Memorial da Criação de No Fio da Vida Rejane Arruda
I. Até encontrar um caminho
A dificuldade que eu tive em trabalhar com os alunos da Escola Oral e Auditiva que frequentam o CAS Vitória foi em grande parte decorrente de não ter o domínio da Lingua Brasileira de Sinais: comunicação com limites estreitos, que depende de outro para mediar. Contei com a intérprete de Libras e estudiosa da cultura surda Iasmyn Santos, e com Denilson Moreira, intérprete que trabalha no CAS. A oficina durou dois meses no primeiro semestre (maio e junho) e um mês e meio no segundo semestre (agosto e metade de setembro). Havia a sensação de que nada se fixaria devido a instabilidade das presenças. Tínhamos doze participantes, quatro de fato assíduos. No ultimo dia de oficina chegaram vários participantes novos, vindos do horário da tarde, por estarmos na 11ª Semana do Surdo. A oposição entre o princípio da construção de uma poética corporal hibridizada, com o hábito da utilização de classificadores. Explico. A hipótese de pesquisa sobre a construção de poética corporal para a cena teatral é: a plasticidade corporal deve extrapolar a ilustração e tampouco se reduzir a representação de ações, persoangens ou qualquer referente discursivo. A poética é justamente o que não cabe na represnetação. Os operadores desta construção são: a abstração e os encontros ao acaso (produção a partir da aleatoreidade). De uma “massinha” de corpo (abstrata) se encontra a ação dramática em jogo – em jogo com a forma. E aí sim se constrói um discurso (que é evocado e a forma extrapola, apontando para um não dito). Ou seja, não se tem uma relação entre discurso e forma dada de antemão e o discurso aparece como efeito da cena (do encademento e montagem de formas corporais). “Nos classificadores, mãos e corpo são usados como articuladores para indicar o nome do referente ou o agente da ação” (BERNARDINO, 2012, p. 253). Contextualizando, a sensação que eu tinha era que, em um processo de construção da poética da cena, os classificadores se comportavam como imitações, formas corporais prédeterminadas. O ator por exemplo, coloca a lingua para fora e posiciona as mãos como se fossem patinhas, para classificar um cachorro (ao invés de sinalizar “cachorro”). Na cena teatral, estes classificadores constituem uma estética baseada em ações físicas descritivas de 92