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Arthur C. Arnold
18 Procuro através de uma pintura de caráter figurativo falar de questões e situações que vivencio. Com uma dose de humor, sarcasmo e até perversidade, observações e preocupações são transformadas em narrativas. Porém, ao contrário das narrativas seqüenciais como as dos livros e estórias, o tempo não se faz presente. Com o uso de metáforas visuais abordo os temas de forma indireta, gerando muitas vezes, mais de uma interpretação para o quadro. Isso me interessa, porque não sou o dono da verdade. No momento atual da minha vivência artística não trabalho temas em meus quadros no formato de série, apesar de já ter feito isso antes. Procuro resolver cada tema em um único trabalho, que juntos formam um conjunto de obras, mas não uma série. Na minha pintura utilizo diversas formas de tratamento, como áreas chapadas, empastes de tinta, veladuras, fortes contrastes de cor e de tons. Grandes áreas de sombra se projetam sobre figuras, que por vezes se assemelham com a realidade, mas que muitas vezes são distorcidas e passam até por metamorfoses se transformando em seres híbridos a fim de gerar um drama maior na tela. A cor, algo que me interessa muito, também é uma mistura da realidade e da minha imaginação, podendo, por exemplo, aparecer uma figura de pele completamente vermelha ao lado de figuras realistas ou sombras brancas. Gosto de modelar massas de tinta para criar contrastes de textura, pois acredito que a pintura é, além de uma arte visual, uma arte tátil. Creio que a pintura em sua forma mais ampla é a melhor maneira de transmitir tudo o que eu quero, pois posso criar uma gama ilimitada de elementos e sensações, que têm a capacidade de mudar o espectador, nem que seja um pouco, seja pra pior ou pra melhor. Apesar de achar isso um pouco utópico não quero mudar o mundo, só quero mudar pessoas. No quadro selecionado para a exposição Abre Alas 8, chamado de “Papai não sou mais virgem”, sombras azuis projetam-se sobre paredes, vemos figuras no primeiro plano, sendo que a principal, uma menina, está nua e mostrando sua vagina e é observada por um jovem que está à esquerda da composição na frente de um senhor que leva as mãos à cabeça. De representação mimética o quadro ainda mostra uma cidade, que poderia ser qualquer lugar, sendo atingida por uma grande explosão, que ilumina parcialmente a cena. Muito além de falar do drama que pais vivem ao saber que suas princesinhas perderam a virgindade, o quadro trata da dificuldade que pais e mães têm em aceitar e ver que seus filhos são adultos e independentes. Acredito que grande parte dessa dificuldade se deve ao fato de não termos ritos de passagem claros na nossa sociedade contemporânea ocidental.
Papai não sou mais virgem, 2009 / OST / 137 x 193 cm
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Nascido em 1984 no Rio de Janeiro. Estudou na Belas Artes da UFMG,na Bauhaus Universität - Weimar e no Parque Lage com João Magalhães. Expôs na coletiva “Spuren suchen” no Neues Museum em Weimar, individualmente “Em meio à pintura” na Galeria do BDMG, BH. “Árvores e outros Objetos” na Pequena Galeria da Universidade Cândido Mendes, RJ e “BASTARDO” na Galeria Beatriz Abi-Acl, BH, com o grupo de pintura coletiva Bastardo.
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