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O assassinato de Jararaca

Por volta das onze horas da noite do dia 18 de junho de 1927, Jararaca que dormia em sua sela na cadeia pública, foi acordado pela Polícia. Disseram que o levariam para Natal.

Suspenso pelos braços, foi levado para fora da cadeia. Lá fora, estavam os tenentes João Antunes, Laurentino de Morais e Abdon Nunes, os sargentos Pedro Sílvio de Morais, João Laurentino Soares e Eugênio Rodrigues, além dos cabos José Trajano e Manoel, bem como os soldados Militão Paulo e João Arcanjo.

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Jararaca reclamou estar sem as sandálias, mas os policiais fizeram pouco dele. Depois disse que não aguentava viajar de carro, mas lhe disseram que o levariam até a estação, onde tomaria um trem até Areia Branca e de lá embarcação para a capital.

Em momento algum o preso se convenceu, por isso não estranhou quando os policiais fingiram uma pane no motor do automóvel em frente ao cemitério. “Eu sabia que vocês me traziam praqui”, disse Jararaca.

A partir de então, começou a tortura. Um sol-

Túmulo de Jararaca continua sendo muito visitado em Mossoró dado puxou sua perna ferida, fazendo-o urrar de dor. O motorista Homero Couto, que nada tinha a ver com a história, presenciou o ato brutal.

“O soldado do lado oposto desferiu-lhe violenta coronhada de fuzil na cabeça, sem dar-lhe tempo ao mais leve gesto de defesa. Sucederamse as pancadas. Tomavam proporções altíssimas, em meio ao silêncio da noite. Pareciam que socavam terra”, disse, segundo relatos de Raul Fernandes.

Mesmo sob forte ataque de covardia, Jararaca não se entregava. “Vocês querem me matar, mas não vão me ver chorar de medo, nem pedir de mãos postas para não me tirar a vida. Vocês vão ver como é que morre um cangaceiro”, esbravejou, segundo conta Sérgio Dantas.

Um tiro na cabeça, por traição, teria findado o sofrimento. Jararaca caiu com todo o corpo em uma cova já aberta para ele. Mas o espaço era pequeno e para poder enterrar, os soldados tiveram de quebrar suas pernas a coices de fuzil.

Nos dias seguintes, todos comentavam a morte do cangaceiro. O jornal O Mossoroense informou que ele havia morrido a caminho de Natal. Seu laudo cadavérico, feito com ele ainda vivo na cadeia, diz que sua morte se deu por “projéteis de arma de fogo”.

De cangaceiro a santo de Mossoró

As circunstâncias da morte de Jararaca causaram comoção entre as pessoas mais pobres e o túmulo do cangaceiro virou ponto de romaria. Para muitos, ele foi enterrado vivo e teve tempo de se arrepender dos pecados.

Há relatos de pessoas que teriam alcançado alguma graça ao rezar no túmulo do cangaceiro, um dos mais visitados, ainda hoje, no velho cemitério de Mossoró, principalmente no dia de finados.

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