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4 Entre a tradição e a modernidade Neste quarto capítulo faremos uma análise sobre o reavivamento do jongo na comunidade de Bracuí e, consequentemente, os processos de ressignificação ao qual tal prática foi sendo submetida, desde o seu renascimento até os dias atuais, quando podemos conntemplá-la no formato de apresentação. Apesar das duas categorias (reavivamento e ressignificação) já terem sido utilizadas ao longo do texto, em capítulos anteriores, entendemos que é chegado o momento de caracterizá-las analiticamente. Ao trabalharmos com
a categoria
reavivamento ou reinvenção
(compreendidas ao longo do texto com o mesmo sentido) ou ainda “invenção” (que utilizamos para enfatizar a criação do jongo em comunidades como as de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0913511/CA
Campinho da Independência e Fazenda da Caixa, que não possuíam memória em torno de sua prática e, portanto, passaram por um processo diferenciado na chamada “rede de resgate”), estamos fazendo menção à noção de “tradição inventada” (Hobsbawn, 2006). Esta sinaliza para uma espécie de continuidade que se dá entre o passado e o presente que, operando ideologicamente em conjunturas sócio-históricas determinadas, acomoda-se na construção de campos políticos. Quando falamos do reavivamento ou da “invenção” do jongo, seja pela ideia de uma rede de troca entre comunidades jongueiras, que se dá, tanto através de mediadores externos, assim como de contextos de mediação específicos, seja no interior da própria comunidade de Bracuí, através de educadores populares que contribuíram para transformar uma tradição familiar em tradição coletiva, estamos partindo da invenção de uma tradição - no caso um bem cultural - datada do período da escravidão no Brasil, que legitima hoje, no caso das comunidades quilombolas, sua ancestralidade e, portanto, seu direito sobre o território ocupado. Logo, a memória coletiva, construída em torno do jongo enquanto uma tradição praticada no passado, permitiu tanto a sua reinvenção como, em alguns casos, sua própria “invenção”, ainda que ambos - tanto esta como aquela - possam ser considerados símbolos identitários, sendo irrelevante questionarmos sua legitimidade ou autenticidade. Mas, se por um lado, falamos em reavivamento, reinvenção ou “invenção”, o que segundo o trabalho de campo só foi permitido mediante a memória da