19 minute read

Encontro inesperado

Next Article
Reencontro Casual

Reencontro Casual

Encontro inesperado

Dezessete horas da última sexta feira do mês de janeiro, numa agência bancária situada na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, Michelle despede-se dos amigos apressadamente dos colegas de trabalho. Tem voo marcado às 22 horas e terá que está no Galeão uma hora antes, onde embarcará para Maceió. É a primeira vez que Michelle sai de férias, apesar desse ser seu segundo emprego. O primeiro, como caixa de uma loja de grife no Rio Sul, não durou nem um ano. Curtir férias foi um luxo que sua família não pode lhe proporcionar.

Advertisement

Antes de seguir para o aeroporto, passa em seu apartamento em Vila Isabel, onde confere a bagagem e dá os últimos retoques na maquiagem, verifica a bolsa e confere a passagem, documento de identidade, cartão de crédito e dinheiro para pagar o traslado até o aeroporto. O interfone toca. É o porteiro avisando que o taxi já está a sua espera.

Já próximo do aeroporto, o celular toca. É o ex-namorado que insiste numa reaproximação. Quer reatar a relação e, para isso, não tem medido esforços. Ele convida Michelle para sair à noite, conversar, descontrair, ir a um barzinho, bater papo... Enfim, fazer alguma coisa juntos. Ela agradece o convite, mas diz ser impossível, pois está prestes a embarcar para o Nordeste, em férias. Ele insiste em prosseguir com o diálogo. Quer sabe das possibilidades de virem a ficar juntos novamente. Ela diz que pensará no caso durante a viagem e promete entrar em contato assim que retornar. Desliga o telefone, olha para o relógio pede para o taxista deixá-la o mais próximo possível do guichê da companhia aérea. O motorista, percebendo que ela está dá sinal de ansiedade, a tranquiliza, dizendo haver tempo suficiente para ela embarcar sem nenhum transtorno.

No balcão da companhia aérea, Michelle despacha a bagagem, pega seu bilhete aéreo e desloca-se apressadamente para a fila de embarque, onde percebe está sendo observada insistentemente por um rapaz que aparenta ser um pouco mais velho que ela. Ela faz de conta que não percebeu, mas de quando em vez, de forma dissimulada, verifica se continua sendo notada ou foi apenas uma impressão.

Anselmo está totalmente atraído pela presença de Michelle. Aquela mulher lhe provocou uma sedução quase instantânea com sua sensualidade dissimulada. O corpo delgado e torneado de Michelle, apesar de frágil, que aparenta, produz um efeito de suave elegância e delicada beleza.

Ainda mais por que sempre gosta de usar um traje simples, mas refinado, composto de uma calça jeans, uma blusa estampada e uma leve sandália. Faz uso de uma discreta maquiagem e seus cabelos, lisos e sedosos, sempre soltos, impõe mais força e expressividade a sua feminilidade.

Esse hibridismo, que mistura beleza e sensualidade, causa um efeito de encantamento nos homens. Percebendo-se em evidência, sua delicadeza não a impede de mover-se com agilidade e desenvoltura. Às vezes, gira a cabeça para o lado e desloca o corpo com tamanha celeridade, que provoca uma forte sensação em quem a observa.

Absorvido em seus devaneios, Anselmo deixa-se arrastar pelos estímulos que a anatomia quase perfeita do corpo de Michelle e a simetria de seu rosto induzem. Em sua imaginação, não se lembra da última vez em que vislumbrou uma mulher tão próxima da perfeição.

Esse estado quase hipnótico de Anselmo é quebrado pela voz feminina, grave e empostada, que vem do sistema de som do ae-

roporto, comunicando que o já foi liberado o embarque dos passageiros do voo 4256. A uma breve agitação no saguão, mas o embarque prossegue no ritmo habitual. A partir dali, Anselmo não perde Michelle de vista nem por um segundo, embora buscasse não ser ostensivo para não intimidá-la.

Já dentro da aeronave, como todos os outros passageiros, Michelle está em busca de localizar seu assento. Bem próximo a ela, Anselmo continua a observá-la de forma sorrateira. Michelle localiza sua poltrona, que fica na ala esquerda do corredor. Por coincidência, a poltrona de Anselmo fica na mesma fileira, só que do lado direito da passagem.

Ao perceber que sua poltrona está localizada bem próxima à Michelle, separada apenas pelo corredor. Sentaram-se e trocaram breves olhares discreto cumprimento. Anselmo logo abre um leve sorriso que mistura contentamento e satisfação pela sorte de ter sentado ao lado da garota. Michelle percebe que aquele simples gesto esconde uma tentativa de aproximação e imagina: “não vou facilitar nada pra esse cara”.

Alguns momentos depois, ouve-se o comandante da aeronave anunciar que a decolagem foi autorizada pela torre de comando do tráfego aéreo. Como os instantes que antecedem a decolagem provocam uma tensão maior nos passageiros, o silêncio toma conta do ambiente. O pouso e a decolagem de uma aeronave enquadram-se nesses momentos em que não possuímos nenhum controle sobre os fatos. Instalou-se um clima de reflexão onde todos os passageiros estão, em diferentes graus, ensimesmados. Michelle tenta se concentrar na leitura da publicação disponibilizada a bordo.

Já a concentração de Anselmo tinha como principal causa os estímulos advindos da presença de Michelle, pois o mesmo estava mentalmente excitado em achar formas de abordagem para con-

cretizar sua aproximação com Michelle. Idealizava quais os assuntos poderia interessar aquela mulher. Quando mais estimulava sai imaginação, mais se encantava por Michelle e se surpreendia com a admiração que aquela garota lhe induzia.

A cada movimento de Michelle, por mínimo que fosse, produzia nele a expectativa de algo majestoso. E pensava: “Cada partícula do corpo dessa mulher possui uma substância química capaz de entorpecer meus neurônios”. Chegou mesmo a pensar que, inadvertidamente, poderia ter consumido alguma coisa estimulante que o estava deixando alucinado.

Logo esse pensamento retraiu-se. O que ele deu por certo é que aquela mulher o atraia obsessivamente. Tratava-se agora de criar oportunidades de aproximação. Teria que ser cuidadoso para não deixar que seu entusiasmo viesse a assustar Michelle. Instantes após a decolagem, a maioria dos passageiros já estavam relaxados. Anselmo dirige a palavra a Michelle:

- Qual a sua cidade de destino?

Ela imediatamente responde: - Maceió!

Ele continua:

- De férias ou a trabalho?

Ao que Michelle prontamente responde:

- De férias! A primeira da minha vida.

Uma mulher bonita, sozinha, que está indo passar as férias na mesma cidade onde ele mora. Anselmo achou que esse conjunto de detalhes preconizava a consolidação de seus desejos. Só res-

tava criar um clima de confiança que despertasse em Michelle a vontade de manter o contato com ele quando estivessem em terra.

Antes de pousar no aeroporto Zumbi dos Palmares, em Maceió, a aeronave faria duas escalas, sendo uma em Salvador e outra em Aracaju. Durante o voo, Anselmo vai criando laços de aproximação, embora esteja cuidado quando às ponderações, opiniões e comentários que emite, buscando não provocar nenhuma situação inconveniente que pudesse constranger Michelle, por mais tola que fosse a provocação. Até aquele momento, nenhuma característica naquela mulher o irrita, o desagrada ou ofende seu ideal de beleza, delicadeza e elegância, apesar de sua singeleza e espontaneidade.

Muitos passageiros dormem. Da cabine, o comandante informa que dentro de instantes a aeronave aterrissará em Maceió. Exatamente ás 2 horas da madrugada. O tempo está firme e a temperatura é amena, em torno de 25 graus. Michelle desperta imediatamente e começa a se acomodar para o desembarque. Anselmo, propositadamente imóvel, retarda em si ajustar na poltrona. Já em solo, Anselmo não se afasta um segundo sequer de Michelle. Na hora de recolher as bagagens, ele a auxilia no que pode. Já no saguão do aeroporto, ele pergunta se ela se importa em dividir o taxi com ele.

Ela diz não haver nenhum problema. Locam um taxi e indica ao condutor que o destino é a orla marítima, mais especificamente a Praia de Ponta Verde, onde se localiza o hotel onde Michelle ficará hospedada. Durante o trajeto, Anselmo se coloca à disposição de Michelle para acompanhá-la durante sua permanência em Maceió. Marcaram para no dia seguinte, sábado, irem à praia e almoçarem juntos. Anselmo despede-se de Michelle, não sem antes dar-lhe um abraço até demorado e carinhoso demais, para duas pessoas que acabaram de se conhecer.

Ao chegar a seu apartamento, Anselmo joga a bagagem para o lado, corre para o chuveiro e toma uma ducha quente. Já relaxado, reclina-se na poltrona da sala e começa a devanear sobre aquela mulher e o encontro que terá com ela no dia seguinte. Adormece embalado por pensamentos otimistas quando a um possível relacionamento amoroso com Michelle.

Anselmo acorda às 8 horas da manhã. Sente-se disposto e um leve entusiasmo ali há duas horas estará reencontrando Michelle. Faz um rápido desjejum, à base de frutas e produtos integrais. Arruma-se e sai. Vai até uma locadora de veículos e aluga um carro. Quer impressionar Michelle. Às 10 horas em ponto está na recepção do hotel. A recepcionista interfona para Michelle e comunica que Anselmo está a sua espera no Saguão do hotel. Michelle diz está descendo. Sentado em uma confortável cadeira de vime, Anselmo procura disfarçar a ansiedade respirando fundo e soltando o ar lentamente pela boca. . Aos poucos, vai deixando o corpo relaxado e as emoções vão se estabilizando.

Quando a porta do elevador se abre, eis que surge uma linda mulher com pernas à mostra, pois usa uma curta saia de crochê. Curiosa, Michelle logo quer saber para onde irão. Anselmo diz que a levará para conhecer a praia do Francês, localizada no litoral Sul, e lá para o meio da tarde almoçarão no pequeno povoado de Massagueira, onde existem vários restaurantes especializados na gastronomia à base de frutos do mar.

Durante a viagem, Anselmo faz algumas paradas ao longo da estrada para mostrar certas paisagens que ele acredita agradar a Michelle. Ela se encanta com as belezas naturais do que integram o complexo lacustre formado pelas lagoas Mundaú e Manguaba e com o encontro dessas lagoas com o oceano Atlântico. Já na praia do francês, Michelle fica seduzida pelo cenário do lugar, principalmente com a vista da barreira de corais há pouca distância da praia.

Assim que se pisam na areia da praia, pede logo para que um dos ambulantes lhe sirva uma deliciosa água de coco, bem gelada. Anselmo propõe uma breve caminhada até um coqueiral que se avista adiante. Caminham preguiçosamente um pouco mais que um quilômetro. Ali, apenas os dois. Em frente, o mar. Ao fundo, o denso coqueiral. Param, estendem a toalha na areia e sentam-se sobre ela. Michelle fala sobre a diferença que é viver a agitação e a correria na selva de pedra de uma metrópole e a sensação de calma e a tranquilidade proporcionada por aquele ambiente paradisíaco, cercado de natureza por todos os lados. Anselmo comenta que, sempre que é possível, vai para algum lugar que permita essa proximidade com a natureza. Nesse momento, trocam olhares e deixam transparecer uma mostra de cumplicidade. Anselmo aproveita-se da oportunidade e faz deslizar sua mão pelos cabelos de Michelle, que sorrir timidamente.

Anselmo a olha com firmeza e sente que existe em seus olhos uma confissão de desejo contido. Estimulado por isso, ele a acaricia, tocando suavemente o rosto de Michelle, cujas sobrancelhas, para ele, se abrem sobre os olhos como as asas de uma águia em pleno voo da liberdade. Michele pega a mão de Anselmo e começa a brincar, entrelaçando seus dedos com os deles. Os dois se beijam e, em seguida, se deitam sobre a toalha. Anselmo desliza uma das mãos pelas coxas de Michele.

Sentindo o clima esquentar além do previsto para aquele momento, Michelle se levanta, tira a proteção de banho e corre para dentro d’água. A água age sobre sua pele de forma refrescante que a desaquece e refrigera seu corpo por fora e alivia sua tensão por dentro. Michelle vira-se e olha em direção a areia e percebe que Anselmo continua lá, sentado sobre a toalha. Ela faz um sinal para que ele vá ao encontro dela, no mar. Imediatamente ele se levanta de forma determinada, retira a camisa e a bermuda, coloca sobre a toalha e anda a passos acelerados em direção a Michelle.

Ela usa um biquíni branco que revela toda a expressividade e delicadeza de seu corpo.

Ao observá-la à distância, durante o breve percurso que o separa de Michelle, Anselmo reflete superficialmente sobre aquele momento e questiona-se se não está sendo precipitado em suas atitudes. Mas seu raciocínio sobre o caso não se completa, pois Michelle se aproxima e joga-lhe água, fazendo-o mergulha antes do que previa, para evitar que ela continue aspergindo aquela água fria sobre ele.

Em silêncio, dão as mãos e logo começam a trocar carícias. Abraçam-se e beijam-se demoradamente. Anselmo acaricia as nádegas e Michelle e a aperta contra seu corpo. A intuição faz com que a comunicação entre seus corpos seja mais forte que qualquer discurso lógico que possa ser construído e externado naquele momento. Esquecem-se do tempo e vão se descobrindo mutuamente. Percebendo a aproximação de outros banhistas, decidem voltar para a areia.

Ao sentirem a fome apertar, decidem antecipar à hora do almoço. Arrumam-se e partem em direção à Massagueira. Em pouco tempo já estão no restaurante às margens da lagoa Manguaba, cujo cardápio oferta diversos pratos típicos à base de frutos do mar, como camarão, ostra, lagosta, siri, caranguejo, sururu, massuni, além de uma grande variedade de espécies de pescados, como a carapeba, o robalo, o atum, a cavala e o dourado. Tudo isso regado à água de coco, sucos de frutas regionais ou bebidas alcoólicas, conforme seja o gosto do cliente.

Escolhem lagosta e camarão. Enquanto esperam a chegada dos pratos, saboreiam um delicioso caldinho de frutos do mar. O momento permite uma conversa mais íntima. Anselmo pergunta a Michelle sobre o atual momento da vida dela. Ela confessa que terminou recentemente um relacionamento e que o ex insiste em

voltar. E que, inclusive, ligou para ela antes dela sair de casa para o aeroporto. Anselmo quer sabe se ela sofreu muito com fim dessa relação amorosa. Michelle confessa que sentiu bastante nas primeiras semanas, mas que depois tudo se ajustou e ela conseguiu reorganizar sua rotina de forma relativamente rápida, pois tem uma técnica infalível para superar os traumas provenientes dos rompimentos das relações amorosas:

- A melhor maneira de curar a dor e o sofrimento provenientes de um relacionamento desfeito é substituir a decepção pela representação antecipada de uma pessoa que, no futuro próximo, iremos conhecer, gostar e se relacionar de forma bem melhor e mais prazerosa que a anterior, pois se cura um amor ferido, não a vontade de amar!

Anselmo sente que pode ser ele essa outra pessoa da qual ela faz referência. E com muita discrição comenta aquela afirmação formulada por Michelle:

- Entretanto, devido à necessidade de esquecer e superar as perdas emocionais deixadas pelo relacionamento que acabou pode-se transferir nossos afetos para outra pessoa que, logo nas primeiras intimidades, descobrimos que não supre nossas expectativas e carências afetivas.

- Mesmo assim, é necessário envolver-se e tentar descobrir no outro suas melhores qualidades e avaliar se não são tão interessantes quando as que projetamos. Para além da aparência das coisas, devemos pelo menos tentar penetrar com profundidade na mente do outro, para romper os laços de ilusão criados por nossa imaginação. Só assim poderemos melhor avaliar as pessoas com quem compartilhamos intimidade.

- Eu concordo!

Exclamou Anselmo, continuando a desenvolver seu com seu raciocínio com desenvoltura:

- Mas quando aflora divergências profundas entre os dois, a incompatibilidade de personalidade e de compreensão do mundo corrói rapidamente a relação e o convívio torna-se desgastante, pois aquelas fantasias e qualidades que projetamos no outro não se confirmam. Logo Michelle replicou:

- Claro que as aparências das coisas e das pessoas aparecem primeiras para a nossa percepção. Não por as pessoas sejam superficiais, insignificantes ou medíocres, mas por que os aspectos externos da natureza das coisas apresentam-se de forma imediata aos sentidos e se revelam espontaneamente.

- Dá pra perceber que você não é daquelas que acredita que as aparências das coisas nos enganam, mas somos nós que nos enganamos com as aparências!

- É isso mesmo! É exatamente assim que percebo a realidade! Acredito até que todos nós temos “mascaras” com as quais nos apresentamos de forma superficial em nosso dia a dia... Penso até que beleza passou a ser um valor essencial e pela qual as pessoas e as coisas passaram a ser julgadas prioritariamente em nossa sociedade!

- Talvez sempre tenha sido assim! Só que agora, com a consolidação da sociedade do consumo, o valor estético tenha adquirido a hegemonia e se transformado em referência básica, onde o parecer passou a ter mais valor que o ser!

Antes que Michelle pudesse ponderar sobre a afirmativa de Anselmo, a conversa foi interrompida pelo garçom, que na bandeja

trazia duas travessas e buscava o melhor espaço para repousá-las sobre a mesa. No transcorrer do almoço, o diálogo que antes se baseava em colocações mais ou menos sérias, transformou-se em trocas de comentários amenos sobre a qualidade da comida servida e os encantos a vista que os circundavam.

Terminado o almoço, pediram um café e saíram do ambiente. No carro, Michelle pede para que Anselmo a deixe no Hotel, pois deseja descansar um pouco e se preparar para a noite. No percurso de volta, param à beira da estrada, próximo a uma vila, para contemplar o arrebol contagiante que o sol poente lhes proporcionava naquela final de tarde tropical. Marcaram para se toparem à noite. Anselmo a apanharia no hotel às 22h.

Anselmo passa o resto da tarde meditando sobre a aventura que está vivendo com Michelle. Reflete sobre as afinidades existentes entre ele e Michelle. Tem plena convicção de que nada nessa mulher lhe desagrada, pelo menos até o momento. Suas ideias, seus gostos, seu comportamento... Sabe que algumas pessoas se identificam e se ajustam uma à outra, de forma imediata, quando suas personalidades são bastante compatíveis.

Fica a devanear como pode haver tanta atração e admiração dele por aquela mulher, se não houve tempo para o estabelecimento de um conhecimento mais profundo entre os dois. Busca atribuir essa carga fascínio à vinculação sexual, mas não se dá por satisfeito.

Busca maior racionalidade para compreender o que com ele se passa naquele instante. Considera que ele e Michelle ainda são dois estranhos, pois nem poderia afirmar que desfrutam de algum laço consistente de amizade. Entendia que, assim como entrou, a qualquer momento Michelle poderia desaparecer de sua vida. Poderia ser apenas uma questão de tempo. Um pequeno lapso de tempo... Ou um pequeno deslize que cometesse, quem sabe?

À hora marcada, Anselmo pega Michelle e decidem ir até um local onde tenha música e dance. Bebem e conversam. Ela está encantadora. Usa um vestido preto bem justo, que deixa transparecer todas as curvas de seu corpo. Michelle levanta-se e vai ao toalete. Enquanto caminha elegantemente, aproveita para executar algumas manobras corporais. Exibe-se de forma provocante com o intento de desperta ainda mais o interesse e a libido de Anselmo, que se surpreende mais uma vez, ao se vê admirando aquele corpo voluptuoso. Quando ela volta, convida-o para dançar. Durante a dança, excitado pelo corpo sedutor de Michelle e estimulado pela cafeína e alcalóide da bebida que ingeriu, Anselmo aperta o corpo de Michelle contra o seu, sente sua respiração ofegante e a sensibilidade erótica que ela possui.

Naquele momento, percebe que ela quer ir até ao limite do prazer. Depois de algum tempo, deixam a boate e ele a pergunta se ela deseja ir para um lugar em que possam relaxar e ficarem juntos aquela noite. Michelle não impõe nenhuma resistência e discretamente faz um gesto de aceitação. No motel, Michelle deixa aflorar toda a sua sensibilidade e impulso sexual. Diante de tanta doçura e meiguice, Anselmo sente-se extasiado diante daquela esplendorosa mulher. Ele acaricia todas as partes do corpo de Michelle.

Ao penetrá-la, Anselmo impõe um ritmo e uma sequência nos movimentos que ativam os centros vitais de sua amante. A agitação que isso provoca na mente de Michelle faz com ela perca a noção de tempo e espaço. Ela própria se surpreende com a quantidade de energia contida e desprendida de seu corpo, que se expande orgasticamente. Aquela noite passa a ter um significado especial para os dois e requer uma ponderação sobre os desejos, as emoções e os motivos que os aproximam.

Ao longo da manhã, mais uma vez, Anselmo deixa Michelle no hotel e vai para seu apê. Precisava concatenar seus pensamentos e ordenar suas emoções. Agora ele realmente acreditava que

Michelle passou a fazer parte de sua vida. O surgimento daquela mulher em sua vida acelerou seus devaneios e fantasias sobre o futuro que, até a pouco, para ele fazia-se nebuloso.

Como em todo início de relacionamento, Anselmo se angustiava com as dúvidas que, aqui e acolá, surgiam em sua mente sobre o grau de reciprocidade que seus sentimentos e afetos interessavam à Michelle. O diálogo entre os dois sempre se transformava em uma oportunidade para Anselmo buscar mais informações e conhecimento sobre a personalidade e os sentimentos de Michelle.

Naqueles dias de êxtase, sempre que possível Anselmo tentava expressar com mais clareza seus sentimentos para Michelle. Na maioria das vezes, isso despertava nela apenas uma leve sensação de que estava sendo admirada, nunca um deslumbramento. Isso ocasionava nele certa frustração e trazia-lhe uma dose de angústia, pois acreditava que não a empolgara tanto quanto ele desejaria. Mas, apesar dessas inconveniências e contingências aleatórias do amor, nada se comparava ao prazer de haver a encontrado e ao desejo de tê-la em seus braços.

Para Anselmo, ficava cada vez mais óbvio que não queria ficar com Michelle apenas por alguns dias de curtição. Queria muito mais! Queria permanecer com ela e construir uma relação profunda, exclusiva e duradoura. Já Michelle, sabendo que o amor é resultado da sintonia das características profundas entre dois seres, aonde os elementos subjetivos vão cristalizados com o passar do tempo e que se integram ao psiquismo, causando ressonância e repercutindo na imaginação, nas emoções e nos procedimentos, não queria criar excessivas expectativas quanto àquela ebulição emocional que está sentido, pois poderia ser apenas expressão de seu desejo de prazer e liberdade.

Após seus quinze dias de férias em Maceió, Michelle despede-se de Anselmo e vai para Salvador, como já estava planejado e agen-

dado anteriormente, com deslocamento aéreo e hotel já contratados. Anselmo tem a nítida esperança que em breve irá reencontrar-se com Michelle. Na hora da despedida, ela pensa consigo: “Deixa ao destino cumprir seus desígnios. Se o reencontro não ocorrer é porque essa relação não possui a devida profundidade e, portanto, foi apenas um êxtase do instinto...”.

Anselmo, impossibilitado ausentar-se da cidade devido aos seus compromissos e afazeres profissionais, resigna-se do desejo de acompanhar Michelle, que ao chegar a Salvador o liga diariamente nos primeiros dias de sua chegada à cidade. No final das férias, depois de se divertir bastante, Michelle retorna ao Rio, aonde retoma suas atividades funcionais. O ex-namorado tenta a reaproximação. Ela resiste. Anselmo lhe envia várias mensagens com declarações que buscam expressar a profundidade de seus sentimentos. Michelle, após um breve período de silêncio, diz que está com saudade e quer vê-lo!

This article is from: