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AoLeo

PRUDÊNCIA

As bordas de uma imagem fotográfica e as linhas que contornam os espelhos: polígonos. No seu entorno, dois elementos cujo domínio pelo viés da geometria foi tentado à exaustão em séculos de produção de imagens: o corpo humano e a paisagem. Se em sua autoimagem o artista se encontra parcialmente “ao léu”, desnudo, o mesmo não pode ser dito quanto à sua proposta poética. A experiência fenomenológica do indivíduo com a natureza e seu fugidio reflexo são transformados em imagens estáticas. Toda fotografia e todo espelho são propositores de mediação, duplo e metade, imitação e distorção; o simulacro aqui se dá de modo inevitável. E seria possível apreender a existência de modo não instrumentalizado? A prudência, tida desde a Antiguidade como a mãe das virtudes, possui a iconografia de uma mulher que se observa em um espelho. Mais do que uma vaidosa autoavaliação, esse ato poderia ser prolongado como uma reflexão sobre nossas atitudes e o mundo – “remete às coisas passadas, ordena o presente e prevê o futuro”, diz Cesare Ripa. A pesquisa artística de AoLeo pode, portanto, lançar questão semelhante: existiria um modo prudente de nos relacionarmos com a “natureza”? O quanto de nós mesmos, projeção de carne e ossos, existe dentro da construção deste amplo conceito entre aspas? Por fim, até que ponto toda paisagem não é, na verdade, um autorretrato?

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Raphael Fonseca

16 Atua como artista, fotógrafo-performer. Utiliza a fotografia para tratar de temas como a paisagem e a presença do corpo no espaço. Além da prática artística, AoLeo é artista educador junto ao Núcleo Experimental de Educação e Arte do MAM-Rio e leciona à estudantes de ensino fundamental na rede de ensino público do Estado do Rio de Janeiro.

sem título, 2011 (da série Exercícios de reflexão) / fotografia / 75 x 120 cm

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