Cena 6 – a carne
Ela era toda uma prosa florida e muito doce nos seus modos; quando pisava distraída no chão do terreiro meu coração chega balançava, era gangorra de pau d’arco amarrada com cipó fraco, mas era nessa caída que eu me sustentava, as duas pernas como gravetos espetados no lajedo imenso, firme por fora, tremendo por dentro. Sacolejava em mim umas vontades de carne, desejos de esquecimento, coração trovejava um desbalanço, mas não fraquejava, ficava só neste arrupeio, como um cãozinho, latindo por uma promessa. E eu logo fazia o sinal da cruz pra bendizer aqueles pensamentos fora de razão. Afinal o que me dava aquele sentir sem motivo? Desrazoado de todo o juízo, achei até que, se aquilo se não fosse loucura pura era uma
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A TRAVESSIA DO GRÃO PROFUNDO.indd 33
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