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Colchete e Jararaca

Foto: José Otávio

As trincheiras pareciam intransponíveis. Os cangaceiros nunca tinham encontrado tamanha resistência. Os três dias de arrastão pela região do alto e médio Oeste foram suficientes para que a cidade organizasse bem as trincheiras. Nem a desconfiança de Lampião previa tamanha força.

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Colchete, no entanto, não tinha intenção de desistir. Esgueirando-se pelas esquinas, usou a mureta da casa de Alfredo Fernandes como proteção e com paciência observou a posição dos atiradores. Num instante de delírio, correu desprotegido em busca dos fardos de algodão.

“Levava punhal à boca e rangia os dentes em atitude feroz”, conta Sérgio Dantas. “Tiro certeiro partiu do palacete e atingiu em cheio seu rosto suado”, completa.

Colchete se estrebuchou antes de cair. Um segundo tiro lhe atingiu as costas quando ele já estava fora de combate. Ali mesmo ficou sem se mexer.

Diante do ocorrido, Sabino ordenou a retirada. Concluiu que seria impossível vencer a batalha. O grupo saiu correndo e atirando contra as trincheiras para a própria cobertura.

Ainda embriagado, Jararaca não escutou a voz de comando. Aguardou escondido até não ouvir mais tiros. Se apoiou no mesmo muro usado por Colchete na tentativa pouco inteligente de apanhar os pertences do companheiro. Na trincheira, um atirador viu a movimentação e esperou o momento certo.

“Disparo certeiro abateu Jararaca. Caiu desacordado por cima do corpo fétido de Colchete”, narra Sérgio Dantas. Ficou assim um tempo, até redobrar a consciência. Ferida feia se abriu no peito. Tentou rastejar, mas logo per-

Mesmo ferido por um tiro, Jararaca ainda conseguiu fugir

cebeu que seus companheiros abandonavam a zona de guerra.

“Sabino, estou ferido! Moreno, socorro! Me ajude, Sabino”, teria gritado Jararaca. Mas não adiantou. Os homens não voltariam para acudi-lo.

Com esforço, levantou-se e tentou fugir no sentido do cemitério para onde estavam indo seus companheiros. Novo tiro vindo da trincheira de Rodolfo acertou sua perna. Caiu outra vez.

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