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Em Busca do Desejo
Em Busca do Desejo
Cinco horas da manhã. Clara acorda de sobressalto, olha para o lado. Um silêncio profundo cerca o ambiente. Esse sossego contagia seu espírito e ela, distraída, passa a observar seu companheiro, que dorme um sono profundo, após uma noite de intensa atividade sexual. Clara, porém, não conseguiu desfrutar satisfatoriamente aqueles momentos de expressão dos desejos da carne.
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Talvez, a recorrente frustração com a atitude de indiferença do companheiro com seus desejos e projetos seja a principal causa de sua ansiedade e angústia, causando-lhe um profundo sentimento de incompletude. Após alguns minutos de alheamento, tenta raciocinar e construir em sua mente um pensamento que possibilite compreender o atual momento de sua vida amorosa.
Levanta-se precipitadamente da cama, tira a camisola branca e veste o biquíni vermelho. Pega a chave do carro e vai em direção à garagem, sem saber exatamente qual o lugar aonde que ir. Na verdade, não sabe aonde quer chegar. O dia não clareou ainda e as ruas estão desertas. Isso não incomoda Clara, que dirige com pressa e chega rapidamente à orla marítima. Pela janela do carro, observa a tranquilidade e a sedução das águas das praias de Jatiúca e Ponta Verde. É surpreendida por um forte desejo de ali ficar, mas prossegue até a Pajuçara, onde sua intuição feminina a faz pressentir que esse é o lugar onde deve permanecer.
Estaciona o carro e, descalça, caminha até a areia. Durante esse curto percurso, uma pergunta lhe aflige: porque aquela relação que até poucas semanas atrás lhe dava tanto prazer, não a satisfaz mais? Ao erguer a cabeça, olha o horizonte e contempla a imensidão do mar... Ao girar a cabeça e lançar a vista ao longo da paisagem, percebe ao longe, a beira mar, que os pescadores estão lançando suas jangadas ao oceano.
Aquele ritual a fascina e faz com que ela caminhe apressadamente, indo ao encontro daqueles artesãos da pesca e da sobrevivência, motivada pelo desejo de acompanhar de perto as manobras que permitem o deslocamento das jangadas da areia para a água. O tédio e a angústia que sente a faz experimentar uma sensação malfazeja que está feia e desinteressante.
Seu estado de espírito conturbado leva Clara a acreditar que não despertará a atenção dos pescadores. Entretanto, sua angústia interior não impede que seu semblante reflita um ar atraente e sedutor. Seu corpo de mulher de 40 anos, delineado pelo biquíni apertado que gosta de usar e não disfarça suas formas sedutoras, pois sempre compra um número a menor que seu manequim ideal. Àquela hora da madrugada, ao perceberem a presença de uma mulher tão atraente e sedutora, em um ambiente de predominância masculina, imediatamente os pescadores param suas tarefas e passam a observar Clara com surpresa e nuances libidinosas. Essa mescla de emoções transfiguradas naqueles semblantes calejados é desconcertante para Clara, que busca vigor no que há de mais profundo em sua forte personalidade.
Dessa forma, ela percebe que é impossível cruzar com discrição aquele agrupamento de trabalhadores. Por isso, firma os passos e dirige-se decididamente em direção ao grupo, que a acompanha com olhares que revelam fascínio, êxtase e estranhamento.
- Algum de vocês está disposto a me levar para um passeio de jangada?
As palavras de Clara surgem como um canto de sereia nos ouvidos daqueles pescadores. Antecedendo-se aos colegas, o que aparenta ser o mais novo entre eles, um moço de seus 30 anos, com a pele avermelhada por anos de exposição ao sol escaldante e robusto pelo labutar diário com a jangada, as redes e o mar, oferece-se para atender ao desejo de Clara.
- Pois não, Moça!
- Não tenho horas pra voltar. Podemos fazer um acordo. Pagarei seu dia de trabalho! Conjecturou Clara com a intenção de tranquilizar seu possível guia.
- Moça, a senhora me dá um agrado, me dá a quantia que achar que mereço! Respondeu furtivamente o pescador.
Clara concorda com a sugestão de seu interlocutor e demonstra ansiedade para saber em qual jangada será feito o passeio. O pescador, imediatamente, solicita a ajuda de seus companheiros para lançar sua jangada ao mar. Em poucos instantes, Clara já se delicia com o balançar da jangada nas águas calmas e serenas da enseada da Pajuçara, agitada apenas por brandas marolas. A água fria e a brisa fresca do final da madrugada e início da manhã contrastam com o gradativo aquecimento de sua alma, semelhante a um vulcão que, de dentro pra fora, acende e faz explodir as chamas de suas emoções.
Rapidamente a jangada afasta-se da praia e torna-se quase invisível diante da imensidão do Atlântico Sul. Clara percebe que, além de seu guia, não há mais ninguém em seu campo de visão, nem mesmo outro pescador com sua jangada, cena comum àquela hora da madruga. Não demoram a surgir os primeiros raios do sol e logo Clara retira sua proteção de banho (canga) deixando à mostra, mais ainda, sua pele branca e suas coxas torneadas.
Logo retira a parte superior do biquíni e deixa expostos seus rígidos seios, que como dois pingentes reluzentes ofuscam a visão do pescador, que evita fitá-los diretamente, constrangido com aquela ação inesperada. Clara logo o tranquiliza, pedindo para que ele fique a vontade. As palavras de Clara estimula o pescador a nela fixar o olhar, deixando-o bastante excitado. Ao perceber a reação que provocou, Clara sorrir maliciosamente para sua presa indefesa. Ela resolve prosseguir com seu ritual de sedução tirando
também a parte de baixo do biquíni, ficando totalmente exposta ao olhar penetrante de seu admirador ocasional.
Aquele corpo estonteante produz uma volúpia no pescador, que não resiste à cena, larga o remo e vai ao encontro de Clara. Esta aceita plenamente a investida de seu amante casual, entregandose de forma completa e incondicional, tendo uma experiência sinestésica que inunda todo seu corpo e espírito. O pescador busca arrancar do corpo de Clara todo prazer possível, parecendo querer devorá-la. As emoções de Clara flutuam no mesmo ritmo em que a jangada é levada pelas ondas.
Após ver saciado seu instinto sexual, Clara pede para retornar à praia.
A grande quantidade de pessoas que trafegam pela areia a surpreende, pois aquela tranquilidade anterior de final de madrugada cedeu lugar a uma movimentação de transeuntes e vendedores entre mesas e cadeiras. Clara paga uma quantia generosa ao pescador, despede-se e dirige-se para o estacionamento. Liga o carro e sai sem nenhuma pressa.
Sente-se leve e serena. Chega em casa, olha para o relógio que marca dez horas da manhã. Vai diretamente para o quarto e vê que o companheiro ainda dorme. Pega a toalha, toma uma ducha fria e vai deitar-se. Tenta adormecer, mas é tomada por pensamentos conjugados com emoções desconexas. A dúvida a persegue: aquilo que fez é correto? Deve continuar com aquela relação? Em pouco tempo, o corpo exausto a fez adormecer...