Jongo e educação: a construção de uma identidade quilombola a partir de saberes étnico-culturais do

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Desse modo, o conhecimento de passos diferentes daqueles típicos da sua comunidade ou grupo e o seu respectivo saber-fazer possibilita a inserção da criança e do jovem na rede de trocas de conhecimentos, além da ampliação dos seus acervos técnico-corporais. Mas é importante destacar que tudo isso tem que fazer parte do universo desses novos jongueiros, pois tal fato é um pressuposto para participarem efetivamente dos eventos relacionados à rede de jongueiros, a exemplo da situação da Raísa, que não queria entrar na roda, com medo de errar os passos. O chamado jongo de formação em Bracuí se encontra, dessa forma, como um símbolo de (re) afirmação identitária que, tanto a nível local, como em nível de uma rede de jongueiros, atenta para a importância da formação políticopedagógica desses não futuros, mas já militantes da causa quilombola, o que foi

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legitimado e positivado, a partir da utilização do caráter relacional da cultura, com significados construídos nos processos de interação. A partir do jongo, novas frentes de diálogo e disputa política vão se abrindo. 4.3 “O jongo é de apresentação, não é mais de divertimento” A frase acima, dita por Marilda, não apenas determinou o título do presente subcapítulo, como também trouxe uma pauta referente aos novos rumos que o jongo, mais recentemente, vem assumindo na comunidade. Percebemos que as rodas de jongo realizadas para fora, isto é, que ocorrem tanto externamente ao território de Bracuí, como para os externos, ainda que seja realizada dentro do quilombo, vem corroborando, tanto para um reconhecimento externo de sua identidade quilombola, como para uma visibilidade política e um diálogo com a esfera pública, até então não alcançados por nenhum outro meio. Durante nosso trabalho de campo, presenciamos visitas ao quilombo de alguns grupos externos, alguns deles compostos por curiosos e outros por turistas. Nessas visitas, a apresentação do jongo poderia configurar como uma das “atrações” oferecidas no passeio. Como nos disse Marilda, durante um passeio por Bracuí com um grupo (Ong) que vinha do Rio de Janeiro, para conhecer uma comunidade quilombola: “Eles querem ver um pouco de jongo. Daí, a gente faz. Reúne as crianças e faz”.


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6.2. Na escola não se aprende a ser quilombola

50min
pages 176-210

Figura 13 - Localização da E. M. Áurea Pires da Gama

3min
pages 174-175

6.1. A escola no quilombo de Santa Rita do Bracuí

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5.4. Corporalidade e memória corporal

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6. Jongo e educação escolar quilombola: alguns diálogos

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dia da festa de Santa Rita

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corporalidade

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não identificada

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5.2. Por uma antropologia da dança

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5.1. O corpo sob enfoques antropológicos

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4.2. “Dá licença galo velho, pinto novo quer saravar”

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pages 127-132

5. O corpo no/do jongo

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pages 141-143

4.3. “O jongo é de apresentação, não é mais de divertimento”

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pages 133-140

4.1. “Se você é bom decifra o que eu quero te dizer”

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pages 122-126

3.2. O nascimento do projeto “Pelos Caminhos do Jongo”

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pages 110-118

4. Entre a tradição e a modernidade

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Figura 8 - Délcio Bernardo

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Figura 7 - Rota de deslocamento

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3.1. A história de vida de uma importante liderança jongueira

9min
pages 89-93

2.5. Breve aporte ao debate sobre uma Educação Quilombola

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pages 78-82

3. O reavivamento do jongo

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protagonismo de uma comunidade de resistência jongueira

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visibilidade política no movimento quilombola Sul Fluminense

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2.4. O jongo na educação: pesquisas em foco

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Figura 6 - Jongueiros reunidos na sede da Arquisabra

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1. Introdução

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pages 15-22

3. As performances no jongo: espaço para a emergência da

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Figura 1 - Mapa que localiza o quilombo de Santa Rita do Bracuí

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