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A saúde mundial pós-pandemia
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ireto do Canadá, enfrentando uma temperatura de 0 º, o especialista internacional em cooperativas, Jean-Pierre Girard, falou sobre o futuro da saúde na pós pandemia e o papel das cooperativas, não apenas as do ramo Saúde, mas qualquer tipo de cooperativa. Girard deixa claro que para que haja um cenário de saúde social é necessário a atuação de diversos ramos e atividades, não apenas ligadas à Medicina. E ele tem autoridade para falar sobre o assunto. É um especialista no cooperativismo, tema de seus estudos por 20 anos realizados em viagens pelo mundo. Girard fala da importância das cooperativas no momento atual para a construção de uma vida saudável para os cidadãos.
O que é Saúde? Inicialmente, Jean-Pierre começa pela definição de Saúde. De acordo com a OMS, trata-se de um estado de completo bem-estar físico mental e social. E não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Em segundo, é preciso saber o que faz com que nós tenhamos Boa Saúde. De acordo com a OMS, o primeiro fator que define uma boa saúde é o constitucional, do qual não temos controle, como o nosso sexo, a nossa genética. Em segundo, vem o estilo de vida, que envolve alimentação saudável e atividades físicas. Girard lembra que no Canadá, onde mora, apenas 16% dos adultos praticam o nível mais básico de atividades físicas para otimizar sua saúde. Não é suficiente, principalmente durante a pandemia do coronavírus. O especialista recomenda a todos que incluam na programação diária uma caminhada, natação, corrida, e encarem como um investimento inteligente no seu ativo mais importante, que a sua própria saúde. Uma terceira camada importante para a construção de uma boa saúde tem a ver com redes sociais e comunitárias. “Sem dúvida esse elemento é tão importante quanto o seu estilo de vida. Você é uma pessoa solitária? Ou tem uma boa rede de contatos com seus vizinhos? Você se envolve com a sua comunidade? Você tem alguma participação das atividades comunitárias? Ou da escola do seu bairro?”, pergunta. Outros fatores determinantes para uma boa saúde são o local em que a pessoa reside, os níveis de poluição, os riscos de segurança, o acesso ao saneamento, água potável, as escolas as instalações de saúde. As condições gerais socioeconômicas culturais e ambientais também são fatores de boa saúde apontados por Girard. Ele corrobora com o conceito de que um país que tem alto nível de qualidade de vida é melhor do que um país que tem uma distância muito grande entre a camada mais rica e mais pobre do país.
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Cooperativismo e a saúde Girard deixa claro que os sistemas de saúde representam apenas 15% do impacto da saúde de uma pessoa. “Mesmo com o melhor sistema de saúde do mundo a sua própria saúde não estará garantida”. Com a vivência de quem percorre o cooperativismo pelo mundo, Girard acredita que pessoas com nível mais baixo de
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26 BR Cooperativo l Ano 2 l Nº 7 l Fevereiro 2021
A apresentadora Ana Rita conversou com o especialista em cooperativas Jean-Pierre Girard
condição de vida sofrem mais com problemas de saúde. “Eu acho que isso não é surpresa para ninguém. Mas as pessoas que vivem em países com alto nível de desenvolvimento humano têm 19 anos a mais de expectativa de vida do que as pessoas que vivem em países com baixo nível de desenvolvimento humano”. A disparidade socioeconômica impacta a saúde das pessoas. Para ilustrar, o especialista inclui dados de 2016, os compara com os dados da covid-19 e os fatores de risco da doença: “Quando fazemos uma comparação com o número de óbitos por hipertensão e diabetes, que facilmente são correlacionados a cardiopatias e AVC, encontramos maus hábitos de saúde, que incluem alimentação com muito sal, muito açúcar, gorduras pouco saudáveis, a falta de atividades físicas, como por exemplo, uma caminhada todo dia, todos esses são motivos que levam a isso. Temos evidências científicas associando o tabagismo ao câncer de pulmão e outros problemas respiratórios fatais, também associados a poluição atmosférica”. Covid-19 Girard fez um paralelo entre as condições de saneamento básico e o que provocou a covid-19 no mundo todo. Em Taiwan, a pandemia foi administrada de modo a provocar apenas sete casos de morte por covid-19 numa população de milhões de habitantes. “Por outro lado, nos Estados Unidos a administração da pandemia foi um fracasso total em nível Federal e a covid-19 pode ser correlacionado com dados socioeconômicos e culturais”, disse.
Caso de sucesso
Jean-Pierre Girard liderou uma pesquisa mundial com cooperativas do setor de saúde em 2014. Sua equipe comparou dados de mais de 50 países. As informações foram processadas em mais de 9 idiomas. Entre eles o português. Os casos relevantes ocorreram na África e na América do Sul. Em Adis Abeba, na Etiópia, a cooperativa de cafeicultores começou a estudar os determinantes sociais da Saúde, implementando atitudes que promovesse o bem-estar da comunidade, além da criação de emprego em uma área muito pobre. Essa cooperativa utilizou parte do seu superavit para melhorar a situação de saúde de diversas pessoas. Eles financiaram 10 postos de saúde, água potável, transporte, etc. Afinal de contas, todas essas medidas acabaram melhorando a saúde da comunidade. Na América do Sul, no Paraguai, a experiência se
“A saúde precisa ser incluída em todas as políticas, e não apenas naquelas especificamente sobre a saúde”. Jean-Pierre Girard. Girard citou o efeito da pandemia na Califórnia, onde 85% da população de ascendência hispânica sofreu com a doença, bem como as populações afro-americanas e aborígenes, que pagam caro pelos efeitos da covid-19. Para ele, somente com uma vacina eficiente poderemos controlar a situação negativa na saúde provocada pela pandemia. Todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU estão associados a saúde. O fim da pobreza, o menor desperdício de alimentos, o apoio a agricultura local, o fim do desperdício da água, a criação de oportunidades de empregos para jovens, a promoção de cidades e comunidades sustentáveis, o fim da mudança climática, a tomada de atitudes e defesa dos direitos humanos, são citadas pelo especialista em cooperativismo mundial. Concluindo, Girard fez um panorama de tudo o que influencia a saúde: “Eu não tenho dúvida alguma que todas as cooperativas podem ter um papel ativo na construção de um futuro melhor para a saúde de sua comunidade. Como cooperado, administrador ou diretor, pergunte à sua organização o que podemos fazer para melhorar a saúde global de nossa comunidade. Trabalho em direção ao desenvolvimento sustentável. É claro que as atitudes são pequenas, mas serão relevantes na construção de um mundo melhor. O cooperativismo brasileiro tem um potencial enorme e pode ser um modelo inspirador para a próxima geração com relação à saúde Mundial”. deu em Arroios Externos, 65 km de distância da capital do Paraguai. Em 1975, 38 produtores de cana-de-açúcar resolveram criar uma cooperativa. Ao longo do tempo, decidiram assumir o controle da cadeia de valor e cortar sua dependência de um Cartel, criando uma refinaria e também um rótulo bio. A adoção do Bio como modelo de negócios não é apenas uma estratégia para atender as necessidades de um número cada vez mais de clientes. Também ajuda a proteger os seus trabalhadores das doenças provocadas pelo uso de defensivos agrícolas. A Mandovi também se certificou com o rótulo da organização Fair trade, ou seja, comércio justo. Essa cooperativa utilizou parte dos dividendos dos cooperados para melhorar o desenvolvimento da comunidade. Esse investimento na comunidade ajudou a melhorar os hábitos alimentares. O impacto foi além da geração de empregos, mas também na saúde da comunidade.
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