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O efeito das fake news na saúde
Prezados leitores, que momento estamos vivendo no mundo! A revolução dos meios de comunicação está alterando todas os padrões pré-estabelecidos de relações sociais. Reflexos dessas transformações são observados em todas as áreas, desde na econômica, com a internet revolucionando a maneira de se fazer negócios e de se ganhar dinheiro, até nas relações pessoais, com a expansão dos nossos círculos sociais independentemente da distância física, o que nos permite entrar em contato com pessoas que nunca conheceríamos sem a ajuda da tecnologia. Com a saúde, não poderia ser diferente: mudanças estruturais têm ocorrido. Antes, o médico era detentor do saber e os pacientes tinham poucas possibilidades de questionar suas condutas. Hoje, qualquer pessoa pode ter acesso, através da internet, às informações mais recentes e modernas sobre diagnóstico e tratamento. As ferramentas de tecnologia também proporcionaram a troca de informações entre grupos de portadores das mesmas doenças e facilitaram o diagnóstico de portadores de doenças raras. Antes, toda a informação médica era publicada em documentos, muitas vezes em linguagem científica, o que dificultava o entendimento do público leigo. Hoje, há milhares de profissionais de saúde e de outros produtores de conteúdo fazendo vídeos e postagens nas redes sociais, que traduzem às pessoas comuns os mais diversos assuntos relacionados à medicina. A informação chega de forma passiva, fácil e abundante. Apesar de todos os aspectos benéficos que essas transformações vêm trazendo, é necessário atentar para os enormes problemas que informações incompletas, incorretas e fakenewsvêm provocando no âmbito da saúde. Basta uma olhada rápida nas redes sociais para se perceber a avidez com que são propostos, e vendidos, os mais variados tratamentos e soluções. O público fica exposto a uma grande quantidade de sugestões e tem dificuldade em diferenciar o que é científico e sério do que é charlatanismo.
Recentemente, uma colega de profissão me apresentou o caso de uma cliente que chegou ao seu consultório com uma grave hepatite medicamentosa após receber um tratamento intravenoso realizado para perder peso. Soube também de outra situação em que um diagnóstico de câncer de intestino foi retardado em muito tempo porque o paciente decidiu realizar tratamentos naturais para a alteração intestinal que vinha apresentando, recomendados por um influencer da nutrição. A toda hora temos notícias desse tipo, em que pessoas deixam de realizar uma boa avaliação clínica e um exame individualizado para seguir os conselhos dos novos gurus da internet. Frente a essas intempéries, uma questão precisa ser avaliada urgentemente: quem deve ser responsabilizado pelos problemas graves que ocorrem com essa deturpação do processo de diagnóstico e tratamento? Como a sociedade pode mitigar tais danos? Talvez com uma maior e mais responsável intervenção dos Conselhos de Classe, embora eu não acredite que tal medida seja suficiente. Os próprios Conselhos não têm se entendido quando há controvérsias de conduta, haja visto o que ocorreu no meio médico durante a pandemia de Covid 19, quando o CFM foi conivente com tratamentos comprovadamente ineficazes para a doença. A instituição de câmaras técnicas independentes e idôneas para opinar sobre tratamentos e outros assuntos polêmicos seria importante, mas essa medida provavelmente teria pouca eficácia sem a regulação das redes sociais. Por outro lado, regulação da internet é um assunto delicado e traz o risco de resvalarmos em perda da liberdade de expressão e censura. Na minha opinião, o antídoto para esse mal, o que está a nosso alcance agora, é estimular exaustivamente o debate sobre o tema. São necessárias campanhas educativas para alertar a sociedade sobre os riscos reais de se realizar tratamentos sem validação científica. Também deve-se estimular que o usuário pesquise com cuidado a formação do influencerque está propondo o tratamento. Afora essas medidas, e sem trazer nenhuma novidade, penso que só um investimento pesado e a longo prazo em educação conseguirá capacitar nossa sociedade para separar o joio do trigo na seara da internet.
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