas ruins que estão acontecendo com você. Porque essas coisas ruins não são você. São apenas coisas ruins que aconteceram com você.’’
Colleen Hoover
Um B-R-O BRÓ especial: A 1ª edição do Festival Girasol em Teresina
Raissa Gonçalves & Eliane Carvalho
Desde que eu, Raissa, me tornei fã da Duda Beat, eu sonhava com um show dela aqui em Teresina. E para a minha alegria e a dos meus amigos que são igualmente fãs da artista, esse momento chegou: um festival novo em Teresina anunciou como primeira atração justo a Duda Beat. Que momento!
Não demorou muito para surgir outras atrações ao longo das semanas e meses, mas assim que abriu o primeiro
lote, em junho ainda, eu garanti o passaporte para os dois dias do festival. Afinal, a Eduarda Bittencourt Simões, Duda Beat, já estava confirmada, e esse evento eu não podia perder por nada!
Quando anunciaram o Festival
Girasol , confesso que fiquei muito surpresa! De cara, dava para ver que se tratava de um evento de música totalmente diferente do que já aconteceu em The . Nunca houve tantos nomes de artistas e bandas nacionais e locais em um
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Foto: Raissa Caroline
único evento. E como se tratava da primeira edição, o teresinense ficou meio “cabreiro”, como se fala no bom piauiês, afinal, era algo até então desconhecido e jamais experienciado antes, ninguém sabia como seria. Alguns deram bola, outros nem tanto.
E sei até, que muita gente não foi pois não “botou muita fé”, e hoje, depois do sucesso do festival, se arrependeu de não ter ido.
Mas desde o início, toda a proposta do evento me chamou muita atenção e me instigou ainda mais a pensar que seria um fim de semana incrível. Aliás, a identidade visual do evento foi algo que me impactou bastante e achei simplesmente linda, a cara de Teresina.
Chegou setembro e a ansiedade
. Eu estava desde junho na expectativa. Vários nomes estavam confirmados no evento a essa altura, dentre eles: Alceu Valença, Frejat, Banda Melim, Lagum, Emicida, LIL WHIND, Baiana System, entre outros. Ao todo o evento contou com mais de 20 atrações ao longo dos 2 dias de festival .
Algumas semanas antes do evento, foi anunciado a Cidade do Sol , nome dado ao local que aconteceria o Festival. Além disso, também foram anunciados esportes radicais, como uma tirolesa que passaria pela arena da praia de verão, estandes com diferentes propostas, praça de alimentação, em resumo, o mapa inteiro do local . E tava lindo demais! Mas a questão era se de
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Foto de divulgação: Reprodução Instagram Festival Girasol
fato, a realidade ia corresponder a todas essas expectativas geradas.
Na semana do Festival, também foi comunicado que precisaríamos trocar os ingressos pela pulseira. Na quinta-feira, dois dias antes, fui até o Teresina Shopping e fiz a troca do meu ingresso digital e recebi a foi a organização em relação a troca de ingressos pela pulseira. Ele que já havia participado de um outro
evento com essa mesma dinâmica, porém trocando o ingresso pelo abadá, nesse evento em específico, ele achou um caos e o Girasol, na opinião dele, foi bem rápido e simples,
Chegou o dia do evento, e eu já amanheci com a roupa de ir! Mentira, tive que ir trabalhar antes (aff!), mas quando deu duas e pouco da tarde, corri pra casa para iniciar a produção. Me atrasei porque borrei a make umas cinco vezes, será que estava muito ansiosa? Com certeza! Chegamos seis horas da tarde no evento, que havia iniciado às quatro. E Duda Beat estava
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Pulseira do Carlos, que comprou apenas o ingresso para o sábado.
Como comprei os dois dias, a minha pulseira era passaporte.
prevista para subir ao palco meia noite, então haja pique! Mas como a adrenalina era tanta, a gente não parou nenhum segundo desde o momento que chegamos. Quer dizer, paramos para comer. E para ser sincera, a comida estava bem cara, mas já era esperado.
O evento aconteceu na arena da Praia de Verão, que fica dentro do Teresina Shopping. Combinei de dividir o Uber com o Carlos, pois ele mora em um bairro próximo ao meu. Quando chegamos ao local, mesmo do lado de fora e de longe, consegui enxergar o Palco Girasol, palco que recebe as atrações nacionais, como podem perceber, se tratava de um palco bem alto. Do
lado de fora vi que algumas pessoas tiravam fotos com os adesivos da logo do evento ao fundo, me lembrou um pouco do festival Lollapalooza, onde as pessoas que participam do evento costumam tirar fotos com os cartazes do evento no fundo. E me veio à mente: que estávamos em uma espécie de Lollapalooza do Piauí.
Nos aproximamos da entrada do evento, tinha uma estrutura bem grande e alta, e várias grades de separação. Paramos para tirar algumas selfies e logo em seguida, seguimos pelo caminho das grades para sermos revistados e apresentarmos a pulseira do evento.
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Entrada do evento. Foto: Raissa Gonçalves.
Ao entrar no evento nos deparamos com um outro local para tirar fotos, algumas paredes que ficavam de frente para a entrada estavam todas adesivadas com a logo do festival, e assim várias pessoas tiravam fotos nesse local. E aproveitando a luz do pôrdo-sol, tiramos muitas fotos também.
Quando entrei no local, dava para sentir no ar uma atmosfera de festival mesmo . Me deparei com uma Teresina bastante descolada, usando looks diferentes do que costumamos ver na cidade, uma vibe bem festival mesmo. Acredito que pelo evento trazer tantos nomes nacionais que abraçam diferentes bolhas, conseguimos enxergar uma espécie de lado B dos teresinenses. Particularmente, fiquei encantada com esse lado aqui, achei as pessoas tão interessantes, pelo menos visualmente. Pode-se dizer que os teresinenses entregaram muito no look.
A parede de fotos ficava entre o caminho que leva para os estandes e o local dos shows, e a praça de alimentação. Conforme fomos seguindo pelos espaços, fui reconhecendo o mapa do evento que havia sido apresentado, e de fato
constando que estava tudo conforme o proposto. Tudo muito lindo, diga-se de passagem, e empolgava bastante.
Uns minutos antes tínhamos avisado no grupo do WhatsApp, que foi criado especialmente para o evento, que já estávamos no local. Logo encontramos dois amigos que já haviam chegado minutos antes, Matheus e Vinicius.
Como estávamos com muita fome, nos dirigimos diretamente para a barraca da “Hot e Go!”, recomendação do Matheus. Nem pensei muito, e fui direto fazer o pedido e na hora descobri que custava vinte reais o hot dog, mesmo achando caro, paguei e prossegui com o pedido. A fome falou mais alto.
Já sentada na mesa e comendo, avistei que o pessoal ao lado comia um arrumadinho muito bonito. Na hora me arrependi de não ter pesquisado as outras opções. Mas já era. Pelo menos o hot dog tava gostoso, no entanto, a cada mordida caia os ingredientes em cima da mesa e no chão, de tão lotado que tava o pão de ingrediente.
Fiz até uma piada: “Compre um cachorro-quente e seja humilhado!”, porque você
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come e sai todo sujo de comida.
Assim que terminamos de comer, fomos encontrar o Jorge e a Natália, que anunciaram sua chegada no evento. Foi nesse momento que nos dirigimos para a área do estandes e para o local dos palcos.
Haviam vários estandes, não prestei muita atenção em cada um. Mas um deles nos chamou muita atenção, o estande da Ice, pois tinha um fundo com leds que era muito instagramável. Passamos cerca de meia hora lá tirando fotos. Tinha vários estandes com propostas diferentes, não me aprofundei em quase nenhum, e depois que tinha passado o evento descobri que alguns deles estavam dando brindes e oferecendo até massagem!
1º Dia - No on: Melim, Lagum e Duda Beat, tirolesa, amigos queridos.
No off: perda de parte da audição, pé em carne viva, joelho prejudicado.
volta, tirar fotos, e “curiar” o que tinha de bom pelo local. Não explorei toda a Cidade do Sol, porque fiquei com preguiça mesmo, então fiquei apenas em alguns espaços, mas logo fui com meus amigos para a fila da tirolesa, e lá ficamos por mais ou menos uma hora. Apesar da longa espera, nós não queríamos sair do festival sem ter tido essa experiência, então aguardamos. E foi massa!
Depois disso, não demorou muito para começar o show da banda Melim, que estava previsto para ser às 20h, mas atrasou uma hora e iniciou às 21h. Gosto de Melim? Não tenho nada contra, mas também nada a favor. Mas acho que tem sim, vários pontos a favor. E no contexto em que estávamos, deu para curtir bastante o show deles. Apesar de não ser a minha praia.
Queria muito ter curtido cada show do início ao fim, porém eu não conhecia todas as atrações, então só posso falar das que eu de fato vivenciei. Assistimos um pouco do show de Planta e Raiz, mas logo em seguida, fomos dar uma
Assim como conseguimos curtir muito o show do Lagum, mesmo sem conhecer muitas músicas. Se você tem a mente aberta e vontade de ser feliz: qualquer coisa é uma oportunidade para isso. E lá estava eu, agarrando as pequenas oportunidades. Até mesmo quando derramaram cerveja na minha roupa, eu não fiquei com raiva ou
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briguei, só respondi “mulher tu me molhou toda”, simplesmente porque eu não queria estragar o momento.
Depois de Melim, tivemos um break e uma atração local entre as atrações nacionais e aproveitamos para lanchar. Era em torno das onze horas da noite. Depois disso, foi quando começou o show da banda Lagum, que eu só conhecia duas músicas. Mas curtimos bastante também. Inclusive, para uma não-fã, eu achei o show deles muito bom!
Assim que acabou, fomos nos espremendo para perto do palco, a gente queria ficar na grade para ver a Duda de pertinho. E de certa forma, foi uma briga, porque muita gente queria o mesmo. Mas conseguimos conquistar nosso espaço na frente.
Assim que Duda subiu ao palco foi um mix de emoções. Fiquei surpresa do quanto ela é mais bonita ainda pessoalmente, a mulher é gata viu. E canta e dança muito bem ao vivo. Ela cantou muitas das músicas que eu amo. Para mim, o show dela foi impecável. Só poderia ter sido mais tempo, apesar de achar que ela teve um bom tempo de show. Nesse ponto, foi culpa do evento que atrasou
uma hora o horário de entrada dela, bem como de todos os artistas.
Para meu amigo Jorge, o evento superou as expectativas , apesar de ter muitas atrações das quais ele não curtia muito, em nenhum momento ele se sentiu entediado. Só ressalta o cansaço, mas de resto achou tudo muito bonito e organizado. Ele ficou deslumbrado quando entrou no local, principalmente, por ser uma experiência nova para ele, que não costuma frequentar shows. Estruturalmente também foi algo que surpreendeu ele, pois achou o espaço dos estandes e dos banheiros ótimo. De modo geral, a experiência de estar com os amigos no evento foi algo descrito como “tudo” para ele.
Uma coisa que quero ressaltar é a estrutura do evento, de início fui nos banheiros ao lado do palco B-R-O BRÓ, que estava relativamente cheio. Mais tarde, acabei indo por conveniência nos que estavam próximos a praça, que além de mais vazios, ainda ofereciam papel, álcool em gel e desodorante. O que fez uma baita diferença! Além disso, achei os palcos, o som, a presença dos telões muito satisfatórios.
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Sobre o passaporte, para quem compra os dois dias, como foi o meu caso, é muito cansativo. Tem que ter pique mesmo. Pois devido a eu não ter parado nenhum instante fiquei com o joelho muito dolorido, em certo momento até senti que deu uma estralada, e meu pé ficou em carne viva pelo longo tempo em pé. Outra coisa também foi que quando acabou o show da Duda, por estarmos muito perto do som, a gente ficou com parte da audição prejudicada, um leve zumbido no ouvido, e ouvindo com aquela sensação de som distante. Mas valeu a pena mesmo assim todo o perrengue.
2º Dia - No ON: Show do Lil Whind e Alceu Valença. No OFF: Uma quase desistência, cansaço, sono, energético, esperar longa espera.
Cheguei em casa praticamente três horas da madrugada. E não consegui dormir muito, pois despertei oito e meia por conta de uma fresta de luz no quarto e barulhos externos. E depois disso, não consegui dormir mais. Eu nunca tinha me sentido tão cansada em toda minha vida. Primeiro que, eu já carrego cansaço e sono acumulado por estudar e trabalhar muito. Então, antes de ir para o festival, eu já estava
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Show da Duda.
muito cansada. E depois de nove horas em pé, só piorou. E pensar que não consegui dormir quase nada e mais tarde já teria festival de novo. Eu cheguei a acreditar que não ia conseguir mesmo ir, não teria pique para o segundo dia. Por isso, anunciei meu ingresso para vender no twitter, e logo apareceu pessoas interessadas. Porém, desisti de desistir e fui.
Havia combinado com a Bia que iria com ela de carro, ela era a única do meu grupo de amigos que comprou os dois dias. Além dela, também havia combinado com uma colega de trabalho para irmos juntas. Fomos às cinco horas, e quando chegamos no Teresina Shopping, surgiu um problema já esperado: não tinha vaga no estacionamento. Passamos cerca de meia hora rodando e procurando vaga. E por fim, um carro estava saindo e conseguimos estacionar no lugar que ele estava. Um pouco distante da Praia de Verão, tivemos que caminhar um pouquinho para chegar lá.
No local do evento, já estávamos familiarizados com tudo, afinal passamos nove horas lá na noite passada. Fui direto no bar, comprar
energético e água para ver se dava energia, pois o negócio estava pesado.
O show do LIL Whind (Whindersson Nunes), estava marcado para às seis horas, então foi em torno disso que começou. Como o bar ficava de frente para o palco, nos aproximamos mais do palco para assistir ao show, pois havia sido anunciado que ele jogaria sessenta mil reais em tênis para o público. Um elemento bastante atrativo.
O show dele me surpreendeu bastante, conhecia poucas músicas e percebi que boa parte do público também desconhecia as letras, mas o trap é um ritmo que empolga bastante, então foi um show que deu para curtir bastante. Infelizmente não consegui pegar nenhum tênis, e de certo modo, eu estava com medo desse tênis voar para meu rumo, pois, sem dúvidas, seria muita confusão.
Depois disso, foram horas de sofrimento (brincadeira). Mas foi muito cansativo esperar o show do Alceu. Cada minuto foi um mini surto meu, porque toda hora minha mente e meu corpo imploravam para eu ir embora.
Quando acabou o show do LIL Whind, eu e a Bia fomos para o
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Teresina Shopping procurar um lanche mais barato. Fomos primeiro no Big Bompreço que fica dentro do Shopping, e lá compramos cheetos e bis para beliscar. Aproveitei e comprei mais outro energético, e ali percebi que tinha sido muito burra, porque achei o mesmo energético lá por menos da metade do preço que eu havia comprado no bar do evento. De lá, fomos no Sabor do Oriente comprar esfihas, eu decidi que queria uma coxinha de frango e ela seguiu com o pedido de esfihas mesmo. Nesse momento, a gente decidiu que ficaria no shopping esperando até dez horas da noite, e era cerca de oito e pouco. Não sei se foi bom ou ruim ter ficado lá. Porque o ar-condicionado e o assento das cadeiras fizeram eu ficar com mais sono e mais vontade de deitar. Por isso decidi andar um pouco e ir ao banheiro lavar o rosto. Comecei a perceber que os energéticos que eu tinha tomado haviam dado efeito rebote.
jeito foi voltar para o local do evento e aceitar que eu não ia embora tão cedo.
Chegando lá, tiramos algumas fotos mas logo fomos procurar outro lugar para sentar. Estava no show do Frejat, depois dele teria uma atração local e só então depois o show do Alceu.
Achamos umas poltronas maravilhosas em um estande e ficamos lá até o momento em que chegou um pessoal ao meu lado dizendo que o show do “fulano de tal” que seria antes do show do Alceu foi cancelado. Sendo assim, ele logo subiria ao palco. Nesse momento pensei o quanto ouvir as conversas dos outros é útil. Avisei para a Bia e fomos correndo nos posicionar próximas ao palco para o show.
Assim que eu voltei do banheiro decidi que ia embora. Sentei em um dos bancos com a Bia e chamei o uber, porém não apareceu nenhum motorista. Já eram quase dez horas, o shopping já estava fechando, e por conta disso o
Confesso que fiquei surpreendida com o show do Alceu. Não esperava que fosse ser tão bom. E no momento em que assistia, fiquei muito feliz de não ter ido embora e de ter vencido o cansaço e permanecido no show. Além do Alceu empolgar bastante, o público não ficava para trás, todos estavam muito animados e conheciam a maioria das músicas, chegando a cantar mais de duas vezes a capela. O próprio Alceu parou os instrumentos
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enquanto o público cantava em voz alta suas letras. Foi lindo de se ver! Sem dúvidas, o melhor da noite para mim.
No domingo, não consegui assistir os shows do Emicida, mas ouvi o quanto foi emocionante, bem como o show do Baiana System, mas devido ao cansaço, não pude assistir nenhum dos dois.
2ª parte - Perspectiva da Eliane
A minha perspectiva é a da pessoa que queria ir e não foi, vamos lá. Desde que eu me conheço por gente eu gosto de Rock e MPB, apesar de ter shows diversos no festival eu gostaria muito de ter ido, mas infelizmente, não deu, afinal, ainda sou estudante de jornalismo . No início não dei muita bola para esse festival, porém pelo que escutei das pessoas e vi nos stories parece que foi ótimo, para minha inveja, é claro.
Quando eu era adolescente na minha humilde cidade de 60 mil habitantes eu escutava Pitty, CPM 22, Charlie Brown Jr, Detonautas; isso já faz um tempo, confesso que deixei meio que de lado esse meu gostar no decorrer dos anos. Até que um dia Priscilla Leone de nome artístico Pitty veio
aqui em Teresina e eu não poderia deixar de ter ido e foi maravilhoso vê-la no palco. Ela é linda demais.
Mas voltando, soube que CPM22 iria tocar, pode parecer “velho” para os jovens de agora, porém foi minha adolescência e apesar de morar em uma casa simples e sempre escutar meus vizinhos ouvindo forró até altas horas da noite, nunca na minha vida gostei de forró, principalmente, do estilo “Desejo de Menina”, apesar disso existem ótimos forrós como “Anunciação”, porque se tu vens deixas os sinais bem claros porque sou muito desatenta.
Isso me lembra de Alceu Valença que também cantou no evento para felicidade dos que foram como Guilherme Torres, estudante universitário da UFPI, “a experiência foi muito boa, revi vários amigos e me diverti muito. Rodamos vários stands, ganhamos broches, copos, tirantes, porta cerveja, picolés, óculos e outros brindes gratuitos. Fomos à tirolesa, e gostamos dos shows. As únicas coisas que me incomodaram foram os preços da praça de alimentação, que estavam bem altos, e o fato do segundo dia ser em um domingo, o que fez com
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que eu não pudesse curtir o show do Alceu Valença todo e nem o do Baiana System”.”O show que mais marcou para mim foi o do Emicida, porque além de eu ser muito fã, o momento da participação do Whindersson, em que o rapper dedicou “Levanta e anda” para ele foi bastante emocionante”.
Apesar de ter vontade de conhecer o mundo, nunca fui a um festival de música como esse, aliás, eu gostaria muito de ir ao Rock’n’ Rio, mas quem sabe talvez esse meu desejo um dia se realize. Esses festivais sempre me encantaram pela diversão e pelas possibilidades. De fato, vivia sonhando com eles, o que me lembra minha vontade de vir aqui para assistir ao Piauí Pop, sim, antes que me perguntem, eu sou dessa época. Sonhava com isso e ver a Mary Jane e a poderosa voz da Elayne Leo Neo.
Dia 17 de setembro chegou, enquanto Raissa aproveitava a tirolesa, eu estava em casa, afinal era mais do que divertido assistir Pantanal, isso me lembra uma fala: que reivaaaaaaa de não ter ido . Animadíssima a minha noite de sábado, oh.
Segundo dia, 18 de setembro, me passei para o Fantástico nessa hora Hermana Monte, estudante de arquitetura estava se divertindo, “foi maravilhoso e incrível. Me diverti bastante com meus amigos. O evento também me permitiu conhecer várias atrações que eu não conhecia, locais e nacionais”. Ela me contou que o show que ela mais gostou também foi o do rapper Emicida.
Deu para notar que foi ótimo o que me resta é esperar o próximo festival e juntar as moedas.
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Oxente! 44 Show do Alceu. Foto por Raissa.
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