BACKSTAGE #6

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ONLINE MUSIC MAGAZINE edição #6 junho - agosto 2023 Dark Age of Ruin O Heavy Metal renasceu… Torn Fabriks | Classic Rage | Stormwind | Nuno Costa Jázzaro | Projecto Natália | Bruno e Rafael | Maria Carolina Dj Tigue | Dj Hélder Figueiredo | Dj Pedro Almeida

DARK AGE OF RUIN

Desde a década de 1990, que o «underground» micaelense não inscrevia nas suas fileiras um projecto com as características de DAOR. A dupla Hugo Medeiros, vocalista e baixista (pai – que acedeu falar connosco) vs Hugo Medeiros, guitarrista e produtor (filho) criou «False Messiah and the Abstract», uma obra composta por 8 faixas, bem ao estilo «Old School Nordic Black metal». O disco já está disponível nas lojas...

Como é que descrevem este álbum de estreia?

Este trabalho vem no seguimento do Ep e é um passo em frente na nossa carreira, em termos de produção e de estilo, explorando sempre a vertente Black Metal mais «old school», um Black Metal sem muito floreado. Este álbum é de facto o culminar de muitas horas de trabalho, e estamos muito orgulhosos dele. É um disco poderoso, agressivo e bastante negro, masnão deixando de seguir a linha do Ep, ou seja, sem perdermos a nossa identidade.

A erosão dos tempos fez com que esta vertente do Black Metal mais extremista se tornasse ainda mais elitista, logo, menos consumida. É esta a sonoridade que pretendem explorar?

Tocaste num ponto em que eu concordo em parte. Sim, este Black Metal mais extremista sofreu com a erosão dos tempos, mas não só. Penso que o Black Metal mais sinfónico e melódico também tem sofrido do mesmo problema. Todavia, penso que o nosso disco traz algo de diferente, e isso pode ser bom para nós. De resto, é sem duvida a vertente que pretendemos explorar, é a nossa marca, o nosso selo, sem nunca obedecer a padrões «mainstream». Fazemos o que para nós faz sentido.

Como é que tem sido a recepção ao single «Son of Satan»?

Uma explosão que de facto não esperávamos. Temos recebido excelente «feedback», dos mais variados meios e dos mais

diversos países. Houve um site na Alemanha que deu ao single nota 8 em 10. Isso para nos é muito gratificante. Digamos que superou um pouco as nossas expectativas. Nas redes sociais, no Youtube, o pessoal tem feito muito boas criticas ao single e a nossa página teve um sério acréscimo de seguidores, devido ao single. Estamos mesmo muito orgulhosos do nosso trabalho.

Fala nos no processo de composição, captação e gravação do disco?

Vamos começar pelo processo de composição. Começamos sempre por riffs de guitarra por parte do Hugo (filho). Outras vezes é o baixo que rompe algumas sequencias de notas, dando origem a partes das músicas. A partir daí, o trabalho é de ambos.

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Segue-se o trabalho de bateria. Como já fui baterista, tenho quase sempre ideia do que pretendo para cada música. Por último, é que parto para a parte lírica, ou seja, quando escrevo a letra e melodias vocais. Já quanto à captação e produção é tudo feito no nosso pequeno estúdio em nossa casa. Aí o Hugo (filho) é que é o «master». Só o ajudo em pequenos pormenores, na produção. A partir daí, ele é que manda, desde a mixagem à masterização. É tudo obra dele. Sinto-me, de resto, muito orgulhoso. Com apenas 17 anos e com um estúdio caseiro, faz um trabalho acima da média. Como guitarrista, faz grandes malhas.

A editora Selvajaria Records surge em que contexto? Inicialmente, a intenção era lançar o álbum apenas em

formato digital, em todas as plataformas digitais, como fizemos com o Ep. A Selvajaria Records através do seu CEO, Hugo Rebelo, só aparece depois de eu ter tido algumas conversas com o Mário Lino Faria, do Museu do Heavy Metal Açoriano, em outubro de 2022. Depois de concluída a gravação do disco, mostramos ao Mário que tratou do restante processo. Aproveitamos para lhe agradecer, não só o que fez por nós, mas também por todo o trabalho feito em prol do Heavy Metal dos Açores e não só. Agradecemos ainda ao Filipe Machado e obviamente ao Hugo Rebelo.

O contrato que vos une inclui a promoção do disco e já agora em que países?

Inclui a promoção do disco em países como; Alemanha,

Inglaterra, Polónia e obviamente Portugal, isto na Europa. Também está prevista promoção no México e em Cuba. Numa segunda fase, serão outros países.

Existem planos para apresentar o disco em concerto?

Esta é uma pergunta que nos têm feito frequentemente. Para já, não vai ser possível fazermos a apresentação em concerto do álbum, dado que isso implicaria um conjunto de factores determinantes, como bem sabes. Passo a passo, vamos pensar nesta e noutras situações. Para já, somos apenas um projecto em duo.

Para terminar, onde estará o disco à venda?

O disco vai estar disponível através da Selvajaria Records e Museu do Heavy Metal Açoriano e podem encomendar pelos respectivos sites. Vai estar também em Ponta Delgada, nas lojas Conforto e La Bamba Store. Na ilha Terceira, na Sound Store e também no continente português, através da Bunker Store Portugal.

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TORN FABRIKS

Decorreu em Vila Franca de Xira, a sétima edição do «Massacre Metal Fest». A banda Torn Fabriks, liderada pelo micaelense Ricardo Santos fez a sua estreia ao vivo. O guitarrista Luís H. Bettencourt participou como convidado do quarteto que pratica «Old School Thrash Metal»

Atítulo pessoal, como é que foi para ti regressar ao continente português para uma actuação?

Foi bastante enriquecedor. O facto de estar em contacto direto com pessoas que apenas conhecia, na sua maioria, através das redes sociais, fez toda a diferença. Para além disso, apresentar ao vivo a nossa sonoridade, perante uma plateia de

metaleiros sedentos por 'liveacts', foi deveras desafiante e motivador para nós. Fez toda a diferença!

Torn Fabriks é, neste momento, uma confirmação na cena Thrash nacional. Tiveste essa perceção? Fazendo uma retrospectiva à nossa curta carreira, e não esquecendo que foi o nosso primeiríssimo concerto, temos a noção que ainda existe um longo caminho a

percorrer. Cremos que estamos é no caminho certo até sermos uma confirmação. É nossa vontade ter um projecto bastante sólido, dentro das circunstâncias, visto que eu e o Jorge vivemos bem distante um do outro. Mas sim, o sentimento é de estarmos no rumo certo.

Tendo em conta que actuaram juntos pela primeira vez, sem qualquer ensaio, o balanço foi

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positivo?

E de que maneira! De facto não fizemos um único ensaio, em conjunto, antes da nossa estreia nos palcos. Depois do concerto ter acabado, e da 'poeira assentar', a sensação foi como se já o tivéssemos feito várias vezes, dado o à vontade e a dinâmica em palco. Tudo se torna fácil quando a motivação está em alta. Basta acreditar que sim, que é possível por a máquina a trabalhar correctamente.

Esta formação em quarteto será para manter ou têm outros planos?

Sim, pelo menos para o próximo concerto que temos agendado, tanto o Garras (baterista) como o Luís H. Bettencourt (guitarra), são músicos convidados e pretendemos que sejam sempre eles a nossa primeira opção de escolha. Sabemos que estão envolvidos noutros projetos musicais mas, sempre que queiram e tenham disponibilidade, a porta estará aberta para eles.

Achámos que funcionou extremamente bem, no Massacre Metal Fest, em Vila Franca de Xira.

O núcleo duro de Torn Fabriks, no que respeita à composição vai manter-se ou será alargado?

Foram criados laços de amizade com estes dois elementos convidados, e certamente que gostaríamos de contar com a opinião deles em futuras composições. De uma forma direta, eles já fazem parte da família Torn Fabriks, e serão sempre tidos em consideração.

Certamente, assististe às prestações das restantes bandas. Com que opinião ficaste?

O underground nacional está repleto de bons valores, e no Massacre Metal Fest estiveram bandas que em nada são inferiores a outras provenientes de outros

países. Deveríamo-nos todos orgulhar disso mesmo. Todas me surpreenderam pela positiva, até porque foi a primeira vez que as vi ao vivo.

Até final de 2023 estão programadas mais datas. Quais as confirmadas?

Até ao momento, temos mais uma data confirmada. Será cá, em São Miguel. Infelizmente não poderei adiantar muito sobre isto porque só poderemos falar sobre ela após o anúncio da própria organização. Acreditamos que estará para breve.

Que balanço fazes de Torn Fabriks?

Extremamente positivo. Por vezes, não dá para acreditar o quanto esta banda fez em tão pouco tempo de existência, e isso também se deve ao apoio recebido, de uma forma incontestável dos media e dos fãs que conquistamos.

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CLASSIC RAGE

Foi um dos álbuns que mais marcou a história da música moderna feita nos Açores, dos últimos 30 anos. «Isolation’s Over» pertence a um dos colectivos mais ambiciosos de sempre, desde logo, pela escolha de um produtor norteamericano, para a gravação do seu disco de estreia. O vocalista Sílvio Ferreira recorda connosco o processo que envolveu o trabalho.

Em 2022, fez 25 anos que foi lançado o álbum “Isolation’s Over”. Ainda ouves esse disco?

Apesar de ter sido um trabalho de grande importância para os Classic Rage, hoje não oiço o disco com regularidade. Por norma, apesar de reconhecer que foi uma marco importante no panorama musical açoriano, que me orgulho de ter feito parte, não tenho por hábito revisitar com nostalgia a história.

Que memórias guardas do processo que antecedeu a gravação do trabalho?

Há 25 anos tudo era uma novidade, uma aventura, uma nova experiência, principalmente quando és um jovem à descoberta, sem qualquer tipo de

compromisso. No entanto, tínhamos a plena consciência do trabalho que queríamos fazer, trabalho este pautado pelo melhor compromisso, seriedade e profissionalismo possível à data. Todavia, recordo que foi um processo que surgiu com a actuação no Festival Maré de Agosto, quando tivemos a oportunidade de conhecer o Brian Martin que havia trabalhado com o Sting. Lançamos-lhe o desafio de produzir e gravar o nosso disco e ele aceitou. Após um longo processo em arranjar verbas, com a ajuda de algumas empresas locais, e da família, tornou-se possível alugar um espaço para montar o estúdio e iniciarmos o trabalho. Relembro que a logística associada à vinda do Brian Martin para os Açores foi o aspecto mais complexo, que só foi possível graças a várias entidades públicas e privadas. Todo o

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processo que se seguiu foi “música”. Posso afirmar que foi um processo que todos trataram com grande entusiasmo.

E no que respeita à gravação em si, foi um processo fácil?

Não há gravações fáceis nem difíceis. O estúdio baseia-se, também, num processo criativo, embora já leves algumas ideias pré-concebidas. Associo o estúdio a um laboratório criativo, onde se testam várias coisas, e onde se efetuam diversas alterações aos temas propostos. Num local onde se debate a melhor forma, a sonoridade mais adequada, a melhor fórmula, etc, não há lugar a dificuldades nem facilidades, mas sim à criatividade. As dificuldades só fazem parte após o lançamento

do trabalho, pois consomem recursos que já pouco têm a ver com música, e aí é que não se esperam facilidades.

Lembras-te do que foi escrito sobre esse disco?

Não tenho um grande arquivo dos artigos dessa altura, apenas pequenas coisas, e como já passaram 25 anos recordo-me de pouco ou quase nada. No entanto, tenho a sensação que a nível nacional o que foi escrito pela imprensa dedicada era positivo.

internacional, e mesmo que a viéssemos a ter, iria ser difícil.

Ainda na tua opinião, com a ressalva de que todos são diferentes, qual o teu disco preferido de Classic Rage, e porquê?

Na tua opinião e à distância que o tempo nos separa, como vês a carreira da banda, no geral, a nível nacional e internacional?

Há distância que o tempo nos separa, encaro a carreira da banda como uma referência a nível regional, e de certa forma com um feedback muito positivo a nível nacional.A nível internacional, apesar de ter havido oportunidade de carreira e mercado na Alemanha para os Classic Rage, tenho pouco a dizer. Trata-se de um mercado repleto de bandas e projetos, sendo que o público é cada vez mais disperso pelos diversos géneros. É difícil. Não sei o que os restantes elementos da banda pensam, mas não considero que tenhamos uma carreira

Todos são diferentes, de épocas diferentes, de realidades diferentes, e como tal com uma história diferente. Porém, o disco que mais me marcou foi o “All Right’s Reserved”. Em primeiro lugar porque foi produzido pelo Tommy Newton, uma referência como músico e produtor para todos nós. Recorde-se que foi um dos responsáveis pelos maiores sucessos da mítica banda “Helloween”. O facto de termos conhecido e trabalhado com músicos de enorme talento na Alemanha, durante 1 mês, foi efetivamente uma experiência única e enriquecedora. Aí podemos perceber a grandeza do mercado internacional, as dificuldades de aí entrar, da qualidade das bandas que ali abundam, e da "pequenês” que é o mercado Português. Tens que sair do país para os grandes mercados para entender isto. Regressamos conscientes da realidade que muito desconhecem, porém mais maduros e profissionais. Ainda hoje, considero que o álbum tem um som de grande qualidade em que se pode elevar os decibéis sem grande dificuldade. Hoje em dia, tens noção da real importância que a banda teve na altura?

Sem que isto ocupe muito a minha forma de estar e de ser, uma vez que não dou muita importância ao assunto, considero que há 25 anos éramos uma referência. Fomos audazes, corajosos, e comprometidos com a nossa audiência. Contudo, acho engraçado, e humildemente estranho, pessoas que desconheço me abordarem com recordações da banda, e com votos que regressemos um dia em formato “Classic Rage Reunion”. Pelo menos para esta geração, fico feliz por termos feito parte do passado destas “gentes" com a nossa música.

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“ Rompemos as fronteiras regionais, como o nome do disco indicava: “Isolation´s Over”.

STORMWIND

2023marca o 35º aniversário da formação dos Stormwind. Que memórias guardas dessa altura?

As melhores possíveis.Havia camaradagem, mesmo entre bandas de outras ilhas. Tudo era um mundo novo por explorar e tentar ser como o teu ídolo. Muito se sonhava na altura. Agora com um “click” tens acesso a tudo e com um “click” comprasum instrumento… antes, não era nada disso…

Sentiam-se diferentes pelo facto de estarem numa banda?

Eu gostava daquela sensação (e ainda gosto) de estar em palco e depois do concerto estar com o pessoal que assistiu ao concerto, trocar ideias e beber um copo, mas não somos mais que ninguém por teres uma banda… (risos)

Tiveram apoio dos músicos mais velhos, apesar depraticarem um som mais pesado que o normal em Santa Maria?

Não… Nada, tudo de ouvido e muitos ensaios antes de tocarmos pela 1ª vez (2 anos). Ninguém sabia de música ou sabia ler uma pauta, mas quando um homem quer… ainda hoje só sei tocar campainhas de porta e não sei nada de música, “true story”...

Formação Original

Bateria - Fernando Monteiro

Guitarra - Rui Batista

Guitarra - António Monteiro

Baixo - Pedro Resendes

Voz - João Pimentel

Acho que os temas estão, alguns infelizmente, ainda atuais, por exemplo o tema "em Português" (sim é o nome da música) sobre a educação das novas gerações ou a "The Degenerated" e "Dead zone" sobre a guerra ou "Victimized" sobre a depressão

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ou "Racism sucks" sobre racismo. Mas a maior parte das nossas malhas eram sobre gozar a vida e “party time”… "Sexual activities", "Crack the Party","Breakin the Walls", "One Size Fits All" (sobre preservativos) ou "Sun, Sand, Sea, Sex and Satisfaction"… enfim ...bons tempos...

A saída de alguns membros da banda ditou o seu final. O mercado local não oferecia alternativas ou já não fazia sentido continuar?

As duas coisas… só ficaram em Santa Maria eu e o baixista. Foi embora o motor da coisa toda, o

homem que fazia as letras e compunha, o baterista Fernando Monteiro. Todos davam a sua contribuição, mas o homem era a máquina…

Depois dos Stormwind, surgiram outras bandas em Santa Maria. Poderão ter sido uma consequência do vosso percurso?

Sim, quero pensar que sim. Depois de nós, chegamos a ter sete bandas na altura na ilha e chegamos a fazer festivais só com bandas marienses com temas originais.

Na altura, eras também responsável por um programa de rádio ligado ao Heavy Metal, de nome “Metalurgia”. Que importância teve na divulgação dessa sonoridade na região?

Bem, quero pensar que teve alguma influência também. Ainda hoje tenho pessoas que vêm ter comigo a dizer que ouviam o programa. Pessoal de cá, de São Miguel e até do Pico. Há um conhecido apresentador da RTP Açores, que ninguém desconfia, mas é um grande “metaleiro”. Já falou comigo sobre isso e a influência que teve...

Os marienses, Stormwind formaram-se há precisamente 35 anos. Foram pioneiros do Hard Rock na região, numa altura em que o Heavy Metal dava os seus primeiros passos. João Pimentel, vocalista e líder da banda fala-nos de como tudo aconteceu em 1988.

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NUNO COSTA

2023 Marca o vigésimo aniversário do primeiro número da SoundZone, publicação que teve como objectivo, a divulgação do Hard N” Heavy regional, nacional e internacional. Nuno Costa foi o mentor deste e de outros projectos, de elevado interesse, para os seguidores desta sonoridade.

anos após o primeiro número, que memórias guardas?

Guardo, sobretudo, o entusiasmo genuíno de pôr em prática uma atividade que me empolgava, a escrita, ao serviço de outra, a música. Era a conjugação perfeita e algo que cogitava há muito, apesar de só ter dezanove anos. Estimo particularmente a forma ingénua, mas voluntariosa, como se construiu aquele folheto A3 dobrado a meio, que foi crescendo para uma série de páginas e culminando em 14

edições. É verdade que já não se montavam fanzines em 2003 como noutros tempos, mas o processo continuava a ser tecnicamente muito rudimentar, pelo menos para mim. O sentimento era basicamente o de uma criança que acabava de receber um brinquedo modesto, mas cheio de significado.

Que importância teve, na tua opinião, a SoundZone naquela altura?

Lamento desiludir-vos, mas qualquer autoavaliação

qualitativa do assunto sinto que é incorreta, subjetiva, enviesada e, possivelmente, tendenciosa. Apenas consigo inferir que, naquela altura, tratava-se do único fanzine em circulação. Se isso impulsionou o que quer que seja? É uma mera probabilidade. Senti apoio, tinha seguidores fiéis, havia matéria sobre a qual se falar... Se isso mudou a vida das bandas e o panorama regional, é uma conclusão demasiado pretensiosa e artificial de se tirar. Eventualmente, contribuí para a divulgação do género, como tantos outros.

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Os objetivos a que se propôs a publicação foram atingidos?

Fazendo uma feliz ponte com a questão anterior, a resposta seria um "nim". Quem me conhece sabe que sou uma pessoa muito terra-a-terra, mas ao mesmo tempo “estupidamente” sonhadora. Parece inviável, ou paradoxal, mas sou assim. Resulta disso que sentia que, a cada notícia ou entrevista publicada, ia atingindo um objetivo singular e cumprindo com o prazer mais singelo de informar e de fazer o "meu" jornalismo. Tudo isso rumo a um outro objetivo global que é demasiado utópico para descrever aqui, mas que diria que não foi atingido, considerando o desenvolvimento do género na última década. Independentemente disso, foram dos melhores tempos da minha vida, o que para mim diz tudo. Qual foi o ponto mais alto da SoundZone?

Tendo a ser novamente "cinzento" na resposta, mas o ponto mais alto foi mesmo cada segundo conquistado numa luta extremamente adversa pela sobrevivência. É escusado insistir na questão de o Metal ser um nicho de mercado. Já sabíamos ao que vínhamos. Centrar a discussão no pressuposto de termos regredido por terem desaparecido vários projetos é muito tentador, mas o outro lado diz-nos que as bandas e os média nunca tiveram tanto alcance. A evolução tecnológica colocounos num patamar de liberdade sem precedentes, mas trouxe-nos também outros desafios gigantes, que facilmente escrutinamos na esfera do debate científico, psicossocial ou filosófico. É muito mais fácil expressarmos a nossa opinião, mas mais difícil sermos ouvidos com atenção. Há também uma polarização clara que dificulta o respeito por certas opiniões ou nichos, e daí um género como o Heavy Metal ter teoricamente já vivido melhores dias. Tudo isso está apinhado de relativismo, até porque o Metal continua a ser um

movimento à escala mundial, com festivais gigantescos, mas é preciso aceitar que os conceitos de sucesso mudaram drasticamente.

Falemos do festival SoundZone. Que importância teve?

Porventura, será o aspeto que melhor traduz quantitativamente a relevância do projeto. Há pouco tempo fiz umas contas aos 12 anos de SoundZone fora da "redação", com os seguintes resultados: oito eventos, entre eles cinco aniversários do zine, festival Alta Tensão, Festival Internacional de Metal e “Winter Slaughter Sessions”. Participaram ao todo 19 bandas regionais, cinco bandas continentais e quatro internacionais. Sendo que algumas bandas se repetiram, foram ao todo 43 concertos, com 28 bandas diferentes. É neste sentido que reconheço alguma presença do SoundZone no meio Heavy Metal regional.

Para terminar, já equacionaste o regresso dessa publicação?

Eu se calhar responderia com outra pergunta: valeria a pena? Teria alguma utilidade? Por mal dos meus pecados, os tempos mudaram. É verdade que na era do “fast journalism” urgem alternativas válidas, jornalismo de investigação, de qualidade, mas tudo isso tem um custo nem que seja emocional. Sinto uma sociedade com pouca sensibilidade para essas causas. Acima de tudo, à falta de uma ideia que me faça os olhos brilhar novamente, prefiro manter-me na sombra. Em todo o caso, o barco está muito bem entregue.

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12 anos de SoundZone fora da "redação", com os seguintes resultados: oito eventos, entre eles cinco aniversários do zine, festival Alta Tensão, Festival Internacional de Metal e “Winter Slaughter Sessions”.

JÁZZARO

Voltaste a pisar o palco do Lava Jazz, com uma formação diferente daquela que se estreou faz um ano. Quem são os novos rostos de Jázzaro?

Agora temos a Raquel Dutra na voz e o Miguel Oliveira no Contrabaixo e baixo elétrico. O Tiago Franco manteve-se na guitarra, e claro, eu na bateria.

Essas alterações surgiram por que motivos?

Desde o início - e creio que já tinha mencionado isso no passado - que o conceito de Jázzaro é muito inspirado nos Jazz Messengers de Art Blakey. Ir rodando os músicos, e dando oportunidade a outras pessoas de tocarem jazz. Até ao momento, todas as pessoas que "recrutei" para Jázzaro vêm de outros backgrounds musicais. Tanto a Raquel como o

Miguel, eram pessoas que já tinha identificado para fazer parte do projecto. A realidade é que não estava nos meus planos fazer esta mudança já, mas por indisponibilidade da Sara Câmara (a anterior vocalista) aproveitei para fazer o que iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

O Jazz continuará a ser o foco principal. O que é que vai mudar com as novas caras?

Não existe dois músicos iguais. Pode não mudar tudo, mas muda muita coisa. Temas que fazíamos, agora fazemos diferente, e tendo em conta as particularidades do Miguel e da Raquel faz mais sentido tocar peças que anteriormente não fazia parte dos planos. Eu próprio não toco igual, nem o Tiago. O Jazz é um género muito orgânico. É o que mais me atrai nele. Os músicos reagem uns aos

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outros, e sendo músicos diferentes, esta reação também muda. É como no futebol, um jogador joga diferente se tiver outros colegas de equipa.

O projecto Jázzaro poderá ser visto em eventos no exterior?

Sim, porque não? Há espaços excelentes nesta ilha, onde um concerto de jazz assenta como uma luva. Para dar um exemplo, há uns anos atrás actuei no Jardim António Borges, e foi magnifico. Como ainda o ano passado, Jázzaro actuou no S. João da Vila. É uma questão de contexto.

Os originais passam a ser um objectivo ou ainda não?

Não vou dizer que são, como também não descarto

essa hipótese. É uma questão de ter linguagem suficiente para isso. Para já o que temos que mais se assemelha, foi uma adaptação jazzística de um clássico português "Povo que Lavas no Rio".

O jazz continua a ser elitista. De que forma se muda esse paradigma?

Porque é que o jazz haveria de ser elitista se as suas próprias origens são do mais humilde que há? O que há, isso sim, é uma falta de conhecimento e sensibilização sobre o que é o Jazz. Existem muitas ideias pré-concebidas do que as pessoas julgam ser o Jazz. Em parte, o objetivo de Jázzaro também é educar as pessoas. E mostrar uma das inúmeras facetas do Jazz.

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O projecto Jázzaro – liderado pelo baterista e compositor Lázaro Raposo – regressou ao palco do Lava Jazz, para mais uma actuação. Raquel Dutra na voz e Miguel Oliveira no contrabaixo, foram as novidades que se juntam à formação que contou ainda com o guitarrista Tiago Franco.

PROJETO NATÁLIA

Acreditamos que, nem nos vossos melhores sonhos, imaginassem actuar em Washington D.C., pelo menos nesta fase inicial do disco?

A internacionalização do “Projeto Natália”, de alguma forma esteve sempre presente na base deste percurso artístico, não fosse Natália Correia, uma mulher do mundo, que sempre levou as suas ideias e obras, para lá de fronteiras e de linhas do horizonte. Claro que é uma tremenda honra levar as suas palavras até aos EUA através da nossa música e da nossa voz, é uma enorme responsabilidade, e um grande privilégio. Não podíamos estar mais felizes por partilhar parte da sua obra com portugueses que nunca tinham ouvido falar de Natália, ou até

americanos, que ao lerem a sinopse, ficaram tão curiosos, que quiseram marcar presença nos concertos e nos workshops. Tenho a certeza que era essa a vontade de Natália, que o projecto voasse como ela sempre voou.

Como é que tudo isso surgiu?

Devido ao contexto do centenário de Natália, o projecto tem recebido vários convites para que a poesia possa chegar a um maior número de pessoas. Sentimos que cada vez mais há urgência em refletir sobre as obras criadas por mulheres, mulheres essas que durante séculos foram silenciadas. A força vulcânica de Natália, tem de ser escutada, desejávamos muito que as suas convicções

espelhadas na sua poesia fossem ouvidas. Tudo isto nos levou a receber um convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Quem foram os anfitriões e que feedback obtiveram?

Os anfitriões foram os Embaixadores e respetivos diplomatas de várias

Embaixadas: Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Angola, Portugal.. .Num dos concertos, o palco foi partilhado com alguns músicos Brasileiros, o que nos deixou verdadeiramente felizes. É muito emocionante partilhar a Língua Portuguesa com tantos países, com tantos artistas talentosos, e receber palavras tão bonitas, vindas de tantos lugares. É disto que também a poesia é feita, de partilha, de emoções, de

A convite do Ministério dos Negócios vivo, na passada semana em Washington palavra de Natália Correia à capital
Embaixadores e Diplomatas do Mia Tomé, falou connosco sobre
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Negócios Estrangeiros, o Projeto Natália apresentou-se, ao Washington D.C., Mário George Cabral e Mia Tomé levaram a capital dos Estados Unidos da América, reunindo Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Angola e Portugal. sobre a viagem que marcou a internacionalização do projecto.

respeito. Não esquecer também os workshops de «Public Speaking», onde vários dos participantes inscritos (portugueses, mas também americanos) , tiveram oportunidade de contactar diretamente com a poesia de Natália Correia, através de vários exercícios relacionados com a Expressão Dramática e a Voz.

Sentem que, de alguma forma, isso poderá abrir outras portas para outras actuações, noutros locais?

Já abriu, e é uma enorme alegria pisar estas pontes que surgem através destes encontros tão inspiradores. Este álbum é um objeto feito de muitos lugares, de muitas pessoas, e isso faz com que ele caiba em vários palcos artísticos. Este disco não é

só um disco de poemas, gostamos de olhar para ele como uma curta peça de teatro, como uma narrativa em oito actos, esse conceito permite que o vinil viaje em vários formatos, em vários suportes.

Em São Miguel ou no restante arquipélago, está previsto actuarem nos próximos meses?

Nos Açores, para já, há um concerto agendado para setembro, em São Miguel. Estamos muito entusiasmados por apresentar novamente este trabalho, na sua casa de partida, no berço de Natália Correia. Foi aqui que este disco começou, foi aqui que o «Cântico do País Emerso» (1o single), foi pensado e embalado, é muito simbólico, é como devolver de alguma forma estas melodias à ilha que

também nos inspirou.

O que é que está pensado para o pós centenário de Natália Correia, sendo que este assunto é inesgotável?

Celebrar Natália e a liberdade que ela significa, serão sempre elementos inesgotáveis, capazes de mover o nosso projeto para vários contextos, onde o objetivo maior será sempre o mesmo: levar a poesia de Natália ao máximo de pessoas que conseguirmos, celebrando-a, com o reconhecimento que ela sempre mereceu. A biógrafa de Natália Correia, Filipa Martins, costuma dizer que Natália viveu mais de dez vidas, este nosso projeto, também tem essas facetas, muitas vidas para viver, em vários formatos, em vários palcos, em vários mundos.

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BRUNO BETTENCOURT & RAFAEL CARVALHO

Está visto e comprovado que a distância não impede que a música seja feita e partilhada à distância. Todavia, essa foi a tua primeira experiência tendo como objetivo a gravação de um disco?

Nos tempos actuais a distância não impede que se faça esse tipo de trabalhos. Já tive algumas colaborações musicais em projectos de outras pessoas, ao longo dos anos, em que foi necessário gravar à distância, tendo até videochamada pelo skype com os produtores de um dos discos. Aqui, fomos fazendo esse trabalho de preparação, cada qual na sua Ilha, e depois conseguimos um dia para finalmente concretizar a gravação. Como álbum completo foi a primeira vez que tivemos de trabalhar desta forma, mas conseguiu-se o essencial que era a concretização do disco.

Qual a melhor forma de descrever este trabalho?

É um álbum de união e partilha: união de Violas e união de amizades de muitos anos, e uma partilha da nossa visão sobre o que pode ser a Viola da Terra, hoje e para o futuro. Transporta a essência dos velhos Mestres, do passado, mas actualiza-a, em despiques entre as Violas, alguns

improvisos, e ainda com 2 originais em que cada Viola mostra a sua sonoridade.

Para alguém com a tua experiência na matéria, para além da diferença no número de cordas, que outras existem entre a viola de São Miguel e da Terceira?

As Violas que fazem parte deste disco são as de 12 cordas (São Miguel) e a de 15 cordas (Terceira). Para além dessa diferença no número de cordas temos a diferença na abertura sonora do tampo, sendo a de São Miguel em forma de dois corações e a da Terceira em forma circular (na generalidade). Por último, temos afinações diferentes e técnicas de execução diferentes, o que também se reflecte no próprio timbre dos instrumentos. Essa diferença é notória na audição das várias modas que compõem o CD. Acima de tudo os 2 instrumentos complementam-se na perfeição.

A junção dessas duas Violas surge pela primeira vez em disco. Quais são as vossas expectativas?

São as expectativas de qualquer disco, que seja ouvido! Em primeiro lugar que as pessoas ouçam, que as rádios ajudem a divulgar e que possamos

apresentar o mesmo ao vivo. Ao mesmo tempo, há uma componente simbólica muito importante neste álbum, com esta mensagem e apelo à união entre os tocadores de Viola. Isso resulta de um trabalho que alguns de nós temos vindo a fazer nos últimos anos, construindo pontes nesse percurso. Esta junção, inédita, pretende ser exemplo disso e o mote para o futuro, por parte de quem partilhe esses mesmos ideais.

Dois dos dez temas são originais. Um próximo trabalho poderá ser apenas de originais ou pretendem continuar a dar destaque à música tradicional das ilhas?

Neste momento, o objectivo era concretizar este álbum, como ideia nascida do “X Festival Violas do Atlântico”. Foi um percurso de dois anos que agora se conseguiu finalizar. Não está na nossa ideia, para já, a concretização de novo trabalho nos mesmos moldes. No entanto, a pergunta é pertinente e pode ser a semente para começarmos a idealizar algo, mais à frente (risos). Mas, a acontecer, acredito que seria sempre com base na música tradicional das Ilhas, e, claro, com algum original que possa aparecer.

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“Duas Violas, Uma Tradição…” é o título da estreia que une o músico terceirense, Bruno Bettencourt ao músico micaelense, Rafael Carvalho e que apela à união. Como tal, cabe agora, a quem de direito olhar para este projecto, com o carinho que merece.

Voltaste a contratar os serviços do produtor Luís Xavier. Continua a ser o eleito para os teus discos?

Acompanho o trabalho do Luís Xavier há muitos anos e colaborámos nos meus dois últimos álbuns. Quando decidimos fazer a gravação presencial foi unânime a nossa opinião, minha e do Bruno, em trabalhar com o Luís, tendo em conta o trabalho que ele tem desenvolvido e a naturalidade sonora que ele consegue em todas suas mixagens. Era esse o som que este álbum necessitava.

A viola da terra continua a ser a vossa inspiração. Continua a haver argumentos para tal?

Sim, todos os dias. Quer pelo trabalho que desenvolvemos, cada um nos nossos projectos musicais, quer pelo trabalho que outros tocadores vão desenvolvendo, cada vez mais com ideias novas e com abordagens diversas. A limitação está dentro de cada um, apenas. “Duas Violas, Uma Tradição” é exactamente a prova de que podemos continuar a criar, a inovar, a diversificar, e ser na mesma um trabalho muito nosso,

e que diz muito a quem ouve, conhece e toca a nossa Viola da Terra e não só.

Estão previstos concertos para promover o disco, quer em São Miguel, quer na Terceira?

Sim. Estamos a procurar agendar um momento de apresentação nas duas Ilhas, no Verão. Anunciaremos quando tivermos as datas e locais definidos. Entretanto, para os interessados, o disco está disponível através dos seguintes e-mails: aivioladaterra@gmail.come sonsdoterreiro@gmail.com

16 | BACKSTAGE | JUNHO - AGOSTO 2023

MARIA CAROLINA

Recentemente, o Auditório da Madalena, na ilha do Pico, recebeu o Azores Fringe Festival. Maria Carolina foi uma das convidadas e levou na bagagem o álbum «metAMORfose».

Como é que foi a sua participação no Azores Fringe Festival?

Foi mais uma oportunidade de apresentar o meu álbum, «metAMORfose» -conheceu o amor através da luz colorida, como experiência enriquecida com outros recursos audiovisuais, mantendo a mesma natureza independente, intimista, poética e espiritual.

Foi importante, para si, participar?

Foi extremamente gratificante para mim participar num festival que eu considero ser muito importante nos Açores e no mundo, pelas suas características inerentes e por considerar que, hoje, é ainda mais importante celebrarmos a arte e a cultura, a nível local e global.

O público já conhecia o seu trabalho ou há que trabalhar mais nesse sentido?

Não conheciam, de todo... E isso fez-me perceber que realmente tenho de investir mais tempo neste sentido.

Missão cumprida no Pico?

Acho que posso dizer que sim. As pessoas que estiveram presentes fizeram questão de me parabenizar, mostrar a sua surpresa, agrado e satisfação com todo o espetáculo.

Festivais como o Fringe fazem falta noutras ilhas?

Sim, sem dúvida. Todas as ilhas beneficiariam de um festival que prima por celebrar todas as formas de arte e cultura, sabendo que isso influencia diretamente a riqueza educativa e formativa dos

públicos, a nível pessoal e social. Para quando e onde a próxima paragem?

Ainda não tenho a próxima paragem confirmada. Mas posso garantir que o espetáculo está sempre de malas feitas e pronto a voar para o próximo destino. Aceitam-se novas paragens! MantraNostrum continua a produzir novas canções? Mantra Nostrum é um projeto bem diferente do meu a solo. O próprio processo de cocriação, desperta em mim novos interesses, o que me leva a explorar novas sonoridades. Nós continuamos em fase de composição, arranjos e gravação. Brevemente teremos novidades mais concretas. Que balanço faz desde a saída do seu álbum?

O meu álbum tende a somar pontos positivos. Eu só posso agradecer. A todas as pessoas que de alguma forma me têm dado a possibilidade, a oportunidade, de mostrar, partilhar e promover o meu trabalho. Através dos meios de comunicação social, jornal, rádio, televisão, organizadores e promotores de espetáculos, salas de espetáculo públicas e privadas. E acima de tudo, às pessoas que têm acompanhado o meu percurso musical e assistido à minha «metAMORfose» ao vivo. Pois, sem ouvintes, não há música e sem público, não há espectáculo. Sente que outras coisas podem ser feitas para continuar a promover o álbum?

Sim. Como artista independente, não estando associada a nenhuma

label ou distribuidora, tenho desafios extra. Há muitas mais ações a desenvolver para que o álbum tenha na realidade alguma hipótese de tocar as pessoas e deixar a sua marca, a sua impressão digital.

O processo de promoção já a levou à diáspora?

Pelo que eu sei, somente através de familiares e conhecidos. Para terminar, tem valido a pena estar e fazer música?

Sim. Para mim, a música continua a ser uma fonte inesgotável de energia e de potencial transformador. A criatividade continua a ser uma das capacidades mais importantes do ser humano e talvez a menos utilizada. O pensamento criativo promove sociedades educadas, produtivas e conscientes. Fico triste quando percebo que isso não é valorizado. Muito embora, se tenha adquirido tanto conhecimento sobre tudo, pouco se sabe fazer com aquilo que se deixa "escrito". Pouco valor se tem dado ao que faz realmente BEM ao nosso SER. O que nos ajuda a estar mais conscientes, mais presentes, mais felizes com a nossa vida. Não é política, não é religião, não é poder. A cultura, a arte, a música preenchem uma dimensão imprescindível à nossa existência e satisfação, de forma única e insubstituível. Espero poder continuar a sentir a vida através desta melodia que me acompanha, vivê-la e expressá-la através da música que crio.

17 | BACKSTAGE | JUNHO - AGOSTO 2023

DJ TIGUE

Continuas a ser um exemplo para a classe de produtores de música electrónica da região e do país. Como é que caracterizas o teu percurso?

Em primeiro lugar, obrigado pelo elogio. O meu percurso tem sido positivo mas sinto também que é lento, talvez por estar numa ilha distante de tudo. Mas quando se faz aquilo que se gosta, o resto vem por acréscimo e tento, principalmente aqui na região, ajudar naquilo que sei os produtores musicais e também quem está a iniciar. Musicalmente e para quem não te conhece, como é que descreves a tua música?

Em termos do género, onde mais me enquadro é no Progressive House, Pop Dance mas também já produzi outros géneros; hiphop, latino pop,etc. Resumindo, adoro música seja de que género for.. mas sim ando mais "inclinado" para o Progressive House.

Como surgem as colaborações nas tuas músicas?

Hoje em dia, com a internet as coisas são mais fáceis e as colaborações surgem naturalmente. Eu entro em contacto com outro produtor, mostro uma ideia ou uma melodia e o resto surge de forma progressiva.

O facto de viveres nas Flores, jamais te impediu de fazer o que quer que fosse. A que se deve essa determinação?

Viver na ilha das Flores nunca me impediu de fazer aquilo que mais gosto, porque hoje em dia e com novas tecnologias, já não me sinto preso e isolado.

Acreditamos que explores a internet e as suas valências até à exaustão. Só assim se combate o isolamento. Concordas?

Concordo! Se não fosse a internet e as plataformas digitais ex: spotify, YouTube, Apple

Music, entre outras, ia ser muito mais complicado mostrar o meu trabalho.

Que objectivos tens enquanto produtor e enquanto Dj?

Os meus objetivos são muito simples, tanto como Dj e Produtor. Enquanto sentir que as pessoas querem ouvir os meus trabalhos, vou estar sempre com motivação para continuar... Não tenho aquela coisa de "Super Star Dj". Faço porque gosto.. na produção também, mas claro que gostava que a minha música chegasse a milhões na internet.

Onde e como podem encontrar os teus trabalhos e as tuas redes sociais?

Os meus trabalhos estão em todas as plataformas digitais: Spotify, Youtube, Apple Music, Amazon Music, Instagram, Tiktok, Facebook. Basta procurar por TIGUE ou Dj TIGUE

18 | BACKSTAGE | JUNHO - AGOSTO 2023
É a principal referência, a ocidente, no que à música electrónica diz respeito. É conhecido e reconhecido pelo seu trabalho, um pouco por todo o país e não só, tendo em conta que já passou as fronteiras de Portugal. Tigue é o seu nome artístico.

DJ HÉLDER FIGUEIREDO

É uma das principais referencias das pistas de dança da ilha de Santa Maria. Desde sempre influenciado pela música e por músicos, Hélder Figueiredo inicia o seu trajecto na bateria, aos 14 anos. Anos mais tarde, descobre a sua vocação pelo Djing e, desde então, é nisso que se tem focado. A Chaminé, tem sido a sua casa.

Certamente, cresceste a ouvir música e isso influenciou o teu gosto pelo Djing. Quando é que isso aconteceu?

Todos nós temos as nossas referências, muitas vezes começa com alguém da nossa família ou grupo de amigos. No meu caso, foi desde muito cedo que a música fez parte da minha vida. Aos 14 anos de idade, tive a minha primeira bateria, oferta de meu avó. Comecei a tocar em casa e pouco depois tive a oportunidade de formar uma banda com amigos. Anos mais tarde e a convite de um grande amigo, Tó Manuel Bairos, fui vêlo de perto a passar música. A ocasião era um baile de carnaval. Recordo que nessa noite, mais para o fim, o Tó ia dando dicas sobre as músicas a passar e, aos poucos, fui ganhando jeito para passar música. Tiveste formação posteriormente?

Não tive nenhuma formação. O que eu sei hoje em dia, devo a alguém que esteve na noite durante 30 anos. Aprendi muito e só tenho agradecer. Foi um processo evolutivo que me fez crescer com o público, o que não é fácil mas que depois tem um retorno enorme.

Existe mais alguém na família com a mesma aptidão para essa área musical?

Meu pai sempre gostou de música, ao ponto de ter estado envolvido, nos anos 90, a gerir um espaço noturno, aqui em Santa Maria. Falo da discoteca

“A Chaminé”. Actualmente, já não tem essa casa, mas de quando em vez, vai passando alguma música no equipamento que tenho no meu “home Studio”.

Musicalmente, quais são as tuas referências?

As minhas referências são artistas que vieram de influências diferentes mas que conseguem partilhar o mesmo espaço, dentro da música eletrónica, são eles; Hardwell e Kura que seguiram caminhos idênticos em termos de linha musical, embora não venham da mesma sonoridade inicial. Digamos que essas foram as minhas principais influências. Actualmente, tenho nos Karetus a minha principal fonte de inspiração. Musicalmente, a força do rock, com a essência melódica do jazz dão força a várias vertentes do house, que é a vertente com que mais me identifico.

Santa Maria já te inspirou o suficiente para começares a produzir?

Santa Maria, sendo uma ilha muito “festivaleira”, com varias vertentes musicais e muito rica em termos históricos e culturais, acaba por me inspirar de diversas formas. Tenho em fase de amadurecimento, um projecto que dará frutos talvez ainda este ano e relacionado com as vertentes com que me identifico. Por enquanto, não posso nem devo adiantar muito mais, até porque não tenho data definida para a sua concepção

final e posterior apresentação. Não tenho pressa nem sinto qualquer pressão para a sua realização. Como disse, com alguma sorte, até final do ano, pode ser que surja algo de interessante, daqui de Santa Maria.

19 | BACKSTAGE | JUNHO -
2023
AGOSTO

DJ PEDRO ALMEIDA

É,

um dos mais carismáticos Dj’s da noite micaelense. Foi ainda dos primeiros, da região, a animar as pistas de dança de algumas das casas mais importantes da “noite” nacional. Como se isso não bastasse, ajudou a formar mais de duas dezenas de Dj’s de São Miguel, da região norte do país e até da América do sul. Chamase Pedro Almeida e é o nosso convidado desta edição de Backstage.

Tens ideia de quantos Dj’s já formaste?

Seguramente, mais de duas dezenas de jovens. Alguns deles, trabalham actualmente na noite. Foi um gosto trabalhar com todos eles e hoje é um orgulho muito grande vê-los em algumas casas nocturnas ou em eventos diversos.

Musicalmente, como é que defines a tua linha musical?

Linha musical certa não tenho, uma vez que sou muito versátil e passo todo o tipo de música, desde a eletrónica ao Pop, Rock, Reggae, Latina, etc. Foi assim que aprendi a trabalhar nesta área, no saudoso Pópulo's Inn, uma vez que era uma casa onde passávamos desde música electrónica ao Pop, Rock, Reggae. Enfim, era uma casa versátil, em termos musicais, como aliás sempre teve de ser cá na ilha, quer queiramos quer não. Também é certo que, na altura, não havia grandes tecnologias e muito menos acesso a música como hoje em dia, mas, felizmente havia cultura musical e qualidade técnica para dar e vender e o certo é que tive a honra de ter os melhores professores que havia; José Francisco, João Pereira e Óscar Baía! Aproveito para deixar-lhes aqui um grande abraço e o meu eterno agradecimento por tudo o que me ensinaram tanto a nível profissional, como a nível pessoal.

Mesmo assim, o Techno continua a ser especial para ti?

Sim, embora não tanto como em tempos passados. Hoje em dia, já não encontro muito Techno com

o qual me identifique, como antigamente e a realidade é que tornei-me mais "soft" em termos musicais. Desde há uns 6 anos para cá, recomecei a ouvir Progressive House (género que sempre adorei também) e a partir daí fui começando a explorar melhor outros géneros como Melodic House & Techno, Deep Tech ou Organic House, que apesar de serem sonoridades bem mais calmas comparando com o Techno, conseguiram cativar-me pela sua qualidade cada vez mais vincada e alguns temas até são verdadeiros hinos à musica electrónica.

Produzir música, é algo que nunca te despertou muito interesse. Porquê?

A produção musical é algo que requer muito tempo disponível, além do investimento necessário que não é propriamente barato. A minha principal preocupação sempre foi ter música nova para presentear os clientes das casas por onde passei e ainda passo ocasionalmente. Assim sendo, o tempo que resta não permite que me aventure nessas andanças. Há ainda o facto de não haver muito mercado em Portugal, para o género musical que iria querer produzir, o que também acaba por ser um bocado desmotivante.

Planos para 2023?

Bem, hoje em dia é difícil fazer planos, uma vez que já não faço vida da música há alguns anos, apenas alguns eventos pontuais nos tempos livres. A ter algum plano, será o de continuar a fazer estes “gigs” com a liberdade musical que felizmente tenho tido na maioria deles, porque assim, são deveras divertidos de fazer.

seguramente,
20 | BACKSTAGE | JUNHO - AGOSTO 2023

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