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Pedro Urano
Morei por muitos anos numa pequena casa na encosta do Maciço Carioca, cujo terreno era limitado de um lado por um acesso ao morro do Corcovado, e do outro, pela Floresta da Tijuca. Vivendo sobre aquele pedaço inconstante da crosta terrestre, não demorei muito a perceber no movimento um princípio comum a todas as coisas, mesmo àquelas que muitas vezes associamos a uma ideia de solidez e permanência, como as montanhas. O episódio decisivo foi uma tempestade que caiu em abril. Começou no início da noite, como uma chuva forte. Quando se está próximo à mata, eventos como esse assumem uma dimensão que captura toda percepção. Ao acordar no dia seguinte, a chuva não dava sinal de trégua e os fortes ventos esculpiam formas
Estudo para filme úmido #1, 2011 / video / 3 min
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sinuosas na água que caía do céu. Passados alguns dias, pude perceber as mudanças na paisagem. Convivi um ano inteiro com a terra, as árvores e a matéria orgânica, de difícil remoção, que desceu da montanha. Essa experiência informou o roteiro do longa-metragem ‘Atlântica’ que, a partir da floresta, quer investigar o movimento da paisagem, ultrapassando os limites que insistem em separar natureza e artifício. Ao longo do desenvolvimento do filme, tenho produzido imagens que me ajudam a sonhá-lo. Nelas, me esforço em transpor para a superfície da imagem, a experiência da umidade. Descobri na água, tão íntima quanto alienígena, o meio privilegiado para a comunicação biológica.
Estudo para filme úmido #2, 2011 / video / 10 min

Pedro Urano é artista, cineasta e diretor de fotografia. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Membro do conselho editorial da Revista Carbono.
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