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BREVE HISTÓRICO DO TEMA: DA ESCOLA REAL DE D. JOÃO VI À ATUALIDADE
É interessante discorrer sobre como surgiu o ensino da arquitetura no Brasil tendo em vista que até o momento não havia nenhum curso no país e tudo o que se conhecia sobre construção era repassado oralmente. Contudo, em 1816, D. João VI decretou: “Atendendo ao bem comum, que provem aos meus fiéis vassalos de se estabelecer no Brasil uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em que se promova e difunda a instrução, e conhecimentos indispensáveis aos homens (...)”. Assim, surgiu o primeiro curso de Arquitetura no Brasil. (Academia Imperial de Belas Artes, 2015).
Elena Salvatori, em seu artigo “Arquitetura no Brasil: ensino e profissão” (SALVATORI, 2008), afirma que o ensino de arquitetura é iniciado oficialmente em 1826, quando o prédio da Academia Imperial de Belas Artes ficou pronto. Inclusive, vale ressaltar que nessa época o curso da academia incluía disciplinas como pintura histórica, paisagem, arquitetura e escultura em seu currículo, assim como aulas de desenho, anatomia e fisiologia. (GABLER, Louise, 2016).
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Segundo a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura (ABEA), até 1933 haviam apenas quatro cursos de Arquitetura ativos no país, sendo elas a ENBA do Rio De Janeiro, a Escola Politécnica da USP, a Escola de Engenharia do Mackenzie de São Paulo e a da Universidade de Minas Gerais.
Não se pode discorrer sobre o ensino de Arquitetura sem citar a Bauhaus, que foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura que existiu durante os anos de 1919 a 1927, num período conturbado de pós guerra na Alemanha.
Essa escola influenciou a arquitetura brasileira e como exemplo disso pode-se citar a cidade de Brasília, planejada pelos arquitetos
Oscar Niemeyer e Lucio Costa, que tem em seus edifícios cores neutras, repetição de elementos estruturais e uma cultura que preza pela funcionalidade, ainda que o conceito de multiplicidade da Bauhaus não tenha sido empregado por Niemeyer em suas construções singulares.

Gullar (FERREIRA GULLAR, 1998) comenta que a Bauhaus pretendia “estender a revolução estética à vida cotidiana mesma, através da criação de formas-tipo para os objetos de uso, formas essas cujas qualidades estéticas fossem fruto legítimo dos processos de fabricação industrial”. Walter Gropius, fundador da Bauhaus, propunha uma metodologia didática atrelada à funcionalidade, visando a produção em massa através do uso de formas simples e neutras.
No artigo “Bauhaus: acertos, fracassos e ensino” (PEREIRA; MEDEIROS; HATADANI, [s.d.]), é possível depreender que a ideologia funcionalista da escola desprezava adereços, ainda que houvesse uma preocupação estética, o que gerou diversas críticas à produção da Bauhaus. Os objetos e a arquitetura tornaram-se pouco sensíveis às necessidades cotidianas de uso e assumiram funções estéticas com poucos atrativos visuais.

Ao longo dos anos o currículo do curso de Arquitetura no Brasil foi se modificando e acompanhou o desenvolvimento das cidades e a evolução das relações humanas, tal como a mudança das necessidades das pessoas. Sendo assim, novas propostas metodológicas foram surgindo e pode-se citar entre elas a tradicional e a experimental (CAMPELLO, Mauro Santoro. OLIVEIRA, Gabriel Micherif Filgueiras. DUQUE, Raiane Rosi. 2015).
No Brasil, o método disseminado é o tradicional, onde o professor é a figura central e única detentora do conhecimento que expõe o conteúdo através de aulas na maioria das vezes teóricas. Enquanto isso, no método experimental o ensino é interdisciplinar e exercita a teoria aprendida em sala de aula. Não necessariamente um método é melhor do que o outro, no entanto, o método tradicional é mais maçante pois o aluno tem muita base teórica, mas não reflete sobre o que aprendeu e nem coloca em prática na sala de aula. (MIZUKAMI, 1986). Há, ainda a modalidade de ensino à distância que gera discussões pois o aprendizado online despreza o desenvolvimento dos projetos presencialmente, as rodas de conversa e as trocas entre aluno e professor. Inclusive, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) chegou a recusar o registro profissional de alunos formados em EaD no ano de 2019. Nos outros países o ensino de arquitetura não é necessariamente vinculado ao ensino do urbanismo. Em contrapartida, no Brasil, apenas uma universidade oferece o curso especializado em Urbanismo, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Quanto à duração do curso, o tempo mínimo de conclusão é 5 anos, embora haja algumas universidades que pode ser cursada em 6 anos como é o caso da Escola da Cidade e da Unicamp.
Atualmente, o ensino da Arquitetura e do Urbanismo é intrínseco às transformações tecnológicas do mercado pois antes da existência dos softwares de modelagem digital e desenvolvimento de projetos, o papel e a caneta eram as únicas ferramentas de desenho do arquiteto. Claro que esses objetos ainda são utilizados, porém numa fase inicial entre esboços e croquis, enquanto que todo o projeto é desenvolvido em programas de computador atrelados ao BIM (Building Information Modeling, em português Modelo de Informação da Construção), que é “uma tecnologia de modelagem e um grupo associado de processos para produção, comunicação e análise do modelo de construção” (EASTMAN, Charles et al. p. 13. 2011), ou seja, na prática é a virtualização e gerenciamento de projetos de arquitetura ou de engenharia que faz o modelo virtual o mais próximo da realidade possível.
Da Escola Imperial de Belas Artes ao BIM, o ensino da arquitetura acompanhou todas as mudanças da sociedade sem ignorar que o perfil do arquiteto está atrelado a uma pluralidade de conhecimentos que vão desde história da arte, topografia, conforto e urbanismo até o funcionamento do canteiro de obras. Portanto, o local de aprendizado da arquitetura e do urbanismo deve possibilitar o desenvolvimento do estudante tanto na parte prática de oficinas e laboratórios, quanto na parte teórica de formação de pensamento crítico a respeito do trabalho que pode ser produzido pelo profissional da área e como o projeto se insere na cidade.
