Sedução à espanhola Manhã de domingo. Praia de Barra de São Miguel, no litoral Sul de Alagoas. Céu azul, apesar da chuva que caia algumas horas antes. O sol começa a esquentar. Na superfície do mar, a água reflete diferentes tonalidades que variam do verde oliva ao azul turquesa. Ainda é possível avistar um arco-íris que, na linha do horizonte, se funde ao oceano atlântico. Ao meu redor, o espaço vai se tornando cada vez menor para tanta gente que se move de um lado para o outro, em busca da felicidade. Da minha espreguiçadeira alugada de um ambulante que está atento aos desejos do cliente, solicito uma bebida bem gelada. O líquido amarelado e espumante desce pela garganta sedenta, refrigerando meu corpo e acalmando minha alma. Penso comigo mesmo: salve Gambrino! Por acaso, esse sujeito foi o inventor da fórmula original da cerveja, esse líquido feito da fermentação do lúpulo com a cevada, trigo ou centeio, que no passado era privilégio apenas dos nobres e reis do Império Romano. Hoje se tornou popular e faz a alegria do povo. Ao meu lado, deitada sobre a toalha estampada, encontra-se uma espanhola de corpo torneado e bronzeado, esparramada na areia. Olha disfarçadamente para ela e, mentalmente, faço uma operação matemática: somo, divido, multiplico e subtraio. Mas não consigo achar a raiz quadrada daquela escultura de carne e osso (muito mais carne do que osso). Fico com meus pensamentos matemáticos, admirando disfarçadamente aquela figura geométrica perfeita. Um triângulo retângulo onde o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadro dos catetos. Retomo o pensamento para o contexto das relações sociais à beira mar, não sem antes refletir sobre o papel aparentemente desnecessário da matemática na arte da sedução. Fiquei a imaginar a possibilidade de, num possível aprofundamento do diálogo com ela, citar Miguel de Cervantes e Lutero Rodrigues Bezerra de Melo | 65