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O estresse, a depressão e a vontade de dormir

O estresse, a depressão e a vontade de dormir

Havia meses que não conseguia relaxar e dormir o “sono dos justos”, aquele sono profundo, relaxante e rejuvenescedor. Uma mistura de insônia, ansiedade e depressão o atormentavam. Era só se preparar para deitar que começava a surgir um turbilhão de pensamentos, emoções e sentimentos negativos, que lhe despertava uma aflição incontrolável e uma angústia sem limite... Uma agonia recheada de amargura, descontentamento e desgosto.

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Seu desejo de dormir seguia frustrado, intercalado por muitas noites em claro que duravam semanas e até meses. O sono só chegava ao amanhecer. O corpo, no limite do cansaço, consumia preciosas doses de energias, que o fazia se render ao próprio esgotamento físico e mental. A insônia fazia-o perder valiosas horas de sono que poderia ser usadas para renovar as energias vitais durante a noite e torná-lo fecundo e criativo durante o dia.

O sono, esperado e desejado, escapava entre sentimentos e emoções desordenadas, que se misturavam e o confundia, acelerando seus pensamentos e produzindo caos em sua imaginação, ocasionando agitação física, desordem mental e conflitos emocionais. Ele sabia que a insuficiência de sono aumentava consideravelmente os riscos de ocorrência de doenças físicas e mentais. Compreendia que esse déficit noturno pudesse provocar acidentes no trânsito e no trabalho, além de diminuir consideravelmente a sua produtividade laboral.

As alterações do humor era outra vertente invadida pela insônia recorrente, que Justino contabilizava no seu dia a dia, como o aumento da agressividade e dificuldades para proceder com ações e gestos simples de generosidade, capazes de manter o convívio saudável e as boas relações sociais.

Mas aquela noite seria diferente. O dia havia sido estafante e, ao deitar-se, sentiu a fadiga aproximar-se da exaustão. Extenuado, jogou-se na cama e logo adormeceu. Dormiu como uma pedra. Tão profundo foi o sono que, quando acordou e tentou se levantar, percebeu que não podia erguer-se, pois seu corpo havia aderido ao colchão. Estava tão grudado e fixado à cama que, imediatamente, tomou consciência que, sem ajuda, não conseguiria sair dali. Vieram, sucessivamente, três equipes de socorro para tentar colocá-lo na maca e levá-lo à casa de saúde. Mas a situação era crítica e Justino não deixava, sequer, que os para-médicos tocassem nele. Doía-lhe tudo. Doía-lhe principalmente a alma, desamparada e abandonada os seus próprios males.

Sendo impossível removê-lo da cama, colocá-lo na maca e transportá-lo em ambulância de casa até o nosocômio, Justino foi levado para a emergência psiquiátrica em um caminhão baú, desses que fazem mudanças, pois a cama em que seu corpo estava colado não caberia na ambulância.

Ao chegar ao hospital, causou espanto aos outros pacientes e seus familiares, pois os mesmos não entendiam porque aquele homem estava sendo transportado daquela forma. Passado o estranhamento, Justino passou a causa inveja nos outros doentes, pois enquanto eles estavam em macas e camas simplórias, e alguns outros deitados sobre colchões colocados no chão, pois não havia leitos ou macas suficientes para todos, aquele homem adentrava o ambiente hospitalar deitado em seu próprio leito, uma soberba cama de casal, dessas em estilo colonial. Alguns chegaram a acreditar que se tratava de alguém muito importante ou um possível amigo de algum funcionário de alto escalão ou até dos diretores da instituição.

O turbilhão de pensamentos e emoções que originavam sua insônia e escondiam os reais motivos da ansiedade, da aflição e da angústia e determinaram o estágio inicial daquela depressão, que

há muito lhe roia e agora chegava ao auge, inteiramente instalada e apresentando os sintomas de forma psicossomática. Sem identificar as reais causas, não conseguia tomar consciência de quais eram os verdadeiros agentes, internos e externos, que interferiam em seu processo de sono e que atuavam no adoecimento da alma.

Sendo os problemas do sono apenas uma das muitas razões para buscar tratamento para a depressão, o doutor tentou explicar-lhe que os distúrbios do sono andam de mãos dadas com o estresse, a ansiedade e o descontentamento com o estilo de vida que se leva, constituindo porta de entrada para a depressão. Pessoas deprimidas comumente se sentem inúteis e culpadas e perdem o interesse pela vida. Existem tratamentos eficazes tanto para a depressão quanto para a insônia.

Disse-lhe o médico que algumas pessoas, primeiro, desenvolvem os problemas do sono e, depois, é que passam a sofrer de depressão. Em outras, a depressão ocorre antes dos sinais de perturbação do sono. Justino ainda não conseguia imaginar qual era o seu caso e quais os fatores que tanto o atormentavam.

O médico esclareceu ainda que compreender o que está se passando com as próprias emoções e sentimentos era uma tarefa relevante para a cura, já que pessoas com depressão têm dificuldade em acalmar a mente e relaxar o corpo na hora de dormir. Por fim, prognosticou o médico: quem tem insônia deve aprender a reconhecer os pensamentos e emoções estressantes mudar o foco mental e passa a dormir melhor do que quem toma remédio para adormecer.

Enfim, após aquela emergência, não tomar remédio era uma alternativa que não cabia mais a Justino, que logo adormeceu sob o efeito de tranquilizantes. De alguma forma, Justino conseguiu a ajuda de que necessitava e hoje está parcialmente curado dos males que o afligiam. Sob o efeito de remédios, dorme o suficiente

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