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Proteção de Padre Cícero
Preso na cadeia pública de Mossoró desde o dia 14 de junho, surpreendentemente, o cangaceiro Jararaca apresentava sinais de melhoras, apesar de ter ferido a bala no peito e numa perna.
No mesmo dia em que foi preso, Jararaca concedeu entrevista ao jornalista Lauro da Escóssia, do jornal O Mossoroense. Segundo o pesquisador Geraldo Maia, começou dizendo que se chamava José Leite, que tinha 27 anos e havia nascido no dia 5 de maio em Buíque/PE.
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Disse ainda que o ataque a Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da história das duas Igrejas. Que quando Lampião chegou a Mossoró não gostou nada, nada daquela “Igreja da bunda redonda” (Capela de São Vicente) de onde estavam partindo os tiros contra o bando. Então Lauro perguntou:
“Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro? ”
“Era para comprar os volantes de Pernambuco.”
O cangaceiro disse ainda que “encontrava proteção no território cearense, tendo Padre Cícero do Juazeiro, no tempo da revolução, fornecido armas e munição a Lampião”.
Lauro da Escóssia o descreveu como sendo “moreno, muito moreno, mas não era negro.” Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Tinha um fuzil mauser e cartucheiras de duas camadas, mais 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.
No dia seguinte, 15 de junho, deu outra entrevista, agora ao jornal Correio do Povo. Neste momento, falou ainda mais e passou a dar nome aos apoiadores do cangaço.
Cangaceiro Jararaca foi assassinado pela Polícia dentro do cemitério de Mossoró
Segundo ele, parte do dinheiro dos saques realizados por Lampião era para comprar os oficiais da polícia de Pernambuco, especialmente o major Teófanes, oficial responsável pela prisão de Antônio Silvino.
Disse ainda que o bando de Lampião vinha armado com 44 fuzis mausers, 9 rifles e 15 mil cartuchos, todos doados pelo médico e político Floro Bartolomeu –responsável pelo combate da Coluna Prestes no Ceará em 1925.
O cangaceiro informou também que o cangaço recebia apoio dos coronéis José Otávio, de Vila Bela/PE e Santana, de Serra do Mato/CE, onde armazenava parte da munição.
Depois da conversa, segundo Sérgio Dantas, é possível que o celerado tenha percebido que falou demais. Por isso, pediu uma audiência com o intendente Rodolfo Fernandes, mas não foi atendido pela Polícia.