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Maíra Dietrich
mais ou menos cinco meses, 2012 / publicação de tiragem indeterminada / 20 x 15 cm
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construindo um final
‘mais ou menos cinco meses’ é uma zona plana que abriga e arranja diferentes momentos do meu processo de trabalho. um espaço cuja única determinação é o seu tempo de existência e execução. perpassa trabalhos antigos, idéias prontas, idéias entendidas, idéias abortadas, dias bons, dias ruins e quase todo o resto. não se pode dizer que esse trabalho não tenha um tema, pelo contrário, quase todo dia tem um tema diferente, o grande cerne dissolveu. um pouco de todos e de nenhum. é um trabalho mais vivido que feito, num intervalo de tempo em que muito se misturou. o trabalho foi construído com folhas soltas, com viagens, com milhares de correções em busca das melhores palavras, caminhou mais pelo não que pelo sim. viver o trabalho e falar sobre ele como se fosse um exercício de compilação quando ainda se encontra num lugar sem nome. como uma construção de tijolos invisíveis, em que um tem que ficar por cima do outro. a conclusão parece querer falar sobre um ‘acordo final’, diferente do fim, que é o fim e ponto. explicações sobre as escolhas dos trabalhos, os nomes dos capítulos e o porquê de tudo isso podem ser encontrados em todos ou em outros lugares, menos nesse impresso. o trabalho buscou justapor procedimentos inversos que se aniquilam, seja pela subtração de camadas de matéria, ou pelo acontecimento de uma nova camada autoritária. Buscou, pretenciosamente, uma raspagem de todas as camadas de significação que não interessavam, na obsessão de que zerar o terreno seria a única possibilidade de criar algo novo. acabei raspando camadas demais e o que sobrou foi muito pouco. o trabalho não sou só eu, e nem é só um outro, somos dois ventríloquos, nem totalmente eu, nem totalmente o outro. a gente conversa e também se desentende. ficamos os dois tentando um corpo-base; ficamos os dois tentando criar frases com o trabalho.
Maíra Dietrich nasceu em Florianópolis em 1988. Vive e trabalha em São Paulo.
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