ESCOLA ROSA
faculdade de arquitetura e urbanismo
Ana Beatriz Mendonça Dias

Orientador temático: Prof. Leandro Bueno
Orientador metodológico: Prof. Dennis Flores de Souza
Dedico esse trabalho aos meus pais por me oferecerem todo o suporte necessário para eu concluir a minha graduação. Dedico também à história e a todos os apreciadores da arte e da arquitetura que prezam e defendem o patrimonio. Inclusive, no caso deste trabalho final de graduação, dedico aos moradores da cidade de Jundiaí e aos atuais proprietários da Casa Rosa por lutarem pela sobrevivência desse patrimônio e por uma cidade mais humana.
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
introdução • p. 11
caracterização de Jundiaí e sua relação com o patrimônio • p. 15
breve histórico do ensino de arquitetura • p. 29
desenvolvimento das cidades, abandono e edifícios ociosos • p. 39
como incorporar uso a um edifício antigo • p. 47
retrofit como valorização do patrimônio • p. 55
CAPÍTULO 07 estudos de caso • p. 63
CAPÍTULO 08 o projeto “escola rosa” • p. 63
referências bibliográficas • p. 110
Pensar sobre o espaço escolar, em especial aquele voltado para o ensino da arquitetura, acaba por se tornar, essencialmente, uma discussão da própria profissão. Isto porque é possível afirmar que “a história da arquitetura começa com as edificações” (MOFFETT; FAZIO; WODEHOUSE, [s.d.]) Sendo assim, a necessidade do homem de organizar o espaço para se proteger e sobreviver pode ser considerada um dos motivos para o surgimento da Arquitetura e do arquiteto. No entanto, o espaço construído não se preza apenas ao abrigo, mas também pelo desenvolvimento de funções sociais, como locais de culto à religião, entretenimento, estudos, serviços, entre outras atividades que foram sendo incorporadas à rotina da sociedade, em virtude do desenvolvimento da profissão e da diversi
ficação das necessidades humanas. Infelizmente não há muitas comprovações de quando começou a ser exercida a “profissão” do arquiteto, mas pode-se afirmar que, com base na necessidade humana de se assentar em determinado local para sobreviver, caçar e se desenvolver, esse ofício acompanha o surgimento das cidades mais antigas do mundo. Em primeiro lugar, o arquiteto pertencia plenamente ao mundo dos empreendedores, mestres pedreiros e carpinteiros, que trabalhavam nos canteiros de obras. A palavra grega architechtôn designa, aliás, na origem, o mestre-carpinteiro. A profissão transmitia-se em geral pela tradição familiar, frequentemente de pai para filho, que formavam verdadeiras dinastias de técnicos, como as dos arquitetos do grande túmulo de Petra do sécu-
lo I d.C. Os pais, segundo Vitruvio, instruíam as suas crianças e seus próximos. A formação fazia-se assim pela iniciação junto a um mestre arquiteto e a aprendizagem, em um canteiro de obras, como todos os ofícios da profissão (BELHOSTE; CORREIA, 2011).
Tendo em vista que a profissão do arquiteto era passada de geração em geração na Antiguidade, é possível afirmar que o conhecimento era adquirido na prática e através da relação entre mestre e discípulo (PAIVA; OLIVEIRA, 2018). Nessa época a figura do arquiteto não era tão valorizada, pois este não recebia o reconhecimento por seus trabalhos. Sendo assim, somente na Idade Média que o arquiteto passou a ser uma figura interdisciplinas ao trabalhar com outros profissionais.
Com o passar dos anos, a arquitetura muda e com ela o seu ensino. Entre os acontecimentos que tornaram o ensino o que é hoje, pode-se citar a tecnologia, o transporte, os novos sistemas construtivos, a necessidade de pensar na sustentabilidade e a industrialização. Dessa maneira, o local de aprendizado do arquiteto na Antiguidade não deixa de ser o canteiro de obras, mas atrelado a isso, há a necessidade de reflexão... Atualmente há entre 400 e 500 cursos de Arquitetura e Urbanismo em mais de 200 cidades no Brasil, segundo o site do e-MEC, o que mostra como o ensino dessa área foi difundido e como a profissão é indispensável para o desenvolvimento das cidades. Logo, tendo em vista que na cidade de Jundiaí há cerca de três faculdades e/ou universidades que oferecem cursos presenciais de Arquitetura e Urbanismo e que a carreira está entre as mais concorridas em vestibulares, faz-se viável a implementação de uma faculdade específica de Arquitetura e Urbanismo na cidade de Jundiaí.
A cidade de Jundiaí reorganizou-se radicalmente em função da ferrovia. Mudou suas portas e imergiu num compenetrado cotidiano de trabalho, expondo-lhes as peculiaridades em dimensões tais que a sociedade, composta de tantos trabalhadores convencidos de suas modernas e honrosas atividades, identificou a cidade ferroviária. Seus habitantes eram ferroviários. Seus trabalhadores eram ferroviários. Seu mundo era ferroviário. (BEM, 2014. p. 106).
O presente projeto está localizado na cidade de Jundiaí, no interior do Estado de São Paulo. Dessa maneira, faz-se importante pontuar algumas informações da cidade e também as suas propostas quanto ao patrimônio histórico local. A cidade Jundiaí possui uma população estimada de 426.935 pessoas segundo o IBGE e está inserida na paisagem marcante da Serra do Japi, próxima as cidades de Várzea Paulista, Louveira, Jarinu e Itupeva. A distância entre Jundiaí e a capital do Estado é de 57km e algumas rodovias importantes como a Rodovia Anhanguera e a Rodovia dos Bandeirantes passam pela cidade.
A respeito de seu desenvolvimento, vale ressaltar que até meados do século XVIII a sua economia se baseava em pequenas plantações de subsistência onde a mão de obra era escrava. Algum tempo depois, no final do século XVIII a cidade passou a cultivar a cana de açúcar. Já no século seguinte, a base econômica de Jundiaí passa e se estruturar na produção de café e, nessa mesma época, é construída a ferrovia que impulsionou o trabalho cafeeiro. Somente no século XX que as indústrias se instalam na cidade e o seu crescimento acompanha os principais eixos viários da cidade que são a ferrovia e a Rodovia Anhanguera.
Para BEM (2014), as construções operárias formaram novos bairros, compondo as intersecções entre o centro histórico e a ferrovia. Além disso, ele comenta que a indústria ainda é a maior fonte de recursos da cidade, porém não é o setor que mais gera empregos.
Conforme pode-se observar na imagem abaixo que mostra a evolução urbana de Jundiaí em três períodos distintos (1985 em rosa, 2000 em azul e 2020 em vermelho), pode-se concluir que a cidade se desenvolveu ao longo da ferrovia, do curso do rio e dos principais eixos viários.
As altitudes no perímetro urbano de Jundiaí variam a partir de 700 a 800m em relação ao nível do mar. Ao decorrer do recorte escolhido, a área é Majoritariamente plana, com variações de 700 a 750m.
Apesar da localização central, a área possuí predominância de uso residencial (40,87%), isto explica a ausência de equipamentos urbanos e a predominância apenas de equipamentos voltados a educação, como escolas, universidades e cursos técnicos para atender a população local.
AZona de Qualificação dos Bairros abrange os bairros mais antigos com alta taxa de urbanização de uso misto; a de Desenvolvimento Urbano abrange os principais eixos viários da cidade; a Especial de Interesse Social destina-se à moradia da população de baixa renda e; a Especial de Proteção Ambiental engloba as áreas de preservação e proteção ambiental.
Devido a predominância dos usos residencial e misto, a área se destaca pela grande presença de gabarito baixo. Ao Sudeste, existem algumas áreas mais verticalizadas devido ao uso de prédios residenciais, comerciais e corporativos.
Pensando na conexão em uma cidade em que o rio e a linha de trem são barreiras no espaço urbano, foi proposta a integração entre as áreas segregadas através da continuidade do tecido urbano na qual os pedestres e os ciclistas são os principais atores na intervenção.
Quanto à questão patrimonial, a princípio é importante discutir quais são os órgãos responsáveis pela proteção dos bens históricos, arquitetônicos, culturais e naturais no Brasil e no restante do mundo.
O primeiro a ser apresentado é a Unesco, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) que protege os bens a nível de relevância mundial, ou seja, Patrimônios da Humanidade. Já o segundo órgão é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que é responsável pela preservação dos bens a nível nacional. Enquanto isso, o terceiro é o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), que atua na esfera estadual.
Dada a importância dos órgãos apresentados, vale ressaltar que em cada cidade pode haver ou não um órgão que atua na proteção patrimonial a nível municipal. No caso da cidade de Jundiaí, essa administração existe e é o Conselho Municipal
do Patrimônio Artístico e Cultural (COMPAC), criado em 2007 através da lei complementar 443/2007 (“Câmara Municipal de Jundiaí”, 2007).
Embora a criação do COMPAC seja relativamente recente, é essencial pontuar que no momento há um Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural (IPPAC) o qual possui aproximadamente 100 bens em processo de tombamento, sendo que todos encontram-se protegidos de alguma forma até que a situação seja efetivada. Isso mostra que a cidade de Jundiaí tem propostas para o patrimônio da cidade e o poder público tem interesse em preservar e contribuir com que esses locais tenham o uso apropriado.
Ademais, a cidade também tem procurado implementar as “Rotas Turísticas” para atrair visitantes para a cidade com o intuito de conhecerem a “terra da uva e do morango”.
Além disso, entre essas rotas turísticas uma é a “Rota Turística do Centro Histórico”. Inclusive, nos
últimos anos o Teatro Polytheama, tombado a nível estadual pelo Condephaat desde 2012, passou por uma recuperação importante. Vale ressaltar que de 1950 a 1980 o teatro passou por uma situação de abandono e degradação, sendo que somente na década de 1990 foi adquirido pela administração municipal e pôde ser reformado. Dentre os projetos de restauração, o escolhido foi o da arquiteta Lina Bo Bardi. Portanto, é possível observar que a cidade tem investido na cultura e em seus patrimônios históricos que, quando restaurados, podem ter um uso novamente.
É interessante discorrer sobre como surgiu o ensino da arquitetura no Brasil tendo em vista que até o momento não havia nenhum curso no país e tudo o que se conhecia sobre construção era repassado oralmente. Contudo, em 1816, D. João VI decretou: “Atendendo ao bem comum, que provem aos meus fiéis vassalos de se estabelecer no Brasil uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em que se promova e difunda a instrução, e conhecimentos indispensáveis aos homens (...)”. Assim, surgiu o primeiro curso de Arquitetura no Brasil. (Academia Imperial de Belas Artes, 2015).
Elena Salvatori, em seu artigo “Arquitetura no Brasil: ensino e profissão” (SALVATORI, 2008), afirma que o ensino de arquitetura é iniciado oficialmente em 1826, quando o prédio da Academia Imperial de Belas Artes ficou pronto. Inclusive, vale ressaltar que nessa época o curso da academia incluía disciplinas como pintura histórica, paisagem, arquitetura e escultura em seu currículo, assim como aulas de desenho, anatomia e fisiologia. (GABLER, Louise, 2016).
Segundo a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura (ABEA), até 1933 haviam apenas quatro cursos de Arquitetura ativos no país, sendo elas a ENBA do Rio De Janeiro, a Escola Politécnica da USP, a Escola de Engenharia do Mackenzie de São Paulo e a da Universidade de Minas Gerais.
Não se pode discorrer sobre o ensino de Arquitetura sem citar a Bauhaus, que foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura que existiu durante os anos
de 1919 a 1927, num período conturbado de pós guerra na Alemanha.
Essa escola influenciou a arquitetura brasileira e como exemplo disso pode-se citar a cidade de Brasília, planejada pelos arquitetos
Oscar Niemeyer e Lucio Costa, que tem em seus edifícios cores neutras, repetição de elementos estruturais e uma cultura que preza pela funcionalidade, ainda que o conceito de multiplicidade da Bauhaus não tenha sido empregado por Niemeyer em suas construções singulares.
Gullar (FERREIRA GULLAR, 1998) comenta que a Bauhaus pretendia “estender a revolução estética à vida cotidiana mesma, através da criação de formas-tipo para os objetos de uso, formas essas cujas qualidades estéticas fossem fruto legítimo dos processos de fabricação industrial”. Walter Gropius, fundador da Bauhaus, propunha uma metodologia didática atrelada à funcionalidade, visando a produção em massa através do uso de formas simples e neutras.
No artigo “Bauhaus: acertos, fracassos e ensino” (PEREIRA; MEDEIROS; HATADANI, [s.d.]), é possível depreender que a ideologia funcionalista da escola desprezava adereços, ainda que houvesse uma preocupação estética, o que gerou diversas críticas à produção da Bauhaus. Os objetos e a arquitetura tornaram-se pouco sensíveis às necessidades cotidianas de uso e assumiram
funções estéticas com poucos atrativos visuais.
Ao longo dos anos o currículo do curso de Arquitetura no Brasil foi se modificando e acompanhou o desenvolvimento das cidades e a evolução das relações humanas, tal como a mudança das necessidades das pessoas. Sendo assim, novas propostas metodológicas foram surgindo e pode-se citar entre elas a tradicional e a experimental (CAMPELLO, Mauro Santoro. OLIVEIRA, Gabriel Micherif Filgueiras. DUQUE, Raiane Rosi. 2015).
No Brasil, o método disseminado é o tradicional, onde o professor é a figura central e única detentora do conhecimento que expõe o conteúdo através de aulas na maioria das vezes teóricas. Enquanto isso, no método experimental o ensino é interdisciplinar e exercita a teoria aprendida em sala de aula. Não necessariamente um método é melhor do que o outro, no entanto, o método
tradicional é mais maçante pois o aluno tem muita base teórica, mas não reflete sobre o que aprendeu e nem coloca em prática na sala de aula. (MIZUKAMI, 1986). Há, ainda a modalidade de ensino à distância que gera discussões pois o aprendizado online despreza o desenvolvimento dos projetos presencialmente, as rodas de conversa e as trocas entre aluno e professor. Inclusive, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) chegou a recusar o registro profissional de alunos formados em EaD no ano de 2019. Nos outros países o ensino de arquitetura não é necessariamente vinculado ao ensino do urbanismo. Em contrapartida, no Brasil, apenas uma universidade oferece o curso especializado em Urbanismo, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Quanto à duração do curso, o tempo mínimo de conclusão é 5 anos, embora haja algumas universidades que
pode ser cursada em 6 anos como é o caso da Escola da Cidade e da Unicamp.
Atualmente, o ensino da Arquitetura e do Urbanismo é intrínseco às transformações tecnológicas do mercado pois antes da existência dos softwares de modelagem digital e desenvolvimento de projetos, o papel e a caneta eram as únicas ferramentas de desenho do arquiteto. Claro que esses objetos ainda são utilizados, porém numa fase inicial entre esboços e croquis, enquanto que todo o projeto é desenvolvido em programas de computador atrelados ao BIM (Building Information Modeling, em português Modelo de Informação da Construção), que é “uma tecnologia de modelagem e um grupo associado de processos para produção, comunicação e análise do modelo de construção” (EASTMAN, Charles et al. p. 13. 2011), ou seja, na prática é a virtualização e gerenciamento de projetos de arquitetura ou de
engenharia que faz o modelo virtual o mais próximo da realidade possível.
Da Escola Imperial de Belas Artes ao BIM, o ensino da arquitetura acompanhou todas as mudanças da sociedade sem ignorar que o perfil do arquiteto está atrelado a uma pluralidade de conhecimentos que vão desde história da arte, topografia, conforto e urbanismo até o funcionamento do canteiro de obras. Portanto, o local de aprendizado da arquitetura e do urbanismo deve possibilitar o desenvolvimento do estudante tanto na parte prática de oficinas e laboratórios, quanto na parte teórica de formação de pensamento crítico a respeito do trabalho que pode ser produzido pelo profissional da área e como o projeto se insere na cidade.
À medida que as cidades foram crescendo e se desenvolvendo, diversos problemas surgiram e acompanharam esse processo, tais como: poluição, violência, saturação do sistema viário, vazios urbanos e abandono de edifícios em centros urbanos, sendo este último o tópico a ser discutido nesse capítulo.
O abandono de edifícios retrata como o esquecimento da sociedade perante às construções acarreta na deterioração da paisagem urbana.
A princípio é importante destacar que essa situação de renegação não apenas causa um incomodo visual, mas também incorpora a esses locais vazios um perigo decorrente do desuso pois os locais abandonados podem se tornar pontos de tráfico de drogas. Ademais, vale salientar que “esses lugares seguem moribundos em um rumo perempto, até que o interesse do capital volte a circundá-los (obstinando sua demolição) ou que ocupações voluntárias tomem corpo, se tornando, nesse interstício, um espaço residual vazio” (SOUZA, 2019).
Tendo em vista que o desenvolvimento das cidades acompanha as mudanças da população, é interessante destacar a paisagem ferroviária de Paranapiacaba, distrito de Santo André, que devido ao seu tombamento e a políticas restritivas de uso da vila se assemelha a um cenário, o qual passa a impressão de que foi congelado pelo tempo e causa uma sensação de abandono.
Julia Cocci e Hulda Wehmann em seu artigo “A Vila dos Aposentados como patrimônio afetivo” discorrem sobre como o controle severo das ações dos moradores sobre suas habitações impede que eles de fato habitem a vila: “desconsiderando os moradores como partícipes da paisagem que se deseja preservar”.
Outro fator que contribuiu para o êxodo habitacional e para a situação de abandono de Paranapiacaba foi um incêndio ocorrido em 14 de janeiro de 1981 que destruiu completamente a antiga estação ferroviária.
Dessa maneira, infere-se que em Paranapiacaba o tombamento do conjunto não foi benéfico em alguns pontos, pois as ações tomadas pela Prefeitura não puderam conter o êxodo populacional da vila devido a altos níveis de desemprego e moradias inaptas para habitação (SILVA, A. R. Ferreira da, 2018). Além disso, outros fatores como a falta de equipamentos urbanos, de comércio e a sinalização visual precária também impactam o desinteresse tanto dos moradores quanto dos turistas que pretendem ir ao local.
Contudo, ao analisar Paranapiacaba como uma “cidade cenário” percebe-se como o desuso de um local e o abandono mudam a paisagem de um sítio histórico inteiro. A partir dos anos 1980, Paranapiacaba passou por um intenso período de abandono e degradação, acompanhando o descaso dos governos com o transporte e o patrimônio ferroviário. Felizmente, graças ao reconhecimento da sua importância, em 1987 o Condephaat realizou o tombamento do local e atualmente é “o primeiro patrimônio industrial brasileiro a compor a lista indicativa do Brasil ao título de Patrimônio da Humanidade da Unesco”. No entanto, 35 anos depois Paranapiacaba ainda se encontra em situação de abandono o que leva à conclusão de que, mesmo que o tombamento seja uma ferramenta a fim de valorizar o patrimônio, não é suficiente para preservar a paisagem e propor ações efetivas de desenvolvimento do local.
As cidades estão repletas de edifícios antigos sem uso, portanto requalificar as construções existentes e readequá-las seria uma maneira sustentável de projetar. É indiscutível que os espaços urbanos estão cada vez mais adensados e, numa cidade como Jundiaí, por exemplo, a quantidade de lotes vazios no centro para empreender ou construir é muito baixa. Sendo assim, uma boa alternativa seria recuperar um imóvel já existente através de um “retrofit” que consiste em “colocar o antigo em forma”, ou seja, além de reformar um edifício antigo, incorporaria a este um novo uso.
No caso do projeto da Escola Rosa, o uso institucional/educacional que terá como proposta a implementação de um curso de Arquitetura e Urbanismo em um casarão histórico da cidade de Jundiaí, que pretende refletir acerca da importância de preservar e utilizar patrimônios históricos sem uso e em situação de abandono.
Ademais, outro ponto positivo do retrofit consiste no fato de que recuperar um imóvel é menos custoso e mais sustentável do que iniciar uma obra do zero.
Dessa maneira, o aspecto da sustentabilidade em relação ao retrofit se concretiza quando infere-se que uma obra nova gera mais entulho e consome mais matéria prima do que o restauro de algum edifício antigo. Segundo Sérgio Angulo et. al em seu artigo “Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na construção civil”, devido a industrialização, ao uso de novas tecnologias, ao aumento de pessoas nos centros urbanos e à diversificação do consumo de bens, os resíduos se tornaram problemas urbanos gravíssimos pois acumulam massa e volume. Logo, o gerenciamento desses resíduos se tornou mais custoso e mais prejudicial ao meio ambiente por apresentar riscos de contaminação à natureza (JOHN, 1999; JOHN, 2000; BRITO, 1999;
Portanto, quanto à problemática da geração de resíduos devido à indústria da construção civil, as medidas que poderiam ser tomadas para minimizar essa situação são poucas. Com isso, o retrofit pode ser uma alternativa sustentável para implementar novos projetos na cidade pois ao invés de demolir a construção atual e construir uma nova no mesmo lugar, pode-se reaproveitar o que existe e promover o contraste entre o antigo e o moderno. Um exemplo disso é a Pinacoteca do Estado de São Paulo localizada no Jardim da Luz no centro da cidade de São Paulo.
O projeto original dos arquitetos Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi nunca foi totalmente concluído pois na década de 1900 foi inaugurado sem a cúpula que havia sido desenhada no projeto e sem o revestimento externo, ou seja, os seus tijolos ficaram aparentes da forma que é até a atualidade. A proposta do projeto era abrigar o Liceu de
Artes e Ofícios, porém já em 1905 foi necessária uma adaptação na edificação para que pudesse receber quadros do Estado de São Paulo.
Ao longo dos anos a Pinacoteca passou por diversos acontecimentos desde um incêndio em 1930 até a instalação de um quartel provisório no mesmo ano devido às Revoluções de 1930 e a Constitucionalista de 1932. Alguns anos mais tarde, a Escola de Belas Artes instalada no edifício da Pinacoteca, devido ao seu programa extenso de necessidades, realizou diversas mudanças como a divisão do pé direito em dois para a implantação de um novo pavimento (SILVA, P. Z. D. C. DA, 2007). Por consequência, decorrente de tais ocorrências, foi proposto um movimento pela recuperação e restauração do edifício que foi projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Essa intervenção utilizou materiais como o aço e o vidro.
Segundo o art. 7 da Carta de Veneza (IPHAN, 1964), “o monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa. Por isso o deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não pode ser tolerado, exceto quando a salvaguarda do monumento o exigir ou quando o justificarem razões de grande interesse nacional ou internacional”. Assim sendo, abstrai-se que a restauração de determinado patrimônio deve respeitar a composição do ambiente de modo a não degradar o monumento, mas recompor e preservar o existente. A partir da leitura da Carta de Veneza, que tem proposições um tanto proibitivas, é importante ressaltar que não necessariamente um “retrofit” tem que restaurar o bem ao seu estado original, mas sim compreender a sua importância na cidade e propor projetos que valorizem o patrimônio e possibilitem o uso do local.
“A imagem do abandono e de ruínas sempre esteve presente no imaginário dos povos. Desde a idade média quando a concepção de patrimônio começou a ganhar representatividade entre intelectuais, arquitetos, médicos e arqueólogos e as conhecidas expedições para reconhecimento e registro de ruínas começaram a se propagar (CHOAY, 2006), a temática supracitada obteve espaço nos diálogos e discussões acerca da representação da cidade em seu estado de decadência.”
Para entender como o retrofit pode ser uma ferramenta de valorização, faz-se necessário compreender o que torna uma obra um patrimônio. Sendo assim, pode-se inferir que patrimônio é “o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitidos a gerações futuras” (CAU/BR, 2016). Uma obra eleva-se à categoria de patrimônio quando tem relevância para a cidade e para a memória coletiva das pessoas acerca da vivência em determinado espaço, portanto, a sua preservação é extremamente importante e uma das maneiras de valorizá-lo é através do retrofit.
Os teóricos a respeito do patrimônio arquitetônico Viollet-le-Duc (1814-1879) e John Ruskin (18191900), por exemplo, embora sejam contemporâneos possuem ideias totalmente antagônicas que são interessantes a serem discutidas.
Viollet-le-Duc afirmava que “restaurar um edifício não é mante-lo, repará-lo ou refaze-lo, é restabelece-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento”, ou seja, em suas propostas havia uma busca pela genuidade e pureza do estilo da obra em sua situação original.
Enquanto isso, Ruskin defendia que “as edificações deveriam atravessar os séculos de maneira intocada envelhecendo segundo seu destino, lhe admitindo a morte se fosse o caso” (OLIVEIRA, R. P. D. 2008), ou seja, o monumento degradado deveria permanecer intocado. Além disso, o restauro segundo John Ruskin significava a mais total destruição que um edifício poderia sofrer. Logo, pode-se perceber como a ideia de valorização do patrimônio mudou ao longo dos anos e foi acompanhada por pensamentos completamente distintos.
Ainda que hoje também existam propostas diferentes quanto às
decisões do que deve ser feito para valorizar o patrimônio arquitetônico, vale ressaltar que a mentalidade coletiva acerca da preservação do mesmo também mudou. Isso pois, nas últimas décadas foi identificado no patrimônio um recurso econômico e turístico que pode auxiliar no desenvolvimento socioeconômico.
(ASSUNÇÃO, 2003) Um exemplo disso são as cidades de Ouro Preto e Paraty, interligadas através do Caminho Velho que foi a primeira via aberta pela Coroa Portuguesa que ligava o litoral fluminense à região mineradora e hoje é uma rota turística de 710km. Para essas cidades pode-se dizer que o turismo representa uma grande parcela de sua atividade econômica e isso só foi possível devido à valorização do patrimônio. No caso de Ouro Preto, seu reconhecimento aconteceu a nível mundial devido ao tombamento pela Unesco em setembro de 1980.
O patrimônio é, além de importante para a história de uma região e para a memória coletiva das pessoas, também é uma ferramenta turística importante para os órgãos federais, estaduais e municipais. Portanto, para valorizar o patrimônio as possíveis alternativas consistem no tombamento, na restauração e na preservação. Sendo assim, o tópico a ser discutido nesse momento é o retrofit, que é uma intervenção capaz de valorizar uma obra e possibilitar que a mesma tenha um uso diferente do original devido às adaptações que podem ser realizadas. Dentre as vantagens que o retrofit pode incorporar a um patrimônio pode-se citar a valorização do projeto no mercado imobiliário, a modernização das instalações elétricas e hidráulicas, a revitalização do espaço e o uso, entre outras.
A valorização do patrimônio no cenário atual ganhou muito destaque e há uma troca muito interessante entre o patrimônio e o turismo.
Para Brusadin e Silva, a maneira ideal de propor essa valorização e não perder a “alma dos monumentos” seria através da conservação e da restauração, sem que a obra perca sua originalidade e possa ser apreciado pelos turistas. Além disso, eles também discorrem sobre como essas mudanças, seja através do restauro ou do retrofit, devem ser estudadas com cautela para que a relação entre comunidade local, patrimônio e turista não seja prejudicada.
Arquitetos: Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
Ano: 1969
Área construída: 18.000 m²
Localização: São Paulo, SP
Materialidade: Concreto e vidro
Engenheiro: Bermudéz
A Escola de Arquitetura da USP funcionava até então num casarão no estilo art nouveau localizado no bairro de Higienópolis, na rua Maranhão e hoje abriga os cursos de pós graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a FAU USP. Assim, devido à necessidade de construção de um edifício no campus universitário que abrigasse o curso, o professor Vilanova Artigas e o arquiteto Carlos Cascaldi ficaram a cargo do projeto do edifício que atualmente é tombado como patrimônio cultural do Estado pelo CONDEPHAAT.
prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU USP) está localizado na Rua do Lago 876, na Cidade Universitária da USP no bairro do Butantã em São Paulo.
O edifício está situado num terreno plano no qual se insere sutilmente em meio à vegetação do local. O prédio consiste em um único bloco de concreto aparente de dimensões 110m x 66m com sua parte inferior recuada envidraçada, enquanto a cobertura pousa sobre os pilares perimetrais em formato diferente do usual.
Os principais elementos do projeto da FAU USP são a cobertura com uma grelha translúcida e as rampas que interligam os pavimentos deslocados em meio nível. Entretanto, é importante pontuar que a cobertura da universidade apresenta problemas de infiltração, goteiras que têm debilitado a estrutura do edifício e sua reforma terá um custo bem alto.
As rampas da FAU são o cartão-postal desse projeto e também são o principal eixo de circulação do prédio. Essa sucessão de rampas interliga os meio pisos que abrigam os ambientes do programa da faculdade. O fluxo convidativo desses caminhos conduz os alunos à biblioteca, aos departamentos, aos estúdios e às salas de aula, por exemplo.
É interessante pontuar como o arquiteto teve um cuidado com tais caminhos pois estão voltados ao pátio central do edifício e trazem uma sensação de amplitude.
As rampas são largas e com inclinação suave, trazendo o “caminhar” para dentro do prédio. Além disso, há uma escada e um elevador que contribuem também com essa circulação vertical.
Circulação vertical
Circulação horizontal
Circulação vertical
Circulação horizontal
Devido ao fato de o edifício não ter tantas aberturas, a ventilação natural fica comprometida e se torna indispensável o uso de ar condicionado. Além disso, a ausência de janelas procura isolar os ambientes internos do exterior.
Enquanto isso, a solução para iluminação do edifício é realizada através da cobertura emblemática de domus. Apesar de apresentar problemas de infiltração que comprometem a estrutura do edifício, a cobertura com fechamentos translúcidos traz uma iluminação muito confortável para o prédio.
Arquitetos: Bermudéz Arquitetos
Ano: 2018
Área construída: 8.561m²
Localização: Bogotá, Colômbia
Materialidade: Concreto e vidro
Engenheiro: Bermudéz
O edifício localizado no campus da Universidade de Los Andes está inserido na paisagem das colinas da região e este é um dos aspectos que o arquiteto Daniel Bermudéz procurou integrar ao projeto, emoldurando o entorno através do uso do vidro.
Incluso a isso, o edifício tem uma proposta de promover o encontro através de espaços livres e um pátio interno aberto que é um dos eixos de circulação do projeto em relação aos outros edifícios do campus.
A Escola de Arquitetura da Universidade de Los Andes encontra-se no campus da Universidade no centro de Bogotá, na Colômbia.
O edifício localizado no campus da Universidade de Los Andes está inserido na paisagem das colinas da região e este é um dos aspectos que o arquiteto Daniel Bermudéz procurou integrar ao projeto, emoldurando o entorno através do uso do vidro.
O edifício, localizado no campus da Universidade de Los Andes, está inserido na paisagem das colinas da região e este é um dos aspectos que o arquiteto Daniel Bermudéz procurou integrar ao projeto, emoldurando o entorno através do uso do vidro.
Incluso a isso, o edifício tem uma proposta de promover o encontro através de espaços livres e um pátio interno aberto que é um dos eixos.
É importante ressaltar que o edifício tem conexão com os outros prédios e espaços livres do campus, portanto, serve como eixo de circulação de pedestres. Um dos aspectos que facilita essa conexão é o prédio estar inserido na topografia de maneira sutil, sendo assim, o acesso pode ser feito por diferentes níveis e pavimentos. Quanto à circulação, nota-se que a circulação vertical interna do edifício tem dois núcleos, sendo um de escada na área norte e dois elevadores ao sul próximos aos sanitários. Enquanto isso, a circulação horizontal acontece no entorno do vão central, o que auxilia nos aspectos bioclimáticos de ventilação e iluminação.
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O subsolo permite com que o pedestre possa acessar o edifício por escadarias e dentre essas há uma que encaminha o usuário diretamente ao pátio central que é um dos locais de encontro dos estudantes.
No pavimento térreo, há um acesso secundário ao norte que conecta o edifício à biblioteca de Economia.
Circulação vertical
Circulação horizontal
No primeiro pavimento há um acesso independente feito por uma passarela na parte leste do bloco que o conecta ao prédio de Artes e Humanidades.
No terraço não há conexão com outros edifícios. A circulação perimetral em torno do pátio ainda existe.
Circulação vertical
Circulação horizontal
Tendo em vista que os outros edifícios do campus são antigos, o prédio de Arquitetura da Universidade de Los Andes se destaca tanto pelo seu volume quanto pela sua implantação no campus. A Escola de Arquitetura é composta por três blocos dispostos em ângulos diferentes que formam um vão central que serve como pátio no nível térreo e auxilia nos aspectos de iluminação e ventilação. Este projeto mostra a sua estrutura e, como o próprio arquiteto descreveu
“é um edifício capaz de ensinar” pois as lajes, os pilares e as tubulações estão aparentes. Dessa maneira, o uso de materiais como concreto e vidro sustentam essa premissa de uma arquitetura pedagógica, que nada esconde, e também brutalista. Vale ressaltar, inclusive, que devido à inserção
O programa da Universidade de Los Andes consiste em:
• Subsolo: Salas de aula, sala de palestra, área de trabalho, fablab, banheiros, sala de exposição e depósito.
• Térreo: Salas de aula, sala de palestra, salas de informática, cafeteria, banheiros, áreas de estudo, depósito e pátio descoberto.
• Primeiro pavimento: salas de multiuso, salas de oficina, banheiros, áreas de estudo, sala de mídia, arquivo, quadro elétrico e sala de corte à laser.
• Segundo pavimento: salas de multiuso, salas de oficina, banheiros, área de estudo, terraço descoberto, sala de mídia, arquivo e quadro elétrico.
A setorização do edifício é dividida entre áreas de serviço e de apoio (depósito, sala de arquivo, área de manutenção predial), áreas funcionais (salas de aula, laboratórios, entre outros) e áreas de uso comum e lazer (terraço, pátio, cafeteria, etc). As áreas de uso comum e de lazer são maiores no pavimento térreo e no subsolo pois atendem a demanda de várias pessoas que transitam pelo campus, não somente os estudante de arquitetura da universidade. Inclusive, todas essas áreas do edifício convergem no pátio central onde há o maior encontro de pessoas.
A Escola de Arquitetura da Universidade de Los Andes encontra-se na cidade de Bogotá na Colombia que é uma cidade fria quando comparada as outras do país devido a sua altitude. A média de temperatura anual é em torno de 14,5°C e, até mesmo no verão, os dias dificilmente ultrapassam os 20°C.
Para auxiliar nos aspectos de iluminação e ventilação do edifício, as fachadas são fechadas com esquadrias de vidro sustentadas por estruturas de alumínio e, em seu interior, há brises metálicos automatizados que controlam a incidencia solar nas salas de aula.
Outro aspecto positivo do projeto é o vão central que acompanha o desenho do volume do edifício e traz iluminação para o interior do prédio, promovendo uma melhoria na qualidade do espaço.
A Escola Rosa encontra-se na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, na rua Barão de Jundiaí, n 260. É importante ressaltar que para esse projeto foram utilizados três lotes vizinhos, dentre eles a Casa Rosa que é um imóvel tombado pelo conselho de patrimônio de Jundiaí (Compac) e que data o final do século XIX.
A Escola Rosa está inserida no Centro Histórico de Jundiaí paisagem desse recorte tem poucos edifícios altos que distoam da horizontalidade do entorno. Um desses edifícios de maior gabarito é o Teatro Polytheama que é um tradicional teatro da cidade inaugurado em 1911 e restaurado em 1996 com projetos de Lina Bo Bardi e Brasil Arquitetura. Todos os eventos de grande porte da Escola Rosa, tal como formaturas e palestras irão ocorrer nesse teatro.
faixa de pedestres
1 a 2 pavimentos
3 a 4 pavimentos
5 ou + pavimentos ponto de ônibus
via de acesso ao lote via de concentração via de circulação
A antiga residência da família Malpaga, popularmente conhecida pelos jundiaienses como Casa Rosa é um edifício emblemático da cidade e tem uma história de muita resistência que se inicia com a sua construção no final do século XIX.
Segundo descrição no site “Tem Cidades”, o prédio é um modelo exemplar dos métodos construtivos trazidos pelos capomastri italianos (mestres de obras) que se instalaram em Jundiaí nos séculos XIX e XX. Nessa construção observa-se o emprego de tijolos maciços em barro, que até o momento eram inutilizados no Brasil, e também há a presença do frontão triangular, do alpendre lateral com arcos, das colunatas e a coloração rosa.
Atualmente a Casa Rosa integra o Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural de Jundiaí (IPPAC) e é reconhecida pelo município como patrimônio. Dessa maneira, a casa é protegida por apresentar importância histórica à cidade.
No entanto, a história dessa edificação nem sempre foi lembrada por esse saudosismo e reconhecimento por parte dos poderes públicos.
Infelizmente, em meados de 2014, o antigo proprietário do prédio tentou demolir a Casa Rosa para construir um estacionamento. Diante desse desdém com o patrimônio, a população se mobilizou e pediu aos órgãos competentes para que iniciassem o tombamento do imóvel. No ano seguinte o prefeito Pedro Bigardi assinou o que deu início ao processo de tombamento do casarão, mas nos anos seguintes o mesmo continuou a se deteriorar, pois a proteção de um patrimônio não impede que os estragos causados pelo tempo e o uso parem de ocorrer.
Apenas em 2020 o imóvel foi vendido iniciou-se um processo de restauro pelos novos proprietários Daniela e Augusto Chechinato. Hoje o casarão encontra-se estável e vive dias melhores com perspectiva de reabertura ao público no futuro.
O edifício tem uma tipologia habitacional e seu uso original era residencial. Na imagem abaixo, concedida por Júlia Almeida, estudante de Arquitetura da Unesp e representante da Casa Rosa nas mídias sociais, é possível observar a configuração original da casa. Vale ressaltar que os atuais proprietários estão restaurando o imóvel mas ainda não há uma intenção específica de uso futuro do casarão.
Tendo em vista que para atender a um programa de necessidades de uma faculdade de Arquitetura e Urbanismo é necessário mais espaço do que o terreno original da Casa Rosa oferece, foi proposta a anexação de dois terrenos vizinhos para o projeto. Logo, o terreno da Escola Rosa possui uma área total de aproximadamente 1.660,95m² e nele estão implantados dois blocos: a Casa Rosa e o edifício novo em “L”, ambos envoltos por duas praças que se interligam pelo eixo de circulação que conecta ambos os prédios. A escolha do edifício nesse formato tem como objetivo “abraçar” a casa antiga e não criar uma arquitetura nova para competir com o velho, mas sim cohabitar o mesmo espaço.
A Escola Rosa tem uma proposta diferente de ensino que destoa do tradicional. Portanto, o projeto deve ser capaz de ensinar. Através da restauração da casa antiga, a intenção do edifício é mostrar como é possível integrar estilos diferentes de arquitetura e valorizar o patrimônio arquitetônico.
Para isso, será necessário adequar a planta original da casa às novas necessidades da Escola Rosa. Além disso, será construído um novo bloco que “abrace” o edifício antigo e abrigue o restante do programa. A conexão entre ambos os prédios acontece através de uma passagem envidraçada que traga uma experiência interessante ao aluno.
Quanto à setorização do projeto vale pontuar que o edifício antigo irá abrigar a administração e área dos professores enquanto que o edifício novo irá abrigar toda a parte institucional e de uso dos alunos.
Devido à deteriorização da Casa Rosa ao longo dos anos, algumas partes do imóvel foram se degradando e dentre elas o telhado é o que se encontra em piores condições. Originalmente, a estrutura da cobertura da casa é composta por madeira e telha cerâmica. Sendo assim, no projeto será mantida essa proposta e será feita a estabilização desse telhado. Enquanto isso, no edifício novo em “L”, a estrutura da cobertura será composta por ripas e caibros de aço e a telha sanduíche. A inclinação a ser utilizada é de aproximadamente 8%.
A escolha desse material proporciona um controle térmico eficiente para o edifício e impede o superaquecimento das coberturas.
O estacionamento está localizado no subsolo do edifício em “L” e é possível acessar o térreo do mesmo através do elevador e da escada. No total há 18 vagas para carro, sendo uma delas para portadores de deficiência e 6 vagas de moto. Vale ressaltar que o estacionamento é de uso exclusivo de funcionários da Escola Rosa, assim como qualquer aluno que necessite de atendimento especial.
Sendo assim, os alunos poderão utilizar os estacionamentos da região onde a Escola Rosa se encontra. Pode-se destacar que há menos de 300m há um estacionamento que atende às necessidades da instituição. A estrutura do subsolo será composta por pilares e vigas de aço.
No pavimento térreo há a distribuição do setor administrativo e área de uso dos professores na Casa Rosa, enquanto que os laboratórios, áreas de uso comum, biblioteca, cafeteria e papelaria estão locados no edifício em “L”.
É importante pontuar que a Escola Rosa está inserida em um terreno plano com apenas 1,00m de desnível entre a praça do casarão e a praça de encontro. Portanto, para acessar o edifício há uma escada e uma rampa localizadas na entrada de pedestres que direcionam o caminho do estudante para transitar do edifício antigo para o novo.
Por sua vez, o acesso de veículos está localizado no subsolo da praça de encontro e do edifício em “L”.
No primeiro pavimento do edifício em “L” estão localizadas as salas de aula, a sala de palestras que comporta 100 alunos, um fablab moderno, a sala da atlética e a maquetaria. A proposta da Escola Rosa é oferecer uma infraestrutura completa aos alunos no aprendizado não apenas teórico, mas também prático com os laboratórios projetados no espaço. Sendo assim, os usuários do espaço poderão utilizar o fablab para produzir objetos rapidamente através de computadores e máquinas, confeccionar modelos dos seus projetos na maquetaria, discutir pautas da Escola Rosa na sala da atlética e usufruir das salas de aula que podem ser organizadas diferentemente de acordo com a necessidade das aulas.
PILAR DE AÇO DE SEÇÃO QUADRADA (20x20cm)
Os cortes abaixo mostram a estrutura do prédio, as alturas, a cobertura e a relação de gabarito entre o edifício em “L” e a casa rosa. Para o edifício novo a escolha do sistema estrutural consiste na associação de pilares e vigas de aço que vencem os vãos que têm entre 12,00 e 13,00 metros. Os pilares são de seção quadrada de 20x20cm enquanto as vigas são de seção tubular retangular de 20x60cm e a fixação desses dois elementos é feita através da solda com enrijecedores parafusados. O mesmo acontece na conexão entre vigas.
A escolha do uso de estrutura metálica para o edifício se deu por conta de algumas vantagens que esse sistema oferece: peças mais leves, resistência, menor geração de entulhos e a padronização. No entanto, o principal motivo é a possibilidade de uma obra mais rápida, mais leve e que causaria menos impacto à construção vizinha, nesse caso a Casa Rosa.
FIXAÇÃO (PARAFUSOS)
PILAR DE AÇO DE SEÇÃO QUADRADA (20x20cm)
SOLDA
FIXAÇÃO (PARAFUSOS)
VIGA DE AÇO DE SEÇÃO RETANGULAR (60x20cm)
VIGA DE AÇO DE SEÇÃO RETANGULAR (60x20cm)
FIXAÇÃO (PARAFUSOS)
FIXAÇÃO (PARAFUSOS)
VIGA DE AÇO DE SEÇÃO RETANGULAR (60x20cm)
VIGA DE AÇO DE SEÇÃO RETANGULAR (60x20cm)
SOLDA
ENRIJECEDOR
ENRIJECEDOR
Fonte: autora, 2022
Fig.77
Fonte: autora, 2022
DE SEÇÃO (20x20cm)
(PARAFUSOS)
FIXAÇÃO
ENRIJECEDOR
PELÍCULA TEXSCREEN
(PARAFUSO DE FIXAÇÃO COM PORCA E ARRUELA)
VIGA DE AÇO DE SEÇÃO RETANGULAR (60x20cm) INFERIOR NA LAJE PERFIL TRILHO HORIZONTAL SUPORTE DO PERFIL PERFIL VERTICAL TEXSCREEN TORNILLO ROSCALATA RANURA COMBINADA 1/4'' 2'', ACERO INOX
CORTE BB
CORTE BB
0,50 ESCUADRA SUPERIOR PERFIL TAPA
Fig.79 - Detalhe da película TexScreen Fonte: autora, 2022
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