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Mossoró se prepara para o confronto
Depois de escrita, a carta foi lida em voz alta. Lampião perguntou quem era Yolanda e o coronel explicou se tratar de sua neta de dois anos. Ficou a cargo de Formiga o trabalho de levar a carta e trazer resposta de Mossoró.
Ao chegar à cidade, o portador pode ver a aflição das pessoas. Casas vazias e mulheres chorando pelas ruas em desalinho. Perto do meio- dia, entregou o bilhete à mão do intendente Rodolfo Fernandes. Ele leu o texto em voz alta para que os presentes acompanhassem o drama.
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O coronel fez discurso efusivo bradando a necessidade da luta por parte de Mossoró. Em seguida, contou vantagem sobre a preparação da cidade. Com o fim da reunião, pediu ao portador que aguardasse na recepção pela resposta da carta. Horas depois lhe entregarem um pequeno bilhete.
Mossoró, 13.06.1927 Antônio Gurgel Não é possível satisfazer-lhe a remessa de quatrocentos contos (400.000$000) pois não tenho e mesmo no comércio é impossível se arranjar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebe-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança.
Rodolfo Fernandes.
Apesar da confiança de Rodolfo Fernandes, o clima em Mossoró era de pânico. Antes do meio-dia, estima-se que 15 comboios já tinham partido para Areia Branca. Dali a pouco, nem mesmo o telégrafo teria mais gente para anotar os recados.
Trincheiras tinham sido espalhadas pela cidade, mas a maioria estava incompleta. Muita gente tinha largado as armas e ido embora, outros caíam de sono por causa da vigília da noite. A maior barricada ficou na frente da casa do chefe da Intendência. Sacos de algodão foram colocados em posição estratégica de modo a não permitir qualquer transposição. Pelo menos 40 homens estavam de prontidão, do quintal ao telhado. Manoel Alves de Souza, Léo Teófilo e Manoel Félix ficaram no campanário da capela de São Vicente. Tinham a incumbência de informar qualquer aproximação. Na estação ferroviária, hoje Estação das Artes Elizeu Ventania, Vicente Carlos de Sabóia Filho, o Saboinha, diretor gerente da Estrada de Ferro, distribuiu homens armados em pontos estratégicos. Ao seu lado, estavam o engenheiro Lafaiete Tapioca, o comerciante Raimundo Leão de Moura e os militares Severino França, Clóvis de Araújo e o sargento Pedro Sílvio, além de nove funcionários.
Outra trincheira foi montada na empresa Tertuliano Fernandes & CIA. Na igreja matriz, estavam posicionados o dentista Antônio Brasil, com um binóculo, e dois policiais. No ginásio Diocesano, outros quatro homens; mais quatro na torre da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e oito no Mercado Central.
Seis atiradores se deslocaram para a parede divisória das águas do rio. Piquetes menores foram dispostos no prédio da Mesa de Rendas do Estado, no Grupo Escolar Eliseu Viana, no Grande Hotel, na residência de Ezequiel Fernandes e na Cadeia Pública.
Os tenentes Abdon Nunes, Laurentino Morais e João Nunes ficaram responsáveis pelas patrulhas nas áreas mais abertas. Coube ao vigário da matriz, Padre Mota, corrigir as trincheiras. Encontrou diversos problemas e chegou a dissolver a da Caieira, redistribuindo os homens.