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CRISPIM, O JOVEM DO RIO POTI E PARNAÍBA
Por Glenda Muryelle
Engana-se quem pensa que é somente a novela Pantanal que tem uma entidade que perambula nos rios do Mato Grosso, sendo o “Velho do Rio”, que protege a Fauna e a Flora local. No Piauí, também tem um grande mistério nos rios Poti e Parnaíba, bem, pelo menos é o que as pessoas mais antigas falam, estou falando do Crispim, popularmente conhecido como Cabeça de Cuia.
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Mas diferente do Protetor do Pantanal que é benevolente e sábio, reza a lenda que o que Crispim faz nos Rios Poti e Parnaíba não tem nada de “bom e sábio. A estória secular contada de geração para geração, fala de Crispim, um jovem de baixa renda e que morava no Poti Velho com sua mãe. Após passar o dia no Rio Parnaíba, tentando pescar um peixe e não tendo êxito, ele decide voltar para casa e jantar. Mas ao chegar, se depara com uma sopa rasa, feita com restos de ossos, já que era rotineiro a falta de carne em sua casa.
Demonstrando não seguir o 1° Mandamento da Lei de Deus, ele Oxente!
arremessa um pedaço de osso de vaca na cabeça de sua mãe e que acaba morrendo. Mas antes de morrer, ela lhe joga uma “praga”, diz que ele vai ficar vagando pelo Rio Parnaíba e Poti ficando com a cabeça com o formato de uma cuia e só se libertaria depois que devorasse 7 Virgens Maria, estou falando das mulheres e não da Santa religiosa. Também não que fosse certo se fosse mulheres. Continuando, depois da maldição Crispim ficou enlouquecido e se afogou no Rio Parnaíba e está preso lá até nos dias de hoje em busca das 7 virgens Maria.
Venhamos e Convenhamos, a mulher é arretada e invocada, antes de morrer ela só quis jogar uma “maldição” no filho ingrato. Eu como uma boa medrosa, teria receio de andar por aquela região que o Crispim fica vagando. Essa história logo me leva aos tempos do colégio, quando aprendemos sobre folclore, cultura nacional e regional. Eu pelo menos ficava super animada para participar de peças teatrais sobre o assunto na Semana Nacional do Folclore.
A estudante do Ensino Fundamental II, AnnaLiz de 14 anos, conta como aprendeu sobre a lenda, “Eu aprendi na escola, ainda quando pequena. Me lembro que os mais velhos usavam a história para me dar lição de moral quando fazia algo de errado com meus pais. E apesar de saber que a lenda não

era real, eu tinha medo do Cabeça de Cuia aparecer no meu quarto durante a noite ou então ficar com a cabeça igual a dele”, finaliza a estudante.
Sendo cético ou não, temos que reconhecer a influência e grandiosidade que essa lenda popular se tornou. “Ah, ninguém liga mais para essas besteiras”, aí vai de cada uma, mas a besteira é falar que ninguém liga. Crispim é tão vivo na história popular do Piauiense que ele ganhou uma estátua para o povo lembrar de sua história. O seu monumento fica localizado no Parque Ambiental Encontro dos Rios, e é um dos pontos turísticos de Teresina mais movimentados. Lá tem escrita em uma pedra a lenda conhecida por todos e é um ponto em que muitas pessoas tiram fotografias. De vez em quando surge uma história ou outra que o Crispim está lá, só observando as pessoas e morrendo de vontade de devorar uma virgem Maria para se livrar de sua maldição.
Dizem as más línguas (ou só a minha mesma), que o Crispim ama ficar em seus locais típicos, como: Rio Poti e Parnaíba, Encontro dos Rios e no Bairro Poti Velho, afinal lá foi onde ele viveu sua vida toda. Não é difícil encontrar algum morador do bairro que conheça a história do jovem pescador que assassinou sua mãe e foi “amaldiçoado”. É o caso do Seu Lima, comerciante do bairro, de 64 anos e que mora há mais de 4 décadas no Poti Velho, “Quando eu cheguei para morar aqui com minha família já se tinha a história do Cabeça de Cuia, as pessoas na época costumavam levar a sério a história mesmo que soubesse que não era real. Os pescadores tinham receio de falar mal dos rios enquanto estivessem lá, só com medo do Crispim puxar eles para debaixo d’água. As meninas com nome de Maria é que não podiam mesmo andar por aquelas bandas, principalmente a noite”, ressalta o trabalhador.
Bem, nos dias de hoje é mais difícil encontrar pessoas mais jovens que acreditem nesses mitos que foram repassados de geração para geração, muitas vezes por não ter interesses nessas “besteiras”, e mesmo que não acreditem nelas acabam nem escutando a lenda urbana o que faz com quem algumas dessas lendas morram. O que nos leva a um ponto, como essas histórias se criavam e porque as pessoas tinham mais o costume de acreditar nelas?
O Professor de História do Piauí, Wênio Ujarrás, explica que em partes a história acontecia e que as pessoas aumentavam elas, tanto para se criar um clima de terror nas pessoas e como forma de entretenimento, já que essas histórias era uma forma também das pessoas se divertirem, “No bairro do Poti Velho tem uma cultura grande da pescaria, e aconteciam acidentes. A história do Cabeça de Cuia pode ser
mais uma história que foi aumentada pela população da época e que segue no imaginário. Hoje as pessoas dão menos créditos para essas lendas, por terem mais conhecimento. Mas elas são de uma riqueza extraordinária e não devem morrer na memória das pessoas”, finaliza o Professor.
E nem só de pão mesmo viverá o homem, o hábito da leitura e de buscar conhecimento sobre o seu lugar é de extrema riqueza cultural, afinal, saber sobre o seu folclore local é primordial. É em um momento desse que eu venderia um rim, ou não, para viver nesta época e estar na casa de Crispim e saber o que de fato aconteceu. Qual foi o exagero da população. Ah, se o povo de Pantanal pode acreditar no “Velho do Rio” porque eu não posso acreditar no “Jovem do Rio”.
O fato é que independente se a história é verdadeira ou não ela deve continuar viva no imaginário popular. Uma lenda que vem dos nossos antepassados faz parte de quem somos e fala sobre o local a que pertencemos.
