3 minute read

RMA-TE

Next Article
rece-te

rece-te

E de repente, o que antes achávamos ser suficiente para uma “vida melhor” esgotase, os esforços aumentam e as pressões e incertezas, tanto externas como internas, crescem.

Pela primeira vez em 10 anos, estima-se que as gerações atuais se encontram mais pobres e em condições mais desfavoráveis do que as gerações dos seus pais. Segundo dados do Banco de Portugal, o salário médio dos jovens licenciados em 2006 (1088 euros) era superior ao de 2020 (1050 euros). Este panorama levou a um aumento de cerca de 69% dos licenciados com dois empregos, na última década. Para nós, alunos e/ou jovens profissionais de Direito, deparamo-nos com notícias que relatam um chumbo de 83% no exame de acesso à Ordem dos Avogados e com cada vez mais relatos que retratam uma exploração dos advogados estagiários e que se prolonga para a profissão de advocacia que nem permite os seus profissionais à doença.

Advertisement

E nós, enquanto geração que pretende quebrar tabus geracionais e sonhar um pouco mais alto, que pretende viver além do trabalho e da tradicional visão de família e sucesso, como e com quem é que aprendemos a equilibrar esta balança de expetativas e ambição e destino ao fracasso? A verdade é que ninguém nos ensina e essa falha começa-se a refletir nos dados e estatísticas sobre os jovens em Portugal.

Um em cada 5 estudantes portugueses sofre de alguma doença mental, sendo a ansiedade e depressão os diagnósticos mais comuns. Este número agrava-se com o aumento do custo de vida e as escassas oportunidades de evolução em Portugal.

Além do panorama de dificuldades que se descreve, as mulheres ainda têm de enfrentar uma diferença média de 13% nos salários em relação aos homens em Portugal. Uma desigualdade normalizada e ignorada pelos rostos que se aparentam “chocados” pelos dados que apontam para uma decadência exponencial da saúde mental nas mulheres, a diminuição da sua expetativa de vida saudável e o aumento das suas dificuldades financeiras.

E assim observamos que este panorama, além de começar a surgir cada vez mais cedo no nosso percurso, não tem termo tão cedo, arrastando-se para as nossas vidas profissionais que se veem cada vez mais ameaçadas, principalmente se pertencermos a um grupo sistemicamente mais vulnerável parece inalcançável ou inconcebível, principalmente perante os medos e dúvidas que o nosso percurso académico nos apresenta, nem sempre o é e a realidade é que nem tudo são más notícias.

Uma realidade completamente contrária ao que a sociedade exige das mulheres: confiança, independência, saúde mental e física para poderem reproduzir, serem boas mães e companheiras, terem uma carreira de sucesso e ainda manterem um padrão estético que agrade a sociedade em todos os setores. E perante esta dicotomia nós perguntamos: como?

Apesar do longo caminho a percorrer, começa-se a ganhar alguma consciência da situação e importância da saúde mental, tanto no panorama académico como profissional, e observam-se algumas buscas a soluções e alternativas que garantam a tal ”vida melhor”, a par, claro, da eficácia.

No plano académico, marcado pela escassez de recursos e profissionais de saúde sobrecarregados e esgotados, foi já anunciada a criação de um plano nacional de saúde mental, o que semeia uma esperança de melhoria do panorama atual.

Ao nível do mercado de trabalho, um projeto piloto que reuniu 61 empresas, concluiu que a semana de quatro dias de trabalho reduz o stress e mantém a produtividade, tendo-se registado uma diminuição de 65% das baixas médicas por doença.

No combate aos salários precários que os jovens licenciados auferem, grandes empresas em Portugal anunciaram já promessas de salários a partir de 1320 euros (no mínimo) para jovens recémlicenciados.

Na área do Direito, as aparências e censura, principalmente por parte dos mais jovens, têm vindo a diminuir, a par de um aumento da consciencialização e reivindicações públicas que, apesar de nem sempre tidas em conta, fazem a diferença. Nomeadamente, em sede dessa consciencialização, em 2022, anunciou-se a realização de estudos que visam avaliar o impacto da profissão na saúde mental dxs advogadxs e juristas seguem.

Ademais, mais importante que a consciência é a aprendizagem e conhecimento, e a verdade é que as hipóteses de caminhos a seguir são vastas, não se devendo esgotar nas rotas comuns, seja por segurança ou por medo. É com esta missão que a nossa revista HUMANIZA-TE reuniu variados convidados que partilham connosco os seus percursos académicos e/ou profissionais, com o objetivo de explorar e responder a algumas das dúvidas e medos que perseguem muitos de nós, e de apresentar diferentes perspetivas, na esperança de motivar alguém no seu percurso que, é importante relembrar, é único!

This article is from: