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Daniel Frota
Durante os dois últimos anos, meus trabalhos se desenvolveram a partir de duas abordagens sobre legibilidade: a primeira sob um aspecto linguístico, cujo foco está na letra, nos objetos, nos fenômenos e em suas propriedades traduzíveis; e a segunda sob um aspecto perceptual, cujo foco está no observador e nos limites de sua condição de acesso ao sensível.
Se nos encontramos dentro da linguagem e da consciência, como se dentro de uma jaula transparente descrita por Francis Wolff, os trabalhos que surgem em minha prática são: 1. tentativas de criar arranhões em suas barras para torná-las visíveis, opacas; 2. tentativas de enfiar o braço por entre as grades e puxar o que conseguir para o lado de cá; 3. confirmações sobre o círculo vicioso no qual minha percepção e linguagem se inserem – sobre as influências de uma na outra e de como dessa relação nascem as barras que me cercam.
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Em 1839, o educador francês Louis Braille publicou seu primeiro livro Nouveau procédé pour représenter par dês points la forme même dês lettres, les cartes de géographie, les figures de géométrie, les caractères de musique, etc. à l’usage de aveugles, em que descreve pela primeira vez o seu sistema de notação de pontos usado para escrita de textos e partituras musicais feitas por deficientes visuais. O trabalho Babel, apresentado no 11º Abre Alas, faz parte de uma série de trabalhos desenvolvidos durante minha pesquisa sobre este livro. A instalação é formada por cinco caixas de acrílico e trinta lanternas. As caixas de acrílico servem de estrutura para a matriz de seis de pontos do sistema Braille, no qual cada ponto foi substituído por uma lanterna. A palavra formada pela presença e ausência de luz em cada módulo da caixa é legível enquanto estrutura linguística. Seu significado, porém, ilegível, tanto para os que utilizam a linguagem para cegos, quanto para os que, apesar de conseguirem discernir visualmente os raios luminosos, não compreendem a língua dos pontos.
24 Daniel Frota (Rio de Janeiro, 1988) formou-se em Design Gráfico pela PUC-Rio, com mestrado pelo Werkplaats Typografie ArtEZ (Arnhem, Holanda). Trabalha com publicações, video e audio instalações, estabelecendo conexões entre sistemas de comunicação e o corpo humano. Atualmente reside em Amsterdam, Holanda.
Babel, 2012 / caixas de acrílico e lanternas / 60 x 20 x 20 cm
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