Memorial da Criação de Slam Corpo Grita Rejane Arruda
O Slam Corpo Grita é um desdobramento que propomos a partir do Slam do Corpo do Corposinalizante, de São Paulo. Nós não seguimos as mesmas regras, mas também se trata da junção de um surdo e um ouvinite para a apresentação de poemas nas duas linguas: Libras e Português oral. Ou três, se formos contar com a expressão corporal como uma lingua diferente do sinal. Ação física, sinal e oral, juntos. É interessante perceber como Edinho Santos (slamer surdo que participa do Slam do Corpo) alterna e hibridiza o sinal com a ação física. No caso, há uma linguagem de um corpo disciplinado com os códigos da dança que orienta a produção das formas. Há um controle da musculatura, para que ele chegue ao plano baixo quando diz “Quando eu era pequeno” e caia no final do slam que conta a estória do surdo levando um tiro da polícia. São muito bonitos os slams, imprimindo algo de performativo nas relações entre corpo, sinal e oral (a linguagem oral é assumida no microfone pelo seu parceiro James Bantu). A referêcia do Slam do Corpo apresentada para a turma do 3º Período do Curso de Letras-Libras Bacharelado da UFES, deixou uma semente bem plantada nas mulheres surdas Tainá Arruda e Ester Domingos. Realizamos um encontro. Estavamos eu e Iasmyn, Ester, Tainá e os intérpretes Rhaylander de Souza e Filipe Viana. Formamos assim as três primeiras duplas do Slam Corpo Grita que seria lançado no dia 30 de setembro no evento Comunidades Surdas: Discurso, Pensamento e Arte do Cena Diversa. Juntaram-se a nós outros surdos e intérpretes em um segundo encontro e no dia do evento ministramos uma oficina através da qual um epaço de produção foi estabelecido e mais duplas criadas. O engajamento dos surdos no Slam Corpo Grita foi evidente. Esta modalidade se apresentou como um lugar de fala e construção poética a partir de suas próprias vivencias em sociedade, experiências atravessadas por afetos fortes. A poética de cada expressão aparece para além da linguagem: além da dilatação, um estilo próprio, a performatividade do que a gente não consegue comprender – e que tanto busco. A relação entre caos e ordem, a relação entre abstração e figuração, entre escrita e linguagem, entre estilo e comunicação, explosão e delicadeza.
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