A hora fatal: invasão e resistência
BRAVA GENTE
Foto: Manuelito Pereira
O dentista Antônio Brasil foi o primeiro a avistar os cangaceiros com seu binóculo, desde uma das torres da igreja de Santa Luzia. De lá, deu alarme aos que estavam entrincheirados na agência do telégrafo. Padre Mota correu para a praça da matriz e mandou badalar os sinos, sendo seguido pelas outras igrejas. Quando o barulho cessou, a cidade silenciou aguardando o primeiro ataque. “Homens a postos retinham a respiração. Olhos grudados nas armas à espera dos milicianos do temível cangaceiro”, conta Sérgio Dantas. Por volta das quatro da tarde, começou a cair uma neblina seguida de um vento frio. Os cangaceiros esgueiravam-se entre as primeiras casas da cidade e desciam pelo Córrego do Barbosa com bastante discrição. Logo, chegaram à linha férrea e à parte posterior da capela de São Vicente, próximo às trincheiras principais. Diferente de hoje, o lugar tinha pouquíssimas residências. Ali, o primeiro grupo se dividiu em dois, sendo uma parte comandada
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A trincheira de Rodolfo era a mais guardada
por Sabino e a outra por Massilon. Pouco atrás vinha Lampião com a segunda coluna. No meio do caminho, entre a linha férrea e a casa do coronel Rodolfo, erguia-se imponente a residência de Joaquim Perdigão, genro do intendente. Arrombaram a casa para saqueála e usá-la de trincheira enquanto estudavam a área. Massilon seguiu na esperança de surpreender a casa de Rodolfo, onde hoje é a Prefeitura de Mossoró, entrando pelos fundos. Lampião marchou em direção ao cemitério. Bem próximo da capela de São Vicente, Sabino saiu na rua para ver melhor a trincheira. Com a farda da Guarda Nacional, foi confundido por alguns instantes com um militar. Mas logo alguém descobriu. Tiros partiram de todos os flancos. Ágil, o cangaceiro saltava de um lado para o outro sem ser atingido. Com pouco, uma bala perfurou seu chapéu e outra arranhou a perneira. Então ele recuou.