Leitura Estratégica 12

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OPINIÃO

RUBENS FILETI Empresário e presidente da Acieg e da Faciest

O LOBBY DOS BANCOS VENCEU

S

e em toda solução a paternidade é disputada, quando falamos de problemas, logo precisamos de apontar o pai e a mãe. O caso de agiotagem em que se transformou a política de crédito para investimentos empresariais e rurais no Brasil é culpa exclusiva do governo federal e do Congresso, que, em 2017, mudaram as regras de concessão de crédito do BNDES e dos fundos regionais, entre eles, o FCO. Esta política foi mantida e piorada pelo atual governo. Na época, o lobby dos bancos conseguiu atacar um mercado em que eles não conseguiam entrar: o dos bancos de desenvolvimento e dos fundos constitucionais. Substituíram a TJLP pela TLP. Alegaram que se estas linhas tivessem menos juros subsidiados, os bancos ampliariam o crédito para empresários e produtores rurais. A medida acabaria com a “bolsa empresário”, diziam congressistas e alto escalão do governo. É típico dos lobbies no Brasil: se tem um problema na unha, a sugestão é amputar as duas pernas. E foi o que fizeram, cortaram as pernas do investimento privado no País – e fica por isso mesmo. O plano, que funcionou, era: com menos repasses de recursos para investimentos empresariais e rurais, sobrariam mais verbas no Orçamento. De fato, tiraram o dinheiro da produção e do crescimento da economia e triplicaram as verbas a parlamentares, que destinam a seus redutos de voto, e para governos ampliarem gastos com auxílios. Basta comparar o que recebia de emendas do Orçamento, em média, um parlamentar em 2016 e o que recebe agora. Que dia o Congresso vai voltar atrás nesta medida, que criou a “bolsa deputado”? É impossível uma política de desenvolvimento do País com taxa de juros de agiota. Atualmente, as linhas empresariais dos fundos estão com taxas finais que superam 25% ao ano e, nesta se-

Os lobistas, os bancos e o governo se calam. O crédito nunca chegou"

mana, o Ministério da Economia anunciou novos ajustes para o setor rural, com juros que chegam a 12% ao ano. Avalie: em 2016, quando a taxa Selic era 14,25%, a TJLP estava em 7,5%. Hoje, a Selic é 13,25% e a fatídica TLP é IPCA + 4,99%. Conta simples: 11,89% mais 4,99%, temos uma TLP de 16,8%. Antes, a TJPL era metade da Selic. Hoje, TLP bate a Selic. Enquanto o mundo abaixa juros para a economia crescer, aqui dobramos a taxa. Brasil sabotando o Brasil. Os lobistas e os bancos sumiram, o governo se cala e a prometida ampliação de crédito com juros menores nunca chegou. Não é difícil responder por que a economia não decola desde 2017. Só consegue investir quem abre capital em Bolsa – realidade de 0,1% das empresas no Brasil. Os projetos de investimentos foram engavetados. As opções são: manter a empresa menor e gerar menos emprego ou se aventurar nestes contratos leoninos que vão levar a empresa à falência. Esse modelo de política de financiar o crescimento do País, não queremos. Que sejam colocadas propostas reais para mudarmos o rumo do País, que, há sete anos, oscila entre estagnação e recessão. Nós, empresários, queremos ajudar. Queremos o fim da TLP e volta da TJLP. 93


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