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ESPECIAL | CARLA BIGATTO

CARLA BIGATTO

A notícia que quero dar é a da redução da desigualdade

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Radialista da Band News FM fala sobre representatividade feminina e o que aprendeu com o jornalista Ricardo Boechat

_ POR ALEX DINARTE E BIANCA MENDES

Foto Prêmio Comunique-se / Divulgação SÃO POUCO MAIS de 12 anos na Band News FM. Na programação das manhãs, é Carla Bigatto quem abre o microfone para informar nos 96,9. Com a equipe da primeira emissora radiofônica do Brasil dedicada de maneira exclusiva ao jornalismo, a apresentadora coloca o sorriso na voz e fala com uma das maiores audiências do país.

O equilíbrio diante do microfone veio do esporte. A precisão nos treinos até a adolescência na ginástica artística a disciplinou. “Temos que ter essa capacidade de cair e levantar. Isso o esporte trouxe para a minha formação e para a vida profissional”, considera Carla. De origem simples, foi o talento de atleta que permitiu o estudo em bons colégios por meio das bolsas.

Foi no jornalismo impresso, no jornal diário Agora São Paulo, o início como repórter. Tempo em que a rotina era diferente. “Saía para a pauta de manhã e não sabia o que ia acontecer com a minha vida. Cobri um ataque do PCC em 2006, muita violência, chacinas”, recorda. Em 2007, Carla arriscaria uma mudança de ares. O novo rumo trouxe a chance no Grupo Bandeirantes de Comunicação. “Trabalhava com uma equipe, começaram a desfazê-la e na época apareceu a oportunidade da Band News FM”, complementa a jornalista

Ela não era a “maníaca do rádio”, mas sempre estava com um aparelho ligado por perto. “Eu gostava [do rádio], mas ele entrou na minha vida por uma >

Foto Stéfani Inouye/ESPM

A jornalista Carla Bigatto com o troféu do Prêmio Comunique-se em 2017

“Até falar dele [Boechat] no passado é complicado. Ele tinha a mente acelerada, queria excelência”

oportunidade profissional mesmo”, explica Carla. O trabalho começou na edição, passou pela coordenação de praças que a rádio abrange e chegou ao microfone por meio do “Tem Mulher na Área”, antigo quadro de futebol da emissora. “Eu amava, inventava coisas mirabolantes, analogias e o pessoal começou a gostar da minha participação. Comecei a treinar na apresentação e deu certo”, enfatiza a radialista.

Para Carla, o degrau que separava os locutores dos ouvintes não existe mais. A audiência é protagonista. “Essa é uma mudança que eu vi no rádio, o ‘ouvir o ouvinte’. Essa proximidade fortalece com o tempo, o rádio é cada vez mais companheiro”, considera.

A jornalista conta que na Band News FM tudo funciona como em uma orquestra. “É impressionante observar a capacidade daquelas pessoas, é difícil fazer o que elas fazem”, avalia ela, que apresenta o “Jornal Band News” e “Band News no Meio do Dia”. “É como se minha mãe, uma senhora, estivesse ao meu lado e eu tivesse que contar algo que está acontecendo. A gente põe em prática sempre e ajuda demais na transmissão da informação”, detalha.

Agora é que são elas

Acabou-se o tempo em que a voz grave dava o tom. O momento é delas e, para Carla, não é concorrência. É aprendizado mútuo. A fase de exclusão das mulheres no rádio ficou para trás. “Agora temos grandes vozes como a Tatiana Vasconcelos, a Cássia Godoy. Estamos abrindo caminho”, constata. Entretanto, a desigualdade salarial e a violência ainda assola. Para a radialista, é angustiante noticiar casos em que as vítimas são mulheres. “Com a informação circulando, isso deveria diminuir e não diminui. Muitos homens

Carla Bigatto ao lado de Eduardo Barão (centro) e Ricardo Boechat, no estúdio da Band News FM

ouvem as notícias e não conseguem se pôr no lugar da outra pessoa”, completa.

Nos últimos três anos, Carla recebeu cinco prêmios: na categoria âncora de rádio, venceu a disputa do Troféu Mulher Imprensa em 2017, 2018 e 2019; já no Prêmio Comunique-se, a radialista faturou em 2017 e 2019 como apresentadora de rádio. “No Troféu Mulher Imprensa, fui indicada entre as finalistas pelos colegas. É legal saber que o trabalho está sendo reconhecido. O que a gente faz com a eficiência de se comunicar com as pessoas é o grande prêmio”, sintetiza a jornalista.

Além do destaque na programação da Band News FM, Carla divide o horário com colunistas de renome, como Monica Bergamo e José Simão. Por um longo tempo, era com o jornalista Ricardo Boechat (19522019), que ela apresentava o “Jornal Band News”. “Até falar dele no passado é complicado”, reflete. Como na época de atleta, via Boechat na figura de um treinador. “Ele percebeu que eu correspondia. Um dia aconteceu algo errado e levei uma bronca enorme, mas a culpa não era minha. Iria responder e parei. Depois de um minuto, ele já estava em outra. Ele tinha a mente acelerada, queria excelência, não era nada pessoal. Eu comecei a relevar e falar: ‘não, é o Boechat! Vale a pena!’”.

Aos 38 anos, Carla não traça planos a longo prazo na carreira. Além de dar sequência ao sucesso no rádio, a apresentadora se dedica à sensação dos podcasts. Serena, a radialista registra um objetivo. “A notícia que quero dar é a da redução da desigualdade”. E a gratidão. “Tenho muito a agradecer a Band News FM por ter me dado oportunidade para algo que eu adoro fazer”, exclama. Quem ouve sabe, Carla Bigatto. O rádio não mente. c

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