Revista Plano B Brasília n.º 03

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6 Violência contra a mulher

8 A dor de se perder quem se ama aos poucos

10 A nova cara da EBC com Hélio Doyle

14 Alice rides again

16 Giselle Ferreira: “Queremos tirar a pauta da mulher das páginas policiais”

20 ‘Cuidado com as eternas pirâmides financeiras no Brasil.

22 Embaixadas do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos com o apoio da FAMBRAS oferecem Iftar para promover a tolerância e a convivência entre os povos e culturas

26 Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa

28 Como investir seu dinheiro?

32 Soraya Thronicke: uma senadora vira onça quando precisa

36 O efeito das fake news na saúde

38 Faixa ano 26

42 Os 80 anos do Zé Carioca: o mais brasileiro dos personagens da Disney

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SUMÁRIO

Diretor Executivo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz Barreto, Humberto Alencar, Itamar Ramos, Romulo

Neves, Luciana Lima, Renata Dourado, Paulo César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: planob@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Março/2023

Ano 01 – Edição 03 – R$ 14,90

Os desafios de Lula

e das mulheres na política

O terceiro governo Lula tem muitos desafios pela frente, além de seguir administrando os efeitos colaterais dos ataques à democracia que tiveram seu auge no fatídico 8 de janeiro e desembocaram na instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Investigação no Congresso.

O novo presidente da EBC, o jornalista Hélio Doyle , está pronto para ajudar o presidente Lula a enfrentar parte desses desafios que se colocam no caminho do Planalto. Seu principal objetivo é reconstruir a estatal, que saiu da lista de privatizações do governo, garantindo que ela volte a ser uma empresa de comunicação pública e não apenas de um governo, como ele próprio revelou em entrevista à revista Plano B.

Diante de um Brasil que ainda dividido, sob os efeitos de um cenário de instabilidade econômica internacional por causa da guerra da Ucrânia, chama a atenção como algumas lideranças femininas têm atuado para garantir seu lugar em espaços de Poder e, assim, transformar a realidade do país com planejamento, coragem e atitude.

É o que mostra a secretária da Mulher do Governo do Distrito Federal, Giselle Ferreira , que aproveitou a interinidade da vice-governadora Celina Leão, para lançar mais de 200 ações focadas no combate à violência contra as mulheres, a partir da comemoração do Dia Internacional da Mulher em março passado.

A violência contra a mulher e os relacionamentos abusivos _ onde elas também são as vítimas mais frequentes como comprovam alguns casos que ganharam o noticiário nacional e internacional como o envolvendo o ex-jogador da seleção brasileira Daniel Alves _ também levaram a advogada e professora de Direito Constitucional, Nara Ayres Britto (outra entrevistada da revista Plano B), a se engajar na defesa de uma maior representatividade feminina nos ambientes políticos e jurídicos, como alternativa para se mudar essa triste realidade.

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

Chegar a postos de Poder, no entanto, parece ser apenas a primeira etapa de uma longa jornada que as mulheres ainda têm pela frente, como revela a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que ameaçou virar onça em meio sua campanha à Presidência quando atacada por adversários. Atualmente, uma de suas batalhas é assegurar que a própria legenda honre as promessas feitas para candidatas mulheres que disputaram as eleições passadas e acabaram endividadas por falta de repasse dos recursos do Fundo Eleitoral.

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EXPEDIENTE EDITORIAL

MULHERES

Violência contra a mulher

Em pleno ano de 2023, um triste assunto tomou, há pouco tempo, as manchetes da mídia: relacionamento abusivo e violência doméstica contra as mulheres. Relatórios recentes mostram evidente crescimento desse tipo de crime em nossa sociedade. Só no primeiro trimestre deste ano, dois casos foram destaques: a TV Globo precisou coibir comportamentos abusivos de um participante de um realityshow e o jogador de futebol Daniel Alves foi condenado por estupro nos tribunais espanhóis. Em março, logo após as comemorações do dia das mulheres, o STJ lançou uma campanha pelo fim da violência contra a mulher. Considerando a necessidade de reflexão sobre esse fenômeno social, Luciana Campos convidou a advogada e professora de Direito Constitucional Nara Ayres Britto para a entrevista desta edição de Plano B. Nara Ayres Britto também é Mestre em Direito, doutoranda em Políticas Públicas, advogada do Brasil em Portugal e sócia do Escritório Ayres Britto Consultoria Jurídica e Advocacia.

LC: Dra. Nara, a percepção de violência contra a mulher mudou ao longo do tempo? O Direito tem conseguido acompanhar as mudanças da sociedade nessa questão?

NAB: Entendo que a percepção de violência contra mulher mudou sim, com o tempo. Hoje o tema é muito mais debatido e difundido. Matérias que a sociedade entendia culturalmente como não violência passaram a ser como tal consideradas, principalmente questões cotidianas dentro do ambiente doméstico, familiar e até mesmo digital. No Brasil, temos uma Constituição Federal que é conhecida como “Constituição Cidadã”. Ela traz proteção especial à mulher e visa garantir relações isonômicas entre os sexos. Além disso, as leis infraconstitucionais têm, de certo modo, acompanhado a vontade da Constituição nesse sentido. É o caso da Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340/2006, legislação que veio a partir de um ativismo de diversas organizações da sociedade civil, cuja constitucionalidade foi declarada em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No campo da esfera digital, podemos citar a Lei Carolina Dieckmann (Lei n. 12.737/2012), que prevê proteção à privacidade dos brasileiros no ambiente virtual. Mais recentemente, a Lei n.13.718/2018 acrescentou o dispo-

sitivo 218-C ao Código Penal para condenar crimes conhecidos popularmente como revange porn, ou pornografia de vingança. Outro avanço na mudança de percepção de violência contra a mulher pode ser verificado na Lei n. 14.132/2021, que inseriu ao Código Penal Brasileiro tipificação criminalizando o crime de perseguição, conhecido como stalking , no artigo 147-A, saindo do campo da violência meramente física e garantindo proteções contra a violência psicológica. Entre tantas outras leis que avançaram para trazer proteção à mulher, tem-se a promulgação da Lei n. 14.164/2021 que instituiu a Semana Escolar de Violência Contra Mulher e trouxe, em sua redação, matéria de prevenção de violência contra mulher nos currículos de educação básica. Entendo que o Direito tem, de certa forma, acompanhado essas mudanças. Todavia, as proteções legais ainda se mostram insuficientes, sendo necessário haver um maior controle de fiscalização por parte do Poder Público quanto à matéria.

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A advogada Nara Ayres Britto explica como a Constituição protege a mulher no Brasil.

LC: Como a Constituição brasileira protege a mulher? Podemos considerar que as leis que temos são suficientes e satisfatórias?

NAB: A Constituição Federal de 1988 traz proteção especial à mulher em diversas passagens. O inciso III, do art. 1 o tem como fundamento da República a dignidade da pessoa humana; já o inciso IV do art. 3 o tem como objetivo fundamental da República a promoção do bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Avançando para o art. 5 o , seu caput prevê o princípio da igualdade ou da isonomia como um direito e garantia fundamental e o seu primeiro inciso reza que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos da Constituição. O art. 6 o prevê a proteção da maternidade; o inciso XX, do art. 7o traz proteção da mulher no mercado de trabalho, mediante incentivos específicos nos termos da Lei. O art. 17 da Magna Carta trata de recursos do fundo partidário para garantir participação política das mulheres. O art. 40 trata da diferenciação do tempo de aposentadoria mais curto para as mulheres do que para os homens no âmbito da União. No âmbito da Previdência Social, o inciso I do art. 201 vai no mesmo sentido. O art. 226 da Constituição Cidadã trata da proteção da família pelo Estado, incluindo as mulheres. Enfim, instituem-se garantias fundamentais, trabalhistas, previdenciárias, familiares, entre outras. Como citado na pergunta anterior, ainda há que se falar em uma necessidade de avanços, mas de certo modo, a legislação infraconstitucional tem avançado aos poucos em cumprir a vontade da Constituição de efetivar os direitos das mulheres brasileiras.

LC: Na sua opinião, a que você atribui o aumento dos casos de feminicídio e de violência contra a mulher nos últimos anos?

NAB: São diversos os fatores que causam o aumento de violência contra a mulher. Um que se destaca, creio que ainda seja o cultural. Ainda vivemos em uma sociedade marcada pelos pilares do patriarcado e por dogmas religiosos que colocam a mulher em posição de submissão ou em segundo plano. Dados do Anuário de Segurança Pública de 2022 apontam que houve uma queda de feminicídios no Brasil em 2021, porém houve um aumento de outras formas de violência contra meninas e mulheres. A maior parte das vítimas convive com seu agressor dentro do ambiente familiar, com pessoas que fazem parte de seus vínculos afetivos, como seus cônjuges ou ascendentes. Segundo dados do Anuário, a Pandemia da Covid-19 agravou o cenário de vulnerabilidade de mulheres que vi-

viam em situação de violência. Apesar de a letalidade contra a mulher ter diminuído, houve crescimento dos casos de denúncia por lesão corporal dolosa e aumento das notificações de ameaças ao grupo. Também houve aumento no pedido de medidas protetivas junto à Justiça. Os dados são alarmantes. Além dos citados acima, também é válido destacar o aumento de movimentos tidos como “conservadores ou tradicionalistas”, que pregam correntes que visam a manutenção da desigualdade de gênero, ressaltam a submissão da mulher e pregam a superioridade masculina em geral, criando extensas comunidades de masculinidades, como as conhecidas como Incels,redpills , entre outros, que cultivam um ambiente sólido para o amparo de homens que desejam impor suas vontades às mulheres, criando um ambiente propício à cultura da desigualdade de gênero.

LC: Embora criar e aplicar leis seja essencial, sabemos que apenas os desfechos da violência chegam ao tribunal. Até lá, a mulher já passou por um longo caminho de abusos e sofrimento. Como podemos trabalhar para mudar esse cenário?

NAB: Esse é um problema que perpassa vários âmbitos da vida da mulher vítima de violência. Informação e rede de apoio são caminhos importantes para alterar esse cenário. É fundamental que a mulher tenha mecanismos e meios que viabilizem a sua autonomia, seja ela doméstica, familiar e no mercado de trabalho. No âmbito das políticas públicas, é necessário que haja acolhimento desde a procura nos canais de atendimento à queixa-crime, prestada nas delegacias, à condução da investigação pela polícia e pelo Ministério Público e o devido processo legal junto aos tribunais.

LC: Que ações seriam importantes para ampliar o acesso das mulheres brasileiras à proteção judicial conferida por nossa Constituição?

NAB: Entendo que é importante que haja uma maior representatividade de mulheres nos ambientes políticos e jurídicos, haja vista que as políticas públicas são elaboradas e implementadas por esses agentes, sendo necessária a participação feminina nesses espaços. No mais, entendo que devemos sobrepassar o aspecto da repressão. Ela é necessária, mas não suficiente. É importante que haja um trabalho holístico no âmbito social, com a conscientização e reeducação dos homens, de modo a viabilizar uma mudança da sociedade patriarcal em que estamos inseridos.

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MULHERES

SAÚDE

A dor de se perder quem se ama aos poucos

A doença foi chegando bem devagar.... de forma sutil.

No Brasil, estima-se que 1,2 milhão de pessoas tenham Alzheimer. Grande parte delas, ainda sem diagnóstico. Em todo o mundo, são cerca de 35,6 milhoes de pessoas diagnosticadas.

A estigmatização e a desinformação sobre a doença ainda são muito grandes.

Entre as características estão: perda das funções cognitivas como memória, orientação, atenção e linguagem, causada pela morte de células cerebrais.

Não existe cura e as perdas cerebrais são irreversíveis.

O paciente precisa de tratamento com vários profissionais. E quando antes identificar a doença, melhor a qualidade de vida.

Mas, hoje, eu gostaria de abordar sobre as dificuldade e a dor de amigos e familiares que convivem com quem tem a doença. São pessoas que também precisam de suporte de profissionais da área de psi.

Escrevo sobre: a dor de se perder quem se ama aos poucos, que também é a minha dor.

A doença foi chegando bem devagar.... de forma sutil.

Histórias sendo repetidas aqui, alguns apagões ali...

Até que o diagnóstico tão inesperado e doloroso veio, recheado de dor e de dúvidas.

A descoberta, sempre juntas, de novas cidades, novos países, novas pessoas, de nós mesmas.

Tanta cumplicidade, tanta história, tanto amor.

Será justo lidar com o luto de uma pessoa viva?

O corpo está presente, mas a alma, não.

Como a mente lida com essa informação tão paradoxal?

O seu olhar agora distante e cheio de dúvidas, que não sei responder, me leva a uma dimensão, dolorosa, obscura, vazia.

Luto com todas as minhas forças para lhe trazer de volta, mas, é uma luta traiçoeira, inglória, dramática e sem sucesso.

Mas, hoje, eu gostaria de abordar sobre as dificuldade e a dor de amigos e familiares que convivem com quem tem a doença. São pessoas que também precisam de suporte de profissionais da área de psi.

Escrevo sobre: a dor de se perder quem se ama aos poucos, que também é a minha dor.

E o que eram apenas letras frias, escritas em alguns artigos médicos, foram se tornado reais.

Estava perdendo minha melhor amiga e não queria, nem sabia, lidar com aquela realidade inexorável.

Vieram-me à mente nossas incontáveis viagens, regadas a taças de espumantes e conversas sobre a vida... sobre nossas vidas... Não teríamos mais isso.

Não aceito. Sei que deveria, mas, não aceito.

Quero minha mãe de volta, minha amiga, minha confidente, meu pilar, meu exemplo, minha guerreira.

Não a tenho mais.

Ou melhor, tenho fragmentos.

E me apego a eles, para nos manter vivas: eu em vc e você em mim.

E conto com minha memória, que tantas vezes parece também me trair, para deixar vc sempre perto de mim.

Para além da eternidade.

Vc é e sempre será a minha heroína.

Te amo, mãe.

Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.

Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.

Renata Dourado* * Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos.
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A nova cara da EBC com Hélio Doyle

Jornalista há 52 anos, Hélio Doyle assumiu a presidência da EBC com a missão de recuperar a empresa, que com o governo Lula saiu da lista de privatizações que havia sido definida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais um projeto desafiador para um jornalista que já atuou em diferentes frentes. Foi professor da Universidade de Brasília por 28 anos, sempre em tempo parcial, o que lhe permitiu trabalhar em redações, como consultor, assessor de imprensa, editor de revistas, na área de pesquisas e também em várias campanhas políticas. A primeira delas pelos 5 anos de mandato presidencial, durante a Constituinte.

Qual missão definida pelo presidente Lula veio acompanhada do convite para assumir a presidência da EBC?

Olha a missão básica é recuperar a EBC, fazer com que retome o seu papel de comunicação pública, de uma empresa

de comunicação pública, que contribua para maior informação de todos, e que a população seja mais informada, tenha mais acesso a cultura, a apresentações artísticas. Ou seja, um caminho realmente de canal público de comunicação, aquele que complementa o sistema. Pela constituição, você tem o sistema privado e o sistema estatal. A EBC é o principal instrumento de comunicação pública que nós temos no Brasil. A missão é essa de recuperar a empresa e fazê-la crescer. Acreditar que a EBC pode melhorar o objetivo que ela tem desde a sua criação

A comunicação estatal muitas vezes segue uma linha editorial que permite mostrar o que é bom e esconder o que pode não ser tão bom assim. Como será a linha editorial de sua gestão?

Eu acredito que a gente tem que separar a comunicação pública da comunicação governamental. São duas coisas di-

10 CAPA
O desafio de diferenciar a comunicação estatal da comunicação de governo, algo que acabou desvirtuado, segundo ele, durante a gestão de Bolsonaro

ferentes. Então vamos dizer assim, a linguagem não é como é o governo federal. Ele é o dono, deve ser ele, montou aqui com orçamento público, uma máquina de comunicação espalhada no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e uma pequena parte do Maranhão, porque foi absorvida a TV Educativa do Maranhão. Mas como uma rede nacional, essa máquina é destinada comunicação pública. A comunicação pública tem algumas características. Ela deve ser independente do governo, ela deve ser isenta, mas empresa não pode falar as coisas como Nação. É claro que todo veículo de comunicação tem critérios editoriais, né? Se você olhar o telejornal da Globo ou da Band ou da Record, você não fala assim: na boa, porque que não deu isso? Por que não falou daqui? É um critério de cada um na edição, de acordo com regionalidades. Ninguém fala tudo, coloca tudo. E naturalmente, na comunicação pública também tem isso. Então, muitas vezes não falou de tal assunto, porque o assunto foi censurado? Porque o assunto é proibido? Não! Houve uma opção por outro assunto. É um critério de edição, mas hoje a comunicação pública ela independente.

Você foi professor da UnB por muitos anos, como vê essa crise que atinge o jornalismo brasileiro atualmente, que hoje pode ser também dividido entre jornalismo de esquerda e direita?

Essa polarização nas informações que você tem hoje no jornalismo é a colonização da sociedade, reflete a polarização da sociedade brasileira. Você teve uma eleição e que o candidato teve 2.000.000 de votos sobre o candidato vencido, a sociedade está polarizada. E essa polarização se reflete hoje e leva um veículo de comunicação cada vez mais pode ser rotulado de ser de um lado ou de outro, de esquerda ou de direita, porque tem variações. Mas tem uma imprensa do campo democrático e tem uma imprensa do campo autoritário, de extrema direita. E hoje você tem isso nessa imprensa do campo democrático, você tem desde a extrema esquerda até liberais como o Globo, Folha de São Paulo, que fica ali no meio de campo. Então eu acho que a imprensa está refletindo isso. Isso reflete nos próprios jornalistas hoje. E ainda temos uma outra crise, a crise econômica da imprensa brasileira, que perdeu aquela pujança, perdeu aquela força mesmo. Quem diria, por exemplo, há alguns anos que a editora Abril ia praticamente acabar? Editora que empregava mais de mil jornalistas. E as revistas? De repente, a Veja não tem nenhuma relevância. Houve uma época em que a gente esperava ansiosamente a revista que iria marcar a semana, definiria os escândalos da semana. Hoje ninguém liga mais pra ver TV Globo. Era assim, hoje não. A crise econômica da imprensa acabou refletindo, por que o número de jornalistas desem-

pregados é muito grande, o de subempregados é enorme. Isso aconteceu desde o surgimento da internet. Esse pessoal buscou a autonomia, né? Blogspot. Se você tem o seu blog, você ali tem uma independência que não se tem quando é empregado de um veículo. E isso aí também ajudou a polarizar. Porque ficou muito fácil criar um de extrema direita, um blog de esquerda, blog para checar o governo, e por aí vai. Temos esta realidade hoje. Quer dizer, eu acho que isso não vai mudar tão cedo.

Na sua opinião, qual o principal papel da EBC?

Eu cheguei primeiro sem nenhuma função determinada, achando que eu ia ser diretor de jornalismo. Então comecei a observar e conversar com as pessoas. No segundo momento eu já fui nomeado assessor da então presidente da EBC. Fazendo a transição, então fui formalmente nomeado. Já comecei a ter mais trânsito na empresa. E aí foi que eu pude conhecer melhor a empresa e suas peculiaridades, conversando, vindo, vendo. Eu não levei nenhum susto, porque como eu moro aqui em Brasília e sou jornalista, conheço muita gente aqui de dentro da empresa. Muitos foram meus alunos. Muitos já trabalharam comigo em diversas circunstâncias. Então eu já sabia mais ou menos o que estava acontecendo na EBC, apenas comprovei aquilo que a gente já vinha falando: um desmonte da sua função pública. Uma confusão entre a comunicação pública e a de governo. A EBC ficou assim fazendo o papel de uma máquina de propaganda. Virou uma rede social do governo, a TV e a rádio. Então, estava assim, bem desvirtuada nos seus propósitos, e a gente foi tomando o conhecimento. Uma situação muito ruim, porque os empregados, muitos deles obviamente não todo, mas muitos empregados se sentiram muito reprimidos para que atingissem o ‘deadline’ durante o período anterior. E havia então aquele sentimento de necessidades de mudança, de tirar o pessoal vinculado ao governo anterior, comissionado, perseguindo servidores. Como eu já falei é uma situação muito complexa. A EBC é complexa em si, porque é uma empresa grande, bem equipada, mas com muitas carências. Ela é uma potência, vamos dizer sim, de comunicação, mas com muitas deficiências, tanto do ponto de vista orçamentário, como de material humano. O governo anunciou que queria privatizar a empresa e ao mesmo tempo abriu um programa de demissão voluntária. Muita gente saiu, os quadros ficaram bastante desfalcados, então tudo isso são problemas que temos de superar. E a gente trabalha com ansiedades. Por um lado, que tem o que eu chamo da ansiedade de cima, o governo quer ver se o seu papel, quer ver suas ações divulgadas, quer restaurar essa confiança e tem pressa. Você tem um noticiário mais amplo. E por lado, tem a ansiedade de baixo, quer dizer, as pessoas

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querem resultados rápidos, então a gente recebe cobranças. Não vai mudar o programa tal? Não vai fazer isso, não vai comprar isso? A gente tá chegando agora. Tem que dar um tempo aí para podermos atingir as metas propostas. As coisas não mudam em um estalar de dedos, demandam ações e tempo. Temos que discutir a rede nacional de comunicação pública. A televisão tem 26 capitais. A emissora de rádio então, em 63 cidades do país. Então, é muito complexo. Nós estamos discutindo. A gente precisa estudar, conhecer.

Vai ter concurso para a EBC?

Olha, na verdade, hoje temos 72 vagas. Como a empresa pública, ela está sujeita a uma série de normas estabelecidas hoje. Então essas regras têm de ser cumpridas. Então, por exemplo, nós temos aqui é 426.427 funções comissionadas: 1/3 delas podem ser ocupadas por pessoas de livre provimento;126 para os diretores. Então essa regra não podemos furar. Não compete a empresa mudar trabalhadores efetivos. Nós temos 72 vagas. Poderíamos fazer um concurso, mas a gente tem que examinar bem se compensa fazer um concurso. E mesmo que a gente ache que deva fazer um concurso, tem que examinar bem. Nós estamos bastante amarrados e em vários aspectos.

Como a EBC sob a gestão Doyle pretende atuar no combate à desinformação e fake news?

Uma separação, claro, tanto em termos de televisão quanto em termos de agência de rádio. Fazer essa separação mostrar a população que está diferente. Ter uma programação e informação de qualidade, que tenha credibilidade. Na segunda parte é preciso pensar uma reestruturação muito mais pesada. Deve ser uma reformulação maior. Ela vai acumulando problemas, de situações que muitas vezes dificultam

a própria função. Eu acho que a gente tem que enfrentar essa situação. A empresa pública tem que funcionar, a EBC tem que servir a população. E muitas vezes as empresas públicas acabam dando volta em torno de si mesmo e beneficiam os seus próprios dirigentes e empregados. Entendeu? Fica uma distorção nesse campo que eu acho que precisa ser superada e não é só aqui.

Quais mudanças pretende implementar?

Uma programação nova, a programação vai ser toda revista. A gente tem discutido isso; a partir de maio, a gente já pretende ter uma nova programação dos 2 canais. Agora tem coisa que vai exigir mais tempo. Um exemplo, nove-

la traz audiência, mas não é isso que a gente quer. Ao mesmo tempo, a gente tem que levar em consideração que o gênero novela faz parte da dramaturgia brasileira. Então assim, a gente tem que pensar alguma coisa nesse sentido, mas não é comprar novela velha para reprisar. A primeira informação é através da TV aberta e de algumas no rádio. Porque todo mundo tem acesso a isso e a gente tem um público valoroso, mas tem a internet. Somente 25% da população tem acesso, no máximo 28%. Então, a gente quer reformular totalmente programação e definir algo para o canal público, e estabelecer uma programação para o canal do governo. Feito isso, a gente tá bacana.

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CONTOS EM CONTA-GOTAS

Alice rides again

Alice e eu nos conhecemos no ano de 1865, apresentadas numa festa por Lewis Carroll, era um grande evento, no dia 26 de novembro, dia em que a menina seria oficialmente apresentada ao mundo.

De lá para cá nos perdemos de vista algumas vezes, mas aquele reconhecimento mútuo de nossas almas é muito mais forte e poderoso que o tempo.

Well, como dizem lá pelas bandas do Tâmisa, venho contar para vocês que decorridos todos esses anos, Alice e eu envelhecemos, nos tornamos mais experientes mas nuca amadurecemos. Somos ainda aquelas meninas de faces afogueadas, cabelos embaraçados pelo vento e com muita disposição para brincar.

Hoje acho inacreditável que o país europeu que eu menos quisesse conhecer fosse a Inglaterra. Que país é esse? Berço dos Beatles e dos Rolling Stones, Mary Quant e as minissaias (usadas com botas eram demais), Margareth Thatcher (a dama de ferro), que tem um lugar chamado Notting Hill e uma rainha Elizabeth, só para citar alguns produtos genuinamente britânicos sem concorrência no mercado.

Deus salve a rainha, e Deus salve a minha amizade com Alicinha.

Adoro gim, não vou delatar a marca porque não sou garota propaganda dela, e o chá das cinco, tomo também, pelo simples fato de atenuar a saudade de Buckingham e de me perder em devaneios na London Eye.

Alice parece ser tão forte como a nossa estimada Bethinha, e eu fico muito feliz e grata por isso.

Em Brasília, tão longe da terra de Shakespeare, marotas e sapecas como somos, aliás como é normal sermos na faixa dos 60’s, a gente apronta todas. Gostamos de lugares bonitos, não porque sejamos esnobes, isso é porque somos estetas.

Menininha, sou grata demais pela sua presença na minha estrada...

E pós pandemia já fica acertado de sairmos para dançar até a pista acabar.

Por Ângela
Beatriz Sabbag
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Fotos: patrocinadas iStock - LIMITED DEAL
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Giselle Ferreira:

Só nos 3 primeiros meses de 2023, o DF registrou 9 feminicídios, o que levou a secretária da Mulher a mobilizar o governo em torno de uma força tarefa

Afrente da Secretaria da Mulher do Governo do Distrito Federal, Giselle Ferreira trabalha em sintonia fina com a vice-governadora Celina Leão, que substituiu interinamente Ibaneis Rocha durante o período em que ficou afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal. Professora e servidora de carreira da Secretaria de Educação, Giselle conseguiu mobilizar o GDF para lançar mais 200 ações que têm como foco principal o combate à violência à mulher, como forma de comemorar o Dia Internacional da Mulher no último dia 8 de março.

Confira a entrevista da secretária Giselle com a nossa colunista da revista Plano B, Adriana Vasconcelos.

No mês da mulher, o GDF, tendo uma mulher mais uma vez à frente da gestão, inovou com o lançamen-

to de mais de 200 ações que têm como foco principal o combate à violência em um trabalho conjunto de várias secretarias?

Giselle Ferreira - Eu me sinto acolhida, porque essa é uma pauta que não é tem que ser apenas secretária da Mulher, mas é uma pauta de toda a sociedade e a sensibilidade da nossa governadora em exercício, Celina Leão ( a entrevista foi dada antes da volta de Ibaneis ao cargo) fez isso. Ela entendeu o que a gente tinha que fazer. A gente tinha de colocar algum plano mais emergencial em prática, porque como pode uma capital federal ter registrado 9 feminicídios só nos 3 primeiros meses de 2023? O que é um feminicídio? Uma mulher ser morta pelo motivo de ser mulher. Isso é muito grave.

Nessa rede de proteção que montamos envolvemos 11 secretarias, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça, a

“Queremos tirar a pauta da mulher das páginas policiais”
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POLÍTICA

Defensoria Pública e o terceiro setor. Agora nós colocamos também a Câmara Legislativa, a Câmara Federal, Senado e o Ministério da Mulher, porque a pauta da mulher só vai sair das páginas policiais quando a sociedade se envolver. E se envolver com ações. Eu percebi que tinha um monte de gente correndo, mas cada um para o seu lado. Não tinha uma coordenação. Sou professora de formação e sempre gostei de trabalhar com planejamento estratégico, organização.

Foi aí que surgiu a ideia de fazermos esse planejamento para o mês de março e fizemos um calendário único e, assim, lançamos o ‘Março Mais Mulher’. Trata-se de uma força tarefa de 45 dias e que vai ser continuada. Teremos no mínimo uma ação por dia, que serão de curto, médio e longo prazo.

Já entregamos à Câmara Legislativa o protocolo ‘Por todas elas’, seguindo aquela questão do protocolo da Espanha, que foi aplicado naquele caso do jogador Daniel Alves, com objetivo de envolver toda a sociedade também para proteger a mulher.

Depois de muitos anos, a Secom fez a campanha ‘A denúncia salva’. Aquilo ali foi um pedido nosso, no sentido de a Secom nos escutar, escutar quem está lá na ponta. Porque já tivemos várias campanhas, mas eles não nos escutaram. Muitos costumam dizer que a mulher vítima de violência morre, porque não denuncia. Falam da mulher, mas ninguém fala do homem. Mas por que que a mulher não denunciou? É só ela que teria de procurar ajuda? O vizinho não escutou, ninguém da família? 70% das mulheres vítimas de feminicídio não procuram ajuda. Ah, ela não procurou, é porque ela queria morrer. A gente tem que saber porque ela não procurou ajuda. Mas a denúncia pode sim salvar. Tivemos 16.000 ocorrências policiais ano passado.

Quando você fala que denuncia salva, isso quer dizer que todos têm obrigação de ajudar quando veem ou percebem que uma mulher está sob ameaça de agressão?

Giselle - Exatamente. Na nossa propaganda lembra que quando você escuta um som alto reclama com o síndico, com vizinho. Por que não se incomoda quando uma mulher pede socorro? Como ocorreu, aliás, na Asa Norte mesmo, onde teve uma senhora escutou uma mulher pedindo socorro, mas acabou indo dormir. Qual foi resultado? A mulher morreu. Na semana passada, dois vizinhos impediram um feminicídio. Um em Ceilândia e outro lá no Gama. A sociedade tá começando acordar. Então aí eu vou para a televisão e chamo o assassino de covarde. E outra coisa, digo que aqui no DF ele vai estar preso. No mínimo 20 anos de cadeia. Eu vou pra televisão e falo isso, falo para ele escutar que não vai ter impunidade.

Vocês têm planos de levar essa luta para dentro das escolas? Porque as crianças reproduzem muitas vezes comportamentos que vêem dentro de casa, na sociedade. Esse é um caminho viável, de trabalhar as futuras gerações para combate à violência?

Giselle – É a saída. Não tem outra. Para gente lidar com o homem agressor, agora, é a punição, não tem jeito. Também investimos da sensibilização, para esse grupo refletir. Mas a saída para mudar a sociedade é a escola. É a formação da criança que vai garantir a mudança.

Eu costumo lembrar em minhas palestras que a gente conseguiu implantar o cinto de segurança, quando levou o tema para escola, e o menino entrava dentro carro e cobrava do pai o uso do cinto. Assim, a criança vai começar a cobrar respeito à mãe. Por isso montamos o ‘Lei Maria da Penha vai a escola’, com várias palestras. Eu mesma estou indo a pelo menos uma escola por dia para levar a discussão.

Qual a outra saída? A qualificação profissional. A mulher tem de sair desse ambiente de vulnerabilidade, onde o homem é provedor da casa. Semana passada visitei uma sala de aula só com mulheres eletricistas, 20 ao todo, uma parceria com o Sindicato da Construção Civil. Precisamos saber o que o mercado está precisando para que essas capacitações tenham efetividade. Fizemos também uma parceria com o Sindhosbar (Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília) porque quase todo estabelecimento tem hoje uma brinquedoteca no restaurante e bar. Então, não é melhor ter uma monitora que fez uma qualificação? Assim fizemos um curso de capacitação para atender essa demanda e a maioria já deu depoimento dizendo que já tinha emprego.

Já pensaram em criar uma agência de emprego voltada exclusivamente para mulheres sob ameaça ou com medidas protetivas, que identifique a necessidade do mercado e aí a partir crie os cursos?

Giselle - A minha secretaria tem atuado de forma transversal. Já estou em parceria que a Secretaria de Trabalho, justamente reservando uma quantidade de vagas, tanto de capacitação como de emprego para mulheres. Ainda não estou conseguindo fazer tudo exclusivo, mas vamos chegar lá. Mas estamos avançando nas cotas.

O governo federal aproveitou o mês da mulher para lançar um projeto que garanta salário iguais para homens e mulheres. Como GDF, pretende lidar com isso?

Giselle - Eu passei 12 anos no Legislativo e sei exatamente a importância de leis como essa, porém o mais importante

POLÍTICA

é sua implementação. Sancionar essa lei, eu acho importante, mas o que eu achei mais importante foi que o governo federal falou que vai fiscalizar. Aqui no Distrito Federal, nós vamos implementá-la. Eu tenho 136 leis sancionadas pela Câmara Distrital que não foram implementadas, voltadas as mulheres, mas que nós vamos implementar. Inclusive 2, agora, que nós estamos fazendo de pronto, que é a do aluguel social que aquelas mulheres em situação de vulnerabilidade. Elas vão receber um aluguel social para por um período, para sair do ambiente de violência. Outra que vamos fazer também é em relação aos órfãos do feminicício.

Realmente muito importante essa iniciativa do GDF de garantir um salário mínimo para os órfãos do feminicídio. De 2015 para cá, foram mais de 280 crianças ficaram órfãs.

Giselle – É o que registra o Mapa do Feminicídio: de 2015 a novembro de 2022. Só esse ano foram 10, então esse número subiu 297. O feminicídio é uma falha do estado, né? Então é mínimo que a gente pode fazer, pois muitos desses crimes são cometidos por companheiros dessas mulheres, que acabam na cadeia, isso quando não se matam também. É uma tragédia total. Então nossas ações serão no sentido de implementar as leis e cobrar a sua aplicação. Além de atender a questão financeira, para que a mulher possa sair da situação de vulnerabilidade por 2 viés: seja através do aluguel social e depois também colocando ela no mercado de trabalho E divulgando muito o acolhimento que ela pode ter na Casa da Mulher Brasileira. Neste caso, quero estar muito mais próxima da Secretaria de Educação do que da Secretaria de Segurança Pública.

Acredito muito no trabalho da nossa Secretaria de Segurança, mas ela age diante dos fatos. Eu tenho que agir antes. Qual é a nossa missão? A prevenção na escola, na qualificação, na informação. Quero colocar as mulheres para o mercado de trabalho e para que elas possam usufruir disso, vão precisar de creches para colocar os filhos.

Creche, aliás, é uma das demandas prioritárias da maioria das mulheres que estão no mercado do trabalho. Como o GDF está trabalhando para atender isso?

Giselle - O estado não dá conta sozinho, precisa de parcerias, por isso já temos o cartão creche, parcerias com entidades. E estamos pensando em fazer uma grande creche dentro da UnB, diante da grande demanda que temos, que será de excelência. Precisamos estar muito atentos com essas políticas voltadas para as mulheres.

Diante desse aumento expressivo de feminicídios no DF, que colocam o Distrito Federal no 7o lu-

gar entre os mais violentos para as mulheres, como você enxerga participação feminina em espaços de Poder? Qual a diferença que ela faz quando ocupa esse espaço? Que mensagem deixaria para outras mulheres que também já pensaram em ingressar na vida pública?

Giselle – Primeiro é o exemplo, a partir do qual elas conseguem se enxergar em tais espaços. Se você vê uma mulher no mercado de trabalho, como governadora, como a primeira chefe do Corpo de Bombeiros no Brasil, que é a coronel Mônica (de Mesquita Miranda), a menina vai se espelhar e imaginar que um dia também vai poder chegar a um posto daquele. A melhor que temos são os exemplos mostrando, na prática, o nosso olhar diferenciado e sensível sobre as ações. As mulheres têm muito mais perspicácia para a tomar atitudes em favor de outras mulheres. Por isso, eu digo: mulher você pode estar onde quiser, lute por seus sonhos e não abra mão de sua capacitação. Isso ninguém tira da gente.

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POLÍTICA

Cuidado com as eternas pirâmides financeiras no Brasil.

As pirâmides financeiras são esquemas fraudulentos que prometem altos retornos financeiros em um curto espaço de tempo. No Brasil, esses esquemas são ilegais e podem causar grandes prejuízos financeiros para as pessoas envolvidas.

As pirâmides financeiras funcionam da seguinte forma: as pessoas são convidadas a investir dinheiro em uma empresa que promete rendimentos extraordinários em um curto período de tempo, algo como 5% ao mês ou mais.

Os investidores são incentivados a convidar outras pessoas para participar do esquema. Esse processo continua até que a pirâmide cresça o suficiente para que o golpista responsável pelo esquema possa desaparecer com todo o dinheiro investido.

Um dos casos mais famosos de pirâmides financeiras no Brasil é o da TelexFree. A empresa, que afirmava ser uma plataforma de publicidade, prometia retornos altos para os investidores que postavam anúncios na internet. Em 2013, a TelexFree foi denunciada por fraude e interditada pela Justiça, deixando milhares de pessoas com prejuízos.

Outra pirâmide financeira que causou grande impacto no Brasil foi a da Avestruz Master. A empresa vendia avestruzes para investidores e prometia altos retornos com a venda de carne, couro e penas. No entanto, a empresa não possuía a quantidade de aves necessárias para atender aos investidores, e muitas pessoas perderam suas economias.

A Unick Forex é outro caso de pirâmide financeira no Brasil. A empresa prometia ganhos rápidos com investimentos em Forex, mas não possuía autorização da Comissão de Valores Mobiliários - CVM para atuar no mercado. Em 2019, a Unick Forex foi fechada pela Polícia Federal e seus líderes foram presos.

É importante lembrar que investimentos que prometem lucros muito altos em um curto período de tempo devem ser tratados com desconfiança. É essencial verificar a legalidade e a segurança do investimento antes de investir dinheiro, além

de consultar fontes confiáveis e buscar orientação financeira profissional.

Para não cair em uma pirâmide financeira, é importante tomar alguns cuidados:

1) Desconfie de promessas de retornos altos e rápidos. Investimentos legítimos geralmente envolvem riscos e retornos moderados.

2) Pesquise a empresa antes de investir. Verifique se ela é registrada na CVM e se possui uma reputação sólida no mercado.

3) Cuidado com convites de amigos ou familiares que já estão envolvidos em esquemas de investimento duvidosos. Eles podem estar tentando recrutar você para a pirâmide.

4) Não acredite em histórias de sucesso contadas por pessoas que já investiram na empresa. Essas histórias podem ser falsas e fazem parte da estratégia de convencimento utilizada pelos golpistas.

5) Nunca invista todo o seu dinheiro em um único investimento. Diversifique seus investimentos em diferentes empresas e setores.

6) Seja cauteloso com empresas que prometem retornos garantidos ou que pressionam você a tomar uma decisão rapidamente.

Em resumo, para evitar cair em uma pirâmide financeira, é essencial estar atento às promessas de retornos altos e rápidos. Lembre-se sempre de que qualquer investimento envolve também alguns riscos.

* Humberto Nunes Alencar, servidor público, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento, mestre em economia e doutorando em Direito pelo IDP.

Humberto Alencar*
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ECONOMIA

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Embaixadas do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos com o apoio da FAMBRAS oferecem Iftar para promover a tolerância e a convivência entre os povos e culturas

As Embaixadas do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos, com o apoio da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil – FAMBRAS, promoveram um Iftar na capital federal (Brasília). O evento foi realizado no Salão Villa Rizza do Clube Monte Líbano e a atmosfera de paz, união e fraternidade, predominou durante toda a ocasião.

Se reuniram, os Embaixadores de países árabes islâmicos, membros da diplomacia brasileira, do poder legislativo, religiosos e representantes de entidades religiosas. À iniciativa demonstra o quanto são importantes a união e o diálogo inter-religioso entre nações com diferentes culturas e tradições.

O Embaixador do Bahrein no Brasil, Bader Alhelaibi, comentou sobre a liberdade que os povos têm em solos brasileiros. “Não podemos deixar de elogiar também o clima de tolerância e convivência neste país, que marca a vida de imigrantes de todas as partes pela livre prática de seus rituais, costumes e tradições”.

Em concordância com isso, Saleh Alsuwaidi, Embaixador dos Emirados Árabes Unidos, disse que “esse valor também faz parte da identidade nacional do Bahrein e dos Emirados, pois somos defensores do pluralismo cultural. As leis criminalizam o ódio, o extremismo, as causas da divisão e da diferença. Nos importa muito a tolerância e coexistência como fatores fundamentais para garantir, segurança, estabilidade e prosperidade”.

Outra autoridade que defendeu o respeito de manifestações religiosos foi o embaixador Sidney Romeiro, Diretor do Departamento de Oriente Médio do Itamaraty. Ainda em seu discurso, ele falou das relações comerciais entre os três países.

Já Mohamed El Zoghbi pontuou sobre a valorização humana. “O Islam vê riqueza nas diferenças e anseia por mostrar sua verdadeira essência: a defesa pela vida, na certeza de que o ser humano é a criação mais importante de Deus; a

busca pela justiça social e a paz. Entende, sobretudo, que esse diálogo é um caminho eficaz para atingir não só este objetivo, mas também, para combater estereótipos e preconceitos”.

Durante o jantar foram servidos pratos típicos dos Emirados e do Reino de Bahrein, consumidos durante o período do Ramadã. O público presente também assistiu a produções que mostraram as belezas naturais e arquitetônicas de ambos os países.

A realização desse evento promove a paz, a tolerância e a compreensão mútua entre as culturas, além de fortalecer as relações diplomáticas entre o Brasil e os países árabes islâmicos.

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RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

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Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa

Segundo o dicionário: virtude é a qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejável. De conformidade com o Bem, com a excelência moral ou de conduta, dignidade.

A obra de Renato Russo é carregada de valor ético, quase espiritual. Front Man do Legião Urbana, as letras de Russo são um rio caudaloso que tem sua fonte de inspiração em textos sagrados que permeiam a existência humana. O que torna a sua obra e sua personalidade própria de adoração popular, isso se verifica pela grande quantidade de álbuns vendidos e pela grande comoção nos shows (sempre lotados). Onde a voz do público era uníssona com a (messiânica) voz de Renato Russo.

Muitostemoresnascemdocansaçoedasolidão , verso do poema chamado Desiderata, antes atribuído a autor desconhecido, hoje creditado ao poeta americano Max Ehrmann (1872-1945), foi escrito em 1927. É um dos versos que compõem um dos textos mais bonitos de Russo, Há Tempos, canção do álbum As Quatro Estações, de 1989. O cansaço, como a tristeza e a solidão é um dos grandes entraves de uma existência plena. Como diz o salmista: “ Este é o dia que o senhor fez; regozijemos e alegremo-nos nele” (Salmos 118:24). No diálogo quase imperceptível da canção, existe nas duas pessoas uma desarmonia entre o mundo existente e os desejos de como deveria ser: “Seomundoémesmoparecido comoquevejo,prefiroacreditarnomundodomeu jeito”. O que dá sentido ao próprio nome do poema, pois Desiderato quer dizer: aquilo que se almeja. A vida própria de Russo reflete esse conflito, que está expresso em toda a sua obra, que é uma denúncia constante contra a injustiça e a maldade do seu tempo.

De família católica, Russo adentra no mundo artístico imbuído de uma autoridade e discurso que destoa da maioria dos seus contemporâneos, tornando o Rock and Roll apenas um veículo para transmissão de ideias mais profundas. O discurso soa bem mais alto do que sons de guitarras e baterias. Isso podemos ver que suas letras, na maioria das vezes fora dos padrões radiofônicos (sem refrãos e longas), são cantadas em coro por uma multidão emocionada. As temáticas das letras sempre trazem o elemento ético e do belo, mesmo quando se faz ausente, deixa-se claro que deveria estar pre-

sente o agir virtuoso. Nunca soa moralista ou afetado, mas sim humano, na perspectiva que o sentimento de beleza e justiça é inerente ao ser humano, e que o agir contrário é uma autoagressão.

O simples é o mais importante na obra de Russo, como os valores de família, trabalho e honestidade. Se observarmos obras como As confissões de Santo Agostinho, Imitação de Cristo, de Kempis ou O Peregrino de Bunyan, veremos que Russo também buscava um caminho do reto proceder. Um caminho árduo, cheio de trevas e luz. A virtude seria simples se o mundo não fosse doente, mas também não teria a coroa da vitória. Como todo santo e toda pessoa que busca o caminho perfeito, Russo travava essa batalha perturbadora entre a sublimação do espírito sobre a carne: “Soumetal,Me sabeosoprododragão”. Batalha está travada e vencida pelos santos. Podemos citar Santa Teresa que foi tocada pela seta divina (Transverberarão), e o que a fez tomar o voto de fazer sempre o que é mais perfeito e agradável a Deus. Lembraevêqueocaminhoéumsó .

A virtude é a pedra de toque na obra de Renato Russo, talvez aprendida pelos valores familiares católicos. Como ele mesmo diz no encerramento do diálogo de Hátempos : “E eladisse:-láemcasatemumpoço,masaaguaémuitolimpa”. Essa água muito limpa se refere ao seu pai, que lhe deu seu próprio nome: Renato manfredini, que segundo Russo era um poço de virtude.

Itamar Ramos*
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*Itamar Ramos – graduado em letras UNEB
CULTURA

Como investir seu dinheiro?

Confira aqui as regras de ouro de quem já ganhou, gastou e agora sabe bem a diferença entre aplicar e especular

Aos 45 anos de idade, o economista Humberto Alencar compartilha nesta entrevista à revista Plano B sua experiência como investidor. Seu primeiro contato com o mundo dos investimentos começou há cerca de 20 anos. Os primeiros grandes rendimentos foram gastos em uma velocidade grande, o que lhe obrigou a rever sua conduta. Diante de suas próprias experiências, ele dá uma dica de ouro: “Gastar menos do que se ganha é importante independente da faixa de renda que você está”.

Como você começou a se interessar por economia e finanças pessoais?

Este é um assunto que todos acabam se interessando de alguma forma, mas no meu caso começou quando trabalhei por algum tempo como jornalista para o mercado financeiro, ainda antes de virar servidor público. Foi um primeiro contato com o mundo dos investimentos há cerca de 20 anos.

Qual foi o primeiro livro que leu sobre finanças pessoais?

Eu comprei um livro do Mauro Halfeld em 2002, um famoso colunista sobre o tema, que tenho até hoje. Foi meu primeiro contato com algo mais formal. A partir desse contato passei a ler outros livros, artigos e a me interessar sobre todo material que tratava de investimentos.

E como foi aplicar o conhecimento desses livros na sua vida?

Eu tive contato com os livros de investimentos ainda muito novo, por volta de 24 anos de idade e sem maturidade para aplicar tudo com consistência. E hoje, com 45, tenho consciência que não adianta apenas ter conhecimento sobre finanças pessoais se você não tem gatilhos mentais que te fazem aplicar aquilo que você sabe. Nos primeiros anos após este contato fiz um bom

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ENTREVISTA

ENTREVISTA

montante de investimentos, mas depois acabei gastando tudo após mudanças na vida pessoal.

Explica me lhor o que aconteceu?

Basicamente comecei a investir rigorosamente todos os meses a partir de junho de 2002, fiz isso por três anos. Fiz um belo montante, no entanto algo emocional me fez gastar tudo em poucos meses em 2005. Basicamente eu tinha uma namorada e tudo era emocionalmente previsível. Após o término, eu simplesmente entrei numa onda de “curtir” a vida, troquei de carro, sai da casa dos meus pais, mobiliei um apartamento, e passei a viajar muito e a frequentar todo tipo de balada cara. Em poucos meses meus investimentos foram para o espaço.

Ou seja, para finanças pessoais o fator emocional é muito importante?

Eu diria hoje que é quase 70%. A gente consome mais do que deveria por fatores emocionais. E muitas pessoas acabam se endividando e passando anos para retomar a um patamar inicial de equilíbrio. Hoje a maior parte dos brasileiros está endividada. E o mercado faz com que sejamos o tempo todo bombardeados de “ofertas”, “descontos”, “promoções” etc. Então não é fácil se controlar para gastar menos do que se ganha. E só ter conhecimento sobre finanças pessoais não vai adiantar muito se de fato você não criar gatilhos mentais para evitar gastos excessivos.

Quando começou a investir novamente?

Eu diria que eu passei por diversos tipos de erros. Após gastar tudo que eu tinha investido entre 2002 e 2005, eu fiquei uns 4 anos no que eu chamo da Corrida dos Ratos, não me endividava, mas gastava tudo que ganhava. Ou seja, não saia do lugar. Nessa época minha preocupação era aproveitar a vida ao máximo e não em construir um patrimônio que me desse renda. E aí cometi um grande erro em 2009 que foi tentar comprar imóveis na planta em Brasília para tentar ganhar dinheiro rápido.

Explica como foi isso?

Em 2009 eu tinha consciência que eu precisava voltar a investir e a formar um patrimônio que ia me gerar renda. E a onda do momento em Brasília eram os imóveis na planta. Quem comprava simplesmente estava ganhando dinheiro muito rápido. Hoje eu sei que não se tratava de um investimento, mas de uma especulação imobiliária. Ou seja, era uma aposta . Podia dar certo, mas podia dar também muito errado.

O que aconteceu?

Na ideia de ganhar dinheiro rápido, eu juntei tudo que eu tinha e comprei de imóveis na planta em Águas Claras. O primeiro apartamento até deu certo, depois os imóveis começaram a despencar de preço. E acabei tendo prejuízo. Aí foram mais alguns anos para eu me equilibrar novamente. Aprendi muitas coisas com isso, como a importância de diversificar e a diferença entre especular e investir.

E o que aconteceu depois?

Aí por volta de 2015 comecei a investir do zero, sem tentar nada mirabolante mais. Passei a investir rigorosamente em produtos do mercado financeiro: ações, fundos imobiliários e tesouro direto. Aí é importante entender a diferença de investir e especular. Eu compro ações de empresas com a ideia de ser sócio das empresas e receber o lucro distribuído aos acionistas. Ou seja, não compro ações com a ideia de vender. Ou seja, de especular.

Como funciona isso?

Por incrível que pareça, não tenho a menor dúvida que é onde você tem mais segurança. Por meio do mercado você consegue diversificar bastante e seu risco fica mínimo se comparado a outros investimentos fora. As pessoas morrem de medo de investir em ações, mas colocam dinheiro em negócios próprios que tem uma probabilidade muito menor de darem errado.

ENTREVISTA

Nos EUA a maioria dos americanos compra ações das empresas de lá, da Apple, da Disney etc. No Brasil investir em empresas por meio do mercado financeiro ainda é um mito. E matematicamente é onde você consegue reduzir seu risco pela grande possibilidade de diversificação.

Mas a bolsa de valores no Brasil não vive um momento ruim?

Então, a economia brasileira como um todo está estagnada nos últimos 10 anos. Então é ruim o contexto econômico geral. Mas nesses últimos 10 anos houveram empresas que simplesmente explodiram seu faturamento. E algumas dessas empresas estão na bolsa. Então ficar de fora é algo que não vale no longo prazo. Creio que falta um pouco de educação financeira no Brasil que abra os olhos dos brasileiros sobre isso.

Uma outra opção mais fácil de entender são os fundos imobiliários. Algo que é possível entender facilmente. Quem compra recebe um “aluguel”, isento de Imposto de Renda. É algo bem mais prático do que investir em imóveis físicos.

Fora a renda fixa que está remunerada a uma taxa altíssima hoje, a maior do mundo. Ou seja, quem gasta mais do que ganha paga um juros altíssimos. E quem faz o contrário ganha um juros altíssimos. Tudo isso é educação financeira.

Sobre educação financeira, você acha que falta isso nas escolas?

Hoje tem mais educação financeira nas redes sociais do que no ensino tradicional. O que é péssimo. Até porque tem muita porcaria junto. As pessoas acabam o segundo grau sabendo diversas coisas sobre química, biologia, física, mas não saem sem saber o que é um título público ou uma ação de uma empresa. Isso não existe. As pessoas entram na faculdade e não sabem calcular minimamente os juros do cartão de crédito e por aí vai.

Para você, o que é mais importante? Gastar menos ou ganhar mais?

Os dois são importantes. Quem ganha R$ 5 mil e gasta tudo, quando ganhar R$ 8 mil tende a gastar tudo também. Vai mudar para uma academia mais cara. Vai passar a frequentar lugares mais caros. Vai passar a comprar roupas mais caras. E por aí vai. Ou seja, gastar menos do que se ganha é importante independente da faixa de renda que você está.

Mas isso não é mais fácil para quem ganha bem?

Com certeza, por isso ganhar mais ao longo da vida é essencial. Quem consegue subir sua renda várias vezes ao longo da vida tende a ter mais chances de construir um bom patri-

mônio. Isso porque a pessoa terá várias oportunidades de investir bastante antes de subir seu padrão de vida. Então entre gastar menos ou ganhar mais, eu diria que a busca por ganhar mais acaba sendo mais importante no longo prazo.

Quais investimentos são melhores para o brasileiro no seu ponto de vista?

A teoria mostra que o seu patrimônio após muitos anos de investimentos vai ser proporcional a basicamente três fatores:

O valor que você investiu ao longo dos anos: O tempo que você investiu esses valores; e Onde você investiu esses valores e a rentabilidade desses investimentos.

Então ao contrário do que a maioria das pessoas pensa. No longo prazo os dois primeiros (tempo e valor aportado) são mais importantes do que onde você investiu. Ou seja, mesmo que a pessoa tenha investido num produto com retorno menor, se os valores aportados foram altos e o tempo foi grande, a tendência é que o resultado seja até mais favorável. Ou seja, foque em investir todos os meses em uma carteira de investimentos bem diversificada que tenha renda fixa e renda variável que dará certo.

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Soraya Thronicke: uma senadora vira onça quando precisa

Convencida pelo União Brasil a assumir uma candidatura à Presidência da República aos 45 minutos do segundo tempo, a poucos dias do início oficial da campanha eleitoral do ano passado, a senadora Soraya Thronicke (MS) mostrou que não foge de desafios.

Mesmo sem ter feito uma pré-campanha, ela não só superou o desempenho do primeiro nome lançado por seu partido na disputa presidencial _ o do deputado Luciano Bivar (PE), que entrou e saiu da campanha sem pontuar _, como Soraya transformou-se em um ‘case’ eleitoral, quando virou a ‘candidata onça’, após um embate com o então presidente Jair Bolsonaro durante um dos debates presidenciais.

Com a mesma coragem que se defendeu dos ataques de Bolsonaro, a quem alertou que não deveria “cutucar a onça com a sua vara curta”, a senadora do Mato Grosso do Sul e atual presidente nacional do União Brasil Mulher não hesita em expor agora os dirigentes de seu partido que não honraram os compromissos assumidos com diversas candidatas mulheres, que saíram da campanha do ano passado endividadas.

Confira a entrevista que a senadora deu à jornalista Adriana Vasconcelos: Em pleno mês da mulher a senhora foi alvo de um ataque horroroso em meio a uma entrevista que estava dando. Ainda falta muito

para a igualdade de gênero dentro na política no Brasil?

Soraya Thronicke – Sim, falta. Vamos falar de Brasil. Eu fico impressionada porque a gente trabalha na legislação e a gente avança. A passos lentos, mas querendo ou não, avançamos: 30% de candidaturas femininas, é lei. Depois conseguimos o valor proporcional do Fundo Eleitoral para as candidaturas femininas, que pode ser mais do que 30%. Tem ser no mínimo 30% do Fundo Eleitoral destinado as mulheres. Ao mesmo tempo, agora em 2021, nós conseguimos aprovar o Fundo Eleitoral dobrado para mulheres eleitas.

Conseguimos aprovar no Senado Federal, também em 2021 uma proposta, de forma escalonada, fracionada, para não assustar o Brasil, para que nós atingíssemos em 2030 obrigatorieda-

de de 30 % de cadeiras femininas. Começamos com 18%, indo para 22%, e assim sucessivamente até os 30% em 2030. Na Câmara, engavetaram.

Então, se a gente se reúne todo mês de março para tratar da legislação, por isso, dias atrás, em um evento dessa natureza lá na Câmara, eu disse o seguinte: Não acho temos o que comemorar. Tá muito fraco ainda, porque toda a legislação que nós temos não se concretiza, não dá resultado, não tem eficácia. Enquanto não tivermos 30% ao menos de mulheres nas Executivas municipais, estaduais e nacionais, nós teremos ainda problemas. E olha que isso não seria suficiente, mas estamos longe.

A senhora teve que virar onça na campanha presidencial, e isso acabou se transformando na sua

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Como candidata à presidente da República pelo União Brasil na eleição passada, ela mostrou as garras pela primeira vez
POLÍTICA

marca. Mesmo em um cenário polarizado, a senhora e a senadora Simone Tebet acabaram conseguindo pautar o debate nacional. O que foi mais difícil ao longo dessa campanha presidencial, quando acabou entrando em último no último momento, depois de várias idas e vindas do partido?

Soraya – Primeiramente, eu sairia como vice do presidente do União Brasil, Luciano Bivar. Foi realmente em cima da hora. Eu me lembro muito bem que eu tive a oportunidade na campanha de conhecer pessoalmente João Dória, de conversar com ele. E quando eu disse para ele que eu havia entrado nos 45 do segundo tempo, ele disse assim: você entrou na prorrogação. A maioria dos candidatos, acredito que todos, tiveram um tempo para fazer até uma pré-campanha. Eu não tive essa chance, mas aceitei o desafio do partido.

Não fui eu que pedi para ser candidata. Eu não lutei por isso. Eu aceitei na terceira vez que me chamaram realmente. Como foi tudo muito em cima, foi difícil me convencer.

O mais difícil é insegurança que a gente tem de não ter o controle da sua campanha, de mandarem na sua campanha. Isso acontece com muitas mulheres, pois quem manda é o partido, que determina como tudo vai ser feito. Combinam, se comprometem de te dar estrutura, transporte e segurança, mas você não tem a garantia em um ambiente ainda muito inóspito para mulheres. Isso foi a questão mais difícil.

Eu sou presidente nacional do União Brasil Mulher e an-

dei pelo país construindo candidaturas. Mesmo assim não temos o controle dos recursos. O que eles prometem, eles deveriam cumprir. Mas nos 45 dias de uma campanha a gente tem surpresas na forma como atacam candidatos homens e candidatas mulheres. Ninguém espera um mar de rosas, mas os ataques são diferentes. Essa foi a pior parte, pois o partido que deveria proteger as mulheres, não protege.

A violência política de gênero é um dos fatores que mais afastam as mulheres da política. A senhora tem razão quando diz que os ataques são diferentes para as mulheres, seja na interrupção de uma fala, a conotação sexual das críticas, uma tentativa de desqualificação das mulheres. Como lidar com isso? Recentemente a bancada feminina do Senado só conseguiu participar da CPI da Covid, porque se uniu.

Soraya – O que dói é quando subestimam a nossa inteligência. Acho impressionante. Não são todos os homens. Existe uma gama considerável de homens que nos apoiam e muito votaram em mim. Mas o machismo realmente costuma imperar. Entre os 81 senadores era para cada um ter 1/81 de parcela do Poder, mas na prática isso não acontece. Por isso que falam que tem parlamentares do baixo clero, do alto clero.

Com as mulheres, você quer trabalhar e participar, mas como aconteceu na CPI da Covid, os blocos partidários não

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indicaram as mulheres. E entra ano e sai ano, eles fazer ouvidos moucos, pois continuamos não tendo mulheres na Mesa do Senado.

Aí a gente vai e fala no dia 8 de março, entra aqui e sai por ali. Estou praticamente me recursando a ir para tribuna no próximo dia 8 de março, se algo não for efetivamente mudado. Eu vou participar de uma forma diferente, não vou me omitir. Isso realmente afasta as mulheres.

É bem diferente você ser uma mulher na política e estar casada. A família começa a ficar apavorada, porque o ambiente é hostil demais com as mulheres. Eles tem medo e aconselham que não nos candidatemos mais. E eu entendo que é por proteção. Porque se meu marido não tem mandato, ele se sente alijado do ambiente e sem força. É um caso bem complicado e por isso precisamos de uma estrutura maior.

Eu tenho um projeto de lei que pode até ser criticado por quem não é político, mas para permitir que se destine uma parte do fundo eleitoral para que essas mulheres paguem os cuidados de seus filhos, para que possam deixar seus filhos creches e comprovem o pagamento, e o fundo eleitoral banque esse gasto. Isso valeria até para um pai solo.

Eu coloquei no Mato Grosso do Sul, em um evento partidário, uma brinquedoteca, para que as mães pudessem participar da política e pudessem levar seus filhos ao mesmo tempo. As vezes você é até criticada por isso, mas só quem tem filho pequeno sabe que não dá para deixar para trás seus filhos.

As bancadas acabaram provando na prática que a união das mulheres é a única saída para que consigam avançar dentro do Legislativo. Qual que é a o segredo dessas ações conjuntas? E também suprapartidárias, outra coisa também muito difícil de se ver na política. Esse é um jeito feminino de fazer política?

Soraya - Creio que sim. A nossa sensibilidade é bem maior. Tanto que aqui a bancada feminina no Senado Federal atuou de forma muito notória durante a CPI da Covid, porque nós deixamos de lado absolutamente tudo, todas as nossas diferenças e fomos uma bancada só. Nós fomos uma só durante esse período e continuamos assim. E tem sido interessante.

Na época (da CPI) podíamos colocar nossos nomes para falar uma lista de membros e uma lista de suplentes. Então, quem chegava mais cedo, colocava o nome, às vezes uma dava lugar para outra. Isso é importante! Principalmente por-

que as políticas públicas e essas questões que envolvem as mulheres são muito para inglês ver, elas são muito bonitas no papel, mas muitas vezes são mascaradas.

Vou te dar um belo exemplo aqui no Senado Federal, onde a gente se orgulha de ter uma liderança da bancada feminina, com direito a destaque, com direito a voz de líder e tudo isso, porém não tem nenhum cargo e venho repetindo isso. Não porque eu queira, não é isso, mas nós não temos que quer uma sala.

Todas as lideranças _ têm da minoria, da maioria, tem liderança de tudo aqui _ têm estrutura. Nós temos uma liderança com 15 senadoras hoje, quase a maior bancada, e essa estrutura ainda é só promessa.

Temos a Lei Maria da penha, que foi considerado pela ONU uma das 3 melhores legislações de proteção de violência doméstica. Porém, eu sou advogada de família, vai pedir uma medida protetiva e vê quanto tempo demora? Vai tentar tirar essa mulher da casa, onde você a coloca? O que você faz com os filhos? E aí você corre atrás para citar esse cidadão agressor e o cara fica fugindo para lá e para cá. Porque você tem a legislação, mas nenhum estado, dentro da justiça esta-

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POLÍTICA

dual, coloca a estrutura para cumprir essa lei, que é linda. Então vamos parar de elogiar e vamos dar nome aos bois e dizer o seguinte: cumpra-se!

Tem mulheres na política que se espelham em homens até para sobreviver. Qual que é a sua estratégia pra sobreviver dentro da política? É onça?

Soraya - Pergunta difícil! (rsrs) A estratégia vem de acordo com o tiro. Você se prepara para um debate, mas dentro de um limite de educação. Nunca me preparei para dizer para um adversário que ele não deveria me cutucar com a vara curta, mas eu fui chamada de estelionatária. Não estava na liturgia do ambiente a previsão de eu ser chamada de estelionatária daquela forma. Simone (Tebet) também foi atacada naquele momento. Como você se prepara para isso? Na força da fé, mistura tudo junto no preparo. Agora se você tem de virar onça, vira. Mas tem que dosar essa onça. Se não você é chamada de louca, histérica, destemperada. Eu não sei se existe tempo calmo na política.

Outro dia eu estive com a ex-senadora Marisa Serrano, que já está com 72 anos. Ela sentou do meu lado e disse: ‘Soraya tem dia que olho para você e me dá até uma dó, porque quando eu era política, eu não vivia nesse tempo onde as pessoas destroem reputações em um segundo numa rede social. Estou abismada!’ Eu acho que em vez de a gente melhorar... porque o certo é uma sociedade avançar, vamos analisar friamente, será que tem os avanços? Porque quando você não reconhece o grau que você está, não toma atitude condizente com aquele grau, você fica se enganando. Eu não quero mais ser enganada. Eu não quero ser distraída. Eu não consigo mais romantizar as coisas. Eu não tenho mais paciência para isso, porque não faz bem. A gente tem que bater real, entendeu?

A situação piorou! Se analisarmos dentro dos números, fatos e lógica. O que está acontecendo? Se eu senadora, no meio do mandato, candidata á Presidência pelo maior partido naquele momento, passei pelo passei, e não consegui fazer com que presidentes estaduais cumprissem com sua palavra com mulheres (candidatas), passassem a perna nelas...

Você não tem ideia do que recebo de reclamação de mulher que está devendo até hoje da campanha e que o partido disse que iria fazer assunção de dívida, mas não paga. Fazer isso com uma mulher negra, de 72 anos, viúva, uma líder de bairro. Antes da campanha, para cumprir a cota, estendem o tapete vermelho para ela ser candidata. Promete que ela pode contratar equipe e faz compromisso. E no meio do caminho puxam o tapete dela. E essa mulher tem a casa toda pichada, não pode mais sair de casa. Aí esses líderes partidários

somem e nem atendem mais o telefone. E isso não aconteceu só com uma, mas com muitas.

Eu não posso me calar. Gosto de mim brava, se eu amansar fico com preguiça.

A senhora assumiu recentemente a presidência da Comissão de Agricultura do Senado. Quais são suas prioridades?

Soraya – Agricultura, reforma agrária e meio ambiente caminham juntos. Primeiramente, vamos caminhar de mãos dadas, com o meio ambiente, com a sustentabilidade, precisamos produzir de forma sustentável. Quero trabalhar, limpar pauta, entregar para a população. Temos muitos projetos de lei muito interessantes, alguns muito sensíveis, como é a questão até do licenciamento ambiental. Por isso, estou bastante ansiosa, principalmente para encontrar uma solução para a regularização fundiária e ajudar o pequeno produtor, o pequeno proprietário, aqueles assentados, aquelas pessoas contribuem, produzem o que nós temos para consumo interno, mas são esquecidas porque elas não conseguem acessar o Plano Safra, por exemplo.

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POLÍTICA

O efeito das fake news na saúde

Prezados leitores, que momento estamos vivendo no mundo! A revolução dos meios de comunicação está alterando todas os padrões pré-estabelecidos de relações sociais. Reflexos dessas transformações são observados em todas as áreas, desde na econômica, com a internet revolucionando a maneira de se fazer negócios e de se ganhar dinheiro, até nas relações pessoais, com a expansão dos nossos círculos sociais independentemente da distância física, o que nos permite entrar em contato com pessoas que nunca conheceríamos sem a ajuda da tecnologia. Com a saúde, não poderia ser diferente: mudanças estruturais têm ocorrido. Antes, o médico era detentor do saber e os pacientes tinham poucas possibilidades de questionar suas condutas. Hoje, qualquer pessoa pode ter acesso, através da internet, às informações mais recentes e modernas sobre diagnóstico e tratamento. As ferramentas de tecnologia também proporcionaram a troca de informações entre grupos de portadores das mesmas doenças e facilitaram o diagnóstico de portadores de doenças raras. Antes, toda a informação médica era publicada em documentos, muitas vezes em linguagem científica, o que dificultava o entendimento do público leigo. Hoje, há milhares de profissionais de saúde e de outros produtores de conteúdo fazendo vídeos e postagens nas redes sociais, que traduzem às pessoas comuns os mais diversos assuntos relacionados à medicina. A informação chega de forma passiva, fácil e abundante. Apesar de todos os aspectos benéficos que essas transformações vêm trazendo, é necessário atentar para os enormes problemas que informações incompletas, incorretas e fakenewsvêm provocando no âmbito da saúde. Basta uma olhada rápida nas redes sociais para se perceber a avidez com que são propostos, e vendidos, os mais variados tratamentos e soluções. O público fica exposto a uma grande quantidade de sugestões e tem dificuldade em diferenciar o que é científico e sério do que é charlatanismo.

Recentemente, uma colega de profissão me apresentou o caso de uma cliente que chegou ao seu consultório com uma grave hepatite medicamentosa após receber um tratamento intravenoso realizado para perder peso. Soube também de outra situação em que um diagnóstico de câncer de intestino foi retardado em muito tempo porque o paciente decidiu

realizar tratamentos naturais para a alteração intestinal que vinha apresentando, recomendados por um influencer da nutrição. A toda hora temos notícias desse tipo, em que pessoas deixam de realizar uma boa avaliação clínica e um exame individualizado para seguir os conselhos dos novos gurus da internet. Frente a essas intempéries, uma questão precisa ser avaliada urgentemente: quem deve ser responsabilizado pelos problemas graves que ocorrem com essa deturpação do processo de diagnóstico e tratamento? Como a sociedade pode mitigar tais danos? Talvez com uma maior e mais responsável intervenção dos Conselhos de Classe, embora eu não acredite que tal medida seja suficiente. Os próprios Conselhos não têm se entendido quando há controvérsias de conduta, haja visto o que ocorreu no meio médico durante a pandemia de Covid 19, quando o CFM foi conivente com tratamentos comprovadamente ineficazes para a doença. A instituição de câmaras técnicas independentes e idôneas para opinar sobre tratamentos e outros assuntos polêmicos seria importante, mas essa medida provavelmente teria pouca eficácia sem a regulação das redes sociais. Por outro lado, regulação da internet é um assunto delicado e traz o risco de resvalarmos em perda da liberdade de expressão e censura. Na minha opinião, o antídoto para esse mal, o que está a nosso alcance agora, é estimular exaustivamente o debate sobre o tema. São necessárias campanhas educativas para alertar a sociedade sobre os riscos reais de se realizar tratamentos sem validação científica. Também deve-se estimular que o usuário pesquise com cuidado a formação do influencerque está propondo o tratamento. Afora essas medidas, e sem trazer nenhuma novidade, penso que só um investimento pesado e a longo prazo em educação conseguirá capacitar nossa sociedade para separar o joio do trigo na seara da internet.

Luciana Campos * * Luciana Campos é médica gastroenterologista, mestre em Ciências Médicas pela USP e pesquisadora clínica no L2 Instituto de Pesquisas. IG: @lucianatcampos.
36 SAÚDE

Faixa ano 26

Odia 1o de abril marcou o vigésimo sexto aniversário de um marco importantíssimo para o DF. É curioso que muitos se referem a esse episódio como a instituição do marco legal da faixa de pedestres, mas a prioridade absoluta do pedestre nas faixas já estava no então Código Nacional de Trânsito. O que ocorreu, então, no dia 1o de abril de 1997?

Vivíamos um quadro catastrófico de violência no trânsito e foi nesse ambiente que o governo Cristovam Buarque, iniciado em 1995, construiu o exitoso programa Paz no Trânsito, mobilizando diversos segmentos da sociedade. Duas frentes tiveram destaque no programa: a redução das velocidades nas vias e o respeito ao direito de o pedestre usar as travessias não semaforizadas.

Vou pular aqui o ponto da moderação da velocidade para falar do respeito à faixa, um imenso desafio por conta da inversão de valores e mudança de atitude e comportamento de condutores e pedestres. (Abro parênteses aqui para reverenciar dois saudosos personagens, fundamentais para o sucesso da iniciativa: o coronel Azevedo, comandante do Batalhão de Trânsito da PM, e o psicólogo Luís Miúra, diretor geral do Detran.)

É triste constatar, passado este quarto de século, a visível ameaça de perda dos valores tão duramente conquistados, que se deve em larga medida à descontinuidade das campanhas institucionais. Há muito o programa Paz no Trânsito reclama uma segunda edição, tão forte e bem construída como a primeira. Apostando que essa nova edição virá, ouso sugerir um novo valor a ser invertido, resgatando a promoção da cidadania que tanto nos orgulhou nos anos 90.

Naqueles dias, dizia-se que a iniciativa não ia dar certo porque motoristas não perceberiam a intenção das pessoas de cruzarem as vias. Data de então a figura que ganhou o sugestivo nome de “sinal da vida”. O competente trabalho educativo levado a efeito pelos órgãos governamentais e pela

mídia popularizou com sucesso a ideia de pedestres estenderem o braço para assegurarem-se de que estão sendo vistos por condutores.

Ao longo dos anos, com o esmaecimento das campanhas educativas, testemunhamos uma interpretação distorcida do “sinal da vida”: em lugar da garantia de visibilidade, um pedido de licença para usar o espaço dos veículos. Não custa ressaltar: na faixa de pedestres, quem tem que pedir licença é o veículo. Ao se aproximar de uma, o condutor tem que se assegurar de que não há pessoas usando ou querendo usar aquele espaço antes de cruzá-la. Ou seja, é o oposto da interpretação que vem ganhando corpo.

Para nosso espanto, temos visto propostas que, embora talvez com a melhor das intenções, buscam normatizar a travessia obrigando o pedestre a fazer o “sinal da vida” como condição necessária ao exercício do direito que é dele. Para piorar, há propostas que, além do tal pedido de licença, condicionam a “concessão do direito” de usar a faixa à formação de um grupo – sozinha, uma pessoa não poderia interromper o fluxo veicular para atravessar a rua.

Com todo o respeito que os proponentes merecem por certamente pensarem na integridade física das pessoas e na fluidez do tráfego veicular, é preciso reconhecer que essas propostas são a pura expressão de quem vê o mundo pela janela do carro. Por essas e outras é tão urgente a campanha Paz no Trânsito 2.

* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
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MOBILIDADE

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio

@mota aviafm

ARTES PLÁSTICAS

CONTOS CLÁSSICOS

Os 80 anos do Zé Carioca: o mais brasileiro dos personagens da Disney

Por pouco, muito pouco mesmo, o Zé Carioca não seria um… tatu. Em agosto de 1941, os desenhistas Franklin Thomas (1912-2004) e Norman Ferguson (1902-1957), que acompanharam Walt Disney (1901-1966) em sua viagem ao Brasil, chegaram a fazer esboços de um simpático tatu-bola tamborilando um pandeiro.

No entanto, de tanto ouvir piada de papagaio, algumas delas contadas pelo jornalista Gilberto Souto (1906-1972), correspondente da revista Cinearte em Hollywood, Walt Disney mudou de ideia e optou por outro animal da fauna brasileira para representar o país em um de seus próximos filmes: o papagaio.

A visita do ‘pai’ do Mickey Mouse ao Brasil começou em 17 de agosto de 1941 quando, por volta das seis da tarde, ele, sua mulher, Lillian (1899-1997), e uma equipe de 16 profissionais, oito desenhistas e oito animadores, desembarcaram no Rio de Janeiro. Do aeroporto Santos Dumont, parte da comitiva seguiu para o Hotel Glória, o primeiro cinco estrelas do Brasil; e parte para o Copacabana Palace, um dos mais tradicionais da orla carioca.

O motivo oficial da visita de Walt Disney ao Brasil foi a divulgação de Fantasia (1940), o terceiro longa de animação dos estúdios Disney. A estreia no dia 23 de agosto, no Pathé Palácio, na Cinelândia, Centro do Rio, foi tão badalada que contou até com a presença do então presidente da República Getúlio Vargas (1882-1954) e da primeira-dama Darcy Vargas (1895-1968).

No dia seguinte, Walt Disney tirou o dia de folga para visitar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. Saiu de Copacabana às cinco da tarde e seguiu para Madureira. Na Azul e Branco, assistiu a um ensaio da escola fundada em 1923 e conheceu o sambista Paulo Benjamin de Oliveira (1901-1949), o Paulo da Portela.

O sambista de Oswaldo Cruz, reza a lenda, teria sido uma das fontes de inspiração para o Zé Carioca. Mas, não foi a única. O figurino do papagaio, por exemplo, foi baseado no rábula alagoano Manuel Vicente Alves, o Dr. Jacarandá (1869-1948), um tipo para lá de folclórico das ruas do Rio. Ele gostava de usar, entre outros adereços, paletó, chapéu-palheta, gravata-borboleta e guarda-chuva. “Pode confiar em mim”, gostava de dizer aos seus clientes. “Sou igual a jacarandá: pau para toda obra”.

Em sua passagem pelo Rio, Walt Disney conheceu alguns brasileiros ilustres. O compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959) foi um deles.

O cartunista José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), o J. Carlos, foi outro. Durante um jantar no Copacabana Palace, J. Carlos deu de presente ao visitante a ilustração de um papagaio abraçando

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o Pato Donald. Até hoje, não se sabe ao certo que fim levou o desenho de J. Carlos. Ou, ainda, se Walt Disney aproveitou algo dele na criação do personagem.

“Ao longo desses 80 anos, o Zé Carioca sofreu muitas alterações no visual. Trocou o tradicional paletó e a gravata-borboleta, por pulôver ou camiseta branca. Numa fase, usou boné. Noutra, tênis”, exemplifica o pesquisador Marcus Ramone, autor de Entre Patos e Ratos: a Epopeia dos Quadrinhos Disney (Editora Noir). “É o meu personagem Disney favorito. Ao contrário de outras aventuras em quadrinhos da Disney, que se passavam em Patópolis, as do Zé se desenrolavam no Rio de Janeiro. Havia muitos elementos familiares ao público brasileiro, a começar pela condição social do personagem”

Mas, o Zé Carioca não estaria completo se não fosse o músico paulista José do Patrocínio Oliveira (1904-1987), o

CONTOS CLÁSSICOS

Zezinho. Um dos integrantes do conjunto musical Bando da Lua, que acompanhava a cantora Carmen Miranda (19091955), foi ele quem emprestou a voz ao Zé Carioca no filme Alô, Amigos (1942), que marcou a estreia do mais brasileiro dos personagens da Disney no cinema.

Ao todo, Walt Disney e sua trupe passaram 23 dias no Rio, de 17 de agosto a 8 de setembro de 1941, quando partiram para Buenos Aires. Entre outros compromissos, Disney visitou o Jardim Botânico, conheceu o Pão de Açúcar e concedeu entrevista à imprensa.

Na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), um dos repórteres quis saber se a viagem tinha motivação política. “Não me preocupo com esses assuntos. Bastam-me os meus próprios problemas para me preocupar bastante...”,

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CONTOS CLÁSSICOS

respondeu o entrevistado, segundo o jornal O Globo, de 19 de agosto de 1941.

Polêmicas à parte, Walt Disney não veio ao Brasil só para lançar Fantasia. A viagem fazia parte da Política de Boa Vizinhança, estratégia política adotada pelo presidente Franklin Roosevelt (1882-1945) para angariar a simpatia de aliados latino-americanos na Segunda Guerra Mundial.

“O Zé Carioca surgiu com uma perspicácia que beira a malandragem. Além disso, é um fã que adora e adula o Pato Donald. Isso demonstra o que é, no entendimento dos artistas da Disney, ser um ‘bom amigo’”, analisa o historiador Alexandre Maccari Ferreira, doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). “Por um lado, o Zé Carioca tem características metonímicas do ‘brasileiro padrão’, como a alegria. Por outro, as penas do seu rabo são das cores da bandeira norte-americana”. O tema de sua dissertação de mestrado de Alexandre foi O Cinema Disney Agente da História: A Cultura nas Relações Internacionais Entre Estados Unidos, Brasil e Argentina (1942-1945).

Poucos dias antes de desembarcar no Rio, Walt Disney teve a oportunidade de ouvir, pela primeira vez, o samba-exaltação Aquarela do Brasil, de Ary Barroso (1903-1964). Foi em Belém (PA), onde o avião em que ele e sua equipe viajavam pousou para abastecer. Estava hospedado no Grande Hotel, na capital paraense, quando notou que o conjunto musical só tocava canções estrangeiras. Intrigado, pediu ao maestro que executasse alguma música típica do Brasil. O pianista, então, arriscou alguns acordes de Aquarela do Brasil, composta dois anos antes. Walt Disney só veio a conhecer o compositor no último dia de sua visita ao Rio, em um coquetel oferecido pelo Consulado dos Estados Unidos no Hotel Glória.

Na biografia No Tempo de Ari Barroso (1993), o jornalista Sérgio Cabral conta que Ary Barroso compôs Aquarela do Brasil na noite de 28 de fevereiro de 1939. Chovia muito e, sem poder sair de casa, começou a tocar uma nova canção ao piano. Minutos depois, já havia terminado letra e música. “O objetivo do vovô era fugir das tragédias da vida e exaltar as belezas de nosso país”, explica Márcio Barroso, neto de Ary. “Naquela mesma noite, pouco depois de concluir Aquarela do Brasil, compôs As Três Lágrimas. Uma não tem nada a ver com a outra”.

O primeiro comentário que ouviu a respeito de Aquarela do Brasil não foi lá muito encorajador. “O coqueiro que dá coco? Você queria que ele desse o quê?”, desdenhou o cunhado. Ary deu de ombros. De lá para cá, Aquarela do Brasil já ganhou 322 regravações: de Carmen Miranda a Elis Regina (1945-1982), de Bing Crosby (1903-1977) a João Gilberto (1931-2019), de Frank Sinatra (1915-1998) a Plácido Domingo.

Zé Carioca e Aquarela do Brasil estrearam juntos no ci-

nema. Foi no dia 24 de agosto de 1942, quando os cinemas brasileiros exibiram Alô Amigos (Saludos Amigos, no original). Nos EUA, a estreia só aconteceu seis meses depois, em 6 de fevereiro de 1943. Zé Carioca fez tanto sucesso que voltou a dar o ar de sua graça em dois outros longas-metragens: Você Já Foi à Bahia? (The Three Caballeros, 1944) e Tempo de Melodia (Melody Time, 1948).

Por coincidência, Walt Disney convidou J. Carlos e Ary Barroso para trabalharem com ele, em Los Angeles, na Califórnia. Ambos recusaram a proposta. “Because don’t have Flamengo here” foi a desculpa que Ary Barroso, um flamenguista doente, deu para declinar do convite.

Se, nas telas de cinema, Zé Carioca estreou primeiro no Brasil e depois nos EUA; nas tirinhas de jornal, se deu o contrário: estreou primeiro lá e depois aqui. Com roteiro de Hubie Karp (1915-1953) e desenhos de Bob Grant (1914-1968) e Paul Murry (1911-1989), Zé Carioca (Joe Carioca, no original) estreou nas páginas dos jornais americanos em 11 de outubro de 1942. Ele só chegou ao Brasil em 2 de fevereiro de 1943 quando O Globo Juvenil passou a publicar algumas dessas histórias. Logo, o Zé Carioca passou a ser publicado também

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em revistas em quadrinhos. A estreia no formato gibi aconteceu em dezembro de 1942, na Walt Disney ‘s Comics and Stories. A história O Rei do Carnaval teve roteiro e desenho de Carl Buettner (1903-1965).

“Em suas primeiras tiras de quadrinhos, ainda produzidas nos EUA, pouca coisa realmente diferenciava o Zé dos demais personagens Disney. As tramas eram ambientadas em uma cidade que poderia ser qualquer outra. Isso começou a mudar quando os quadrinhos do Zé começaram a ser produzidos no Brasil por artistas locais. De repente, o Zé Carioca estava vivendo no Rio de Janeiro, na fictícia Vila Xurupita, comendo feijoada e jogando futebol”, analisa Paulo Maffia, editor-chefe da Culturama.

No Brasil, as histórias do Zé Carioca já foram publicadas por duas editoras: a Abril, entre 1961 e 2018, e a Culturama, desde 2020. A primeira revista em quadrinhos brasileira foi a do Pato Donald número 1, publicada em julho de 1950. O Zé Carioca aparece na capa, desenhada pelo artista argentino Luis Destuet. Aos poucos, o papagaio começa a conquistar seu próprio espaço. Em março de 1960, ele protagoniza sua primeira aventura totalmente brasileira, A Volta do Zé Carioca,

CONTOS CLÁSSICOS

de autoria de Jorge Kato (1936-2011). E, em janeiro de 1961, ganha sua própria revista.

“Houve um tempo em que a revista do Zé Carioca vendeu muito bem e atingiu o patamar de 180 mil exemplares. A título de comparação, O Pato Donald estava na faixa dos 200 mil”, explica Manoel de Souza, autor de O Império dos Gibis — A Incrível História dos Quadrinhos da Editora Abril (Editora Heroica).

Com o passar dos anos, o Zé Carioca ganhou um grande amor (Rosinha); um melhor amigo (Nestor); um rival (Zé Galo); um time de futebol (Vila Xurupita F.C.), uma versão heróica (Morcego Verde); e até uma série de primos, um de cada estado (Zé Paulista, Zé Jandaia, Zé Pampeiro, Zé Queijinho, Zé Baiano e Zé Pantaneiro).

“O Zé Carioca dos filmes é expansivo e acolhedor. Seu bom humor é contagiante. Quer bancar o esperto, mas com elegância e naturalidade, sem ser desleal. Já o Zé Carioca das revistinhas não é tão ético, mas é bem divertido. Era o típico malandro que gostava de levar vantagem em tudo. Vivia numa pindaíba de fazer gosto e não media esforços para alcançar uma alta condição social, sem ter que trabalhar duro.

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Hoje em dia, seria considerado ‘politicamente correto’”, compara o pesquisador Jorge Carvalho de Mello, autor de Muito Prazer, Zé Carioca — A Extraordinária Vida do Músico que Inspirou Walt Disney a Criar o Famoso Papagaio (Editora Noir), com previsão de lançamento para novembro.

Para comemorar seu aniversário de 80 anos do Zé Carioca, a Culturama acaba de lançar O Essencial do Zé Carioca — Celebrando 80 Anos, que reúne 14 histórias clássicas do papagaio, de Zé Carioca Contra o Goleiro Gastão, de janeiro de 1961, a Volta, Zé... Volta!, de setembro de 2020. Em edição de capa dura, estão reunidos alguns dos melhores roteiristas e desenhistas do Zé Carioca, como Waldyr Igayara de Souza (1934-2002), Renato Canini (1936-2013) e Ivan Saidenberg (1940-2009), entre outros.

Das 14 histórias de O Essencial do Zé Carioca, Que Galo É Esse, Zé?, publicada em março de 1983, é de autoria de Gerson Borlotti Teixeira. Das 518 histórias que escreveu só com personagens Disney, 187 são do Zé Carioca. “O Zé personifica a alegria, a esperança e até uma pitada de malandragem do brasileiro. Em tempos de politicamente correto, essa malandragem teve que ser praticamente esquecida”, explica Gerson, que estreou na Editora Abril em 1977. “A Disney tem um manual de ética e conduta muito rigoroso que deve ser seguido por qualquer empresa que tem os direitos de usar seus personagens. Antigamente, o Zé era conhecido por seus calotes e malandragens. Hoje, essas práticas são vetadas. Isso obriga os roteiristas a explorar outras características do personagem, como o alto-astral, o otimismo e a cara de pau de filar a feijoada na casa do Pedrão”.

Em outubro, a Culturama lança Zé Carioca Conta a História do Brasil. Com argumento do jornalista e escritor Eduardo Bueno e roteiro de Paulo Maffia, o livro revisita cinco episódios da História do Brasil, desde o Descobrimento até a Independência. Personagens Disney como Donald, Peninha e Gastão, entre outros, interpretam figuras históricas, como Pedro Álvares Cabral (1467-1520), Pero Vaz de Caminha (1450-1500) e Américo Vespúcio (1454-1512). “Minha inspiração foi o Don Rosa, autor de algumas das histórias mais épicas do Tio Patinhas”, conta Eduardo Bueno. “As histórias contadas pelo Zé Carioca não são 100% verdadeiras. Há muita ficção ali. O que eu procurei fazer foi brigar o menos possível a ficção com a realidade”.

Outro lançamento, previsto para novembro, é Muito Prazer, Zé Carioca, de Jorge Carvalho de Mello. Curiosamente, o violonista que inspirou, entre outros, a criação do Zé Carioca era paulista de Jundiaí. No livro, o autor conta que, depois que decidiu incluir o papagaio em seus desenhos animados, Walt Disney precisava de alguém para dublá-lo. O nome escolhido foi o do ator Grande Otelo (1915-1993), mas eles

não chegaram a um acordo. “Zezinho estava em estúdio dublando O Dragão Relutante (1941) quando um funcionário da Disney procurou seu chefe para dizer que tinha encontrado a voz ideal para o papagaio. Além da voz, Zezinho emprestou sua ginga e malemolência ao Zé Carioca”, revela o autor. Mas, a festa preparada para o Zé Carioca não se limita ao lançamento de livros e gibis. Um sem-número de produtos temáticos, de esmalte a chinelo, de pelúcia a quebra-cabeça, de capa de celular a instrumento musical, serão lançados ao longo dos próximos 12 meses. E, como toda festa que se preza, a do Zé Carioca ganhou até música: Os Zés do Brasil, composta por Leandro Lehart e cantada por Xande de Pilares. “O Zé Carioca mostra um lado lindo que o brasileiro tem e, muitas vezes, esquece que tem”, analisa Tokie Esaka, diretora criativa da Disney Brasil. “O brasileiro é um povo otimista por natureza, que não desiste nunca. Isso tem tudo a ver com a Disney. Acreditamos em nossos sonhos e procuramos olhar o lado belo das coisas”..

Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/ portuguese/brasil-62660115

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