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Marina de Botas
Programa para nutrição da pele, 2007 / vídeo digital / 11minutos
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O trabalho da artista cearense Marina de Botas inscreve-se no contexto da produção artística contemporânea que trata do “impossível” e suas possibilidades. Preocupada com o lugar do indivíduo que se imbrica na complexa trama da realidade – em especial, da realidade urbana –, a artista constrói uma série de vídeos e desenhos que circunscrevem esse indivíduo em seu próprio campo de invenção. O sujeito dos filmes de Marina de Botas não está, portanto, sujeitado à pesada impossibilidade de alterar sua realidade, mas dedica-se a transformá-la de modo simultaneamente concreto e mítico. Não há, na produção da artista, a aposta numa “utopia do possível”, num projeto – estético, político – que o transcenda, investindo num tempo por vir. Seu enfoque é contingente: trata-se, à semelhança do bricoleurde Lévi-Strauss, de construir sentidos (e, assim, um pensamento) para o mundo a partir do que se tem disponível sem, todavia, servir unicamente ao disponível: inventando. Em um vídeo como Centauro (2010), por exemplo – em que uma mulher se transforma em “centauro” a partir do que tem em casa e, na sequência, encontra numa mata em meio à cidade outros “centauros” igualmente humanos e inventados –, não há uma aposta na negação ou na suspensão do real, nem mesmo a construção de sua versão utópica, voltada a outro espaço-tempo. Seu procedimento conceitual e narrativo é, antes, uma invenção mítica não da “origem do humano”, mas de seu transcurso. Uma mitologia contingente, calcada na profanação do mito, da utopia, e do real. Profanação que destitui, dessas instâncias, o que nelas há de exclusivo ou inalcançável: os mitos se humanizam, a utopia se presentifica, o real se torna falsificável. Profanação que não deseja que essa mitologização contingente se restrinja às obras da artista, e que por isso cria seu próprio Manual técnico para alteração do pensamento lógico (2008).
Clarissa Diniz
Marina de Botas faz desenhos e performances para vídeos. Anda flertando descaradamente com o cinema. Quer muito ficar imersa trabalhando por meses em uma ilha semi - deserta. Tem dois filhos lindos. Seu pai era paulista, sua mãe cearense. Esteve sempre circulando entre São Paulo e Fortaleza. Hoje, trabalha e vive em Fortaleza.
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