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DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES, ABANDONO E OS EDÍFICIOS OCIOSOS
À medida que as cidades foram crescendo e se desenvolvendo, diversos problemas surgiram e acompanharam esse processo, tais como: poluição, violência, saturação do sistema viário, vazios urbanos e abandono de edifícios em centros urbanos, sendo este último o tópico a ser discutido nesse capítulo.
O abandono de edifícios retrata como o esquecimento da sociedade perante às construções acarreta na deterioração da paisagem urbana.
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A princípio é importante destacar que essa situação de renegação não apenas causa um incomodo visual, mas também incorpora a esses locais vazios um perigo decorrente do desuso pois os locais abandonados podem se tornar pontos de tráfico de drogas. Ademais, vale salientar que “esses lugares seguem moribundos em um rumo perempto, até que o interesse do capital volte a circundá-los (obstinando sua demolição) ou que ocupações voluntárias tomem corpo, se tornando, nesse interstício, um espaço residual vazio” (SOUZA, 2019).
Tendo em vista que o desenvolvimento das cidades acompanha as mudanças da população, é interessante destacar a paisagem ferroviária de Paranapiacaba, distrito de Santo André, que devido ao seu tombamento e a políticas restritivas de uso da vila se assemelha a um cenário, o qual passa a impressão de que foi congelado pelo tempo e causa uma sensação de abandono.

Julia Cocci e Hulda Wehmann em seu artigo “A Vila dos Aposentados como patrimônio afetivo” discorrem sobre como o controle severo das ações dos moradores sobre suas habitações impede que eles de fato habitem a vila: “desconsiderando os moradores como partícipes da paisagem que se deseja preservar”.
Outro fator que contribuiu para o êxodo habitacional e para a situação de abandono de Paranapiacaba foi um incêndio ocorrido em 14 de janeiro de 1981 que destruiu completamente a antiga estação ferroviária.
Dessa maneira, infere-se que em Paranapiacaba o tombamento do conjunto não foi benéfico em alguns pontos, pois as ações tomadas pela Prefeitura não puderam conter o êxodo populacional da vila devido a altos níveis de desemprego e moradias inaptas para habitação (SILVA, A. R. Ferreira da, 2018). Além disso, outros fatores como a falta de equipamentos urbanos, de comércio e a sinalização visual precária também impactam o desinteresse tanto dos moradores quanto dos turistas que pretendem ir ao local.

Contudo, ao analisar Paranapiacaba como uma “cidade cenário” percebe-se como o desuso de um local e o abandono mudam a paisagem de um sítio histórico inteiro. A partir dos anos 1980, Paranapiacaba passou por um intenso período de abandono e degradação, acompanhando o descaso dos governos com o transporte e o patrimônio ferroviário. Felizmente, graças ao reconhecimento da sua importância, em 1987 o Condephaat realizou o tombamento do local e atualmente é “o primeiro patrimônio industrial brasileiro a compor a lista indicativa do Brasil ao título de Patrimônio da Humanidade da Unesco”. No entanto, 35 anos depois Paranapiacaba ainda se encontra em situação de abandono o que leva à conclusão de que, mesmo que o tombamento seja uma ferramenta a fim de valorizar o patrimônio, não é suficiente para preservar a paisagem e propor ações efetivas de desenvolvimento do local.
