Revista Brava Gente

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Com a ordem de retirada, Massilon correu no sentido da estrada de ferro. Topou com a trincheira da Estação e não aguentou o fogo. Voltou pela cidade e se entrincheirou na União dos Artistas. Ensaiou breve resistência com seu grupo. Do cemitério, Lampião tentou nova ofensiva, mas foi em vão. Mandou o cangaceiro Luís Pedro e outros cabras ajudarem Massilon. Não deu resultado. O fogo contra eles era intenso e sem condições de revide. Pelo cemitério, Sabino avisou das baixas. “Vamos embora. Colchete e Jararaca estão mortos”. Lampião reconheceu a derrota e ordenou retirada. Pediu que Sabino fosse buscar Massilon e Luís Pedro. Após encontrá-los, os guiou contra o fogo com alguma dificuldade. O piquete da Estação não dava trégua. Com esforço, os cangaceiros chegaram ao cemitério e sumiram pelo mato. As trincheiras permaneceram ativas. O tenente Abdon Nunes de Carvalho, na companhia do sargento Pedro Sílvio e outros civis, resolveu ir até o cemitério. Logo voltou com a notícia de que os bandidos tinham fugido. Após a notícia, os homens começaram a deixar as trincheiras. O corpo de Colchete estendido no chão atinou a curiosidade do povo, mas também a fúria de muitos. Arrastaram o cadáver pelas ruas até a igreja matriz. No caminho arrancaram uma orelha e lhe deram uma cutilada de arma branca na altura das costelas.

Retorno ao Saco e a fuga dos cangaceiros Por volta das seis e meia da noite, o bando voltava para o acampamento pelo meio do mato. Semblante de derrota. Tiveram de derrubar uma cerca de varas para seguir caminho.

Em silêncio, demonstravam a frustração. Perderam dois homens valiosos: Colchete e Jararaca e, de igual forma, carregavam outros feridos. Virgínio, cunhado de Lampião, tinha sido atingido na coxa esquerda por uma bala. Outro homem apresentava Capitão Abdon ferimento grave na altura do Nunes fez a última abdômen. Gemia em desatino. revista próximo ao cemitério para Uma toalha usada para estanconfirmar a fuga car o sangramento estava endos cangaceiros sopada. Lampião decidiu parar para acudir o comparsa. No casebre de Maria Liberata pediu água e sal para lavar o ferimento. “A chegada ao Saco foi melancólica. O olhar faiscante do rei-vesgo refletia ódio e decepção pelo fracasso. Ralhava ferozmente contra Massilon – no seu entender, o único responsável pela desastrada empresa. Esmurrava cavalos. Gritava para a cabroeira”, conta Sérgio Dantas. A escuridão da noite não impediu a retirada do bando. Uma lua em esmaecimento era a única sombra de luz. Tomaram o rumo da fazenda Jucuri e cortaram o fio do telégrafo. Pararam na casinhola de Antônio Gomes de Araújo e o levaram, junto com seu filho, como guias. Um pouco à frente, Formiga, que ainda os guiava, demonstrou sinais de cansaço. Solicitou liberdade a Lampião. Ele concedeu, mas pediu que fosse falar com Antônio Gurgel. O coronel aproveitou a oportunidade e enviou outro bilhete, agora ao irmão Tibúrcio Gurgel, conhecido como Tiburcinho. Era visível o cansaço também nos cangaceiros, mas eles disfarçavam e contavam vantagem na frente dos reféns. Pararam para descansar em lugar ermo e de madrugada acordaram de sobressalto com tiros vindos de Mossoró. “Olhem, estão atirando pensando que é em nós, mas é na força paraibana”, sugeriu Sabino.

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Derrotados usaram o cemitério da cidade como trincheira

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