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Prefácio
Na literatura, poesia e prosa, bem como na música e no cinema, a fruição do prazer estético está nas entrelinhas, nas lagunas e nas elipses. Quando o leitor/receptor consegue perceber e/ou descobrir o sentido pretendido pelo autor ocorre o comprometimento e a cumplicidade entre ambos, sendo o leitor/receptor literalmente fisgado pelo autor, através da obra artística. Há uma verdadeira estesia (experiência estética) onde a significação, até então oculta, se desnuda.
Quando o leitor/receptor compreende e absorve a essência da obra, ele também captura, em certa medida, a mente e a alma do autor. É como se ele, silenciosa e anonimamente, dissesse ao autor: “Olha só você aí... Estou lhe observando...” Isso é arte em seu mais elevado nível de refinamento. Assim, através dessa obra literária que contem poesias e contos, cuja pretensão não é outra que não nutrir sonhos, desejos e fantasias, espero conseguir aflorar sensibilidades e desafiar os leitores/ receptores a irem ao limite de suas percepções e afetividades, em busca de saciar seus anseios, suas vontades e aspirações, através da ativação do imaginário, deixando-se atingir-se e contagiar-se com os dardos da estética e da arte literária.
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O conto, como gênero literário que tem características próprias e se permite licenciosidades simbólicas, através do uso exagerado de alegóricas, metáforas, metonímias, transnominações, elisões, omissões e supressões, entre outras figuras de linguagem, preservadas as devidas peculiaridades, assemelha-se ao desempenho da charge no que se refere à sua brevidade, concisão e carga de significação, contida em um espaço restrito que busca tencionar e abarcar um tema específico, mas que nem sempre está comprometido com a clareza, embora na maioria das vezes esteja empenhado com a objetividade do assunto proposto, haja vista o compromisso de analisá-lo, exemplificá-lo e ilustrá-lo.
Ou seja, em seu aspecto estético, devido a sua flexibilidade na construção de fatos, personagens, paisagens e cenários, o conto aproxima-se da charge e do cartum no que estes possuem de plasticidade de linguagem para a reprodução e crítica dos fatos, dos costumes, dos comportamentos, da representação de personagens e da apresentação de panoramas do mundo real que foge às regras, nos diversos campos (político, social, econômico, jurídico, cultural, religioso etc.), através da utilização do traço, dos desenhos e das caricaturas.
Já o Soneto, gênero de representação literária que tem na função estética da linguagem sua maior essência, constituindo-se em uma composição literária composta de 14 versos, divididos em duas estrofes com quatro versos (quartetos) e duas estrofes com três versos (tercetos), busca encantar e surpreender poeticamente o leitor. A palavra Soneto provém do italiano “Sonetto” e significa pequeno som, fazendo referência à sonoridade produzida no interior dos versos, a partir do encadeamento das silabas e da concordância de sons das palavras do poema no processo de composição das estrofes, no que se refere ao estilo clássico.
Contemporaneamente, o Soneto rompeu a restrição poética de conteúdo lírico e pode ser usado para qualquer tema, seja ele político, social, científico ou de qualquer outra matriz inspiradora. Em relação à métrica e a rima, outras licenciosidades literárias também são consentidas e toleradas. Tudo em nome da criatividade e da liberdade de produção.
Mas, independente do gênero ou do suporte utilizado para materialização da obra estética, a produção de sentido e o prazer gerado por um produto artístico decorrem da compreensão e do entendimento da forma e do conteúdo da respectiva criação, que deve motivar e ocasionar uma rica experiência estética.
Ou seja, o encanto, o fascínio e o deslumbramento estético permitem usufruir da inspiração artística e poética brotada,