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VIVA P2

Lourrany Menezes & Sarah D’arc

Lucas Alves em Café Art Bar. Foto por Sarah D’arc

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Em Teresina, as praças são importantes ambientes de convívio e lazer que fazem parte da rotina e da cultura da nossa capital não litorânea. Quem nunca marcou um piquenique no Parque da Cidadania ou encontrou amigos para conversar na Potycabana?. Estes ambientes carregam longas histórias que atravessaram gerações e nos últimos anos se popularizaram ainda mais em nossa cidade.

Mas aqui pergunto, quem já marcou um momento de lazer e descontração na Praça Pedro II?. Aqui vos digo, você não sabe o que está perdendo. Acredito que poucas pessoas com menos de 30 anos tenham o hábito de frequentar tal ambiente que um dia foi tão vivo em nossa capital e muito bem frequentado por esta faixa etária.

A Praça Pedro II é composta por árvores centenárias e cercada de alguns dos principais marcos arquitetônicos da cidade: Teatro 4 de Setembro, Cine Rex, Clube dos Diários, Central

esse cenário, na década entre 1940 e 1950 foi palco de grandes encontros de jovens casais que aproveitaram o clima ameno provocado pela arborização e apreciavam todos os shows, festivais, exposições e todas as outras manifestações culturais que aconteciam no entorno da charmosa

P2, como chamam os mais íntimos.

E por falar em intimidade com esse local, lembrei de um amigo que frequenta assiduamente a praça e o convidei para uma conversa no Café Art Bar, um ponto icônico localizado entre o Teatro 4 de Setembro e o antigo Cine Rex.

Para muitas pessoas a Praça Pedro II e o seu entorno, traz um sentimento de nostalgia, principalmente para Lucas Alves, que começou frequentar o local com o seu avô quando ainda era criança.

Iniciamos a nossa conversa ao som

de “O Ritmo da Chuva - Demétrius”, sob o sol das 17h, um clima bem descontraído que aos poucos foi ganhando um tom sério e reflexivo. Lucas nos contou que gostaria de ver a praça bem frequentada como era há umas décadas. “Esse local já foi um centro cultural e artístico, muito forte da cidade. Gostaria de ver projetos que retomassem aqui como um centro cultural, um polo artístico, polo de cinema, polo teatral.”

A Praça Pedro II deveria ser um local onde as pessoas respirassem lazer e cultura, afinal ela foi projetada com esse intuito. Mas com as mudanças no cenário da capital, outros lugares de lazer foram surgindo e a P2 foi ficando na memória de quem um dia aproveitou ao máximo esse ambiente na juventude.

Painel feito por @cactus.ink na fachada do Cine Rex. Foto: Sarah D’arc

Entre um copinho de cerveja e outro, paramos para observar quem são as pessoas que realmente estão ocupando a praça, Lucas comentou “ Moram famílias nessa praça e o centro está repleto de moradias abandonadas. Minha mãe sempre comenta que aquela casa ali, por exemplo, poderia ser transformada em albergue, ninguém mora lá. Mas a cada dia que passa, existem projetos de tirar o povo do centro e vender para transformar em estacionamentos. Eu sou contra.”

Continuei observando o local e

as pessoas que estavam ali, queria encontrar alguém que não estivesse apenas de passagem, foi quando avistei um casal de hippie vendendo artesanato pelo local. Me aproximei e comecei conversar com Rosimary Lima, ela me contou que trabalha na praça há 13 anos. Para ela a praça está morrendo “A praça está deserta… Ao longo dos anos foram tirando toda a cultura daqui e levando para outros espaços”.

A praça não está deserta de pessoas, ela está deserta de cultura. Todos os

dias, centenas de pessoas atravessam o local para acessar a parte comercial do centro, no meio dessas pessoas Rosi trabalha para retirar seu sustento, mas nem sempre consegue. Neste dia ela me falou que ainda não tinha almoçado.

“Tiraram todos os eventos que aconteciam na praça e levaram para o Centro de Convenções, para o shopping, ponte estaiada. O SALIPI aconteceu aqui e levaram para a Universidade, não temos mais o Boca da Noite. O que faz a gente sobreviver é o Teatro”

Rosi foi muito gentil, ela consertou minha pulseira que estava quebrada

e aproveitei para comprar uma nova, suas peças são bem trabalhadas, possuem um ótimo acabamento. Sem dúvidas, o seu trabalho merecia ser exposto a mais pessoas.

Voltei para a mesa do Café Art Bar, Lucas estava com uma caneta e um

bloquinho de papel, perguntei o que ele estava fazendo e me surpreendi com a sua resposta, ele disse: “Aqui eu vivo meus momentos de liberdade

ou solidão quando quero ficar sozinho, lendo, produzindo. Eu gosto de escrever, observando eu escrevo poesias… Aqui eu sinto a esperança de que a cidade tenha um polo cultural de novo.”

Eu entendo o Lucas, as melhores produções acontecem quando estamos calmos, relaxados, longe de ambientes que nos causam ansiedade ou que limitam a criatividade. Isso é o ócio

criativo e sinceramente, sinto que falta um pouco disso na minha vida. Talvez não só na minha, mas em centenas de Teresinenses que atravessam a P2 para ir trabalhar, atrasados, preocupados em produzir, sobrecarregados com a rotina e que nunca param naquela praça para vivenciar um momento de lazer, calmaria, paz, cultura e diversão. Por momentos assim, a PII merece ser ocupada, merece está viva.

Lucas Alves em frente ao Teatro 4 de Setembro. Foto de Lucas Alves

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