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2.3. DRAMATIZAÇÃO DE FÁBULAS PARA CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES Memorial da Criação de Dramatização de Fábulas Para
Memorial da Criação de Dramatização de Fábulas Para Crianças Surdas e Ouvintes
Rejane Arruda
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I.
O princípio da dilatação.
Em um segundo momento do projeto eu fui trabalhar com a rofa. Arlene Batista no curso de Letras Libras da UFES, um espaço aberto para um experimento do Cena Diversa na disciplina Literatura em Libras, ministrada para os alunos do 3º Período. Estes alunos são na maior parte ouvintes em formação como Intérpretes, três surdas em um total de vinte e sete alunos.
Quando comecei, eu e Iasmyn tinhamos investigado a potência do Slam do Corpo, modalidade performativa proposta pelos grupos paulistanos Corposinalizante e Bartolomeu de Depoimentos. Os surdos Edinho Santos e Leonardo Castilho surgiram como referência do que poderia ser os limites da dilatação corporal de surdos. A partir deste modelo de dilatação começamos um trabalho de exploração de formas em roda. Depois de alguns exercícios de aquecimento, um ator mostrava uma forma e todos faziam junto com o objetivo de ampliar repertório corporal. Chegávamos ao limite do tamanho da forma e, em seguida, reduzíamos, trabalhando com variações de tamanho e também com variação das ações físicas.
II.
Um passo adiante na linguagem descritiva do corpo.
A proposta de Arlene Batista era constituir a dramatização de fábulas para crianças surdas retirando o sinal e utilizando apenas o corpo. Os intérpretes precisavam compreender como expressar-se corporalmente sem o sinal. Era uma demanda da disciplina e da formação oferecida. O trabalho verticalizou a proposta da representação pelo corpo, o que colocava em cheque o princípío da abstração que eu vinha pesquisando. Extrair poética da representação de uma vaca para a dramatização sem o sinal. Imitar o leão, representar, ilustrar, incorporar um leão. Como seria a experimentação cênica a partir deste princípio?
Percebi a potência da expressividade dos corpos quando a singularidade entra em jogo. A poética corporal não é uma questão de treinamento. Tinhamos diferentes vacas, rãs, diferentes sapos e gatos. Cada um imprime um jeito próprio de ilustrar a ação física que representa aquele animal. Há algo que sobra da escrita corporal representativa também, e que se traduz como estilo (“jeitão”) e poética. Para que isto advenha, é necessário a dilatação, o envolvimento e o prazer.

Fig. 1, 2, 3, 4: Rã (Rhayllander Herique Bill), Leão (Felipe Viana), Macaco (Mara Correia) e Vaca (Luci Silva)


O princípio para construção destes corpos utilizado foi a fragmentação da forma do bicho e a extração de um detalhe3. Por exemplo, “a lambidinha nas mãos” do gato, a ciscada do galo, o fucinho se movimentando rapidamente do rato. Um segundo princípio foi a função do bicho na estória. A função da vaca na estória “A Rã e a Vaca” é ser grande. “Grande” se porta como um view point (Bogart, 2017) ou qualidade física (Barba & Savarese, 2012) e é
3 Contei com a orientação do Prof. Dr. Eduardo Tessari Coutinho, da Universidade de São Paulo, hoje coordenador do Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator (CEPECA) para a extração destes princípios de trabalho.
expressa de modo diferente em cada corpo. Assim, há uma poética da singularização de formas representativas, quando o sujeito está engajado no prazer de representar. O experimento cênico Dramatizações de Fábulas para Crianças Surdas e Ouvintes estreou no Teatro do SESI no dia 09 de outubro de 2019.
Referências bibliográficas
BARBA, E & SAVARESE, N. A Arte Secreta do Ator: Um Dicionário de Antropologia Teatral. São Paulo. Ed. É Realizações, 2012 BOGART, A. O Livro dos Viewpoints. São Paulo, Editora Perspectiva, 2017.