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Apesar de a escola não possuir um cadastro que permita contabilizarmos quantos são os alunos quilombolas que lá estudam52, há um dado estimado realizado pelas jovens lideranças políticas de lá. O resultado da pesquisa aponta que, num universo de aproximadamente mil alunos, pelo menos 50 sejam quilombolas53. Diante do exposto até aqui, indagamos: como ficaria, então, a Educação Escolar Quilombola no campo das especificidades que suas respectivas diretrizes mencionam? Permaneceremos tornando-os invisíveis em prol de uma educação homogeneizante, branca e eurocêntrica? O que muitos podem conceber como uma demanda social incoerente - uma escola de fato quilombola, não apenas no tocante ao reconhecimento representado pela classificação perante o censo escolar, mas também com referências às suas especificidades - pelo fato de existir em escolas quilombolas alunos não quilombolas, assim como escolas não quilombolas que
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atendem alunos oriundos de tais comunidades, é reconhecido pelo estado como um direito: dar atendimento diferenciado a essa população, tal como ocorre com a população indígena e os povos do campo, promovendo uma interlocução com esses dois campos, a fim de respaldar ações para uma escola quilombola diferenciada (Arruti, 2009). As questões colocadas até aqui nos fazem questionar a situação da escola localizada no território de Bracuí, não com o intuito de deslegitimar o direito a uma “educação diferenciada”, mas de refletir como fazê-la, ou mesmo, se há demanda por fazê-la, em meio a um contexto heterogêneo de alunos contemplados por nordestinos, indígenas54 e negros quilombolas e não quilombolas. 6.2 52
Isso se deve a uma aparente dificuldade dos administradores da escola em identificá-los, ou seja, eles desconhecem que - ou quais - critérios deveriam ser utilizados para classificá-los enquanto quilombolas ou não quilombolas. 53 Devemos ressaltar que esse montante de 50 alunos estimados pela pesquisa realizada por um grupo de jovens lideranças políticas de Bracuí contempla apenas os moradores da rua principal e de seu entorno. O censo foi realizado com a mobilização das lideranças em irem de casa em casa para buscar as informações. Desse modo, as próprias lideranças enfatizam que há a possibilidade desse número ser mais alto, pelo fato de algumas áreas serem de difícil acesso e, por isso, não terem sido investigadas por elas. Além disso, elas não descartam a possibilidade de alguns quilombolas, apesar de ocuparem o território quilombola, serem desconhecidos ou não se intitularem como tal. 54 Há uma aldeia indígena no território quilombola chamada de Guaranis do Bracuí. Este chegaram na década de 1970 à comunidade, mediante os “progressos” e as expulsões advindas, na década de 1970 do século XX, da construção da Rio-Santos.