Humaniza-te: n.º5/ABRIL 2023

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HUMA NIZATE

Estação do Direito:

UM PASSE COM VIA ABERTA

NO. 5 | ABRIL 2023

Índice

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Aproxima-te: pg.10 a 13

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Informa-te: pg. 4 e 9

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Distrai-te: pg. 40 e 41

4 Manifesta te: pg

Esclarece-te: pg. 14 a 27

SÃO MUITAS AS INCERTEZAS E MEDOS QUE PERSEGUEM O NOSSO PERCURSO, SÃO MUITAS AS INCERTEZAS E MEDOS QUE PERSEGUEM

principalmente no plano académico, onde, ainda antes de sabermos quem somos, somos obrigados a planear o nosso futuro. Desde cedo ouvimos que “temos de estudar muito para podermos ter uma vida melhor” e agarramo-nos a esta ideia durante todo o nosso percurso escolar e académico. Mal pensamos nós, por inocência ou ambição, que este tradicional conselho nem sempre se realiza, não por falta do esforço e estudos que nos são exigidos desde pequenxs, mas porque a “vida melhor” que tanto nos apregoam “não existe”

Aliás, à medida que crescemos, o próprio conceito de “vida melhor” vai mudando: se com 10 anos estudávamos para poder ter uma casa com piscina e muitos brinquedos, com 20 anos estudamos na esperança de conseguir suportar as necessidades básicas que garantam a nossa independência, sem esgotar os salários risórios que nos oferecem em Portugal.

"VIDA MELHOR"

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O NOSSO PERCURSO, INFO

RMA-TE

E de repente, o que antes achávamos ser suficiente para uma “vida melhor” esgotase, os esforços aumentam e as pressões e incertezas, tanto externas como internas, crescem.

Pela primeira vez em 10 anos, estima-se que as gerações atuais se encontram mais pobres e em condições mais desfavoráveis do que as gerações dos seus pais. Segundo dados do Banco de Portugal, o salário médio dos jovens licenciados em 2006 (1088 euros) era superior ao de 2020 (1050 euros). Este panorama levou a um aumento de cerca de 69% dos licenciados com dois empregos, na última década. Para nós, alunos e/ou jovens profissionais de Direito, deparamo-nos com notícias que relatam um chumbo de 83% no exame de acesso à Ordem dos Avogados e com cada vez mais relatos que retratam uma exploração dos advogados estagiários e que se prolonga para a profissão de advocacia que nem permite os seus profissionais à doença.

E nós, enquanto geração que pretende quebrar tabus geracionais e sonhar um pouco mais alto, que pretende viver além do trabalho e da tradicional visão de família e sucesso, como e com quem é que aprendemos a equilibrar esta balança de expetativas e ambição e destino ao fracasso? A verdade é que ninguém nos ensina e essa falha começa-se a refletir nos dados e estatísticas sobre os jovens em Portugal.

abril 2023
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Um em cada 5 estudantes portugueses sofre de alguma doença mental, sendo a ansiedade e depressão os diagnósticos mais comuns. Este número agrava-se com o aumento do custo de vida e as escassas oportunidades de evolução em Portugal.

Além do panorama de dificuldades que se descreve, as mulheres ainda têm de enfrentar uma diferença média de 13% nos salários em relação aos homens em Portugal. Uma desigualdade normalizada e ignorada pelos rostos que se aparentam “chocados” pelos dados que apontam para uma decadência exponencial da saúde mental nas mulheres, a diminuição da sua expetativa de vida saudável e o aumento das suas dificuldades financeiras.

E assim observamos que este panorama, além de começar a surgir cada vez mais cedo no nosso percurso, não tem termo tão cedo, arrastando-se para as nossas vidas profissionais que se veem cada vez mais ameaçadas, principalmente se pertencermos a um grupo sistemicamente mais vulnerável

Uma realidade completamente contrária ao que a sociedade exige das mulheres: confiança, independência, saúde mental e física para poderem reproduzir, serem boas mães e companheiras, terem uma carreira de sucesso e ainda manterem um padrão estético que agrade a sociedade em todos os setores. E perante esta dicotomia nós perguntamos: como?

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parece inalcançável ou inconcebível, principalmente perante os medos e dúvidas que o nosso percurso académico nos apresenta, nem sempre o é e a realidade é que nem tudo são más notícias.

Apesar do longo caminho a percorrer, começa-se a ganhar alguma consciência da situação e importância da saúde mental, tanto no panorama académico como profissional, e observam-se algumas buscas a soluções e alternativas que garantam a tal ”vida melhor”, a par, claro, da eficácia.

No plano académico, marcado pela escassez de recursos e profissionais de saúde sobrecarregados e esgotados, foi já anunciada a criação de um plano nacional de saúde mental, o que semeia uma esperança de melhoria do panorama atual.

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Ao nível do mercado de trabalho, um projeto piloto que reuniu 61 empresas, concluiu que a semana de quatro dias de trabalho reduz o stress e mantém a produtividade, tendo-se registado uma diminuição de 65% das baixas médicas por doença.

No combate aos salários precários que os jovens licenciados auferem, grandes empresas em Portugal anunciaram já promessas de salários a partir de 1320 euros (no mínimo) para jovens recémlicenciados.

Na área do Direito, as aparências e censura, principalmente por parte dos mais jovens, têm vindo a diminuir, a par de um aumento da consciencialização e reivindicações públicas que, apesar de nem sempre tidas em conta, fazem a diferença. Nomeadamente, em sede dessa consciencialização, em 2022, anunciou-se a realização de estudos que visam avaliar o impacto da profissão na saúde mental dxs advogadxs e juristas

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seguem.

Ademais, mais importante que a consciência é a aprendizagem e conhecimento, e a verdade é que as hipóteses de caminhos a seguir são vastas, não se devendo esgotar nas rotas comuns, seja por segurança ou por medo. É com esta missão que a nossa revista HUMANIZA-TE reuniu variados convidados que partilham connosco os seus percursos académicos e/ou profissionais, com o objetivo de explorar e responder a algumas das dúvidas e medos que perseguem muitos de nós, e de apresentar diferentes perspetivas, na esperança de motivar alguém no seu percurso que, é importante relembrar, é único!

9 Escrito por: Maria Carolina Patinhas

Aproxi

ma te

Caros leitores, não pretendo aqui apresentar uma persp daquilo que é o Direito ou daquilo que deve ser a motivação nós, mas apenas convidar a uma reflexão sobre a realidade q que, muitas vezes, ignoramos.

Não tive um momento na minha vida em que achasse que o Direito era a minha vocação, apenas tive a certeza de que queria ajudar alguém através do conhecimento jurídico que adquirisse Considero que a aplicação do Direito é um exercício de ginástica mental porque todos os casos são diferentes e convocam interesses e soluções diferentes, mas todos têm algo em comum: com a sua resolução estamos a causar um impacto positivo na vida de alguém O voluntariado – em particular, projetos como o Há Direito – é uma forma de, em simultâneo, aplicar conhecimentos teóricos e criar este impacto

Acredito que para além de sermos bons estudantes, bons juristas ou bons advogados, devemos ser boas pessoas, ter consciência do privilégio que o conhecimento jurídico representa e do papel que podemos ter na sociedade Foi com isto em mente que surgiu o projeto Há Direito, em 2021, que integro desde o seu início

Este foi criado pelo André Moreira Simões, Assistente Convidado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) e Advogado Estagiário na DLA Piper e pelo Leonel Gomes Cá, Advogado Estagiário na VdA Atualmente, é dirigido por mim e pelo Sandro Carvalho, ambos alunos da FDUL, de Licenciatura e Mestrado, respetivamente.

Tudo começou com a ideia de organizar uma palestra no Bairro do Fim do Mundo (Estoril), em que pudéssemos dar a conhecer aos moradores os seus direitos básicos, explicar o funcionamento do sistema político e esclarecer dúvidas, essencialmente, no âmbito do Direito do Trabalho e do Direito Penal. Enquanto preparávamos esta palestra e devido às restrições impostas pela pandemia COVID-19, criámos uma página de Instagram (@ha direito), na qual partilhamos frequentemente publicações que esclarecem dúvidas do dia-a-dia: Como vender um imóvel que herdámos? Como fazer um crédito à habitação? O que significa ser fiador? O meu patrão pode ler as minhas mensagens?

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Com o alívio das restrições, o Há Direito continuou o seu caminho e expandimos o projeto a Escolas Secundárias e Universidades. Em junho de 2022, intervimos em mais um bairro social, o Bairro da Torre (Carcavelos). Levo para o resto da minha vida pessoal e profissional o que um jovem morador me disse: queria ser cabeleireiro e ingressar num curso profissional, mas nunca o fez “ porque isso é só para quem tem cabeça, não é para mim que estou aqui” Esta frase foi, como se costuma dizer, uma dose de realidade É necessário sair da posição de privilégio e da bolha protegida em que estamos para perceber que a vida não se resume só a objetivos grandiosos e a estar ansioso para saber em que Mestrado vamos entrar, mas a problemas estruturais reais – “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós” (José Saramago).

As palavras daquele jovem evidenciam também a estigmatização a que os moradores em meios mais desfavorecidos muitas vezes estão sujeitos, que acaba por refletir-se na perceção que têm deles próprios e da sua capacidade de alcançar o sucesso na vida A nossa presença em Escolas Secundárias, que normalmente estão inseridas em meios desfavorecidos, tenta colmatar este tipo de pensamento. Temos duas abordagens primordiais: a explicação do curso de Direito e da diferença entre o Ensino Secundário e o Ensino Superior e o incentivo ao debate entre os alunos Recentemente, estivemos na Escola Secundária do Pinhal Novo a falar sobre discriminação e os efeitos que esta pode ter no percurso escolar dos alunos que dela são alvo Se incentivarmos pelo menos uma pessoa a ir para o Ensino Superior ou se fizermos com que os alunos reflitam minimamente sobre estes temas, a nossa missão está cumprida.

Para os mais curiosos, o Há Direito já foi noticiado pelo Jornal Público e pela Revista OCATUS, cujas notícias podem consultar aqui:

Público

Revista ADVOCATUS

Conciliar o Há Direito com a Licenciatura nunca foi problema. É muito fácil, especialmente na FDUL, ficarmos assoberbados com a quantidade de trabalho que temos e esquecermos outras áreas da nossa formação que gostaríamos de desenvolver. É tudo uma questão de gestão de prioridades; e a verdade é que acabamos por ser muito mais produtivos se dedicarmos algum do nosso tempo a fazer algo de que realmente gostamos e que gera um impacto positivo nos outros

O meu percurso na Faculdade de Direito está a chegar ao fim e posso dizer com certeza que o Há Direito foi uma das experiências mais enriquecedoras e com a qual pretendo continuar até que a minha disponibilidade o permita.

Margarida Boieiro

Aluna do 4ºano da Licenciatura na FDUL

Nunca se esqueçam – principalmente aqueles que duvidam das suas capacidades – que o pouco conhecimento que acham que têm pode ser uma ajuda gigante para alguém

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Esclare

Direito e outros

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ece-te caminhos

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Direito e outros caminhos

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Maria Francisca Gama

@mariafranciscagama

Estava no ensino secundário, com um livro publicado (“Em Troca de Nada”) e outro em processo de publicação (“Madalena”), e referida pelos mais distantes como uma das “futuras escritoras da nova geração”, quando os mais próximos me alertaram de que estava na altura de decidir o curso de ensino superior a que me iria dedicar, e de encarar a escrita como um hobbie. Gostava de Direito (ou da imagem que tinha daquilo que era o exercício da profissão) e estava certa de que poderia conjugar ambas as coisas: pensei que poderia vir a ser juiz – mais tarde, mudei de ideias: advogada.

Durante os quatro anos em que a Faculdade de Direito me acolheu, recebi-a também de braços abertos: não sei onde me lês, mas eu passava uma boa parte do meu tempo na Biblioteca, num daqueles lugares junto à janela, rodeada de códigos minuciosamente anotados e cheios de post-its. Se estás neste momento nesse lugar, duas coisas: não te vais lembrar do que te custou estudar (temos essa capacidade maravilhosa de reprimir traumas), e as memórias que te vão ficar serão muito mais as dos sucessos, principalmente os partilhados – seja porque acabaste uma cadeira com uma boa nota, seja pelo facto de a teres feito quando te parecia impossível, do que do tempo que passaste a estudar, e te pareceu que o Mundo estava contra ti (em princípio, não é verdade).

Ainda no primeiro semestre do quarto ano, assustada com todos aqueles que já se tinham candidatado e entrado em escritórios de advogados, e sem estar certa se queria fazer mestrado, candidatei-me também: levei a cabo dois processos de recrutamento, e baseei o envio do meu currículo em dois critérios – a opinião dos professores de quem gostava sobre esses mesmos escritórios (ou se trabalhavam lá), e a opinião daqueles com quem não simpatizava tanto sobre esses mesmos escritórios (se trabalhassem lá não me parecia um sítio apelativo).

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Claro que também pensei no prestígio, nas condições que ofereciam, nos boatos sobre as que “escravizavam” mais ou menos, mas quando estamos na Faculdade não passam apenas disso e é difícil ter uma perceção clara e justa do que é o mercado de trabalho, mas bem, tentei a minha sorte. Entrei num bom escritório de advogados e fiquei nervosa desde dezembro de 2018, altura em que fui selecionada, até setembro de 2019, data em que comecei a ser tratada por Dra. (coisa muito portuguesa), ainda que me faltasse aquilo que o sistema considera mais importante – o crivo da ordem: “Dra. Maria Francisca, advogada” (sem o “estagiária”)

Fiz o estágio, o exame à Ordem com relativo sucesso (não com grande distinção, mas dizem que é irrelevante), mas não me sentia concretizada como acho que uma pessoa de vinte e poucos anos se deve sentir: pelo menos, no caminho para o ser Decidi sair.

Escrever em Portugal, fazer disso vida, é muito difícil, e por mais que trabalhemos desalmadamente, é um caminho desafiante e com poucas pistas do que fará de nós bem-sucedidos: é um primeiro livro arrebatador e sucesso de vendas? Talvez, se for sobre culinária ou autoajuda. Logo aqui, falhei. É a consistência, as apresentações constantes em bibliotecas? A presença nas redes sociais de forma regular e entusiasta? Os leitores querem ler uma miúda de 25 anos?

Sabia que ter estudado Direito era um selo de qualidade no meu currículo: alguns de vós terão ouvido os pais a dizerem que “ mesmo que não queiras ser advogado, tira Direito”. Continua a ser verdade. Saí de advocacia (sou uma advogada com a Ordem suspensa, para não pagar quotas – nem entremos por aqui, não pensem nisto!), e vi-me desempregada, com um manuscrito para “vender” a uma grande editora (publicado o ano passado, chama-se “A Profeta”) e com pouca vontade de regressar. Comecei a estudar outra área, Comunicação, entrei numa agência de comunicação (onde as skills que adquirimos em Direito, como a organização, o pensamento metódico e o poder argumentativo são valorizados), passei pela MegaHits, e, atualmente, trabalho como freelancer.

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Escrevo muito (até guiões – um sonho concretizado), dou palestras em escolas sobre a importância da escrita e da leitura, e sou aquilo que quero (com menos dinheiro na conta do que teria se tivesse continuado num escritório de advogados) a cada momento. Isto assim dito parece que a minha vida é ótima e que trabalho pouco porque não tenho um chefe, mas desenganem-se: ser “empreendedor” ou “freelancer” requer muito trabalho, uma noção muito clara do que não podemos gastar e traz-me, pelo menos a mim, um stress e preocupação constantes, porque dependendo exclusivamente de mim e da forma como consigo convencer os outros de que vão gostar de me ler, ou de terem a sua marca comunicada por mim, ou os seus atores a dizerem falas que delineei.

Não me arrependo de ter estudado Direito, e muito menos de o ter feito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa: recordo com muito carinho esses tempos, bem como aqueles em que exerci advocacia, e foram-me úteis para o que faço hoje em dia – moldaram a minha personalidade e, acima de tudo, deram-me resiliência e capacidade de trabalho. Que venha a pressão dos prazos de entrega de um manuscrito, já a tive para frequências ou para entregar uma peça no Citius. Estamos na era de sermos o que quisermos, mas não o vejas com facilitismo ou deslumbramento: não é como dizem, que se acreditares consegues É com trabalho, tal e qual tudo o resto na vida, da profissão mais conservadora (em que ainda se usam togas) à mais liberal.

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Belle Carvalho @bellezzando

Entrei em Direito a achar que estava destinada ao Direito Internacional. A minha mãe é advogada, e portanto cresci a ouvir que seguiria o seu caminho, e que “já tinha a vida garantida”. Na realidade, por mais que reconheça a influência familiar, considero que a escolha do curso foi principalmente uma questão de não conhecer outras áreas Consegui ir para a FDUL, minha primeira opção. Escutei, desde logo, o “ preparem-se que o curso é difícil” e “Direito mesmo é só a partir do terceiro/quarto ano ” E bem, fiei-me nisso Achei que fosse normal não sentir grande gosto ou interesse pelas temáticas, sendo tudo demasiado teórico. Com o passar do tempo, criei o meu canal do Youtube, onde comecei a fazer entrevistas, e envolvi-me em associações e na organização de conferências, dentro dos departamentos de Comunicação, Imprensa e Relações Públicas

Não morri de amores por nenhuma das cadeiras do primeiro, nem segundo ou terceiro ano. A pandemia, já a meio do meu terceiro ano, obrigou-me a questionar o rumo da minha vida - se era normal eu gostar (muito) mais das atividades extracurriculares do que do próprio curso em si. Decidi que não era. Resolvi terminar a licenciatura (visto que havia a possibilidade de fazer mestrado em Comunicação), mas depois deixar o meu campo de formação para trás e começar “do zero ” noutra especialidade. Larguei a segurança de já ter um futuro certo, para estar completamente perdida e mal conhecer pessoas do setor para me orientarem a partir dali.

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Escuto muitas vezes “tiveste uma coragem para mudar de área”. Bem, certa vez, li num lado qualquer que “ a coragem não é a ausência do medo, mas sim tê-lo e conseguir ultrapassá-lo”. E eu estava cheinha de medo. Decidir mudar completamente o rumo da tua vida é mais do que convencer os outros, mas sim convencer a ti mesmo. Todos os dias. Evitares a comparação com os outros. Lembrar-te de que foi a decisão certa nos momentos que não correrem como esperavas, e que tudo, em algum momento, vai entrar nos eixos. Surgiu imediatamente a dúvida: será que Direito vai ser uma vantagem ou desvantagem? A perceção com que eu fico é que, obviamente, nos falha a parte teórica (que conseguimos eventualmente ultrapassar com a experiência), mas o curso também tem o seu peso Enche-nos de capacidade linguística e de resolução de problemas, e claramente nos prepara para a vida. Dá sempre jeito, onde quer que escolhamos ir a seguir, e é reconhecido e credibilizado em todo o lado Portanto, o teu sucesso é, sobretudo, uma questão de atitude com a qual te apresentas, iniciativa e vontade de aprender. E um bocadinho de sorte, claro.

A seguir à licenciatura, preferi fazer estágios e cursos para tentar perceber melhor qual era o mestrado ideal para os meus objetivos. Optei pelo mestrado em Ciências da Comunicação, com o ramo de Estudo dos Media e do Jornalismo, na Universidade Nova. Vi no mestrado uma oportunidade de ter a parte teórica que me faltava e, através das parcerias da Nova, ter um pézinho na parte profissional com um estágio. Escolhi também porque me permitia ter cadeiras noutros ramos, e assim ter um leque maior de conhecimentos. Entretanto, descobri que sou nerd e super participativa (uau, até que isso de estudar o que se gosta faz mesmo a diferença).

Quanto à Ordem: não pretendo ingressar pelo simples facto de que realmente não me vejo a exercer advocacia, nem como plano Z. Realço que esta é a minha experiência pessoal e não reflete necessamente a vivência ou objetivo dos outros Há pessoas que conseguem execer Direito ao relacioná-lo com outros interesses, ou que preferem tirar a Ordem para verem se gostam e como segurança - tudo completamente legítimo. Temos que aprender a respeitar e valorizar a individualidade de cada um

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Que fique claro: não me arrependo de ter tirado Direito nem por um segundo. Muito pelo contrário: adorei. O curso deu-me imensas soft skills que não sei se teria adquirido noutras circunstâncias. Estava sempre rodeada de projetos que me deram desenvoltura e permitiram com que eu me conhecesse melhor, e ganhei amizades que confiaram em mim - às vezes mais do que eu própria, e foram inclusive o “empurrão” que eu precisava.

Me perguntam se tenho planos para o futuro: tenho todos e nenhum. Não se enganem - sou hiper ambiciosa, mas aprendi que não podemos estar a fazer muitos planos para a vida, senão estragamos aqueles que a vida tem para nós. Por isso limito-me a tentar estar o mais preparada possível para as chances que aparecerem. E não parar quieta. E mandar currículos e inscrever-me em cursos. Até agora, tem corrido bem. Tem sido desafiante mas extremante recompensador, e a cada dia tenho mais a certeza de que fiz o certo.

Para quem está no limbo: procurem conhecer várias experiências, sem dúvida. But kind reminder: é um processo muito individual e único. Se tem algo que eu aprendi e recomendo é: deem o vosso melhor, deixem sempre as portas abertas e abraçem todas as oportunidades que a vida vos der. É ver, a cada momento, se onde estás faz sentido (para ti, e não para os outros!!!) permaneceres Boa sorte <3

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CatarinaPaiva @p0lahris

I – Acabar Direito

Não tenho muitos bons conselhos ou direções para os que - como eu - caíram em direito.

Caíram, porque Direito não era a primeira opção naquela listinha da DGES, mas sim uma das mais abaixo.

Como tal, não posso dizer que entrei para direito com qualquer expectativa do curso ou do seu fim - até estava mais inclinada para mudar para uma das faculdades vizinhas – mas acho que isso acabou por jogar a meu favor.

Despindo-nos de expectativas, planos e afins, há algo instintivo no saber se estamos no curso certo Foi essa a minha experiência E tal não quer dizer que seja fácil, que não haja adversidades - porque as há, especialmente nos meses de dezembro e de maio – mas sinto que o não ter ideias préconcebidas/expectativas acerca do curso em que entrei me facilitou perceber se gostava do curso em si, ou não.

Acho mais importante ouvir este instinto, do que olhar para o curso somente como um meio para atingir um fim (sendo o fim todas as expectativas/planos que fomos montando para o nosso futuro).

Ter um fim é um motivador forte - e bem sabemos como a motivação às vezes faltamas o fim não tem de ser fixo. Até dá jeito que não o seja. Em alguns (entre alguns e muitos) semestres o meu fim teve de ser a curto prazo: acabar esta cadeira/este semestre/este ano. Eventualmente transformou-se num plano: a advocacia.

Assim, para os que precisarem de fins a curto prazo, para chegarem aos planos (e os demais que quiserem): não faltem ao exame; não façam CAT à noite; o GAP é perto da sala de estudo por uma razão.

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II – (Não) escolher mestrado

Apesar de ter estabelecido como minha “direção” a advocacia, enquanto finalista andei prolongadamente num impasse sobre o que seria a próxima etapa: quero seguir para mestrado?

Não, querer não queria, mas o percurso padrão é tentador. É geral e quase unânime que, hoje em dia, o passo que segue a licenciatura é o mestrado. E por ser este o padrão, não o seguir acarreta alguns medos: (medo 1) estar em desvantagem comparativamente aos demais futuros advogados - que não são poucos, (medo 2) não ter uma formação completa e como tal (medo 3, intimamente ligado ao medo 1) não ser tão competente como a nossa competição.

Por outro lado, seguir mestrado, a contragosto, optando por me focar num ramo de direito, trazia as suas inseguranças: vou comprometer-me, estudando durante mais 2 anos, a uma área especializada de direito com base no quê? Sem a prática[1], como sei qual a área em que me quero especializar?

Esta foi a conversa que mais repeti durante os últimos seis meses da minha licenciatura, sempre sem chegar muito bem a conclusão alguma. Acabei por optar não por seguir o mestra uma candidatura.

Não foi uma escolha popular: não entre o amigos (que estão quase todos em mes não em minha casa ( ), mas por agora ac foi a mais certa para mim.

Em retrospetiva, os medos 1, 2 e 3, ape válidos, não são necessariamente ve absolutas.

Há muitas mais formas de nos destacarm mercado de trabalho para além de t mestrado: a começar por ter experiência. Escolher não ir para mestrado permi dedicar-me a tempo inteiro a um e adquirir experiência - o que em si, valoriza currículo - e, com isso, desenvolver competências, que só poderia adquirir prática num escritório.

[1] Porque eu, pessoalmente, não fiz nenhum estági tivesse feito fosse menos uma questão e esse até se que é uma pena, por estar em nota de rodapé

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O que me leva ao ponto III:

III – Estágio e Ordem dos Advogados

Com ou sem mestrado, chegamos todos ao primeiro estágio a saber muito pouco sobre advocacia.

Na prática, enquanto recém-advogadosestagiários, estamos todos ao mesmo nível, porque nenhum de nós sabe fazer uma peça processual.

A boa notícia é que é normal. É suposto aprendermos no primeiro estágio e, bem ou mal, temos 18 meses - duração do estágio da ordem dos advogados - para o fazer, sendo isso que, a meu ver, verdadeiramente nos vai destacar.

No que toca ao meu percurso pós-licenciatura: No final de julho do ano passado terminei a minha licenciatura (com muita ansiedade sobre arranjar um estágio a tempo e inscrever-me na ordem).

Na primeira semana de setembro fui a 2 entrevistas. A 8 de setembro comecei o estágio num escritório em Lisboa (onde ainda continuo).

Estou atualmente prestes a completar a 1º fase do estágio na ordem dos advogados e já sei, razoavelmente, fazer uma peça processual.

Não tenho neste ponto ideias tão maturadas como nos anteriores - porque é o meu presente e ainda não sei tudo - mas deixo, para finalizar, as pequenas aprendizagens que já colecionei e que me teriam sido úteis há uns meses:

Onde fazer o currículo? Canva (não muito importante, mas se for uma questão, têm aí uma resposta);

Ir procurando estágios atempadamente (por ser necessário já ter um patrono quando forem fazer a inscrição na ordem - não deixem para setembro a menos que sejam muito resistentes ao stress!!);

Onde procurar estágios? Página @gsp fdul no insta; LinkedIn; site da ordem dos advogados; bolsa de patronos da OA;

Fazer muitas perguntas a pessoas que saibam que estão a fazer a ordem/fizeram a ordem recentemente.

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MárciaBarroso @marciacbarroso

Falar do meu percurso pós-licenciatura é sempre um sentimento agridoce, de quem conseguiu chegar onde queria chegar, mas que sabe que não era bem aquele caminho que queria seguir. E por isso, quero começar este testemunho com uma frase que, talvez, ficasse melhor no final, mas que gostaria de ter ouvido em vários momentos do meu percurso académico: “Segue o teu próprio caminho e não o caminho que vês os outros seguirem”

Sei que esta frase parece retirada de um daqueles livros manhosos de autoajuda, mas hoje, esta frase faz-me todo o sentido. Acho que é inevitável, quando nos licenciamos, não ouvirmos a típica frase “boa, finalmente tenho a minha própria advogada”. Família, amigos, amigos de amigos, amigos de família, família de amigos…. Parece que todos aqueles que se cruzam connosco já definiram o caminho que temos de seguir depois de recebermos aquela última nota: vamos todos ser advogados. Parece um pouco hipócrita dizer isto, porque, de facto, eu entrei na faculdade com o objetivo de ser advogada, e hoje escrevo-vos enquanto advogada estagiária na VdA. Mas no final da licenciatura, eu não queria logo ser advogada, queria fazer um mestrado, queria saber mais sobre as cadeiras da licenciatura que me chamaram mais atenção, queria, no fundo, continuar na faculdade.

Saí da Clássica rumo à Católica, e pensei: “faço a parte curricular do mestrado, começo a enviar currículos logo no primeiro semestre, e depois, no ano da tese, começo a estagiar”. Porque era aquilo que “toda a gente” fazia depois de se licenciar na Clássica. Desde o primeiro ano que, para mim, o único caminho possível seria este, ou então, não fazendo o mestrado, começar logo o estágio à Ordem.

Estava tudo a correr conforme o plano, até ao momento em que comecei a perceber que não estava. E comecei a perceber, simplesmente, porque “toda a gente” que estava à minha volta falava nos corredores da faculdade, no LinkedIn, nos cafés, até naqueles momentos de copos em que só queremos desanuviar, no estágio profissional que ia começar em setembro.

Comecei a sentir que estava a ficar para trás. Hoje sei que sem necessidade.

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Mas sentia, porque na altura, eu tinha a síndrome do “toda a gente”, portanto tinha de fazer o que essa “toda a gente” fazia. Ser diferente era mau, e eu não queria ser diferente.

Esse sentimento levou-me a ver outros caminhos. E não minto, comecei a ver outros caminhos com uma pequena intenção de desistir daquele objetivo ser aquela advogada que os meus amigos e família tanto queriam e falava.

E foi durante uma aula de processo civil que encontrei esse novo caminho. Tendo tido sempre um bichinho pelo jornalismo e, em geral, pela comunicação, decide procurar mestrados que me pudessem dar a conhecer um pouco desse mundo, no qual estava mais ou menos inserida, mas do qual sabia tão pouco.

E qual não foi meu espanto quando vi que aquele dia era o último dia para me candidatar ao Mestrado em Ciências da Comunicação, com especialização em Estudo dos Media e Jornalismo na FCSH. Na altura, interpretei aquilo como um sinal, e ainda hoje acredito que foi

Candidatei-me então àquele mestrado, sem qualquer tipo de esperança de entrar, porque, primeiro era “ apenas ” uma licenciada em Direito e, por último não tinha quaisquer tipos de bases em ciências da comunicação.

Durante 3 meses comecei, então, a pensar noutro caminho, sem nunca, porém, deixar de enviar currículos Mas, diferentemente do que até então fazia, comecei, não só, a enviar currículos para sociedades de advogados, mas também para empresas. Tinha deixado de acreditar que algum dia ia ser advogada numa grande sociedade de advogados, mas nunca que ia trabalhar na área na qual me tinha formado. Mais uma vez, não vos minto. Houve um vazio, uma ausência de respostas ao envio de currículos, e eu comecei a ponderar desistir simplesmente de seguir aquele que era o sonho da Márcia de 17 anos que tinha entrado na FDUL. E foi nessa altura em que comecei a ponderar desistir que recebi o e-mail a dizer que tinha sido admitida no Mestrado em Ciências da Comunicação e, uma semana depois, que iria fazer parte da equipa do Espalha-Factos.

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Pertencer à equipa do Espalha-Factos, uma equipa que, em pro bono, se dedicava a dar a conhecer aos apaixonados por televisão, cinema (e também música) das novidades que por aí andavam, quer a nível nacional quer a nível internacional, foi uma fase muito importante da minha vida. Não só pelas pessoas incríveis que conheci, mas por ter sido uma fase em que percebi que a minha vida não tinha de se limitar só ao direito.

E meses depois, chegou aquele momento em que pensei desistir de seguir o caminho para ser advogada. E pensei desistir porque estava a ser mais difícil para mim do que para “toda a gente”.

Porque “toda a gente” estava a estagiar, a ter aulas da ordem ou a estudar para o exame, e eu estava a escrever artigos, uma tese e a aprender mais para, talvez, ser jornalista, tudo isto enquanto trabalhava atrás de um balcão num restaurante de fast food e numa esplanada em Belém. No fundo, já não fazia sentido esforçar-me mais para chegar a um sítio que estava longe.

Enviei, então, o último currículo para a IBM. E, surpresa a minha, quando me ligaram a marcar uma entrevista, à qual fui, sem esperanças de receber uma proposta, quando a minha vida deu, novamente, uma volta de 180 graus, não só porque recebi aquela proposta que achava impossível, como também foi o primeiro passo para retomar ao caminho que estava a pensar deixar

Durante 6 meses, trabalhei na IBM ao mesmo tempo que acabava de escrever uma tese em Direito e terminava a parte curricular de um Mestrado numa área totalmente diferente daquela em que me licenciei

Apesar de fazer tudo isto ao mesmo tempo parecer (e ser) uma loucura, sentia-me, finalmente, concretizada a cada dia que passava. Estava a seguir um caminho meu. Comecei, finalmente, a deixar de pensar naquilo que “toda a gente” fazia, faz e pretende fazer, e a dizer todos os dias ao espelho aquela frase com que comecei este texto.

E hoje, agradeço a todos aqueles que me fizeram ver que o único caminho que faz sentido seguir é o nosso próprio caminho.

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FESTA-TE MANI -TE MANIFESTA MANIFE STA-TE

MANIFESTA A-TE

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O Gabinete de Apoio Psicológico (GAP) é um

O Gabinete de Apoio Psicológico (GAP) é um serviço de apoio psicológico sedeado na serviço de apoio psicológico sedeado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), que iniciou a sua atividade em 2019, por (FDUL), que iniciou a sua atividade em 2019, por iniciativa da Associação Académica da Faculdade iniciativa da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa (AAFDL) com apoio da FDUL, de Direito de Lisboa (AAFDL) com apoio da FDUL, sendo assegurado exclusivamente por sendo assegurado exclusivamente por profissionais da área de Psicologia. profissionais da área de Psicologia.

O GAP, além de consultas psicológicas individuais, destinadas a alunxs da FDUL em qualquer um dos seus ciclos de estudos, pretende também, no desempenho das suas funções, desenvolver um conjunto de atividades que se foquem: no desenvolvimento de competências (pessoais, profissionais e académicas), na facilitação de processos de transição e adaptação de novos alunxs, na prevenção e promoção da saúde psicológica, no desenvolvimento de carreira, numa educação inclusiva e, ainda, na intervenção em crise

Todos os serviços do GAP são de frequência gratuita, assegurando consultas em formato presencial e online no seu horário de funcionamento, apresentando, no entanto, flexibilidade de adaptação às necessidades dos alunos, sempre que possível.

Na frente desta missão de ajuda de dezenas de jovens todos os anos, encontram-se, atualmente, com o exercício de funções a tempo inteiro, a Psicóloga Júnior Márcia Soares e a Doutora Marta Costa, que partilha connosco a sua ciência, experiência e visão no âmbito da saúde mental dos jovens estudantes.

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Carolina V.: Acha que os alunos, em especial, os de direito têm aumentado a procura de ajuda psicológica ao longo dos anos?

GAP: Sim, não são só os de Direito, são os alunos em geral Primeiro porque nós sabemos que cada vez mais as questões relacionadas com a saúde mental existem e as pessoas estão mais disponíveis para falar sobre isso. Também a própria comunicação social e esta pandemia ajudou muito a falar sobre isso. Há menos estigma, pelo menos é aquilo que nós sentimos aqui no GAP: as pessoas já vêm mais abertas, já mandam emails, já batem à porta, já vêm perguntar como é que funciona Também há mais oferta, há mais divulgação da oferta, também aumentámos a capacidade de resposta do GAP e, portanto, as pessoas também vêm mais e aquilo que sentimos também é que as pessoas normalizaram mais a procura do apoio psicológico: é normal ir ao psicólogo, já não há aquela questão do estigma Há também uma maior compreensão do que se pode fazer em apoio psicológico, as pessoas já não vêm resolver só questões graves, já vêm porque sim, porque querem melhorar, porque se querem desenvolver. E também muitos estudos recentes nos têm indicado, incluindo o nosso, da Universidade de Lisboa, uma maior prevalência da ansiedade, da depressão e do burnout e uma menor resiliência: há indicadores que nos dizem que os nossos estudantes estão piores a nível de saúde mental mas que procuram mais respostas a este nível Portanto, sim, tem aumentado esta procura

C.V: Quais são, atualmente, as maiores preocupações dos alunos em termos académicos?

GAP: No ano letivo todo, acho que passa muito por lidar com a pressão: a pressão que vem lá de fora, dos professores, dos colegas, dos pais, mas sobretudo a pressão interna, que os alunos colocam em eles próprios para atingirem objetivos, de ter determinada média, atingirem o número de cadeiras por ano que querem fazer Na questão de cumprirem objetivos, muitos dos objetivos que os alunos acabam por delinear não são realistas, não são específicos, não são adaptáveis e, portanto, são muito rígidos na forma como os colocam Há muitas preocupações com a média, especialmente nesta altura do ano em que há feiras de estágios, em que se começa a procurar emprego. E também questões relativas ao futuro, com questões relativas à gestão de tempo e gestão de tarefas, e ao cansaço, especialmente nesta altura do ano em que estamos a caminhar para o final do ano letivo em que o cansaço é muito superior O método de estudo é também é uma questão que existe ao longo do ano, principalmente no primeiro semestre e principalmente com alunos de primeiro ano, devido a uma questão de adaptação

C.V: Como lidar com a frustração: quando perante um grande esforço não conseguimos alcançar os resultados que pretendíamos?

GAP: A frustração é uma emoção válida. Às vezes tentamos evitar a frustração enquanto emoção: eu não me quero sentir assim, a frustração é desagradável. Nós vemo-la como algo negativo, mas nós precisamos de viver essa frustração Portanto, em primeiro lugar, é normal sentirmo-nos frustrados se tivermos tido um objetivo a cumprir e não chegarmos a fazê-lo Então diria que em primeiro lugar é aceitar a frustração como emoção válida (eu tenho direito a sentir-me assim) depois também é termos a consciência que fizemos o melhor que podíamos e o melhor que sabíamos, com as circunstâncias que tínhamos

nós, às vezes, depois de passarmos pela situação, pensamos: eu podia ter feito mais, eu podia ter feito melhor, então porque é que não fiz? Não fiz porque não podia, não sabia, não conseguia naquelas circunstâncias. Acho que também é importante focarmo-nos no processo, não tanto no resultado, mas o que é que eu fiz? Dei o meu melhor? Não dei? Então se eu acho que não dei ou que podia ter feito diferente, o que é que posso fazer melhor para a próxima vez? É um bocadinho aceitar a situação atual, mas também perguntar o que é possível mudar e o que é que foi aprendido com a frustração que se está a sentir mas que é normal e ok sentir isto.

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C.V: No que diz respeito ao ambiente competitivo que paira na faculdade: considera que em excesso, esta questão pode causar ansiedade nos alunos?

GAP: Causa, sim A competição existe externa e internamente Há alunos que tem uma competição com eles próprios o que me parece super ok querer ser melhor do que o que fui ontem. Querer ser melhor do que o colega do lado, é comparar coisas que não podem ser comparadas porque eu não sou aquela pessoa, não vivo na casa dela, nas circunstâncias dela. Acho que saber se isto causa ou não ansiedade tem muito a ver como lidamos com isto: é se nos deixamos envolver e entramos numa espiral ou se por outro lado é possível lidar com a existência de alunos melhores e piores mas reconhecer que estou a dar o meu melhor A questão é “quanto é que vale esta competição para mim? Quão importante é eu ser melhor que os outros? Como é que me posiciono nesta competição?”. É importante perceber se esta é uma questão de competição ou de referência: é normal ao receber um resultado querer perceber se nos estamos a sair mal ou bem, mas é diferente fazer uma comparação e querer ser melhor que a outra pessoa. Em excesso, é mau porque perdemos o controlo da situação, o que é gerador de ansiedade, que por sua vez é gerador de bloqueios, de frustrações, de não progresso e vamos bater outra vez ao bem-estar, e, neste caso, à falta dele

C.V: No que diz respeito à saúde mental, a ansiedade, stress e cansaço são alguns sintomas ditos "normais" que qualquer estudante e pessoa sentem. Em que ponto é que esses sintomas devem ser considerados como perigosos para a nossa saúde mental e não "normais"?

GAP: Em primeiro lugar, nós temos de saber o que é o nosso “normal”, porque pode não ser igual ao do vizinho do lado. Eu posso ser uma pessoa que normalmente já tem alguma ansiedade, como característica. Depois de saber o que é o meu normal, é preciso perceber se aquilo que eu estou a sentir tem uma frequência diferente - se acontecer mais vezes é preciso estar atento Além da frequência temos de analisar a duração do sintoma: eu sinto mais vezes e sinto durante mais tempo? Se sim, já está a fugir ao meu normal Depois, temos de ver a intensidade: este sintoma está a ser mais intenso do que costumava ser, face ao meu normal? Se a frequência, a duração e a intensidade do sintoma é maior, ele vai ter um maior impacto na minha vida. Se o dia-a-dia está a ser afetado de forma gradual por estes sintomas, é necessário estar alerta e procurar pensar sobre isso para perceber o que se passa. Há também a possibilidade destas mudanças serem cíclicas (ex. às sextas-feiras fico mais ansioso), aí é importante ver o que provoca essa mudança, para tentar perceber se existe um padrão e se este existir, então é normal sentir a ansiedade (sendo que podemos, sempre, fazer algo para a reduzir ou gerir melhor) Então, aqui o importante é perceber o meu normal, avaliar estes três parâmetros (frequência, duração e intensidade), avaliar o seu impacto no meu dia-a-dia e perceber se ele é cíclico ou não, e se não for temos de perceber o que se passa aqui.

C.V:De que forma a incerteza/escolha profissional pode afetar a nossa saúde mental?

GAP: Afeta porque é uma sensação de não controlo, ou seja, se eu não sei o que vou fazer profissionalmente ou se até gostava de fazer qualquer coisa mas não sei o que ao certo ou se vou conseguir, este “não sei se ” é uma incerteza e a incerteza causa ansiedade. Como é que podemos reduzir isto um bocadinho? Termos a consciência que esta incerteza

é normal: ninguém nasce a saber o que vai fazer na vida Vai haver uma fase que vai ser incerto e não vão existir respostas, e é normal e é exatamente a fase onde se deve explorar isto A interferência na saúde mental existe porque não temos uma resposta imediata e é algo que não depende totalmente de nós e nos foge ao controlo.

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C.V: Quais as estratégias para controlar as nossas emoções (ansiedade,stress) em época de exames?

GAP: A resposta aqui relaciona-se com o que já falámos em relação às frustrações Se algum aluno que em época de exames não está ansioso, então algo está errado, porque é uma época de exames e é normal sentirmos nem que seja o friozinho na barriga por ir fazer um exame, já que é isso que nos faz estudar, nos faz andar e estar atentos, e progredir no nosso exame e no nosso estudo. Assim, é preciso aceitar e normalizar sentir alguma ansiedade e algum grau de stress, e que isso até positivo. Quanto a “controlar” as emoções, nós não as conseguimos controlar, podemos apenas geri-las, tentando conhecê-las e perceber quais as estratégias que pessoalmente funcionam para não deixar que estas emoções interfiram negativamente nas épocas de avaliações O que pode ajudar é uma boa organização, uma boa gestão de tempo, ter objetivos realistas e específicos, calendarizar, simplificar algumas tarefas (ex na véspera de um exame não se vai ler o livro inteiro, talvez só tenhamos tempo para ler uma sebenta), ter uma boa alimentação, descansar, praticar exercício físico, hidratar regularmente e tudo isto para que me sinta menos ansiosa e tenha aqui uma base mais tranquila para o meu dia-a-dia. É normal sentirmo-nos ansiosos em épocas de avaliações, não podemos desnormalizar isto nem dizer que isto é errado.

C.V: Quais as atividades que os alunos podem fazer para melhorar a saúde mental?

GAP: Melhorar a saúde mental parte do princípio que ela já está mal Se ela já está mal, não são as coisas do ponto anterior que a vão fazer melhorar Se a saúde mental não está ok, então a saúde no seu todo também não está (não há saúde sem saúde mental) e um bom ponto de partida seria fazer um check-up médico; depois, tudo o que já foi dito no ponto anterior (alimentação, hidratação, exercício e descanso) e ainda uma coisa que não foi dita no ponto anterior, que é a conexão social: estarmos com pessoas que nos tragam coisas positivas e partilhar com outras pessoas o que estamos a sentir, porque isso também nos vai trazer a normalização dos nossos sentimentos.

Maria S.: Considera que seja negativo terminar a licentura e não saber que caminho profissional se deve seguir?

GAP: Não, acho que até é positivo Por vezes, as pessoas têm muitas certezas sobre o seu caminho profissional, chegam ao caminho que desenharam e esse caminho não existe (ex.: digo que vou terminar a licenciatura e que quero trabalhar para a sociedade y, mas eles acabam por não me escolher e é muito difícil voltar atrás).

É muito normal isto acontecer, até porque na sociedade em que vivemos existe uma dicotomia muito interessante: há muita falta de informação e, ao mesmo tempo, muita informação espalhada por todo o lado, que pode até ser falsa Podemos pensar que aquele é o trabalho da nossa vida e ao chegarmos lá percebemos que não é aquilo que queríamos, pelo que é importante explorarmos, pedir opiniões, mas nunca esquecendo que estas são as visões de outras pessoas. Já não existem empregos para a vida e são as experiências que vão determinar se queremos seguir aquilo ou não, e não o que queremos no final da licenciatura Porque o máximo que acontece no final da licenciatura, é saber se gosto mais de certas áreas ou de certo tipo de atividade, mas não é possível eu saber se na prática gosto ou não, porque ainda não tive essa experiência.

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M. S: Considera que a maioria dos alunos estão preocupados com a média?

GAP: Estão, pela razão errada que é: a media vai determinar tudo na minha vida Errado A média determina, muito provavelmente, se eu quiser entrar numa sociedade ou empresa em que a media mínima de acesso é 14 ou 16, e só se eu quiser entrar agora, porque eu posso entrar nessa empresa daqui a uns anos com experiência profissional, com mestrado, com uma pós-graduação muito específica Os alunos estão preocupados com a média, porque acham que a média os define enquanto pessoas. O que é a média? A média é a capacidade do aluno responder àquilo que o professor quer ler ou ouvir, não é mais que isto, portanto, isto não vai determinar aquilo que eu sei fazer, a minha capacidade de trabalho, as minhas competências O mundo não se esgota nas quatro ou cinco sociedades que têm média de 14 para ingresso, há outras coisas para fazer e outras formas de lá chegar e portanto, são preocupações que são importantes para alguns alunos, mas temos de ir ver o resto, porque a média não é tudo e, na minha opinião, não é o mais importante Há espaço para todos

M. S: Como lidar com as incertezas futuras em termos profissionais?

GAP: Há incertezas de coisas que nós controlamos e de coisas que nós não controlamos Há coisas que nós não controlamos: os critérios de recrutamento das empresas, se vou gostar ou não vou (porque eu não sei); então, vamos ao lado que controlamos: o que é que eu posso fazer para reduzir o meu grau de incerteza? Eu tenho de me conhecer, saber quais os meus pontos fortes, quais os meus pontos fracos, os meus defeitos enquanto pessoa, enquanto profissional e tenho de combater isso com o autoconhecimento, a nível interno, e com o conhecimento a nível externo do que as empresas procuram e pedem: quais as competências, as hard skills, as soft skills e como as posso desenvolver de forma a ser uma mais-valia Temos de nos conhecer muito bem e ao ambiente que está à nossa volta e com isto fazer um match entre o que sou e o que as empresas estão à procura

M. S: Quais as melhores maneiras de gerir a ansiedade/stress dos alunos que se encontram no último ano do curso, mas que ainda não têm garantias/certezas relativamente ao futuro?

GAP: É conhecerem-se o mais possível a si mesmos, em primeiro lugar, e às opções que existem Não se ficarem pelas feiras de estágio ou anúncios de emprego, porque isto é o que é visível - é preciso ir à procura, porque se eu procurar, eu sei onde quero trabalhar ou o que gostava de fazer. Aumentar o networking, aumentar os contactos e falar com pessoas. Criem uma página do LinkedIn, mandem mensagens às pessoas, porque o LinkedIn é uma rede profissional, mantenham os contactos com colegas, com professores. O mundo é muito pequeno. Vamos potenciar os contactos e aprimorar as competências, os pontos fortes e os pontos a desenvolver Isto não vai diminuir a ansiedade e o stress, mas vai ajudar-me a controlar mais coisas, e se eu controlo mais coisas estou mais aberto a oportunidades que podem surgir

M. S: Como evitar comparações entre os colegas quando alguns já têm propostas de trabalho/estágio e outros não são aceites nos estágios a que se candidatam?

GAP: É das coisas mais duras que existem. A comparação é inevitável. Nós somos todos diferentes, temos características diferentes, oportunidades diferentes É preciso pensar qual é o meu objetivo, o que é que eu fiz para alcançar o meu objetivo e o que é que pode estar aqui a falhar Às vezes é só porque sim, não há uma justificação dos pontos: eu até posso ter um perfil melhor que o colega do lado e ele foi chamado e eu não, mas eu não controlo isso Se eu me vou focar no que não controlo, não dá em nada Então qual é o meu objetivo, qual é o meu caminho, o que é que eu posso fazer o que é que eu posso melhorar, quais são as minhas oportunidades? A incerteza faz parte do percurso, temos de normalizar isto. Vão haver pessoas que vão encontrar estágio primeiro que nós, mas também vai haver outras que vão encontrar depois O meu caminho, o meu trajeto, ao meu passo Podemos olhar à volta, mas temos de tentar sempre focar em nós, podemos aceitar a referência, mas não a comparação, temos de nos individualizar 33

M. S: Como lidar com a possibilidade de não termos sucesso na área que desejávamos?

GAP: Parte da resposta já está na pergunta: é uma possibilidade, não é uma certeza Posso não ter sucesso na área que desejava? Sim, mas também o que é o sucesso? O que é que eu vejo como sucesso hoje? Se calhar o que eu conseguia como sucesso há 15 ano, é completamente diferente do que eu vejo hoje como sucesso profissionalmente para mim, porque os objetivos são mutáveis, nós estamos sempre em mudança, porque há muitas formas de ter sucesso, porque há muitas coisas que valorizamos ao longo dos anos, porque há diferentes timings para ter sucesso, porque os interesses mudam algo do tempo Portanto, temos de ponderar se esta é a única área em que queremos ter sucesso e se é a única maneira de lá chegar, ou seja, não podemos ser tão rígidos, é preciso flexibilizar Temos de procurar alternativas, definir o que é o sucesso para nós e perceber no que podemos melhorar, mas tendo sempre em mente que se não der certo existe um outro plano que pode ser feito: o abecedário tem muitas letras que se podem tornar em planos.

M. S: Face à atual questão habitacional: considera que esta questão tem contribuído para o aumento de stress e depressão nos alunos?

GAP: Tem, em duas questões: por um lado, pessoas que já têm o seu próprio rendimento / trabalho, veem que é incomportável pagar rendas em Lisboa e podemos chegar à situação de ter de se escolher se estuda ou se trabalha; por outro lado, a situação de pais e mães que trabalham e de quem os alunos dependem da ajuda para estudar, e cuja despesa começa a ser incomportável para os pais Tem existido uma maior preocupação dos alunos em arranjar fontes de rendimento, através de venda de objetos, por exemplo roupas, livros em segunda mão (e também a compra em segunda mão), em ter um parttime, em dar explicações, em fazer umas horas ao fim-de-semana num bar ou noutro sítio qualquer para ganhar algum dinheiro. Sentimos também aqui no GAP uma maior pressão para acabar o curso: já não dá para ficar mais um ano, porque já não há dinheiro para sustentar mais um ano em Lisboa, ou mais um ano a pagar propinas, ou mais um ano a comprar livros, não dá Apesar de não haver uma tradução em números, sabemos que também acontecem desistências do curso derivadas disto

M. S: Sente que os alunos têm uma especial preocupação em sair de casa dos pais?

GAP: Sempre tiveram, o problema agora é o como, enquanto o problema antes era quando Porque atualmente, não há dinheiro para isso Antigamente, e isto há meia dúzia de anos, era acabar o curso, começar a trabalhar uns anos para angariar dinheiro e depois sair da casa dos pais. Agora é, mas eu alguma vez vou conseguir sair?

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M. S: Acha que a vontade de sair de casa dos pais leva a uma instabilidade mental pela procura de um bom emprego?

GAP: Não sei se a uma instabilidade mental, mas pelo menos a mais pressão de arranjar logo um bom emprego, um bom ordenado. Na área do direito, um bom emprego e um bom ordenado está relacionado a uma boa sociedade, e as boas sociedades estão associadas a critérios de seleção muito apertados em termos de média, a média está ligada à pressão, criando-se aqui todo um circuito. Por isso, pelo menos mais pressão sim. No entanto, o que é um bom emprego? Um bom emprego é aquele que é melhor remunerado? Para algumas pessoas, sim Um bom emprego é aquele que permite chegar às 18 horas ou 19 horas e ir para casa? Para algumas pessoas, sim Um bom emprego é aquele que permite ficar dois dias em teletrabalho porque se calhar não tem que contornar as greves da CP e não saber como vou chegar ao trabalho por falta de transporte? Para algumas pessoas, sim. Também podemos aqui ver que o facto de existirem empresas que apostam no teletrabalho, permitindo que as pessoas não vivam em Lisboa, ou vivam a maiores distâncias - se calhar seria esse um bom emprego para alguns candidatos Ou será um bom emprego ter de trabalhar num escritório em Lisboa a receber um bom ordenado, mas não ter hora de saída, ou com horas de saída muito incompatíveis de conciliação entre o trabalho e a vida pessoal? Também temos que definir o que para nós é um bom trabalho Tenho lido ultimamente muitas peças jornalísticas que nos dizem que os jovens estão cada vez mais exigentes nas condições de trabalho, e ainda bem, e que procuram cada vez mais trabalhos à distância e híbridos, e se calhar a resposta está muito aqui: se calhar, não temos todos de ter um trabalho presencial no centro de Lisboa com transportes à porta, se calhar, temos que olhar, e aqui é mais para as empresas, para como é que eu posso reter talento à distância, porque não precisamos ter as pessoas presentes todos os dias porque elas trabalham bem, ou melhor, à mesma

M. S: Duas perguntas para finalizar. Para alguém que precise de ajuda, mas não sabe como pedir: O que deve fazer?

GAP: Se a pergunta se refere ao GAP, contactem-nos, através de um email, uma mensagem no Instagram, ou batam-nos à porta. Nós respondemos sempre, e se não respondermos, é porque não chegou cá. Se não tem a ver com o GAP, porque há pessoas que podem não querer e querer recursos externos à FDUL, o médico de família é sempre um bom ponto de partida, se se tiver um bom médico de família, porque ele conhece o nosso historial, pode-nos fazer um check-up geral, ver se está tudo bem com a saúde física, encaminharmos para alguma especialidade, acho que pode ser importante Há pessoas que têm muitos estigma de ir ao médico, e também muito estigma de ir ao psicólogo, então o que é que se pode fazer? Podemos falar com a nossa família, com os nossos amigos - muitas vezes os nossos amigos e família é que nos sinalizam que nós não estamos bem, que nos dizem que estamos mais tristes, mais ansiosos, mais cansados, que andamos mais desaparecidos e se calhar ouvi-los pode ser um bom ponto de partida para reconhecermos a necessidade de pedir ajuda. As redes sociais, e isto tem o seu lado bom e o seu lado mau, também estão cheios de profissionais da área da saúde, portanto às vezes, ao lermos algumas coisas podem nos ajudar a dar o passo para procurar ajuda Cuidado com os autodiagnósticos, sempre, cuidado com o coaching, que agora também está muito na moda pelas razões erradas, feito por não psicólogos Acho que também é bom termos os redes sociais como porta aberta. E acima de tudo temos de ter um mindset que é: eu posso ir experimentar e não tenho que voltar. Se alguém vier aqui ao GAP fazer uma consulta de triagem e não gostar, não querer, não se identificar, não tem que voltar e nós não vamos atrás de vocês, alunos, para saber porque é que não voltaram. A pessoa não voltou está tudo bem, o importante é experimentar

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M. S: Que conselho daria a um aluno que está indeciso sobre o que seguir após término da licenciatura?

GAP: Primeiro, normalizar Isto tem um nome em psicologia: chama-se moratória psicossocial, que é um compasso de espera que fazemos enquanto delineamos o nosso futuro e analisamos as opções. Portanto, se isto tem um nome do ponto de vista técnico, é porque é normal, há mais pessoas que sentem isso. É preciso também normalizar que não temos de acertar com o nosso percurso profissional à primeira, às vezes temos que ir experimentar para percebermos que não é aquilo que queremos e está tudo bem. Importante também é conhecer bem as opções, ler coisas, pesquisar, ir a sítios, falar com profissionais, mandar mensagens a pessoas no LinkedIn a perguntar coisas, falar com colegas, com amigos, com professores que estejam mais disponíveis, perguntar tudo, o lado bom e o lado mau.

É que às vezes passamos a ideia muito bonita do que é uma profissão, mas existe sempre um lado podre que nunca ninguém conta e que é importante também saber antes de iniciar certa carreira. Eu gostava que alguém me tivesse contado os “podres” da minha profissão antes de eu entrar nela; eu entrava na mesma, mas entrava a saber mais qualquer coisa. Conheçam-se bem, invistam no autoconhecimento: o que é que querem, o que é que não gostam, o que é que não querem, o que é que eu já tenho de bom, o que é que eu posso desenvolver Delinear estratégias, analisar opções, com as vantagens e desvantagens de cada uma, para ser possível traçar um caminho em que se possa ver o que é mais viável e menos viável Experimentem, nós não temos que ficar no mesmo emprego para o resto da vida Depois, também a rejeição, a falta de respostas é normal, vai acontecer: é um trabalho de resiliência. Procurar trabalho é um trabalho de resiliência e é difícil lidar com os nãos e é difícil lidar com pessoas que estão a conseguir coisas e nós não, e então há que olhar muito para o nosso caminho, para o nosso trajeto. Conheçam coisas, há muitas áreas que vocês não vão conhecer aqui na faculdade: a tecnologia que está sempre a avançar, os nichos de mercado que estão sempre a aparecer, coisas muito específicas que só se fazem e só se falam depois em pós-graduação e mestrados A licenciatura não tem que delinear o nosso percurso, eu posso divergir: é possível fazer uma licenciatura em direito e ir trabalhar em recursos humanos, como consultor, fazer um mestrado em comunicação, fazer uma formação específica em tanta coisa. A licenciatura é só a base, não tem de ser o nosso futuro. Isto é importante porque há alunos que não querem seguir o direito, e quase que se sentem obrigados porque estiveram aqui 4 anos a estudar isto. O direito é uma base tão sólida para tanta coisa que nós podemos e devemos explorar o que está para além disso. Portanto, explorar as opções, ir à procura, delinear objetivos e depois tomar uma decisão

Texto transcrito por: Ivânia Monteiro

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Olá!

O meu nome é Teresa, tenho 24 anos e sou licenciada em Gestão de Recursos Humanos Trabalho há 1 ano e meio como Recruiter na área de IT (Tecnologia Informática). Quando ingressei na minha licenciatura, não sabia bem o que quereria seguir posteriormente, foi um bocadinho um tiro no escuro. O que é certo, é que sempre fui uma pessoa de pessoas, e, neste momento, não poderia estar numa área melhor Na verdade, ainda não sei qual será o meu caminho, mas, por enquanto, é assim, a lidar diariamente, a conhecer pessoas novas e realidades diferentes que sou feliz!

1. O que é que as empresas valorizam mais no currículo?

Quando nos candidatamos a uma vaga há que ter em conta que do outro lado irão analisar não só o nosso CV, como mais umas dezenas. Desta forma, importa que este documento seja algo pensado e estruturado, organizado e que espelhe realmente a nossa experiência e aquilo que somos Um recrutador gosta de olhar para um currículo e conseguir ler de forma clara, adquirir uma primeira impressão de forma simples e eficaz O CV deve responder diretamente às exigências do mercado e da vaga em questão, para captar a atenção do recrutador

2. Se a média não for a melhor, quais os pontos que se devem ter fortes no currículo?

Há sempre fatores importantes como: idiomas, experiências extracurriculares, voluntariado, participações em associações de estudantes, e podem sempre também pedir uma carta de recomendação a um professor, que poderá também jogar a vosso favor

3. As cartas de motivação são realmente tidas em conta, ou é um aspeto pouco valorizado quando comparado com o CV?

O CV vai ser sempre a primeira impressão antes de conhecermos o candidato, será sempre o fator chave. Contudo, a carta de motivação poderá ser importante para perceber se realmente há um feat com a oportunidade, perceber o que realmente é esperado e ajudar a ajustar expectativas

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4. Pode-nos indicar algumas dicas relativas ao currículo?

O currículo é a nossa primeira impressão, importa que seja claro, simples e apelativo É necessário que neste documento estejam visíveis os nossos dados (nome, localização, data de nascimento), contactos(e-mail e telefone, para facilitar o contacto entre a entidade empregadora e o candidato), experiências profissionais - indicando a função exercida e a área de negócio (fazer um breve resumo, começando sempre na mais recente que, à partida, será a mais relevante, nada muito exaustivo, pois este será um tópico falado na entrevista) e académicas (deixar claras as bases de formação, se falarmos de um mestrado, por exemplo, importa frisar o tema da tese) e podemos ainda incluir formações e certificações

5. Quando um Recrutador fica indeciso entre alguns candidatos, para além do CV, Carta de motivação e prestação na entrevista, quais são os outros fatores que são realmente considerados?

Diria que entre os 3 fatores mencionados, o que terá sempre mais peso é a prestação na entrevista. Trata-se de uma questão de empatia, sentir a pessoa, verificar enquadramento com a cultura organizacional. A decisão irá acabar por recair sob o candidato que melhor parecer enquadrar-se na estrutura, na equipa, na função, na empresa Muitas vezes, é feita mais do que uma fase de entrevista por isto mesmo, para não contar apenas a opinião de um entrevistador

6. O que é que as empresas, por norma, procuram num candidato?

O que se procura num candidato vai sempre diferir de empresa para empresa e de cargo para cargo O que importa realmente é que, quando nos candidatamos a uma vaga, acreditemos que fazemos match com a job description da vaga A empresa irá procurar exatamente o que é descrito neste anúncio.

7. Quais são as características que se destacam num candidato?

Para além das hard skills, as soft skills também têm um grande peso no momento da decisão Atualmente, o inglês é um fator chave quase de forma transversal Depois claro, o perfil e personalidade da pessoa pode ter maior ou menor enquadramento mediante a cultura e valores da empresa em questão.

8. Quais os aspetos negativos que desqualificam o candidato?

A atitude na entrevista. Quando entrevistamos alguém que sentimos que não está motivado ou interessado em falar connosco, entrevistador, perdemos o interesse em dar continuidade a uma conversa Quando não chegamos a uma fase de entrevista, significa que não houve enquadramento a nível técnico entre a vaga anunciada e o CV

9. Qual é o modelo (de perguntas) numa entrevista de emprego?

Pessoalmente, gosto de deixar o entrevistado falar, contar-me um bocadinho da sua experiência, das suas vivências e dificuldades e/ou conquistas. Por norma, existe sempre uma primeira conversa onde falamos sobre a experiência do entrevistado, motivações, expectativas e disponibilidade. Dependendo do entrevistador, poderá sempre também haver uma pergunta de caráter mais pessoal, para conhecer melhor quem temos do outro lado

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10. Quais são, normalmente, as fases que existem até à efetiva colocação?

Começamos sempre pela triagem curricular, havendo um match, avançamos para uma primeira conversa. Passando esta primeira conversa, supramencionada, poderá existir uma segunda conversa com alguém dos quadros superiores e, avançando, procedemos à apresentação da proposta contratual e salarial

11. Existem um tempo mínimo ou máximo ideal para a duração de uma entrevista de emprego?

Não existe um tempo estipulado ou ideal para a duração de uma entrevista, vai depender sempre também da senhorizada do perfil com quem falamos. Diria que, por norma, as entrevistas têm uma duração de 30 minutos.

12. As redes sociais podem influenciar a entrada do candidato na empresa?

Na minha realidade, não! Contudo, dependendo também da área de mercado, poderão sempre precaver-se nesse aspeto deixando as redes sociais privadas, uma vez que vida pessoal nada tem a ver com vida profissional

13. Qual a importância do LinkedIn?

O LinkedIn, atualmente, é a maior ferramenta de network. É aqui que visualizamos perfis com potencial para as oportunidades, temos visibilidade das vagas existentes no mercado e trocamos e partilhamos ideias sobre as mais diversas temáticas do mercado atual Assim, importa manter o LinkedIn sempre atualizado, pois, muitas vezes, acaba por ser a primeira impressão que têm de nós e poderá aqui surgir oportunidades que nem imaginávamos que pudessem existir

14. Sente que na sociedade atual, os jovens que estão à procura de emprego aparentam estar mais preparados a nível intelectual, mas com poucas competências sociais, comunicacionais e de espírito de equipa?"

Não é uma realidade que esteja presente no meu dia-a-dia. Aqui, afirmo não só com base nas entrevistas que vou fazendo diariamente, como também tendo como amostra a minha equipa, relativamente jovem e extremamente prestável, atenciosa e disposta a ajudar.

15. Os recrutadores gostam que o entrevistado faça questões? Se sim/se não, porquê?

Sim! A meu ver, as entrevistas podem sim ser uma conversa, entre ambas as partes. Gosto de sentir interesse e curiosidade do outro lado.

16. Quais os conselhos que daria a alguém que nunca foi a nenhuma entrevista de emprego?

Sê tu próprio! Pesquisa sobre a empresa antes da entrevista, desta forma, já tens uma noção de como irá funcionar, e poderás também desde logo esclarecer algum ponto ou dúvida. Fala sobre ti exatamente como és, sê genuíno. Havendo match, queremos que seja com alguém que realmente se identifique também com a cultura da empresa, alguém que se reveja a trabalhar naquele sítio Isto só é possível se houver transparência de parte a parte

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Linha 1: Filmes

AS NADADORAS

Linha 2: Livros

Peak- jogos para o cérebro

Linha 3: POdcasts

Linha 4: apps

Mapa da Estação

OQuesóVemosQuandoAbrandamos deHaeminSunim

DISTRAI-Te 40
MyFitnessPal ast 40

Avozdasmulheres

FDUL EXPERIENCE

a oeste nada de novo

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toogoodtogo
Obrigado por viajar connosco 41
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Maria Eduarda Franco Vice-Presidente da Direção Raquel Vasconcelos Secretária de Direção Maria Silva PresdentedaMesadaAssembleiaGeral Ivânia Violante Armando Vieira João Moutinho
SecretáradaMesadaAssembleiaGeral PresdentedoConselhoFscal Tesoureiro CoordenadoradePublcidadeeMarketing ComissãodePublicidadeeMarketing CoordenadoradeRelaçõesPúblicas CoordenadoradeRedaçãoeInformação
Madalena
Bernardo Filipa Tavares Madalena Condeço Carolina Patinhas

Um especial agradecimento a toda a equipa do mandato 2022/2023 do Núcleo de Estudos Humanitários da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a todos os convidados deste quinto número da revista Humaniza-te e a todos os nossos leitores.

Editoras Madalena Vaz

Yuliya Kalapuz

Coordenação de conteúdo Ana Carolina Varela

Maria Carolina Patinhas

Maria Eduarda Franco

Contribuição de conteúdo e membros do Núcleo de Estudos Humanitários

Ana Carolina Varela

Armando Reis Vieira

Filipa Tavares

Ivânia Monteiro

João Moutinho

Madalena Condeço

Madalena Vaz

Maria Carolina Patinhas

Maria Eduarda Franco

Maria Silva

Raquel Vasconcelos

Convidados Belle Carvalho

Catarina Paiva

Márcia Barroso

Márcia Soares

Margarida Boieiro

Maria Francisca Gomes

Marta Costa

Teresa Silva

nehumanitarios@gmail.com @nehumanitarios Núcleo de Estudos Humanitários

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