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NUNO COSTA
from BACKSTAGE #6
2023 Marca o vigésimo aniversário do primeiro número da SoundZone, publicação que teve como objectivo, a divulgação do Hard N” Heavy regional, nacional e internacional. Nuno Costa foi o mentor deste e de outros projectos, de elevado interesse, para os seguidores desta sonoridade.
anos após o primeiro número, que memórias guardas?
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Guardo, sobretudo, o entusiasmo genuíno de pôr em prática uma atividade que me empolgava, a escrita, ao serviço de outra, a música. Era a conjugação perfeita e algo que cogitava há muito, apesar de só ter dezanove anos. Estimo particularmente a forma ingénua, mas voluntariosa, como se construiu aquele folheto A3 dobrado a meio, que foi crescendo para uma série de páginas e culminando em 14 edições. É verdade que já não se montavam fanzines em 2003 como noutros tempos, mas o processo continuava a ser tecnicamente muito rudimentar, pelo menos para mim. O sentimento era basicamente o de uma criança que acabava de receber um brinquedo modesto, mas cheio de significado.
Que importância teve, na tua opinião, a SoundZone naquela altura?
Lamento desiludir-vos, mas qualquer autoavaliação qualitativa do assunto sinto que é incorreta, subjetiva, enviesada e, possivelmente, tendenciosa. Apenas consigo inferir que, naquela altura, tratava-se do único fanzine em circulação. Se isso impulsionou o que quer que seja? É uma mera probabilidade. Senti apoio, tinha seguidores fiéis, havia matéria sobre a qual se falar... Se isso mudou a vida das bandas e o panorama regional, é uma conclusão demasiado pretensiosa e artificial de se tirar. Eventualmente, contribuí para a divulgação do género, como tantos outros.
Os objetivos a que se propôs a publicação foram atingidos?
Fazendo uma feliz ponte com a questão anterior, a resposta seria um "nim". Quem me conhece sabe que sou uma pessoa muito terra-a-terra, mas ao mesmo tempo “estupidamente” sonhadora. Parece inviável, ou paradoxal, mas sou assim. Resulta disso que sentia que, a cada notícia ou entrevista publicada, ia atingindo um objetivo singular e cumprindo com o prazer mais singelo de informar e de fazer o "meu" jornalismo. Tudo isso rumo a um outro objetivo global que é demasiado utópico para descrever aqui, mas que diria que não foi atingido, considerando o desenvolvimento do género na última década. Independentemente disso, foram dos melhores tempos da minha vida, o que para mim diz tudo. Qual foi o ponto mais alto da SoundZone?
Tendo a ser novamente "cinzento" na resposta, mas o ponto mais alto foi mesmo cada segundo conquistado numa luta extremamente adversa pela sobrevivência. É escusado insistir na questão de o Metal ser um nicho de mercado. Já sabíamos ao que vínhamos. Centrar a discussão no pressuposto de termos regredido por terem desaparecido vários projetos é muito tentador, mas o outro lado diz-nos que as bandas e os média nunca tiveram tanto alcance. A evolução tecnológica colocounos num patamar de liberdade sem precedentes, mas trouxe-nos também outros desafios gigantes, que facilmente escrutinamos na esfera do debate científico, psicossocial ou filosófico. É muito mais fácil expressarmos a nossa opinião, mas mais difícil sermos ouvidos com atenção. Há também uma polarização clara que dificulta o respeito por certas opiniões ou nichos, e daí um género como o Heavy Metal ter teoricamente já vivido melhores dias. Tudo isso está apinhado de relativismo, até porque o Metal continua a ser um movimento à escala mundial, com festivais gigantescos, mas é preciso aceitar que os conceitos de sucesso mudaram drasticamente.
Falemos do festival SoundZone. Que importância teve?
Porventura, será o aspeto que melhor traduz quantitativamente a relevância do projeto. Há pouco tempo fiz umas contas aos 12 anos de SoundZone fora da "redação", com os seguintes resultados: oito eventos, entre eles cinco aniversários do zine, festival Alta Tensão, Festival Internacional de Metal e “Winter Slaughter Sessions”. Participaram ao todo 19 bandas regionais, cinco bandas continentais e quatro internacionais. Sendo que algumas bandas se repetiram, foram ao todo 43 concertos, com 28 bandas diferentes. É neste sentido que reconheço alguma presença do SoundZone no meio Heavy Metal regional.
Para terminar, já equacionaste o regresso dessa publicação?
Eu se calhar responderia com outra pergunta: valeria a pena? Teria alguma utilidade? Por mal dos meus pecados, os tempos mudaram. É verdade que na era do “fast journalism” urgem alternativas válidas, jornalismo de investigação, de qualidade, mas tudo isso tem um custo nem que seja emocional. Sinto uma sociedade com pouca sensibilidade para essas causas. Acima de tudo, à falta de uma ideia que me faça os olhos brilhar novamente, prefiro manter-me na sombra. Em todo o caso, o barco está muito bem entregue.