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RETROFIT COMO PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO
“A imagem do abandono e de ruínas sempre esteve presente no imaginário dos povos. Desde a idade média quando a concepção de patrimônio começou a ganhar representatividade entre intelectuais, arquitetos, médicos e arqueólogos e as conhecidas expedições para reconhecimento e registro de ruínas começaram a se propagar (CHOAY, 2006), a temática supracitada obteve espaço nos diálogos e discussões acerca da representação da cidade em seu estado de decadência.”
Para entender como o retrofit pode ser uma ferramenta de valorização, faz-se necessário compreender o que torna uma obra um patrimônio. Sendo assim, pode-se inferir que patrimônio é “o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitidos a gerações futuras” (CAU/BR, 2016). Uma obra eleva-se à categoria de patrimônio quando tem relevância para a cidade e para a memória coletiva das pessoas acerca da vivência em determinado espaço, portanto, a sua preservação é extremamente importante e uma das maneiras de valorizá-lo é através do retrofit.
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Os teóricos a respeito do patrimônio arquitetônico Viollet-le-Duc (1814-1879) e John Ruskin (18191900), por exemplo, embora sejam contemporâneos possuem ideias totalmente antagônicas que são interessantes a serem discutidas.
Viollet-le-Duc afirmava que “restaurar um edifício não é mante-lo, repará-lo ou refaze-lo, é restabelece-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento”, ou seja, em suas propostas havia uma busca pela genuidade e pureza do estilo da obra em sua situação original.
Enquanto isso, Ruskin defendia que “as edificações deveriam atravessar os séculos de maneira intocada envelhecendo segundo seu destino, lhe admitindo a morte se fosse o caso” (OLIVEIRA, R. P. D. 2008), ou seja, o monumento degradado deveria permanecer intocado. Além disso, o restauro segundo John Ruskin significava a mais total destruição que um edifício poderia sofrer. Logo, pode-se perceber como a ideia de valorização do patrimônio mudou ao longo dos anos e foi acompanhada por pensamentos completamente distintos.
Ainda que hoje também existam propostas diferentes quanto às decisões do que deve ser feito para valorizar o patrimônio arquitetônico, vale ressaltar que a mentalidade coletiva acerca da preservação do mesmo também mudou. Isso pois, nas últimas décadas foi identificado no patrimônio um recurso econômico e turístico que pode auxiliar no desenvolvimento socioeconômico.
(ASSUNÇÃO, 2003) Um exemplo disso são as cidades de Ouro Preto e Paraty, interligadas através do Caminho Velho que foi a primeira via aberta pela Coroa Portuguesa que ligava o litoral fluminense à região mineradora e hoje é uma rota turística de 710km. Para essas cidades pode-se dizer que o turismo representa uma grande parcela de sua atividade econômica e isso só foi possível devido à valorização do patrimônio. No caso de Ouro Preto, seu reconhecimento aconteceu a nível mundial devido ao tombamento pela Unesco em setembro de 1980.

O patrimônio é, além de importante para a história de uma região e para a memória coletiva das pessoas, também é uma ferramenta turística importante para os órgãos federais, estaduais e municipais. Portanto, para valorizar o patrimônio as possíveis alternativas consistem no tombamento, na restauração e na preservação. Sendo assim, o tópico a ser discutido nesse momento é o retrofit, que é uma intervenção capaz de valorizar uma obra e possibilitar que a mesma tenha um uso diferente do original devido às adaptações que podem ser realizadas. Dentre as vantagens que o retrofit pode incorporar a um patrimônio pode-se citar a valorização do projeto no mercado imobiliário, a modernização das instalações elétricas e hidráulicas, a revitalização do espaço e o uso, entre outras.

A valorização do patrimônio no cenário atual ganhou muito destaque e há uma troca muito interessante entre o patrimônio e o turismo.
Para Brusadin e Silva, a maneira ideal de propor essa valorização e não perder a “alma dos monumentos” seria através da conservação e da restauração, sem que a obra perca sua originalidade e possa ser apreciado pelos turistas. Além disso, eles também discorrem sobre como essas mudanças, seja através do restauro ou do retrofit, devem ser estudadas com cautela para que a relação entre comunidade local, patrimônio e turista não seja prejudicada.