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Rodrigo Moreira
1. Rio de Janeiro, junho de 2013
Eu tinha acabado de me mudar para o Rio de Janeiro quando as manifestações começaram. As ruas logo foram tomadas por vinagre e gás lacrimogêneo. Lá do alto, os helicópteros acompanhavam a marcha. Aqui em baixo, muita gente, muitos cartazes, gritos de guerra, fotos e flashes. E se tudo não passasse de uma performance? 2. Belo Horizonte, julho de 2013
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Foi uma breve visita à cidade, a primeira vez desde que me mudei para o Rio. Ali no bairro onde eu morava, muita coisa estava mudando. Uma das ruas próximas a minha tinha sido fechada para demolições e os tapumes das obras sinalizavam prédios de muitos andares que dariam lugar às casinhas antigas. Imaginei estender um lençol atravessando a rua, como se faz no interior (sempre me disseram que Belo Horizonte era uma roça grande): aparar o golpe.
3. Rio de Janeiro, maio de 2013
Eu costumava passar os sábados de manhã na Praça XV. A feira tinha coisas espalhadas pelo chão, coisas encontradas, coisas antigas, esquecidas, descartadas, obsoletas. O que não tem valor para alguém pode ser indispensável para outra pessoa. Num desses sábados, encontrei dezenas de cartas endereçadas a um só homem. Elas respondiam a um anúncio de jornal e eu fiquei por um tempo tentando decifrar as caligrafias e as intenções do perfume que impregnava o papel pautado.
88 Rodrigo Moreira (Coronel Fabriciano, 1983) vive e trabalha em São Paulo. Desenvolve trabalhos em artes visuais e já participou de exposições no Brasil, Colômbia e Espanha.
Monólogos, 2014 / impressão em papel de algodão (díptico) / 62 x 40 cm
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