Cultcom #6

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16_ OLHARES

O jornalismo me formou artista _POR RAFAEL SANCHES ator pelo Teatro-Escola Célia Helena e jornalista pela Faculdade Casper Líbero

redações me ensinou a lidar com os mais variados tipos de pessoas, saber trabalhar em grupo e suportar, digo, compreender e dialogar com chefes rígidos – quando não estúpidos e mal-educados. Meus anos como jornalista também me ajudaram a trilhar outros caminhos dentro da arte, como roteiro, dublagem e locução. Afinal, passei a ser um leitor assíduo de fato quando entrei na faculdade – antes detestava ler, confesso. E quem lê muito, acaba aprendendo a escrever direito, além de construir um repertório gigante de referências, coisa que todo bom roteirista deve ter. Fora o período como colaborador na rádio universitária, que me presenteou com uma consciência vocal da qual não sabia que tinha. Ainda tenho absoluta certeza de que não quero que esteja escrito na minha lápide apenas: “Aqui jaz Rafael Sanches, jornalista”. Mas posso dizer que sou muito grato pelo jornalismo, por toda a base que ele me deu, pela formação como pessoa e, principalmente, por me dar a certeza de que o que eu amo é fazer arte. c

Ilustração Cauê Miranda / Instagram @tocaue

QUANDO ENTREI NA faculdade de Jornalismo, tinha quase certeza de que era isso que queria para a minha vida. Digo quase porque a decisão foi tomada naquele momento pós-colégio, em que nós “temos que” escolher o nosso futuro, mesmo sem conhecermos direito nosso presente. Curioso é que no último ano de escola tive meu primeiro contato com o teatro. Eu me apaixonei por aquilo. Mas é aquela coisa, né? “Por que não escolhe uma profissão de verdade?”. E guiado por essa pergunta acabei arquivando o teatro na gaveta dos sonhos e segui para o mundo corporativo. Resultado: depois de quatro anos de estudos e experiências em redações percebi que estava infeliz, confuso e insatisfeito. Eu tinha absoluta certeza de que não seria jornalista. Pelo menos não só isso. A vida tem muito mais a oferecer, e eu sentia que tinha talento para outras coisas que me interessavam mais. Em 2015, fui convidado para encenar a peça “Corpo Condenado”, do meu amigo dramaturgo Alex Francisco. Foi como uma salvação. O sonho saiu da gaveta e resolvi que estava na hora de mudar de vida. E não poderia ter feito uma escolha melhor. Por algum tempo passei a renegar o jornalismo. Acontece que, aos poucos, fui entendendo que minha formação não tinha sido um desperdício, mas sim um elemento agregador para a minha construção como artista. Lembrei que Nelson Rodrigues (1912-1980) era jornalista. Descobri que Brad Pitt e Wagner Moura também se formaram em jornalismo. E percebi como o jornalismo me construiu como uma pessoa que está sempre antenada a tudo, com um senso crítico apurado sobre os fatos do mundo, elemento fundamental para um profissional da arte. O fato de ter entrevistado muita gente e convivido em

ABRIL_1 2020

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