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Como investir seu dinheiro?

Confira aqui as regras de ouro de quem já ganhou, gastou e agora sabe bem a diferença entre aplicar e especular

Aos 45 anos de idade, o economista Humberto Alencar compartilha nesta entrevista à revista Plano B sua experiência como investidor. Seu primeiro contato com o mundo dos investimentos começou há cerca de 20 anos. Os primeiros grandes rendimentos foram gastos em uma velocidade grande, o que lhe obrigou a rever sua conduta. Diante de suas próprias experiências, ele dá uma dica de ouro: “Gastar menos do que se ganha é importante independente da faixa de renda que você está”.

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Como você começou a se interessar por economia e finanças pessoais?

Este é um assunto que todos acabam se interessando de alguma forma, mas no meu caso começou quando trabalhei por algum tempo como jornalista para o mercado financeiro, ainda antes de virar servidor público. Foi um primeiro contato com o mundo dos investimentos há cerca de 20 anos.

Qual foi o primeiro livro que leu sobre finanças pessoais?

Eu comprei um livro do Mauro Halfeld em 2002, um famoso colunista sobre o tema, que tenho até hoje. Foi meu primeiro contato com algo mais formal. A partir desse contato passei a ler outros livros, artigos e a me interessar sobre todo material que tratava de investimentos.

E como foi aplicar o conhecimento desses livros na sua vida?

Eu tive contato com os livros de investimentos ainda muito novo, por volta de 24 anos de idade e sem maturidade para aplicar tudo com consistência. E hoje, com 45, tenho consciência que não adianta apenas ter conhecimento sobre finanças pessoais se você não tem gatilhos mentais que te fazem aplicar aquilo que você sabe. Nos primeiros anos após este contato fiz um bom

Entrevista

montante de investimentos, mas depois acabei gastando tudo após mudanças na vida pessoal.

Explica me lhor o que aconteceu?

Basicamente comecei a investir rigorosamente todos os meses a partir de junho de 2002, fiz isso por três anos. Fiz um belo montante, no entanto algo emocional me fez gastar tudo em poucos meses em 2005. Basicamente eu tinha uma namorada e tudo era emocionalmente previsível. Após o término, eu simplesmente entrei numa onda de “curtir” a vida, troquei de carro, sai da casa dos meus pais, mobiliei um apartamento, e passei a viajar muito e a frequentar todo tipo de balada cara. Em poucos meses meus investimentos foram para o espaço.

Ou seja, para finanças pessoais o fator emocional é muito importante?

Eu diria hoje que é quase 70%. A gente consome mais do que deveria por fatores emocionais. E muitas pessoas acabam se endividando e passando anos para retomar a um patamar inicial de equilíbrio. Hoje a maior parte dos brasileiros está endividada. E o mercado faz com que sejamos o tempo todo bombardeados de “ofertas”, “descontos”, “promoções” etc. Então não é fácil se controlar para gastar menos do que se ganha. E só ter conhecimento sobre finanças pessoais não vai adiantar muito se de fato você não criar gatilhos mentais para evitar gastos excessivos.

Quando começou a investir novamente?

Eu diria que eu passei por diversos tipos de erros. Após gastar tudo que eu tinha investido entre 2002 e 2005, eu fiquei uns 4 anos no que eu chamo da Corrida dos Ratos, não me endividava, mas gastava tudo que ganhava. Ou seja, não saia do lugar. Nessa época minha preocupação era aproveitar a vida ao máximo e não em construir um patrimônio que me desse renda. E aí cometi um grande erro em 2009 que foi tentar comprar imóveis na planta em Brasília para tentar ganhar dinheiro rápido.

Explica como foi isso?

Em 2009 eu tinha consciência que eu precisava voltar a investir e a formar um patrimônio que ia me gerar renda. E a onda do momento em Brasília eram os imóveis na planta. Quem comprava simplesmente estava ganhando dinheiro muito rápido. Hoje eu sei que não se tratava de um investimento, mas de uma especulação imobiliária. Ou seja, era uma aposta . Podia dar certo, mas podia dar também muito errado.

O que aconteceu?

Na ideia de ganhar dinheiro rápido, eu juntei tudo que eu tinha e comprei de imóveis na planta em Águas Claras. O primeiro apartamento até deu certo, depois os imóveis começaram a despencar de preço. E acabei tendo prejuízo. Aí foram mais alguns anos para eu me equilibrar novamente. Aprendi muitas coisas com isso, como a importância de diversificar e a diferença entre especular e investir.

E o que aconteceu depois?

Aí por volta de 2015 comecei a investir do zero, sem tentar nada mirabolante mais. Passei a investir rigorosamente em produtos do mercado financeiro: ações, fundos imobiliários e tesouro direto. Aí é importante entender a diferença de investir e especular. Eu compro ações de empresas com a ideia de ser sócio das empresas e receber o lucro distribuído aos acionistas. Ou seja, não compro ações com a ideia de vender. Ou seja, de especular.

Como funciona isso?

Por incrível que pareça, não tenho a menor dúvida que é onde você tem mais segurança. Por meio do mercado você consegue diversificar bastante e seu risco fica mínimo se comparado a outros investimentos fora. As pessoas morrem de medo de investir em ações, mas colocam dinheiro em negócios próprios que tem uma probabilidade muito menor de darem errado.

Entrevista

Nos EUA a maioria dos americanos compra ações das empresas de lá, da Apple, da Disney etc. No Brasil investir em empresas por meio do mercado financeiro ainda é um mito. E matematicamente é onde você consegue reduzir seu risco pela grande possibilidade de diversificação.

Mas a bolsa de valores no Brasil não vive um momento ruim?

Então, a economia brasileira como um todo está estagnada nos últimos 10 anos. Então é ruim o contexto econômico geral. Mas nesses últimos 10 anos houveram empresas que simplesmente explodiram seu faturamento. E algumas dessas empresas estão na bolsa. Então ficar de fora é algo que não vale no longo prazo. Creio que falta um pouco de educação financeira no Brasil que abra os olhos dos brasileiros sobre isso.

Uma outra opção mais fácil de entender são os fundos imobiliários. Algo que é possível entender facilmente. Quem compra recebe um “aluguel”, isento de Imposto de Renda. É algo bem mais prático do que investir em imóveis físicos.

Fora a renda fixa que está remunerada a uma taxa altíssima hoje, a maior do mundo. Ou seja, quem gasta mais do que ganha paga um juros altíssimos. E quem faz o contrário ganha um juros altíssimos. Tudo isso é educação financeira.

Sobre educação financeira, você acha que falta isso nas escolas?

Hoje tem mais educação financeira nas redes sociais do que no ensino tradicional. O que é péssimo. Até porque tem muita porcaria junto. As pessoas acabam o segundo grau sabendo diversas coisas sobre química, biologia, física, mas não saem sem saber o que é um título público ou uma ação de uma empresa. Isso não existe. As pessoas entram na faculdade e não sabem calcular minimamente os juros do cartão de crédito e por aí vai.

Para você, o que é mais importante? Gastar menos ou ganhar mais?

Os dois são importantes. Quem ganha R$ 5 mil e gasta tudo, quando ganhar R$ 8 mil tende a gastar tudo também. Vai mudar para uma academia mais cara. Vai passar a frequentar lugares mais caros. Vai passar a comprar roupas mais caras. E por aí vai. Ou seja, gastar menos do que se ganha é importante independente da faixa de renda que você está.

Mas isso não é mais fácil para quem ganha bem?

Com certeza, por isso ganhar mais ao longo da vida é essencial. Quem consegue subir sua renda várias vezes ao longo da vida tende a ter mais chances de construir um bom patri- mônio. Isso porque a pessoa terá várias oportunidades de investir bastante antes de subir seu padrão de vida. Então entre gastar menos ou ganhar mais, eu diria que a busca por ganhar mais acaba sendo mais importante no longo prazo.

Quais investimentos são melhores para o brasileiro no seu ponto de vista?

A teoria mostra que o seu patrimônio após muitos anos de investimentos vai ser proporcional a basicamente três fatores:

O valor que você investiu ao longo dos anos: O tempo que você investiu esses valores; e Onde você investiu esses valores e a rentabilidade desses investimentos.

Então ao contrário do que a maioria das pessoas pensa. No longo prazo os dois primeiros (tempo e valor aportado) são mais importantes do que onde você investiu. Ou seja, mesmo que a pessoa tenha investido num produto com retorno menor, se os valores aportados foram altos e o tempo foi grande, a tendência é que o resultado seja até mais favorável. Ou seja, foque em investir todos os meses em uma carteira de investimentos bem diversificada que tenha renda fixa e renda variável que dará certo.

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