Reynaldo Candia Uma antiga lembrança permeia a produção de Reynaldo Candia. Ainda pequeno, o artista nutria estranha fixação por um baú cheio de fotografias de família. Deste baú, saíram os primeiros recortes e reconfigurações de imagens, hoje uma constante em seu trabalho. Não que esse fato defina ou norteie a obra do artista, os recortes foram feitos sem intencionalidade ou consciência, e ele mesmo não lembrava do ocorrido, essa memória relatada nas linhas anteriores é de sua mãe e veio a tona há poucos anos atrás, depois da realização dos primeiras colagens de intervenções sobre imagens. É assim que se estrutura a obra de Candia, tirando proveito desse apagar da nossa memória e do conhecimento preestabelecido que temos de certas imagens e objetos antigos, para criar um lapso, apresentando-os rearticulados através de intervenções de recortes e impressão, ou mediados por aparelhos óticos. Tal procedimento tem como finalidade propiciar estranhamento, causado pela sensação de familiaridade que essas fotografias antigas e objetos despertam, somada a dificuldade de reconhecê-los perante nova configuração. Por mais que algo nos possa parecer familiar, não que dizer que o conheçamos, apenas nos diz que os reconhecemos; sabemos seu uso, seus procedimentos ou a maneira que foram feitos. O trabalho de Reynaldo Candia apresenta-se a partir de imagens desconhecidas, mas estranhamente reconhecíveis e familiares, e assim deve ser. Com isso, o trabalho carrega sempre uma dúvida que, como num jogo, coloca o espectador em xeque-mate e traz um importante dado sobre a memória, uma advertência discretamente velada: para lembrar, é preciso esquecer [1]. Douglas de Freitas (texto editado a patir do texto de mesmo nome que acompanhou a exposição individual do artista na Galeria Virgilio em 2013) [1] a frase “para lembrar é preciso esquecer”, me pareceu que deveria ser a ideia central do texto durante as conversas com o artista. No entanto, sempre me soou extremamente familiar. Em uma rápida pesquisa no Google descobri ser atribuída ao escritor Maurice Blanchot, no entanto não consegui localizar com precisão onde foi publicada.
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