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3 O reavivamento do jongo Chegamos até aqui com o desenho do campo devidamente apresentado. Neste, apontamos para, dentre outros aspectos, a relevância que o jongo vem apresentando como elemento de construção e reafirmação identitária entre comunidades quilombolas do Sul Fluminense. Se no capítulo 2 trouxemos, em alguns momentos, a empiria para enriquecermos a apresentação dos temas abordados (jongo, comunidades remanescentes de quilombo, identidade étnica e educação quilombola), aqui , no capítulo 3, adentramos de fato o campo, trazendo prioritariamente a empiria para reconstruirmos a história do jongo na comunidade quilombola de Bracuí, com enfoque nos processos relativos ao seu reavivamento e às suas ressignificações. Para tanto, torna-se relevante nesse momento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0913511/CA
apresentarmos a opção teórico-metodológica utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, assim como os principais procedimentos adotados. O ponto de partida para a escolha da comunidade de Bracuí como campo empírico se deu mediante ao seu reconhecimento e à sua legitimidade enquanto comunidade de resistência jongueira, que puderam ser observados tanto externamente ao quilombo, como internamente entre os próprios quilombolas. Contrariando as premissas de folcloristas que versavam sobre a extinção de tal prática, a comunidade ganha visibilidade externa e se organiza internamente justamente por meio do jongo. Se é verdade que ele perdeu a sua força, especialmente a partir da década de 1960, principalmente pela discriminação e preconceito aos quais seus saberes afro-brasileiros foram submetidos, também é fato que a comunidade nunca deixou de dançá-lo, resistindo à opressão, preservando sua identidade cultural e seus saberes tradicionais, mesmo que, para tanto, tenha sido necessário ressignificar sua prática. Dessa forma, como já explicitado no capítulo anterior, Bracuí contribuiu para o movimento de reavivamento ou até mesmo “invenção” do jongo em comunidades quilombolas próximas situadas, assim como ela, às margens da Rio-Santos, (quilombos da Marambaia e do Campinho no estado do Rio de Janeiro e quilombo Fazenda da Caixa em São Paulo). O desenvolvimento do trabalho de campo foi pautado na interface da antropologia com a educação. A partir de conceitos como identidade étnica,