Abre Alas 11 | Catálogo

Page 82

Reynaldo Candia Uma antiga lembrança permeia a produção de Reynaldo Candia. Ainda pequeno, o artista nutria estranha fixação por um baú cheio de fotografias de família. Deste baú, saíram os primeiros recortes e reconfigurações de imagens, hoje uma constante em seu trabalho. Não que esse fato defina ou norteie a obra do artista, os recortes foram feitos sem intencionalidade ou consciência, e ele mesmo não lembrava do ocorrido, essa memória relatada nas linhas anteriores é de sua mãe e veio a tona há poucos anos atrás, depois da realização dos primeiras colagens de intervenções sobre imagens. É assim que se estrutura a obra de Candia, tirando proveito desse apagar da nossa memória e do conhecimento preestabelecido que temos de certas imagens e objetos antigos, para criar um lapso, apresentando-os rearticulados através de intervenções de recortes e impressão, ou mediados por aparelhos óticos. Tal procedimento tem como finalidade propiciar estranhamento, causado pela sensação de familiaridade que essas fotografias antigas e objetos despertam, somada a dificuldade de reconhecê-los perante nova configuração. Por mais que algo nos possa parecer familiar, não que dizer que o conheçamos, apenas nos diz que os reconhecemos; sabemos seu uso, seus procedimentos ou a maneira que foram feitos. O trabalho de Reynaldo Candia apresenta-se a partir de imagens desconhecidas, mas estranhamente reconhecíveis e familiares, e assim deve ser. Com isso, o trabalho carrega sempre uma dúvida que, como num jogo, coloca o espectador em xeque-mate e traz um importante dado sobre a memória, uma advertência discretamente velada: para lembrar, é preciso esquecer [1]. Douglas de Freitas (texto editado a patir do texto de mesmo nome que acompanhou a exposição individual do artista na Galeria Virgilio em 2013) [1] a frase “para lembrar é preciso esquecer”, me pareceu que deveria ser a ideia central do texto durante as conversas com o artista. No entanto, sempre me soou extremamente familiar. Em uma rápida pesquisa no Google descobri ser atribuída ao escritor Maurice Blanchot, no entanto não consegui localizar com precisão onde foi publicada.

80


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.