4/UBC : NOTÍCIAS
NOVIDADES NACIONAIS A sua voz é muito marcante, você tem um jeito de se impor, de atuar em cena, muito próprio, e essa personalidade fortíssima já transbordava em “Diurno”, que, no entanto, não era um projeto só seu. Tem mais de Ava neste novo disco? “Diurno” era um projeto que tinha uma força coletiva intensa, mas não deixava de ser extremamente pessoal e autoral, à medida que surgiu do meu desejo de cantar e pensar canção, música, som, cinema, enfim, essa transversalidade. Então juntei o pessoal que estava sintonizado com a pesquisa que eu queria, primeiramente em torno das minhas músicas, do que eu queria cantar naquele momento, tudo ancorado a uma reflexão sobre música brasileira, canção estendida, enfim, reflexões ligadas às minhas primeiras experiências musicais. Cantar, para mim, pode ser desde expressar um sentimento até armar uma cena. Meu segundo disco, agora, também tem forte presença do coletivo, desde os compositores, músicos, engenheiros e da produção do Jonas Sá. Mesmo que sejam coletivos, são singulares e universais e refletem anseios e devires que são meus. Para mim, não há uma contradição, mas uma potencialização nesse encontro entre o indivíduo e o coletivo. Eu os vejo assim, e, por serem também diferentes, são discos irmãos. Um é água, é Oxum, é calmo. O segundo é fogo, é Yansã, é politico. Eu sou isso: Oxum Opará. Se tem mais Ava eu não sei, mas, que tem mais, muito mais, isso tem. Como foi a escolha dos parceiros? Cada um teve um papel bem definido no processo criativo?
“TUDO ESTÁ SEMPRE LIGADO” AVA ROCHA LANÇA O ÁLBUM “AVA PATRYA YNDIA YRACEMA”, NO QUAL, MAIS UMA VEZ, OFERECE SEU OLHAR MÚLTIPLO E MUTANTE SOBRE O MUNDO
Parece ter uma aura do Romantismo na escolha do nome. Assim como José de Alencar esperava forjar um herói nacional mítico com Iracema, você também quer inventar algo? Uma nova Ava, talvez? Não tenho a pretensão do novo, embora o meu devir seja o da invenção. Também não acredito no novo como algo romântico, sou mais antropofágica e alquimista. A Yndia é sua pátria? A minha pátria é o mundo. E o mundo é yndio. O AVA (antigo projeto da artista) acabou de vez? Ou ainda pode rolar uma reunião? Pode ser. Mas não o vejo como algo que acabou, e sim finalizou. Um projeto que se materializou e se eternizou. Como fazer um filme.
Por Alessandro Soler, do Rio
A sua marca é o flerte com múltiplas artes. Encontrou o porto-seguro definitivo na música? Ou tem espaço para mais Ava por aí?
Cantora, compositora, atriz, performer, cineasta, filha de Glauber. Todas as etiquetas – mas, sobretudo, nenhuma delas isoladamente – cabem na multiartista Ava Rocha, que lança novo álbum e impõe ainda mais sua presença na rica cena musical carioca contemporânea. A onda antropofágica, no melhor estilo modernista, fica clara já pela escolha do nome do projeto, “Ava Patrya Yndia Yracema”, que canibaliza e pare estilos e sons variados com a participação de gente como Negro Leo, Jonas Sá e Martin Scian. Ela troca dois dedos de prosa com a Revista UBC e fala sobre o processo criativo.
Quanto mais dentro da música, mais eu me sinto permeando tudo. O cinema, o teatro, a perfomance, a poesia, a filosofia. Mas não são flertes. Tenho uma carreira no cinema, e minha aproximação com as coisas tem a ver com o meu devir e a consistência. Eu me vejo como uma poeta e pensadora. Não só a música é um terreno vasto para explorar tudo isso, mas também essas outras áreas. Dirigi três filmes, escrevo roteiros, dirigi diversos videoclipes, faço projeções, animações, desenho, desenho a luz, penso a cena, crio figurinos, faço cartazes. Tudo está sempre ligado.
Foto: Ana Alexandrino
Conceitualmente e artisticamente, o disco tem a presença de duas pessoas fundamentais: Negro Leo e Jonas Sá. Também cada músico contribuiu com sua arte, sua criatividade, seu olhar. Martin Scian, que gravou e mixou, também é uma camada importantíssima na conceituação e na estética do disco. Os compositores são os poetas. E, enfim, é tudo definido e entrelaçado.