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Quando Acordar a Cidade

“Quando Acordar a Cidade”

Rejane Arruda

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Abertura

Um rastro de folhas secas atravessa o procênio de ponta a ponta. Um detalhe das folhas é flmado e projetado em uma tela situada ao lado esquerdo, em amplitude exagerada é possível perceber os seus veios e o degradê das cores. A camera filma ao vivo, apoiada no chão no canto direito. As folhas estão banhadas por um corredor de luz posicionado à direita junto à camera. Este rastro de luz ficará ligado durante todo o espetáculo.

Nove cadeiras enfileiradas no fundo do palco, lado a lado. Atrás delas, doze caixotes de feira posicionados dois a dois, formam uma espécie de balcão. Cordas no chão, protegidas com fita grossa, desenham os caminhos que os atores irão percorrer. Entra em off voz suave à capela cantando “Alecrim”. Canção Suave (em off): Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado.... Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... Foi meu amor, eu me disse assim que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim que a flor do campo é o alecrim...

A voz dá lugar a um instrumento de sopro com melodia triste. Entra corredor largo de luz. Andarilhos começam a entrar pela esquerda. Carregados de malas, sacos, objetos, lanternas, bacias, baldes, flores, travesseiros, cordas, bonecas, atravessam o palco. Uma das assistentes-videntes entra, senta-se no canto direito e pega a câmera nas mãos. Aponta para os rostos que são projetados na tela. Um deles tem um microfone nas mãos.

Líder: Quando “aquilo” apareceu na cidade... Andarilhos: ... Líder: Teve gente que levou um susto! Andarilhos: ... Líder: Teve gente que caiu na risada. Andarilhos: ... Líder: Teve gente que tremeu de medo. Andarilhos: ... Líder: E gente que achou uma delícia. Andarilhos: ... Líder: E gente arrancando os cabelos. Andarilhos: ... Líder: E gente soltando rojões. Andarilhos: ... Líder: E gente mordendo a língua, perdendo o sono, gritando viva. Andarilhos: Vivaaaa!!!! Líder: Roendo as unhas, batendo palma, fugindo apavorada e ainda gente ficando muito, muito, muito feliz.

Os andarilhos cantam “Alecrim” em uníssono em parar de caminhar. Andarilhos: (Canção) Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... Foi meu amor, eu me disse assim que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim que a flor do campo é o alecrim...

Ao chegar à extrema direita, eles se viram e seguem contornando as cadeiras enfileiradas, sentam-se lado a lado. Entra luz frontal de chão. A camera segue pelos rostos e corrige para os seus objetos, os detalhes projetados. Eles cantam mais uma vez.

Andarilhos: (Canção) Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... Foi meu amor, eu me disse assim que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim que a flor do campo é o alecrim...

Sem parar de cantar, se levantam e avançam para a frente, aproximando-se do centro do palco. Camera neste momento volta a enquadrar as folhas secas.

Andarilhos: (Canção) Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... Foi meu amor, eu me disse assim que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim que a flor do campo é o alecrim...

Concentrados no centro do palco, de punhos erguidos, bravam, juntos. Abre foco central.

Andarilhos: QUERO ACORDAR A CIDADE! QUERO ACORDAR AS CIDADES QUE DORMEM NOS HOMENS! (As mãos espalmadas sobem em direção ao céu) E DEPOIS ACENDÊAS TODAS! (Mãos cobrem o rosto) COM LUZES E SOMBRAS (Mãos cobrem os lábios) RISOS (Caem na gargalhada e logo depois tapam os ouvidos) RUÍDOS (Reproduzem um ruído compriiiiiiiiiidoooooo) E SUSSURROS.

Com as mãos próximas ao rosto, mexem os dedinhos, sussurrando ruídos estranhos. Vão aproximando, ficando bem colados, como se fossem um só corpo. Balançam para frente e para trás, ninando a si mesmos, até surgir novamente a voz.

Andarilhos: CHEIROS E CALORES, VENTOS E DORES....

A mão no peito como se recebessem uma estaca no coração, a boca aberta em um susto.... E com os braços abertos em um grande “V”. Andarilhos: ALEGRIAS. (Braços cruzados em frente ao peito) E PAIXÕES ...

Novamente o dedo em riste, o punho fechado com o braço para cima.

Andarilhos: E QUE TUDO DURE UM MINUTO. QUE SEJA UMA CENTENHA, UM BRILHO, UM TOQUE, UM AVISO, UMA LEMBRANÇA!!!

Os sinos tocam. Entra contra-luz azul de chão. Posicionada atrás dos caixote, a luz vaza por entre as frestas.

Ato I

Enquanto os sinos tocam o contra-luz desenha a silhueta das pessoas que se movimentam no palco. As assistentes videntes passam por cada um, colocam uma mão sobre o seu ombro e os levam até seus novos lugares: na direita à frente, Fadine e Telma; no centro à frente, Ana Maria; na esquerda Janaína e Zé; atrás à esquerda, Fran e Salvinete; atrás à direita, Fernanda e Jarlison. Os cinco pinos de luz se abrem ao mesmo tempo. Cada andarilho está com um objeto nas mãos. Música instrumental suave. Fadine toma a palavra. Camera ajusta para o objeto que ele tem nas mãos: um toca-discos antigo.

Fadine: Meu nome é Antonio Fadine. Eu trago aqui em minhas mãos este aparelho da marca Sonata... Esse aparelho é dos anos sessenta, foi fabricado em 1969. Foi onde eu curti minha adolescencia, muitas baladas eu fiz através dele. Aonde eu vivi a minha vida. Eu era feliz e não sabia. Hoje quando vendo os CDs pendrive e cartão de memória, eu não uso mais. E hoje quem conhece, sabe do que eu estou falando.

Camera ajusta para Telma, que segura um cubarítimo. Fadine se vira e vai até a cadeira no fundo da cena, senta-se.

Telma: Meu nome é Telma. Eu.. eu tenho aqui em minhas mãos esse cubarítimo. Esse cubarítimo é que me levou a conhecer a matemática no sistema Braille. Esse cubarítimo, ele tem aqui uns cubinhos. Então esses cubinhos tem toda a numeração que eu preciso: o 2, o A, o 1 e assim pra diante. Eu aprendo a matemática através deste cubarítimo. Ele é de mil novecentos e alguma coisa, sei lá, 70, 80, eu não sei quanto tempo. Mas eu aprendi a matemática nele.

A camera ajusta para Janaína, o rosto aparece na tela. Segura uma boneca e um vestidinho de criança pequena. Telma se vira e caminha até encontrar a cadeira.

Janaína: Eu sou Janaína. E o que eu tenho aqui em minhas mãos são dois objetos. O primeiro que vocês tão vendo é um vestido... Esse vestido inacreditavelmente fui eu que usei. Nunca deixei ninguém jogar fora porque é uma recordação muito boa. E essa boneca, foi me dada de presente por uma pessoa muito especial e... essa boneca me acompanha em momentos que eu achei que não fosse superar. E é isso.

A camera ajusta para Ana Maria, o rosto aparece na tela. Ela segura um cobertor. Janaína se vira e caminha até encontrar a cadeira.

Ana Maria: Meu nome é Ana Maria. Eu venho de uma família muito humilde, com três irmãos. Morávamos em uma casa de chão batido e dormíamos as vezes quatro, cinco, na mesma esteira, com o mesmo cobertor. Nas madrugadas frias um puxava a coberta pra lá, outro puxava de cá. Aí então em uma madrugada o meu pai levandou e viu que eu estava

chorando de frio e o meu irmão gemendo no outro lado. Então ele veio, levou a gente pra perto do fogão e falou assim Hoje eu vou na cidade eu vou comprar três cobertores. E ele comprou. E ele trouxe. Ele falou assim Esse é seu, esse é só seu. Então assim quando eu arrumei minhas coisas a primeira vez pra ir embora, foi o primeiro objeto que eu coloquei na mala. E sempre, para onde eu fui, ele estava comigo. Com uma lembrança do que eu sempre tive: carinho, proteção e o cuidado do meu pai.

A camera ajusta para Fernanda, o rosto aparece na tela. Ela segura um urso. Ana Maria se vira e caminha até encontrar a cadeira.

Fernanda: Meu nome é Fernanda e esse urso que eu trouxe aqui, me recorda a minha infância. Onde eu ia pra casa dos meus padrinhos e cresci convivendo com eles. E esse urso foi um dos objetos que ficou da mudança que eles fizeram para o apartamento, a uns dez anos atrás. E eu acabei ganhando de presente e eu guardo até hoje como uma boa recordação, da minha infância e adolescencia e da minha convivência com eles. É um objeto especial.

A camera ajusta para Jarlison, o rosto aparece na tela. Ele segura um pandeiro.

Jarlison: Meu nome é Jarlison. Este pandeiro eu guardei de lembrança de um senhor lá de Colatina. Eu fui pruma festa e lá ele me deu e eu guardo de lembramça.

A camera ajusta para Francielly, o rosto aparece na tela. Ela segura uma coleira de cachorro. Fernanda e Jarlison se viram e caminham até encontrarem suas cadeiras.

Francielly: Meu nome é Francielly e esta aqui é a coleira do cachorro. Quando eu era pequena ninguém conseguia identificava minha voz, niinguém conseguia me ouvir. E só ele escutava quando eu chorava, alguma coisa.

A camera ajusta para Salvinete, o rosto aparece na tela. Ela segura um vidro com um pequenino osso dentro. Francielly se vira e caminha até encontrar a cadeira.

Salvinete: Meu nome é Salvinete. Eu tenho em minhas mãos uma lembrança muito triste. Ainda menina eu escrotava muito sangue pelo nariz, até o médico descobrir que eu tinha vários tumores na minha cabeça. E esse tumor era um cancer. E esse cancer causou o motivo da minha cegueira. Hoje eu não enxergo normal. Tenho 1,0 de uma visão só. Mas graças a deus através da oração de meu pai, Jesus me curoue e nunca mais de cancer na minha cabeça. Trinta e nove anos curada. Mas fiquei paraplégica visual.

Entra voz do Repórter Esso. Ao mesmo tempo, apaga a luz de Salvinete. Ela se vira e caminha até encontrar a sua cadeira.

Ato II

Durante a fala do Repórter Esso, sobre contra-luz vermelha posicionada no chão atrás dos caixotes. Os raios de luz escapam pelas frestas. Silhueta das pessoas se movimentando. Os atores se levantam e colocam óculos escuros. Uma das assistentes-videntes reposiciona as

cadeiras nas laterais. Janaína, Telma e Fernanda vão para trás do balcão e se posicionam cada uma diante de um microfone. Jarlison, Fadine e Salvinete sentam-se nas cadeiras à direita; Zé, Fran e Ana Maria nas cadeiras à esquerda.

Repórter Esso: (Voz off) 1941: os japoneses atacam a base norteamericana de Terrabo... 1944: os aliados abrem a segunda frente e desembarcam nas praias da normandia.... 1946: o Brasil entra em nova fase política com a promulgação da Constituição de 18 de setembro. 1948: o Partido Comunista Brasileiro é colocado fora da lei. O Brasil rompe relações com a União Soviética. 1950: os comunistas atravessam o Paralelo 38, começa a guerra da Coreia. 1951: eleito Getulio Vargas volta ao governo. 1953: É criada a Petrobrás. 1954: Suicídio de Getúlio Vargas. 1955: descoberta a vacina anti-Poliomelite. Deposição de Carlos Luz. 1956: a União Soviética esmaga pela força a revolução anti-comunista na Hungria. 1957: explode a primeira bomba de hidrogêneo. 1958: os russos lançam no espaço o Sputnik 2. 1959: Fidel Castro vence a Revolução Cubana. 1961: renuncia Jânio Quadros. 1962: o presidente Kenedy determina o bloqueio aereo-naval de Cuba. 1963: assassinado em Dallas o presidente John Fitzgerald Kennedy. 1964: revolução brasileira nas ruas, deposto o Sr. João Goulart. 1965: os americanos promovem o primeiro encontro no espaço sideral. 1966: Mau Tse Tung lança a Revolução Cultural na China Vermelha.

Abrem três pinos de luz bem desenhados em Janaína, Telma e Fernanda. Camera sobe para o rosto de Janaína.

Repórter Esso: (Voz off) (...) 1968: Estados Unidos em foco. Assassinados J King e Robert Kenedy. Os americanos fazem a primeira viagem em torno da lua.

Janaína e Fernanda cantam a capela.

Janaína e Fernanda: Bandeira branca, amor / Não posso mais / Pela saudade / Que me invade / Eu peço paz / Saudade mal de amor, de amor / Saudade dor que dói demais / Vem meu amor / Bandeira branca / Eu peço paz / Saudade mal de amor, de amor / Saudade dor que dói demais / Vem meu amor / Bandeira branca / Eu peço paz // Brasil / Meu Brasil brasileiro / Meu mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos / O Brasil, samba que dá / Bamboleio que faz gingar / O Brasil do meu amor / Terra de Nosso Senhor / Brasil pra mim / Pra mim, pra mim.

Entra comercial do patrocinador. Câmera passa para o rosto de Fernanda.

Fernanda: Olá queridos ouvintes!! Estamos aqui.... Janaína: Você tá de casa nova? Tô sabendo! Fernanda: Pode ser velha também! Janaína: Que tal algumas dicas, pra você melhorar as coisas aí na sua casa, seu velho tá reclamando? Fernanda: Ôpa, não deixa ele reclamar por muito tempo!

Seguem com a propaganda improvisada sobre o óculos para dona de casa deficiente visual. Telma anuncia a radio novela “A Herança”.

Telma: Queridos ouvintes, sejam bem vindos a Radio Alecrim. E agora com vocês a novela “A Esperança” Janaína e Fernanda (corrigem): A Herança!!

Câmera desce para as mãos de Fernanda. Enquanto Janaína representa, ela manipula os objetos perto. Começa com um molho de chaves... pertinho do microfone.

Janaína: Ai meu deus! O que é que eu vou fazer?

Em seguida o barulho dos passos, manipulando os sapatos...

Janaína: horas de trabalho! Masante! Massacrante!

Fernanda pega a bolsa, mexe dentro. Tira um pote de moedas.

Janaína: E olha o que eu tenho!

As moedas chacoalham no pote fazendo barulho perto do microfone.

Janaína: Menos que um salário mínimo?!

Fernanda tira um bloquinho de papel, que aproxima do microfone... e em seguida folheia.

Janaína: Deixa eu ver essas contas... 100, 200, o aluguel, escola do meu bebê, creche, ah! O quê que sobra pra comida meu Deus do céu!!... Não! Eu preciso de outro emprego mas que horas eu vou fazer isso, Mônica, pensa!

Fernanda tira uma caixa. Abre a tampa e enfia a mão dentro, revirando os objetos.

Janaína: Deixa eu ver meus guardados aqui... Nada... Também esse idiota SÓ me engravidou e foi embora!! Senhor Deus!! Manda um milagre eu preciso de dinheiro!!!

Fernanda bate no microfone, fazendo “toc toc toc”. Janaína: Ai vizinha fofoqueira ou pedindo dinheiro!

Fenanda rapidamente coloca um chapéu e assume um personagem.

Fernanda: Good morning!!!

Camera ajusta para o rosto de Fernanda. As duas seguem, Fernanda diz que Janaína ganhou uma herança, com casa, empresa, dinheiro... Mostra o papel para comprovar... Mas vai precisar cuidar de uma prima adolescente até que complete dezoito anos... e tem uma reunião agendada amanhã em Nova York. Janaína reage a cada informação anunciada, lê o

documento e se dispõe a viajar. Ana Maria entra na rádio e se posiciona ao lado de Telma. Entra trilha sonora.

Telma: E agora com vocês, “Credo, que sabor!” Câmera passa para Ana Maria.

Ana Maria: É de um ouvinte lá do interior... Aproventando o inverno.... Uma receitinha de um bolo de fubá cremoso! Janaína e Fernanda: Hummmmm Ana Maria: Três ovos! Janaína: Três ovos! Ana Maria: Uma colher de fermento em pó! Cinquenta gramas de queijo parmesão ralado... Janaína e Fernanda: Ôpa! Ana Maria: Uma xícara de açucar Janaína: Cuidado pra não exagerar Ana Maria: Uma xícara de leite Janaína: Uma xícara de leite, não vai derramar hein? Ana Maria: Todos os ingredientes no liquidificador.... Janaína e Fernanda: (Som de liquidificador) Vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.... Ana Maria: Depois de tudo batido, acrescente o queijo parmesão, o fermento em pó... Janaína e Fernanda: Tá ficando bom! Ana Maria: Coloque em uma forma untada e leve ao forno em 140º. Fernanda: Por quanto tempo? Ana Maria: Por 40 minutos! E aí pra você saber se ele já está assado, você coloca o palitinho ou o gafo, se sair limpo, ok, está pronto, é só cortar e degustar!! Janaína e Fernanda: Êta hora boa, hummmmm, credo, que sabor!!

Entra trilha da próxima cena, música animada. Ana Maria e Zé assumem os microfones. Câmera vai para Zé. Telma chama a radio-novela “A Morte” Telma: E agora com vocês a radio-novela “A Morte”! Zé: (Imitando chamada de celular) Tuuuuummmmmm

Zé e Ana Maria improvisam o primeiro telefonema: a filha quer falar com a mãe que está ocupada trabalhando. Até que a empresária, irritada, desliga.

Zé: Tum... (De novo) Tuuuuuuuuuuuum.

Zé a Ana Maria improvisam o segundo telefonema onde a mãe quer falar com a empresária em um momento péssimo. Irritando-se, ela desliga o telefone.

Zé: Tum. (Assumindo a Morte, gargalha) Ahhahahahahahah!!!!!!

Entra trilha sonora com citação de filme de suspense.

Ana Maria: Quem é você?! Zé: Eu sou a morte, vim te levaaaaar!! Ana Maria: Mas o que é isso, deve ser engano, eu sou uma pessoa saldável, não vê que estou trabalhando? Zé: Consta aqui nos meus arquivos que você tem...

Zé puxa uma lista. Volta a trilha com música animada.

Zé: Câncer. Gastrite. Desistenria. Poleomelite. Raiva. Febre Amarela. Hepatite. Dengue. Sarampo. Catapora. Rubeola. AIDS. Pneomonia. E vai ter um infarto no miocárdio agoooraaa!!! Ana Maria: Puxa Dona Morte, não dá pra esperar mais um tempo não? Zé: Não, vou te levar praquele lugar onde a filha chora e a mãe não ouve. Ana Maria: Eu sei que com a morte ninguem pode, mas eu preciso de tempo para passear com a família, levar minha mãezinha no piquenique e viajar com a minha filha, que tal 30 anos? Zé: Não. Ana Maria: Vinte. Zé: Não Ana Maria: Dez Zé: Não Ana Maria: Cinco Zé: Cinco.... dias!

Janaína anuncia “cenas do próximo capítulo”. Telma chama o quadro “O que é o que é”. Jarlison, Fadine e Janaína assumem os microfones. Câmera vai para Fadine. Zé e Ana Maria saem.

Telma: Ficamos agora com o quadro “O Que é o Que é”!! Janaína: O que é, o que é?, tem cintura fina e perna alongada e leva bofetada? (...) O pernilongo! Fadine: O que é, o que é?, é feito pra andar e não sai do lugar? (...) É a rua! Jarlison: O que é, o que é?, quanto mais rugas tem mais novo é? (...) O pneu!! Janaína: O que que uma impressora disse pra outra? (...) Essa folha é sua ou é impressão minha? Fadine: O que , o que é?, dá muitas voltas e não sai do lugar.... (...) É o relógio!! Jarlison: O que é, o que é?, todo mês tem menos “abril”?... É a letra O!! Janaína: O que é, o que é?, todas as mães tem... sem ele não tem pão,... some no inverno e aparece no verão?... É o “tio”!! Fadine: O que é o que é?, tem cabeça e tem dente, não é bicho nem é gente?... O alho!!! Jarlison: O que é que o cavalo foi fazer no orelhão? ... Passar um trote!!! Janaína: 4 pés em cima de 4 pés esperando 4 pés chegarem... O que é?.... O gato em cima da mesa esperando o rato!!! Fadine: O que é, o que é?, não se come, mas é bom pra se comer?... É o talher!! Jarlison: O que é, o que é?, nasce a soco e morre a facadas?... O pão!!!

Janaína: São tres irmãos... o mais veho já se foi, o do meio está conosco e o caçula não nasceu... O que é?... Passado, presente e futuro!!! Fadine: O que é o que é que tem bem no meio do ovo? ... A letra “V” !!! Jarlison: O que é o que é que anda ccom os pés na cabeça?... É o piolho!! Janaína: Depois de tanta inteligência... vamos saber como é que tá o tempo lá fora? Telma: E agora com vocês o momento “O Homem do Tempo!” Fernanda, Jarlison e Janaína fazem barulhos de trovoada e tempestade. Sai trilha. Camera em Jarlison. Enquanto ele fala Fernanda e Janaína mantém os barulhos de trovões e vento.

Jarlison: Boa noite queridos ouvinte da Radio Alecrim, hoje o tempo está com trovoadas! Nossa senhora! Vai haver a possibilidade de chuvas hoje! A máxima de vinte graus e a mínima de dezesseis. Nossa, meu deus! Deus do céu vou pegar meu guarda-chuva! Uhh. Janaína: Pegue seu guarda-chuva, pegue a blusa de frio e não deixe de acompanhar a Radio Alecrim...

Entra trilha.

Janína: Agora, vamos nos cuidar um pouquinho? Telma: Com vocês, Beleza e Saúde!

Câmera vai para Fernanda.

Fernanda: Olá, boa noite, queridos ouvintes! Janaína: Boa noite queridas ouvintes! Fernanda: Querem ter mais dicas de beleza? Esse é o nosso programa! Janaína: Vamos começar com uma dica de cabelo, gente, eu tenho um problema com esse cabelo, o que é que você usa, conta pra gente. Fernanda: Ai, obrigada! Tem uma receitinha super simples. Janaína: Conta. Fernanda: Uma xícara de água, uma xícara de maisena, coloque no fogo ao ponto de mingau, depois adicione ao creme lama negra... de sua preferência, deixe no cabelo por vinte minutos, enxague e o seu cabelo estará livre do volume do freeeese, que coisa maravilhosa! Janaína: Eu vou usar menina! Brigado! Fernanda: Ah, usa sim! Mas, eu quero saber uma coisa menina!.. Janaína: Conta! Fernanda: E pra essa pele linda de pêssego, o que é que você faz?.. Porque, olha... eu to precisando, sabe, minha pele não anda nada bem... Janaína: Também é uma receitinha muito fácil. Fernanda: Ah, me conta. Janaína: Então. Coloca um colher de chã de fermento no ovo, mistura bastante, depois passa delicdamente no rosto e pronto. Fernanda: Só isso!? Não acredito que é tão fácil e eu não sabia! Janaína: Então vamos continuar nossa programação, despois destas dicas, o momento mais emocionante da Radio Alecrim. Telma: Com vocês agora, com muita atenção e carinho, Momento de Fé!

Entra trilha instrumental de Ave Maria. Camera vai para Ana Maria.

Ana Maria: Boa noite queridos ouvintes vamos abrir a programação do Momento de Fé, com um assunto muito especial, aqui na Palavra de Deus. Vamos ver que Deus tem um desejo. 1º Timóteo 2:4 nos mostra que o desejo de Deus é que todos os homens sejam salvos e que cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Caros ouvintes, como vocês vêem, não basta apenas ser salvo. Não podemos parar apenas no primeiro estagio da salvação. Precisamos chegar ao pleno conhecimento de Cristo, na unidade da fé, a estatutra do varão, a estatura da varolinidade do filho de Deus, de acordo com Efésios 4 versículo 1. Fiquem com Deus. Graça e Paz.

Câmera vai para Janaína. Ela canta Ave Maria. Durante a canção, Fernanda desce para plateia acompanhada de Zé. Acende canhão que acompanha Fernanda

Janaína: (Canção) Ave Maria / Mãe abençoada, virgem imaculada / És santa semente do amor! // Maria, mãe de Deus / És cheia de graça! / Santo é o fruto do teu ventre Jesus! // Ave Maria, Ave Maria, Maria / Que concebeu amor / Em Cristo nosso Senhor // Madre generosa / Rogai por nós / Os pecadores, Mãe querida! Amém.

Acende luz de plateia. Camera vai para Fernanda. Cai a luz da Radio.

Fernanda: Olá boa noite a todos! Agora eu vou mostrar pra vocês como um deficiente visual usa as redes sociais. Eu vou descobrir os segredos da plateia!!

Fernanda brinca de escolher uma pessoa; pergunta nome, facebbok e bisbilhota no celular, animadamente; conversa. Enquanto isso, na penumbra, as assistentes videntes reposicionam os atores. Telma é posicionada, no foco esquerdo-frontal. Junto dela, bacia com água, outra com folhas secas e um secador de cabelo Fadine na ponta direita-frente, com bacia e balde perto dele: água, folhas secas e espuma; uma panela perto dele. Salvinete no foco central de trás. Ela usa óculos escuros, com cabelos soltos, elegante, com uma mão segura a bengala e com a outra esconde uma panela atrás do corpo. Jarlison no foco central da frente com um caminhãozinho de brinquedo, sentado no chão. Ele desloca o caminhãozinho pra lá e pra cá fazendo um barulho.

Ato III

Começa música instrumental. Camera vai para o caminhãozinho de Jarlison. Abre os focos de Fadine, Jarlison e Salvinete. Fadine mexe nas folhas secas. Salvinete estática, a mão para trás escondendo a panela.

Fadine: Eu vivia num lugar simplesinho. No interior... E.. eu... gostava muito... de... bater papo com os meninos. Eu tinha muitos amiguinhos.... Eu tinha um amiguinho que era especial pra caramba eu gostava muito dele.

Jarlison levanta o dedo e fala bem alto.

Jarlison: Eu!! Fadine: Esse amiguinho.... ele tinha dez anos... Jarlison: Eu tinha dez anos.... Fadine: Ele gostava de ser... Ele achava que com dez anos era homem né?.... Mas só que ele, era mentiroso, falandriz.... E ele falava “Ó, vocês não me chamam de Roberto não, vocês me chamam de Men”. Jarlison: Eu sou o M-E-N!! Fadine: “Se não me chamar de MEN eu brigo, tem que me chamar de MEN”... Jarlison: Eu sou o M-E-N!! Fadine: Aí um belo dia ele subiu em um pé de manga, e sofreu um acidente... caiu... e... Eu fiquei muito triste, mas depois de um tempo fui me recuperando e fiz amizade com outros meninos... Um certo dia, a minha escancaravó.... ela disse assim.... “Meu filho! Vai na casa da vizinha pegar um pouco de feijão! Toma aqui essa panela!

Camera vai para Salvinete.

Escancaravó: Meu filho!! Vai na casa da vizinha pegar um pouco de feijão!! (Mostra a panela) Toma aqui essa panela! Fadine: Tá vó.... (Imitando a vóz dela) E você bate na rua! E faz também um joguinho de bicho... cê me joga... dez cruzeiro na brabuleta”.... Escancaravó: E você bate na rua! E faz também um joguinho de bicho... cê me joga... dez cruzeiro na barbuleta!... Fadine: Mas vó não é barbuleta é borboleta! Escancaravó: Enbarbuleta não!!! Falo do jeito que eu quero e se ... eu te dô uma coça!! Fadine: Tá bom vó deixa que eu vou, minha escancaravó!... Porque tem avó, bisavó, tataravó, e depois da tataravó tem escancaravó... pra enchê o saco da gente. Escancaravó: Ah é... meu escancaraneto?!!

Ana Paula, animada, aborda Fadine.

Criança: Vamo brincá!!

Cai foco de Salvinete, que vai para a cadeira. Jarlison fica. Camera vai para Ana Paula.

Fadine: Rapaz não dá pra brincar agora não porque eu tenho que levar (mostra a panela) essa panela com feijão pra minha escancaravó botá no fogo. Criança: Ah não!! Depois ce leva!! Eu tenho uma coisa pra te contar!! Eu sonhei com o MEN!... Ele falou que quer encontrá com nós! Fadine: É mesmo João!? Criança: É.

Trovoadas. A criança olha para os lados assustada.

Criança: (Assustado) Aiii eu quero embora!!

Jarlison aproventa para assustá-la.

Jarlison: Uuuuuuu!!!! Criança: É o MEN!! Ai ai ai eu to com medo!! Jarlison: João eu to atravessando o cemitério!!!

Criança: Aiiii meu deus do céu!!!

Jarlison sai atrás da criança. Criança foge. Cai luz de Men..

Jarlison: João, eu vou te pegáááá!!!! JOÃO: Ahhhhhhhh!!!! Socorrooooo!!!!

Ele grita e se esconde atrás de um pedestal de microfone. Entra música doce. Câmera vai para as mãos de Fadine mexendo na água com espuma e folhas secas.

Fadine: Essa é a estória de um menino que nasceu vendo normalmente. Esse menino olhava pra água de um riacho que corria em frente à casa dele... E quando a mãe ia lavar roupa, brincava com a espuma de sabão. No outono... ele podia ver as folhas que caiam no chão. (...) Mas, passado um tempo, ele ficou na escuridão e.... a mãe nunca percebeu. Até que ele começou a engatinhar... e a bater a cabeça nos móveis e a chorar... A mãe dizia “Mas por que que meu filho tá se machucando desse jeito?”... Ela então levou o menino no médico, que disse “Mãe, o teu filho tá cego” (...) Esse menino cresceu, fez amizades... e um certo dia botou na cabeça “Ahhhh! Eu vo estuda! Eu vo ser igual esses menino! Eu vo ser igual o João. Eu vo ser igual o Mario, vo ser igual o Zé” Pegou uma mochila velha e disse “Ó vocês não jogam esses caderno fora não! Não joga fora o caderno não que eu vo querê! Ó vamo fazê o seguinte: amanhã vocês vão pro colégio, eu também vo tá lá”... Esse menino encheu a mochila de caderno velho, e toda vez que dava onze e meia ia lá, na porta do colégio... Tinha uma vala, cheia de água na rua e ele não passava não... ele ficava do outro lado esperando os coleguinha... Quando os coleguinha saiam da escola ele entrava no meio deles, com aquela bolsa cheia de caderno velho. (...) Um dia bateram na porta de casa e o menino atendeu. “Aí menino, cadê sua mãe?”. “Ahhhh! Minha mãe tá lá dentro!”... “Que foi moça a senhora qué alguma coisa?”... “Não! Eu to caçando um menino aqui, que me falaram assim que ele tá querendo estudá, e ele anda com livro e caderno velho na mochila cheia de sonho, sabe? Que tal ele estuda!”... E a mãe “É.... É bom, é bom!”. (...) E aí, esse menino cresceu, esse menino se empregô, trabalhô, conseguiu tudo o que quiz, casô, tem uma família... e esse menino sou eu!

Entra outra música. Camera vai para Telma. Sobe foco de Telma. Sai de Fadine. Assistentes situam Janaína no foco central onde antes estavam Jarlison e Salvinete.

Telma: Eu gostava muito de pegar uma caixinha... cheia de.... agulhas, de costurar mesmo e retrós. Carretel de linha e... inventar de fazer vestidinho de bonecas... Então eu pegava a tesoura das pessoas lá da minha mãe de criação.... Ía lá... pegava uma roupa velha dela lá... um vestido velho dela... e cortava e transformava em... como que fala?... E nos meus vestidinhos de boneca!! Aí eu costurava o vestidinho de boneca com aquelas agulhas.... Não não tenho guardado não faz mais de quarenta anos (ri). Entendeu? Aí, o vestido da minha mãe de criação eu transformava em vestidinho de boneca! Pegava os retrós pegava as linhas... né?... Aí eu colocava... se era vestido colorido, eu colocava já... quase de acordo com as cores, o verde, o amarelo, o azul, o branco.... Aí eu fazia os vestidinhos das minhas bonecas! Não, porque naquele tempo eu ainda não tava sem enxergar não naquele tempo eu enxergava ainda. Eu tinha uns nove anos, ... quase dez. Então. Só que ela brigava comigo porque eu cortava, eu cortava os vestidinhos dela... pra fazer... roupinha de boneca... Como é que é?...

(Muda a voz) Eu vou procurar aquela menina!! Onde aquela menina tá!! Tá lá no quarto mexendo nos meus vestidos!! Vai lá! Vai lá vê o que é que ela tá fazendo, se ela tiver cortando o meu vestido, eu vou pegar aquela varinha lá... vou na perninha dela, vou dar tanta varadinha! Falava assim.

Telma ri. Entra outra música. Sobe foco de Janaína. Camera vai para Janaína. Sai luz de Telma. Durante a fala de Janaína, Fernanda e Ana Maria se posicionam nos microfones laterais.... Fran se posiciona na esquerda-frente, onde antes estava Telma. Nas mãos, uma camisa representando a presença-ausência de um homem...

Janaína: Eu nasci numa família, de muitas posses. Mas eu era diferente de todo mundo. Quando eu era criança não tinha muito ideia disso mas, quando cresci eu percebi. Então, eu fugi. Eu... comecei a andar pelas ruas... Noite e dia, através das marquises. Uma vez alguém disse que ia cuidar de mim. Eu achei que o mundo estava sorrindo pra mim. No começo, tudo era flores. Mas depois... “Faz isso!”, “Faz aquilo!”, “Limpa isso!”, “Limpa aquilo!”. Eu... não queria aquela vida, então... mais do que depressa eu fugi. Mas uma vez, entre uma praça e outra, outra pessoa disse que ia cuidar de mim. Eu, com um pouco de ingenuidade, necessidade e fé, aceitei. Mais uma vez no começo tudo era flores. Até que começou... Você é gorda, você é torta, você não anda direito, parece uma pata, você não faz nada direito. Na minha casa, de pequena, eu tinha tudo. Porque eu ia ficar tendo tão pouco e recebendo tão pouco, pra ser humilhada? Mais uma vez eu saí. Certa noite, o inverno já voltando, eu dormi num banco de uma praça. O sol me despertou, mostrando um burburinho. Eu olhei praquele lugar e havia muita gente. Gente a se perder de vista. Eles estavam se preparando. Eles estavam se arrumando porque parece que havia ali uma apresentação! Um palco tinha sido montado. Enorme! E as pessoas todas diferentes umas das outras iriam cantar? Dançar? Eu queria aquilo! Então eu decidi. Patinho feio nunca mais! Eu vou viver entre as pessoas diferentes que são os meus iguais!

Sobe luz de Fran. Câmera vai para Fran. Sai luz de Janaína. Entram pinos dos fundos, de Frenanda e Ana Maria. Fran acaricia a camisa. Brinca com sua manga, contornando a própria cintura, como se o homem a abraçasse, deita a cabeça no seu ombro...

Ana Maria: Ela estava apaixonada. Eles estavam namorando. Fernanda: Ela lembra exatamente como aconteceu.

Sobe luz de Janaína.

Janaína: Foram os olhos negros e profundos que rasgaram o tecido de seu corpo e dilaceraram qualquer sinal de sanidade. Ana Maria: Ela estava apaixonada. Fernanda: Eles estavam namorando. Janaína: Ele era carinhoso e gentil.

Fran arrasta a mão até a bacia com folhas secas, mexe fazendo barulho.

Ana Maria: Naquele dia eles correram.

Fran contina fazendo barulho nas folhas secas.... Depois retira a camisa do cabine e levando-a junto de si se deita.

Fernanda: Naquele dia eles deitaram, eles se amaram.

Fran se levanta e arrasta as mãos até a bacia de água, brincando de jogá-la para cima e molhar-se, e também a ele.

Janaína: Naquele dia choveu muito. Naquele dia ventou muito.

Fran pega o secador de cabelo, liga-o no mais forte e joga contra o próprio rosto, abrindo os braços e largando sem querer a camisa no chão.

Janaína: Naquele dia choveu e ventou muito. Um vento... tão forte... que os levou para tão longe... que nem “aquilo” conseguiu os alcançar...

Sai pinos de Fran, Ana Maria, Janaína e Fernanda. Entra off de voz suave de Janaína.

Janaína: (voz off) Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado....

Os sinos tocam, misturando-se à voz. Começa a entrar luz de chão... enquanto escuta-se o som dos instrumentos improvisados dos andarinhos tomando corpo... ficando cada vez mais forte...

Janaína: (voz off) Foi meu amor, eu me disse assim que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim que a flor do campo é o alecrim...

Sinos continuam tocando. Andarilhos começam a cantar animadamente em ritmo acelerado.

Andarilhos: (animadamente, em ritmo acelerado) Alecrim alecrim dourado / Que nasceu no campo sem ser semeado / Alecrim alecrim dourado / Que nasceu no campo sem ser semeado / Foi meu amor que me disse assim / Que a flor do campo era é o alecrim / Foi meu amor que me disse assim / Que a flor do campo é o alecrim

Cessam os sinos e ficam as vozes dos andarilhos cantando em cena animadamente. Abre luz de plateia. As assistentes videntes descem para a plateia para convoca-la a cantar e dançar junto. Algumas pessoas sobem no palco.

Andarilhos: Alecrim alecrim dourado / Que nasceu no campo sem ser semeado / Alecrim alecrim dourado / Que nasceu no campo sem ser semeado / Foi meu amor que me disse assim / Que a flor do campo era e o alecrim / Foi meu amor que me disse assim / Que a flor do campo é o alecrim.

Janaína puxa nova música.

Andarilhos: Estava à toa na vida / O meu amor me chamou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor / A minha gente sofrida / Despediu-se da dor / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor // O homem sério que contava dinheiro parou / O faroleiro que contava vantagem parou / A namorada que contava as estrelas / Parou para ver, ouvir e dar passagem // A moça triste que vivia calada sorriu / A rosa triste que vivia fechada se abriu / E a meninada toda se assanhou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor

Janaína puxa nova música.

Andarilhos: Minha jangada vai sair pro mar / Vou trabalhar, meu bem querer / Se Deus quiser quando eu voltar do mar / Um peixe bom eu vou trazer / Meus companheiros também vão voltar / E a Deus do céu vamos agradecer

Janaína puxa nova música.

Andarilhos: Na bruma leve das paixões que vem de dentro / Tu vens chegando prá brincar no meu quintal / No teu cavalo peito nu cabelo ao vento / E o sol quarando nossas roupas no varal // Tu vens tu vens / Eu já escuto os teus sinais / Tu vens tu vens / Eu já escuto os teus sinais

Janaína puxa nova música.

Andarilhos: Todo domingo / havia banda / no coreto do jardim / E já de longe / a gente ouvia / a tuba do Serafim // Porém um dia/ entrou um gato / na tuba do Serafim / E o resultado / dessa "melódia" / foi que a tuba tocou assim // Pum pum pum, miau / pum purumpurumpum miau // Pum pum pum, miau / pum purumpurumpum miau // Pum pum pum, miau / pum purumpurumpum miau // Pum pum pum, miau / pum purumpurumpum miau!!

Os atores dão as mãos, levantam e abaixam todos juntos para agradecer à presença do publico.

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