Testemunhos Ana Paula Castro, atriz e assistente de direção
Depois do processo com os cegos, eu entrei no processo com os cadeirantes, onde, atualmente, ainda estamos em processo. Outro universo! Pessoas em si são muito singulares, mas cada grupo tem uma característica específica. Por exemplo, os cegos são muito sensíveis e amorosos, já os cadeirantes são muito brincalhões e desprendidos. Eles me fizeram enxergar a inclusão com outros olhos, com o olhar realmente de IGUALDADE. Não com um olhar de pena, nem de vitimismo, mas com o olhar de “se nós somos diferentes por algum motivo, é porque todos os seres humanos são, e não porque eu estou numa cadeira de rodas e você não”. Diferente do processo com os cegos, no processo com os cadeirantes eu atuo na peça, e eu não sei por qual motivo, mas a relação de todos do elenco se consolidou de uma maneira muito concreta. Passou de uma relação de pessoas trabalhando juntas pra amigos que trabalham juntos. Está sendo um processo muito unificado, sinto como se fossemos amigos de longa data. Uma intimidade e empatia imediata. Eu me sinto tão preenchida por eles, e é tão leve e gostoso estar com eles, que parece sempre uma brincadeira. No inicio do processo, tinha toda uma timidez, de ambas as partes, seres se conhecendo, inseguranças, incertezas, medo de ultrapassar, medo de ser ultrapassado. Mas o tempo foi passando e isso foi sumindo com tanta leveza, os nós foram se soltando com tanta calma que quando nós piscamos, estávamos nos sentindo livres uns com os outros. Quanta riqueza de almas temos juntos. Eu sinto que estou vivendo o meu melhor momento até hoje, trabalhar com algo que nunca me deixa pra baixo é de uma satisfação sem tamanho! Ficar doze horas trabalhando em um teatro e voltar pra casa cansada, mas plenamente realizada, é o que me faz ter certeza de que isso é o meu combustível, e de que forma saudável que ele vem ate mim!
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