Abre Alas 8 | Catálogo

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FOTOGRAFIA GILSON CAMARGO

Margit Leisner [NADA A VER] OU: mmm hm hm hmmm If I could melt your heart Estudo recente sugere que a evolução da voz humana começou há centenas de milhões de anos, quando éramos peixes. Ao pesquisar o sistema nervoso de larvas de três espécies, biólogos verificaram que o circuito nervoso necessário para essas vocalizações é semelhante ao de outros vertebrados mais complexos, incluindo a dos humanos. Tudo leva a crer que a origem da fala surgiu na evolução biológica com os peixes, bem antes de os animais começarem a andar em terra firme. O ancestral de todas as sonoridades de hoje estava nadando há centenas de milhões de anos. A água é um meio excelente para a transmissão dos sons. O uso de som para propósitos de comunicação social é frequentemente encontrado em peixes que tem hábitos de reprodução noturnos, quando outras pistas, por exemplo, visuais, teriam mais limitação como sinalização social. Os sons do peixe-sapo podem facilmente ser ouvidos debaixo d’água, mesmo ficando perto de um aquário com eles. Para os humanos, a laringe e o ar dos pulmões são essenciais para a criação da fala. Para os peixes, os sons vêm do ar dentro de um órgão especializado, a bexiga natatória, que ajuda o peixe a controlar a natação. Os músculos ligados a ela podem ser ativados pelo cérebro para produzir sons primitivos (zumbidos e grunhidos). Um dos motivos pelos quais estes estudos são tão interessantes é que nós geralmente não pensamos nos peixes usando vocalizações, por isso parece incrível o fato de eles o fazerem e de usarem controles neurais compatíveis. E como teria surgido evolutivamente a vocalização subaquática? Segundo Darwin em “A origem das espécies”, quando os membros primevos dessa classe (vertebrata) estavam fortemente excitados e seus músculos contraídos, sons sem propósito com quase toda a certeza eram originados. Imagine, então, um cenário no qual não há outros peixes vocalizando, apesar deles terem uma perfeita audição? Se a sua espécie pôde se beneficiar desse meio de comunicação, pense em que vantagens seletivas isso poderia propiciar? Atrair o parceiro é uma delas, assim como “grunhir” para defender seu território. Na dúvida, quem ouviu mas não tem como responder prefere nadar em outra direção. Alex Hamburger Rio, 20-01-12

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Margit Leisner vive e trabalha em Curitiba, PR. É interessada em contextos relacionados à cultura da performance e suas possibilidades de desdobramento, como sistema aberto, no âmbito das artes. Nos últimos anos tem voltado sua prática, entre outros, para as relações possíveis entre visualidade e escuta à partir de uma perspectiva presencial. [NADA A VER], 2010, detalhe da obra


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